Pois então, somos ou não o tal do global power do qual falou, ao defender Dilma Rousseff de uma pergunta de Sandra Coutinho, da Rede Globo de Televisão, o presidente norte-americano Barack Obama?
Ou o nosso power não passa de retórica interna para agradar nacionalistas tacanhos e fanáticos partidários?
O país tem duas chances enormes para provar “a que veio” (será que veio mesmo?) no palco internacional do poder: Venezuela e Angola.
Angola

Em plena ditadura militar, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer (1975) a independência de Angola do jugo português, após uma luta demorada e sangrenta entre a ocupação lusitana e as forças revolucionárias do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e da FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola).
Oportunismo? Estratégia? Visão de futuro?
Um pouco de tudo.
O Brasil hoje, via algumas empresas (muitas delas metidas até à medula na Operação Lava Jato), tem interesses enormes no país africano, e vários dirigentes angolanos têm negócios não muito claros por aqui.
Rico em petróleo (http://www.observalinguaportuguesa.org/pt/geopolitica/plataformas-continentais/em-2018-angola-podera-vir-a-ser-o-maior-produtor-de-petroleo-em-africa
), em diamantes (“as montanhas de Angola brilham à noite”) e com uma terra de uma fertilidade inacreditável, Angola hoje está imersa em um mar de corrupção e violência patrocinada pelo estado nacional.
Estima-se que num período de 5 anos dirigentes do governo fizeram desaparecer US$ 32 bilhões dos cofres públicos, enquanto 70% da população vivem com US$ 2 por dia, e a polícia política angolana invade e dissolve reuniões, prende opositores, tortura e mata pessoas.
O Brasil está na obrigação de se alinhar aos esforços internacionais para pressionar o atual governo angolano (um dos mais longevos da África: 36 anos) para que se busque, de verdade, colocar a nação africana no caminho da democracia e dos direitos humanos.
E poderia começar por aqui mesmo: fazendo uma devassa nos negócios que gente como o presidente (sic) angolano, José Eduardo dos Santos, tem em terras brasileiras.
Venezuela

O país vizinho marcou eleição parlamentar para o próximo dezembro.
Com uma sutileza: sem a oposição (golpista?)!
E se por acaso algum oposicionista se eleger (camuflado em algum partido “amigo”) deverá ser impedido de tomar posse.
Haja democracia!
A Venezuela sempre deu trabalho ao Brasil. Luiz Inácio Lula da Silva, criador e ideólogo do Foro São Paulo, buscou (pelo menos no início da entidade) bloquear o acesso de Hugo Chaves, o militar golpista, que depois chegou à presidência venezuelana.
Morto Chaves, ascendeu à presidência Nicolás Maduro, que aparece em alguns vídeos sem camisa, atirando contra manifestantes anti-Chaves.
O país vizinho vive uma crise sem precedentes, onde faltam de papel higiênico a absorventes íntimos femininos. Esta semana uma das únicas fábricas de cerveja do país fechou as portas por “falta de insumos”.
Obvio que a saída clássica é a de sempre: acusar a “elite” empresarial de esconder produtos para provocar uma crise no país, e jogar a população contra o governo madurista.
Nesse imbróglio todo, aliás, como em Angola, não faltam invasões, prisões, conflitos e mortes.
A OEA (Organização dos Estados Americanos) quer uma força tarefa para acompanhar a eleição de dezembro.
Maduro já disse que não aceita o que chama de “interferência externa”.
O Brasil por enquanto está caladinho.
Não deveria. Deveria se posicionar claramente.
Afinal, temos ou não um global power?