
Que ninguém se espante com a liderança de Celso Russomano (34%) na pesquisa DataFolha divulgada hoje pela manhã.
Não porque ele não possa vencer a eleição municipal este ano, pois pode sim.
Nem adianta os fazedores de conta virem com aquela velha malandragem de somar 0 com –1 para resultar em +10 que Fernando Haddad está um bocado mal na fita, e a culpa não é do PIG, nem do POG, nem do PUG, nem da PQP.
Num espaço curto de tempo, quase num lapso, a capital de todos os bandeirantes já elegeu Jânio Quadros, Paulo Maluf, Celso Pitta, Luiza Erundina, Mário Covas, Fernando Haddad, Gilberto Kassab, José Serra, Marta Suplicy.
O eleitorado paulistano é uma biruta doida, amalucada e desvariada.
Dá pra entender?
Dá sim, mas antes é preciso conhecer a gênese da formação da capital paulista, conhecer a própria cidade um pouco (o que, convenhamos, não é nada fácil) e o povo, hiper heterogêneo, que habita aquelas terras bandeirantes.
É preciso saber que em seus primórdios a Piratininga fundada por Anchieta não se dava nada bem com a coroa portuguesa, mas não a sonegava, nem a roubava, nem permitia que ela interferisse nos seus negócios, àquela época pobres e escassos.
É preciso saber que para habitar os Campos de Piratininga o “estrangeiro”, os de fora, era/m submetido/s a uma série de provações que muita vezes resultavam em morte.
É preciso saber que até fins do século 19, em São Paulo, ainda se “falava” tupi-guarani.
É preciso saber que São Paulo já importava (desde os 1800) prostitutas brancas e bem vestidas de França e do Leste europeu, literatura de primeira da Europa, taças de cristais, vinhos e champanha da Europa, e mafiosos e rufiões e contrabandistas do velho continente e da Ásia, enfim, a bandidagem geral.
Ou, em outras palavras, importava o sal da terra do capitalismo, enquanto o país-Brasil empacava num caipirismo primitivo e doentio.
É preciso saber que a capital paulista é um sopão de restos e de partes disso tudo, numa mistura de endinheirados ignorantes, de “doutores” semialfabetizados, de deslocados de seus grotões, hoje jogados numa periferia paupérrima e violenta, onde os aparelhos de Estado ainda não tiveram tempo de aparecer.
Gente com essa gênese não pensa e não quer pensar no futuro.
Gente com essa estirpe quer substituir um governante que é lhe atrapalha o caminhar por outro/a que lhe dê um pinguinho de imediatismo, e não de esperanças vãs e de futuros inalcançáveis.
Eis aí o que não viram os três governos petistas paulistanos – Erundina, Suplicy e Haddad.
Todos eles têm todas as desculpas do mundo, mas a carência não quer desculpas e nem espera por futuros que podem não chegar e se chegarem, essa gente toda certamente nem pela Terra mais estará.
A cara de São Paulo
Na aceleração do faz-de-contas futurista é que trafega gente como Celso Russomano, ou mesmo Datena (como trafegou Pitta, o negro-contador que servia a Maluf, “o rouba, mas faz”).
Gente de cara lavada e maquiada.
Gente de cabelo pintado e bem penteado.
Gente famosa.
Gente de sucesso.
Gente que promete tornar os miseráveis menos miseráveis embora ainda miseráveis.
São taboas de salvação no desespero.
Ora até se tenta o bom-mocismo petista, mas por outras tantas, se tenta a cara de São Paulo, com aquela cara que todo morador de São Paulo se identifica, com a qual, sonha, especialmente os pobres periféricos, gente de baixa renda e educação, que apenas quer ver se sobrevive até o dia seguinte, sem nunca passar pela avenida Paulista, sem ir ao cinema do shopping, sem comer pipoca no Parque do Ibirapuera.
Essa gente “não vive, apenas aguenta”.