A meta não é o impeachment e sim a renúncia de Dilma

O pato

De jogadores de futebol a executivos de empresas todos sabem: quando as pessoas começam a te evitar é sinal que você está às portas de ser dispensado/despedido.

A estratégia do fordismo (na qual até os craques e os CEO são dispensáveis) foi introduzida e espalhada pelo Brasil pela outrora poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Apesar de ter perdido poder a partir da subida de Fernando Collor de Melo na rampa do Palácio do Planalto (até então a Fiesp arrotava que nenhum ministro da fazenda vinha à luz sem o seu aval), a federação das indústrias paulistas ainda seduz corações e mentes Brasil a dentro.

A Fiesp não “brinca em serviço”, “não dá ponto sem nó”.

Não por acaso, “jovens liberais” (como essa gente se auto refere), durante as manifestações de junho de 2013, reverenciavam o prédio da Fiesp, na avenida Paulista, tal qual um mulçumano reverencia o Profeta.

Mas como “bons brasileiros”, “gente de bem que trabalha e paga impostos” ajoelhavam-se em frente à federação e de mãos no peito entoavam o hino nacional brasileiro.

Os “cara-pintadas”

Se alguém ainda guarda algum tipo de ilusão de que foram os “cara-pintadas” que derrubaram Collor é porque ou não prestou atenção ao “palco dos acontecimentos” da época ou não conhece absolutamente nada dos corredores obscuros desta Grande Terra de Tupã.

A rebelião contra o “caçador de marajás” iniciou-se no interior do estranhíssimo prédio da federação na Paulista. Apoiadores de primeira hora de Collor, os empresários paulistas assustaram-se com a irresponsabilidade do “primeiro presidente eleito pelo voto direto depois da ditadura militar”.

Açularam, de início, os estudantes da rede privada de ensino de São Paulo.

Depois, o rastilho de pólvora incendiou-se por si, espalhou-se pelo Brasil todo e até chamou para dentro de sua carreira o Partido dos Trabalhadores e a UNE (União Nacional dos Estudantes), que, inicialmente, estavam “dormindo em berço esplêndido”.

O pato

Ontem foi a vez de a Fiesp lançar mão (e uma vez mais na avenida Paulista) do “pato amarelo” e de seus patinhos amarelinhos.

O discurso de face da ex-poderosa é o “escorchante” imposto brasileiro.

Balela! A Fiesp entrou de corpo de alma na derrubada de Dilma Rousseff, e na derribada e extinção do PT, e, muito especialmente, de seu líder, Luiz Inácio Lula da Silva.

O que Jorge Bornhausen disse que faria, há alguns anos – “acabar com essa raça” –, a Fiesp tomou para si fazer.

O desespero

Quando uma crise torna-se grave, pessoas, famílias e até países se perdem, entram em desespero e passam a contar e inventar histórias sem cabimento, que não apenas dão volume à crise, como também as tiram do eixo da racionalidade.

É exatamente o que se vê neste momento no Brasil, envolvido num enorme diz-que-diz, num emaranho de histórias e previsões amalucadas e sem sentido (à esquerda e à direita).

O fim e o caos que estão tão próximos nunca chegam, mas levam o país e as pessoas à beira da exaustão e, por que não, da loucura.

A substância

Do que mais se fala nas ruas, nas rodas sociais, nos encontros de empresários e de políticos, nos meios de comunicação é sobre impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Mas é disso que se trata?

Qualquer pessoa com um mínimo de racionalidade sabe perfeitamente que o impeachment da presidente se é possível em seu viés político (votação no Congresso Nacional) é inviável de ser endossado pelo STF, por absoluta inconsistência legal.

A lei acima de tudo. A Constituição Federal acima da lei e de tudo.

O Temer

Diferente do caso Collor (quando houve um entendimento maroto da Constituição Federal para possibilitar uma transição não-traumática) o eventual impeachment de Dilma implica necessariamente na defenestração do seu vice, Michel Temer.

“Ora, direis” então por que Temer estaria mancomunado com as oposições para acelerar o processo de impedimento da presidente?

Ele não está por isso.

Temer está buscando aumentar o volume do rádio, ensurdecer o país, levar a presidente Dilma Rousseff à exaustão, até que, exausta, com o país estagnado e com a economia se decompondo, a presidente “peça arrego”, “peças as contas”, renuncie.

“Ora, direis” outra vez, se ela renunciar seu vice cai junto.

Conversa! Leia a Constituição Federal:

“Art. 79. Substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o vice-presidente.”

Acrescente-se: em casos de doença, ausências do país, renúncia, afastamento constitucional ou morte.

Uma nova eleição, só caberia, de acordo com artigo 81 da CF “Vagando os cargos de presidente e vice-presidente da República, (E) far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga” e em seu “§ 1º Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei”.

É disso que trata Temer junto às oposições e especialmente junto ao tucanato, coisa aliás já muito adiantada, pois até José Serra já foi convidado para ser uma espécie de primeiro ministro no pós impeachment.

E é aí que a Fiesp entra de cabeça.

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