
Um sujeito chamado Mateus, professor de literatura, com quem trabalhei na Bahia, no longínquo 1981, dizia que o jornal Folha de São Paulo era “hipocritamente democrata”, mas o único passível de ser lido.
Não foi uma opinião qualquer, pois Mateus era baiano que migrou para o Rio de Janeiro ainda adolescente para estudar, quando o Rio ainda era uma atração para outros brasileiros, especialmente nordestinos.
O professor teve o “prazer” de ser enquadrado duas vezes na Lei de Segurança Nacional, foi penalizado duplamente pelo AI-5 e era um sujeito bastante culto.
Suas aulas de literatura eram aulas extraordinárias de história, como, aliás, deveriam ser todas elas.
Para quem está curioso pela dupla punição convém lembrar que o professor Mateus era comunista, foi dirigente do diretório estadual (fluminense) do PCB e presidente do sindicato de professores da “Cidade Maravilhosa”.
Arguto, Mateus já percebia naquela época que o jornal paulistano dava uma no cravo e outra na ferradura (em suas páginas de opinião), embora suas “reportagens” e matérias já seguissem o modo (pelo qual hoje chamamos) “coxinha”.
Não que isso seja necessariamente um defeito, mas há (principalmente nos dias que correm) um desequilíbrio (numérico) entre colaboradores opinativos de direita (sic) e de esquerda (sic); e a “cobertura jornalística” segue um centrismo liberal que, muitas vezes, descamba para o reacionarismo/conservadorismo.
A contramão da Folha, o jornal O Estado de São Paulo manteve ao longo de sua história (prática que aos poucos perdeu) a tendência de fazer matérias razoavelmente (sic) isentas, mantendo intocada a sua opinião sempre alinhada ao conservadorismo mais tacanho.
Exceção feita a alguns colunistas, cujo custo reparte com o jornal O Globo, o Estadão mantém uma opinião sempre à direita.
O Globo, mais popularesco e mais enraizado nos movimentos à direta e de caserna, não difere muito da prática do jornalão dos mesquitas, prática que se estende aos outros meios de comunicação e entretenimento da organização.
Geração obtusa
O resultado dessa uniformização do pensamento popular, especialmente de classe média, a gente vê cotidianamente nas ruas e nos protestos.
É até possível ver gente largamente beneficiada pelos programas governamentais inclusivos sair a protestar e a xingar “tudo o que está aí”.
A questão a se indagar é se com o pêndulo inclinado apenas para um dos lados será possível solidificar e ampliar a democracia brasileira.
Creio que a resposta seja mais que óbvia: NÃO!
P.S. Pra quem está sentindo falta da citação da revista Veja é bom lembra que a publicação dos civitas é um caso a parte de rancor, de ódio e de oportunismo que não guarda qualquer relação com o jornalismo.