
A Veja tem sido alvo de intensas críticas, especialmente dos petistas (mas não só) pelo papel que está representado (e o verbo representar é adequado nesta situação) nas crises econômica e política do país; na crise pessoal da presidente Dilma Rousseff; na crise do Partido dos Trabalhadores e muito especialmente na demolição da figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Gente de todo lado costuma repetir que há tempos a revista da Abril deixou de fazer jornalismo, e hoje acolhe em seus quadros aquilo que há de pior entre os profissionais do setor.
É quase uma verdade inteira, mas por lá ainda existem bons profissionais e vez ou outra se faz bom jornalismo.
Mas na guerra midiática vale tudo para alvejar e demolir o adversário que é tratado como inimigo a ser exterminado.
Isso vale para os dois lados.
Barrigadas
Todo e qualquer meio de comunicação deve e pode ter uma posição política e/ou ideológica.
Não por acaso, o filósofo francês Jean-Paul Sartre fundou, em 1945, a revista Les Temps Modernes.
No Brasil, a(s) Última Hora, de Samuel Wainer, claramente apoiavam o trabalhismo de Getúlio Vargas.
São só dois exemplos em países capitalistas-democráticos, para não entrarmos na seara das publicações das ditaduras (de esquerda, Cuba e China; e de direita, Espanha e Portugal).
No entanto, ter uma posição política e/ou ideológica não é aval para ninguém distorcer informações.
E é dessa prática que a Veja é acusada.
As distorções na informação são graves, e devem (e podem) ser combatidas por vários meios, inclusive via Justiça.
É uma questão de confrontar o que se publicou com o direito do ofendido de reagir e contestar o publicado.
Tão grave quanto matérias manipuladas à vontade dos meios são as barrigadas.
Barrigadas são informações absurdas como a que deu o jornal O Estado de São Paulo, na década de 70, sobre o “descobrimento” de três pirâmides na Amazônia brasileira.
Ou a própria Veja, com a histórica barrigada do Boimate.
Folclore
Mas nem é preciso cometer desatinos e desacertos para ser alvo da língua ferina do povo (principalmente da parcela engajada em alguma coisa).
No final do século passado, a revista Veja teria mandado para Garanhuns, no interior pernambucano, um repórter fazer uma “extensa matéria” sobre o município, que seria uma espécie de antro dos pistoleiros de aluguel (assassinos pagos) do Nordeste brasileiro.
Conta a lenda que o jornalista foi bem recebido pelas autoridades locais (que não saberiam da pauta) e a matéria teria sido aberta com a seguinte frase: “Antes de mais nada, Garanhuns é uma terra de assassinos”; o que teria provocado a reação do prefeito local: “A gente recebe esse filho da puta bem, e veja só o que ele escreve sobre a nossa cidade. Não é pra matar um cabra desse a peixerada?”.
Deixando de lado a inacreditável capacidade do ser humano de inventar histórias, o que se tem, neste caso, é a velha birra que se vê entre regiões de um mesmo Estado, birra essa que sempre necessita de um fator externo para ter alguma verossimilhança.
E que se lixem os fatos!
Enfim, é sempre salutar que a sociedade mantenha os meios de comunicação sob vigilância e crítica constante.
Mas é também preciso bom senso para que não caiamos (com nossas críticas aos meios) no ridículo de externar apenas a nossa ira por conta de informações que não casam com nossas ideologias e vontades.