
No iniciozinho do primeiro mandato de Luiz Inácio (bem antes, ainda, da eclosão do Mensalão do PT) parte da inteligência (sic) brasileira cismou de identificar o ex-metalúrgico como populista, pecha que persiste até hoje, e que vez ou outra até mesmo por este blog se usa.
De pronto, também por este blog, se contestou a ideia, identificando o então presidente como messiânico, daquele messianismo tantas vezes visto nesta Grande Terra de Tupã, e muito especialmente na figura de Antônio Conselheiro, aquele suposto beato de Canudos, do interior baiano.
Mais recente, acossado por um sem-número de acusações (veja alguns link abaixo), num primeiro momento o ex-metalúrgico e ex-presidente se apequenou, se escondeu.
Já sem fôlego e sem mais capacidade para sair às ruas e surfar nos mais de 80% de aprovação (agora inexistente), conquistada ao final de seu segundo mandato, Luiz Inácio apelou para as notas confusas do Instituto Lula (também apontado em inúmeros casos de corrupção) e na ida à justiça para tentar barrar a avalanche acusatória.
Esta semana que se finda foi pródiga para o ex-presidente e retornou Luiz Inácio aos seus primórdios messiânicos:
– perdeu mais duas ações na justiça (contra a capa da revista Veja, que o colocava na qualidade de presidiário e pela tentativa de tirar seu nome das investigações do Lava Jato) e foi coagido a prestar depoimentos (agora na qualidade de investigado, que ele teima em dizer que não seja) na Polícia Federal;
– ao invés de voltar para a casa e curar as feridas das derrotas acachapantes, Luiz Inácio fez um movimento no mínimo estúpido: foi para o sindicato dos bancários de SP (também envolvido em acusações de corrupção) e para o IL (idem, idem) insuflar o que restou da outrora grandiosa massa petista, hoje reduzida a um punhado de fieis seguidores fanatizados, aos moldes daqueles que acompanharam Conselheiro aos fundões baianos, no século 19.
Erro de cálculo

Muita gente, acredita que a verborragia lulista de ontem é passo temerário e perigoso, e pode levar o país a uma conflagração popular.
Não creio que o que restou de seus fieis seguidores fanatizados tenha fôlego e capacidade para tanto, inda mais pensando que essa claque é formada por gente pendurada em carguinhos e empreguinhos públicos e sindicais, portanto sem a representação popular que o PT e o ex-presidente ostentaram outrora.
O troco dos anti não demorou a chegar. A rigor começou bem cedo com o foguetório e as concentrações e festejos, sempre deseducadas, nas ruas, enquanto Luiz Inácio prestava depoimento na PF, em São Paulo.
Continuou durante a tarde com o panelaço sobre a fala da presidente Dilma Rousseff, que viu por bem defender o padrinho em pronunciamento, e cresceu à noite com o aplausaço a Moro, durante o Jornal Nacional da Rede Globo.
O que restou
De objetivo ficou que Luiz Inácio não explicou absolutamente nada daquilo que está sendo acusado.
Preferiu, ao contrário, atacar a justiça, a imprensa e a tal da elite (elite da qual ele finge não fazer parte).
Perdeu, mais uma vez, a chance de abrir um debate sobre ideias e modos e meios de se governar um país.
Preferiu estimular um confronto nas ruas que não deverá acontecer, mas se acontecer ele certamente não estará por lá.
Lambança
Tal qual um comentarista de futebol, pode-se dizer por aqui que se tratou de uma lambança mal ensaiada e mal calculada; lambança na qual se tenta inverter a rota dos ponteiros do relógio, mas que deve (de alguma forma) fazer crescer a manifestação dos anti no próximo dia 13 (manifestação esta dada, antecipadamente, como minguada, inclusive por aqui).
O que Luiz Inácio aparenta conseguir, com seu discurso pleno de perseguismos e coitadismos, é afastar parte de seus apoiadores mais discretos e temerosos e ainda com um pouco de tino.
Enfim, cada um sabe onde amarrar o seu burrico e em que sombra.
Ocorre que as sombras sempre mudam de lugar, e a culpa, certamente, não é do Sol.
Referências
http://www.e-biografias.net/antonio_conselheiro/
http://www.historiadobrasil.net/guerracanudos/
Os movimentos “messiânicos” brasileiros: uma leitura – Alba Zaluar Guimarães
Leituras
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/03/1746681-vitimizacao.shtml
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160304_mercado_lava_jato_ru
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/03/160304_lula_transparencia_celebra_fd