
Estive, recente, com um físico brasileiro que deve toda sua especialização e pós graduação à Alemanha.
Sem titubear, disse (duas vezes) que o nazismo venceu por lá.
Já volto já, já ao assunto, mas antes uma lembrança.
Há alguns anos, para um grupo atônito de amigos, perguntei se o mundo seria pior agora caso o nazismo tivesse vencido a segunda guerra mundial.
Eles acharam a pergunta absurda, uma espécie de prova de que eu teria gostado de uma vitória do Terceiro Reich.
Eles me surpreenderam com a reação. Imaginei que fossem mais inteligentes e mais atentos.
Em momento algum perguntei ou afirmei se/que o mundo seria melhor com a vitória nazista.
Usei o adjetivo pior (comparativo de superioridade de mau; mais mau; que excede outro em maldade, em ruindade, em qualidades más – in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa – https://www.priberam.pt/DLPO/pior consultado em 20-03-2016).
Exemplos
Voltemos ao amigo físico.
A prova, segundo ele, de que as teses nazistas venceram na Alemanha se dá, pelo menos, em duas frentes:
– a sociedade e o Estado alemães (atuais) são extremamente controladores;
– os pequenos negócios na Alemanha desapareçam (ele cita como exemplo as ótimas padarias familiares) para dar lugar à indústria que despeja na sociedade produtos padronizados, tirando a possibilidade de a população comprar aquilo que deseja.
Acrescento eu mais um exemplo à sua tese, que pode ser encontrado em o “Mapa da educação profissional e tecnológica – Experiências internacionais e dinâmicas regionais brasileiras”, em seu Capítulo 1 – O sistema alemão de educação e treinamento vocacional: configuração institucional, pontos fortes e desafios (CCGE/2014).
Vejamos:
“… a Alemanha foi amplamente criticada pela comunidade europeia e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). As duas organizações e outras afirmam que o sistema de aprendizagem do país é incapaz de fazer frente aos desafios da transição de uma sociedade industrial para uma “sociedade do conhecimento” baseada em serviços, especialmente em função de sua taxa ainda modesta de ensino superior.
Durante a década recente, as taxas alemãs de participação e graduação no ensino superior aumentaram de modo significativo, mas, ainda assim, bem menos do que as de outros países. Além disso, o sistema alemão de aprendizagem tem sido criticado por direcionar os filhos das classes trabalhadoras para os programas de aprendizagem e “desviá-los” do acesso ao ensino superior…(POWELL e SOLGA, 2011; SHAVIT e MÜLLER, 2000)”. (pg.23) – todos os grifos são meus.
Goebbels
É impossível falar da Alemanha nazista sem que nos lembremos de Paul Joseph Goebbels, o Ministro da Propaganda do Terceiro Reich, responsável pelo “controle pleno sobre os meios de comunicação, artes e informação na Alemanha” (wp), a quem é atribuída a lógica de que uma mentira repetida várias vezes se torna numa verdade.
Nazismo à brasileira
Se meu amigo se sente à vontade para identificar práticas nazistas na Alemanha atual, eu, por razões muito similares, também me sinto à vontade para identificar práticas nazistas no Brasil (também atual).
Não será mais necessário, pelo menos neste texto, relembrar dos inúmeros exemplos que povoam o universo midiático e as redes sociais neste momento de acirrado debate político e ideológico.
São realmente inúmeros aqueles que usam da mentira, da desinformação, da desconstrução do outro, da manipulação grosseira.
Mas não vou me furtar a terminar este texto sem citar uma “bomba” que está circulando por blogues ditos progressistas e pelas redes sociais esquerdo-petista, dando conta de que pesquisa DataFolha (sem querer?) teria colocado o juiz Moro como possível candidato tucano à presidência em 2018.
Manipulação grosseira como se pode ver na reprodução que ilustra o texto acima, ou no próprio link do autor da façanha, o jornalista Rodrigo Viana.
Clareando os fatos
Trata-se de uma manipulação grotesca, grosseira e desonesta do nosso Joseph Goebbels, que praticou a façanha de até manipular a nota de rodapé da pesquisa.
Vejam lá:
CENÁRIO 4 com os três tucanos
Marina (Rede): 17
Lula (PT): 17
Aécio (PSDB): 14
Sergio Moro (SEM PARTIDO): 8
Serra (PSDB): 6
Bolsonaro (PSC): 5
Ciro Gomes (PDT): 5
Alckmin (PSDB): 5
Fonte: pesquisa Datafolha realizada nos dias 17 e 18 de março de 2016, com 2.794 entrevistados em 171 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos; outros candidatos citados –Luciana Genro (PSOL), Eduardo Jorge (PV), Ronaldo Caiado (DEM) e Michel Temer (PMDB)– não alcançam mais do que 3% em todos os cenários
Creio não ser preciso dizer mais nada, mas permanece minha dúvida: caso os nazistas tivessem vencido a guerra, o mundo hoje seria pior?