
Já defendi diversas vezes o papel de imprensa, e a necessidade de que seja livre para noticiar qualquer assunto, bem como para emitir os seus juízos de valor.
Mas como tudo na vida, a imprensa também tem e precisa ter os seus limites.
E ao que parece, ela está se desviando de seu caminho primário que é noticiar, informar e ajudar a formar uma opinião pública democrática e plural.
Os professores Reginaldo Nasser (Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC) e João Feres Júnior (Ciência Política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ) se recusaram, esta semana, a falar para a Rede Globo.
“Não dou entrevista para um canal que além de não fazer jornalismo, incita a população ao ódio num grave momento como esse“, disse Nasser.
“Não colaboramos mais com nenhuma mídia do grupo Globo. Vocês querem dar um golpe na democracia brasileira e não contarão com nossa colaboração“, afirmou Feres.
A situação da Globo tem se complicado nos últimos anos, registrando queda (geral) de audiência superior a 20%, embora a audiência do programa dominical Fantástico tenha crescido apenas este ano 20 p.p.
Esse tipo de movimentação de repúdio tende a aumentar daqui para frente.
Há anos, um pesquisador brasileiro (não estou autorizado a relevar aqui seu nome e nem o de sua instituição) pediu (o que não é usual) para ver uma edição do programa Fantástico (sobre uma de suas pesquisas) antes que fosse ao ar e exigiu que o narrador dos offs não fosse o Cid Moreira, que, para ele, dava entonação às matérias como se fosse um “narrador de enterro”.
Eu o entrevistei para uma publicação de CT&I, ele me contou essa história, com a exigência de que eu não a revelasse (daí as ressalvas acima).
A Globo atendeu às suas exigências.
Iraque
Quando os Estados Unidos invadiram o Iraque a primeira vez, na época da presidência de George Bush, o pai, por aqui ainda existia a Rede Manchete.
Participou dos primeiros programas de debate da emissora sobre a invasão um professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cujo nome não me lembro, só que era um pouco obeso e usava paletó sobre um pulôver.
Após contestar as teses defendidas pelos jornalistas da casa e por outros convidados, teses as mesmas usadas pelo governo norte-americano, o professor nunca mais apareceu.
Embora eu não tenha sabido de nenhuma explicação para o sumiço do professor, no caso creio que a produção da Manchete não o tenha, de propósito, mais convidado.
Sem TV
Não tenho mais aparelho de TV há mais de um ano e portanto não acompanho os programas noticiosos, mas já fiz muito isso, e deu claramente para perceber o desconforto dos jornalistas com aqueles convidados que escapam daquilo que as emissoras entendem como satisfatório.
É um caminho perigoso este adotado, em particular, pela Rede Globo.
Esse tipo de distorção não se viu nem mesmo no programa Roda Viva (TV Cultura) durante a gestão de Paulo Maluf (governador), mas o atual, Geraldo Alckmin, deu um jeito de tornar a emissora e o programa em apêndices do tucanato e anti-petistas.
O problema das emissoras de TV e de muitos veículos de comunicação com seus convidados, no entanto, não se restringem apenas a acadêmicos e a gente famosa.
Embora ainda minoritária, parte da sociedade está reagindo à manipulação da informação ao recusar a falar com repórteres; com protestos, xingamentos e até agressões aos profissionais.
E esse problema, também, só tende a crescer.