
Hoje Brasília amanheceu nublada e sombria tal qual uma sexta-feira santa.
Quando eu era criança em Cotia (SP) tinha um certo desgosto com a sexta-feira santa. Não se podia fazer quase nada, como ouvir música e ir ao cinema.
O comércio não abria. Quem quisesse se precaver tinha de comprar pão no dia anterior para poder tomar o café da manhã.
Um amigo cotiano quebrou a perna durante uma pelada jogada na sexta-feira santa.
Isso foi entendido como um castigo divino pela inobservância da regra cristã.
Só não explicaram por que outros peladistas não sofreram o mesmo infortúnio.
O avanço do Iluminismo (iniciado a partir do século 18, na Europa) foi, aos pouco, solapando as tradições religiosas (como é o caso do cristianismo, de origem judaica) e acabando com as suas suntuosas cerimônias.
Em países ditos “mais avançados” cresce em volume espantoso o afastamento das pessoas de suas religiões de berço e de tradição.
Isso é tomado por uma laicização da sociedade e por um crescimento do ateísmo.
A conclusão não me parece das mais corretas, porque ela (de propósito?) não contempla o crescimento da religiosidade da origem oriental (o budismo, por exemplo) e nem a ida desses neo-ateus para as práticas religiosas ancestrais e/ou autóctones, como , aliás, se vê muito por aqui.
O fenômeno está a se repetir em países ainda claudicantes, que resistem ao Iluminismo, preferindo, ainda, se apegar às religiões tradicionais.
O resistência no entanto não é mais capaz de frear a debandada, a negação e a migração.
Já se é possível encontrar o comércio aberto, as viagens turísticas para o prazer; assim como dançar, cantar, ouvir música, praticar esportes e se afastar cada vez mais do dogmatismo religioso tradicional, de suas imposições e de suas cerimônias, sem que nenhuma praga divina acosse nossa consciência.
Quando ainda morava no condôminio Lúcio Costa (Guará/DF) passei uma noite de natal incomodado com a farra e a barulheira proporcionadas por algumas famílias vizinhas.
Na manhã do dia 25 fui assuntar quem eram e descobri serem policiais militares.
Ao questioná-los da razão daquilo tudo, me responderam que estavam festejando o natal.
Estamos avançando aos trancos e barrancos, seja lá para onde for.