
O Brasil vive um momento excepcional de crise (crises – política e econômica) que não tem hora, dia, mês ou ano para acabar. A saída pode ser uma mudança radical e as estradas são bons caminhos.
A extraordinária crise norte-americana, iniciada no final dos anos 20, empurrou para as rodovias do país milhões de pessoas em busca de saídas, novas oportunidades e uma forma de continuar (sobre)vivendo.
As levas de “caminheiros” alteraram o comportamento dos norte-americanos, o que está registrado numa miríade de estudos, livros de ficção, nas artes plásticas, cinema, vídeos, músicas e documentários.
Para que não seja preciso se debruçar sobre essa montanha de obras de ficção e não ficção, talvez baste ver ou rever Thelma and Louise (1991) de Ridley Scott, com Geena Davis (Thelma) e Susan Sarandon (Louise).
Trata-se de duas garotas com idade superior a 30 anos que saem de carro em busca do Éden; Thelma fugindo de uma vida monótona e de um marido tosco e opressor; Louise, de empregos baratos e vagabundos, da violência sexual e da justiça de seu Estado.
Do capitalismo
A despeito da enorme controvérsia entre historiadores, cientistas sociais e economistas, o Capitalismo foi gestado, vagarosamente, do século 11 até o 15.
O século 16 é considerado o marco inicial (da consolidação) do Capitalismo que veio a ter, exatamente nos anos 20 do século passado, a sua primeira grande crise que não se debelou até hoje; crise esta tida, também, como o início do fim do sistema, que deve agonizar por mais um ou dois séculos.
Do Brasil
Terra de exploração intensiva de seus recursos naturais (pau-brasil, café, algodão, soja, borracha, ferro etc.), o Brasil demorou cinco séculos e meio para se inserir (como protagonista) no sistema capitalista mundial, mas, ainda assim, ancorado nas vendas de commodities.
A pretensão brasileira, iniciada mais fortemente durante a ditadura militar (1964-1985), foi abatida em voo com a agudização da crise capitalista que começa em meados da primeira década deste século, e que levou o país à (provável) maior crise de sua história e que, de quebra, destrói o governo de Dilma Rousseff, coloca contra a parede os poderes da República (Judiciário, Executivo e Legislativo) e põe em xeque a própria Democracia, como capturam as últimas pesquisas de opinião.
Do Temer

A possível ascensão de Michel Temer (o vice, sem votos) ao posto ocupado por Dilma Rousseff ameaça fazer o país retornar aos anos 80, do século passado, quando a última fase do Capitalismo tradicional, o Neoliberalismo, começava a se decompor.
Há quem dê (caso Temer assuma a presidência pra valer) poucos meses de “vida útil” ao vice substituto.
Os sindicatos de trabalhadores, os movimentos sociais, parte da classe média e do setor produtivo já começam a se mostrar inquietos com o possível governo temerista.
Não seria um presidente (com cara de “mordomo de vampiro”, no linguajar escrachado do jornalista José Simão, da Folha de São Paulo) capaz de recolocar o país nos trilhos do Capitalismo avançado, posição que a rigor nem chegou desfrutar.
Pelo contrário: suas acenadas medidas liberalizantes podem empurrar o Brasil para uma crise ainda maior e fazer crescer ainda mais a insatisfação popular com os rumos do país.
Da Dilma
Ao contrário de Collor de Mello, que renunciou, Dilma Rousseff ameaça resistir “até o último momento”.
Talvez jogue que o impeachment, de alguma forma, morra no próprio legislativo, ou que o STF venha a inocentá-la e, por consequência, fazê-la retornar ao Palácio do Planalto.
Trata-se de uma jogada de alto risco da presidente, pois pode aprofundar a crise brasileira, mas, de outro lado, fazer retornar o seu partido (o PT) à condição de competidor importante na eleição de 2018.
De estradas & mudanças
As condições de hoje são bastante diferentes daquelas das décadas de 20 e 30 do século passado, embora, no caso norte-americano sempre se pudesse migrar para o México, um país (à época) paupérrimo, com graves problemas sociais e pouco atrativo.
Hoje, para a população mundial pobre e sem emprego há uma miríade de acenos por todo o planeta, muito embora esses acenos venham de países que igualmente naufragam juntamente com o Capitalismo e enfrentam um crescente desconforto social.
O que resta, portanto, para o brasileiro acossado pela crise é seu próprio país, sua enorme extensão territorial e a multiplicidade cultural e de oportunidades.
Então, quem sabe, não seja este o momento de deixar para trás uma vida que (a rigor) não nos irá levar a lugar algum?
Mochila nas costas e pé na estrada!
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