Logo cedo, quando fui à padaria, um sujeito soltava foguetes para comemorar a queda de Dilma.
Quando me voltei, ele já estava de saída, mas deu para ver se tratar de um sujeito mambembe, mal ajambrado, com roupas velhas, sujas e rotas.
Não era, de certo, um morador de rua (há tantos por aqui), mas um sujeito visivelmente de poucas posses.
Como ele arrumou os seus foguetes para soltar e festejar não deu tempo para lhe perguntar, como também não deu para lhe perguntar o que e por que festejava.
Ele não pode ser contra a Dilma, contra o governo e comemorar a queda da presidente?
Claro que pode! Estamos numa democracia e cada um é senhor de suas vontades e condutor de seu próprio destino.
Mas é estranho, não pela queda de Dilma, mas pela subida ao poder de um grupo político cuja última coisa a fazer será olhar para os lados das gentes pobres do país.
Doutras festanças
Em 1998, assim que Fernando Henrique Cardoso venceu pela segunda vez Luiz Inácio Lula da Silva, encontrei, no início da rua Augusta, no centro de São Paulo, um sem-teto cantando e dançando: “nós vencemos, nós ganhamos”.
Parei para perguntar-lhe quem éramos nós, os vencedores, e nós, os vencedores, havíamos vencidos o que ou quem.
Esperto, ele percebeu a armadinha de minhas perguntas, resmungou, deu-me as costas e foi embora.