Ó Deus, o que está acontecendo com as mulheres?

Rei 03
Feministas, mulheres de útero seco, segundo Reinaldo Azevedo (crédito da foto: blogueirasfeministas.com)

É preciso tomar cuidado com as palavras; “palavras são navalhas[1]. O que está subentendido na palavra Deus, assim como dicionarizado na maioria das línguas, é que seja um Ser masculino. Nas religiões ditas abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo) Deus é um sujeito velho, barbudo e bastante bravo.

Daí que se tem que ao criar o mundo Deus fez o homem a sua imagem e semelhança.

Homem também é uma palavra de gênero masculino, concluindo-se, portanto, que a mulher é um ser menor, que deriva do homem, sendo ela deixada em segundo plano, submissa e subalterna.

Nunca gostei dessa história de Deus ser masculino.

Atropelo os doutos dicionários: Deus não é nem masculino, nem feminino e muito menos substantivo de dois gêneros.

Deus é Deus, está acima de todas as coisas, inclusive da semântica e da filologia.

Gênesis narra dois acontecimentos em meio à Criação que explicam um pouco esse machismo todo:

– Deus pegou um monte de barro, esculpiu o homem e lhe deu vida. Depois pensou melhor e viu ter feito o serviço pela metade, sacou uma costela de Adão e dela fez a mulher;

– Eva, a mulher, pelo que está narrado, era um ser sibilino, traiçoeiro que com a ajuda da serpente enganou o companheiro.

Foi o segundo recuo de Deus (Temer tem em quem se espelhar): botou o casalzinho pra correr do Paraíso.

Como defesa, Deus poderia argumentar que Eva é um subproduto seu, coisas de Adão e não de Seu barro modelável.

Se justificativa há para o machismo, não precisamos gastar nossos olhos com outras leituras. Ela, a justificativa, está nessas duas passagens de Gênesis.

Das procissões

Já disse em outras passagens que adoro enterros e procissões. Quando ainda era ginasiano fui escalado para “portar” a bandeira do Brasil num desfile de 7 de setembro. Deixei o desfile apenas porque ao lado passava que cortejo fúnebre de um cara que eu não conhecia, mas aquilo me pareceu bonito e fui junto.

Quando eu era criança, criança mesmo, com mais ou menos 10 anos, meu pai me arranjou uma presepada danada. Seu cúmplice foi um padre português, pároco de Cotia (igreja Nossa Senhora do Monte Serrat), que vivera na África (não me lembro em qual colónia portuguesa) e adorava uma cervejinha.

De terninho azul-marinho, calça curta, camisa e meias brancas e sapato preto eu era um dos 4 meninos obrigados a segurar uma espécie de cerquinha feita de madeira e embalada em papel crepom branco.

Quem deveria estar dentro da cerquinha era o excelentíssimo senhor governador do Estado de São Paulo, Ademar de Barros, o “rouba mas faz”, e sua excelentíssima esposa, dona Leonor Mendes de Barros. Nenhum dos dois apareceu para meu alívio.

Mas não se desesperem minhas caras feministas: além de dona Leonor, a participação feminina também estava garantida – quatro meninas vestidinhas de branco e cinta cor de rosa de cetim nos fariam companhia, como damas-de-honra e objetos de decoração a distribuir sorrisos a quem assistisse àquela cerimônia, testemunhas vivas de que na política e na religião nunca se esquece do papel destinado às mulheres.

Das reviravoltas

Estudo sueco (aquelas coisas dos cromossomos XX e XY) dos anos 60 altera o rumo da Evolução[2]: a mulher é mais inteligente que o homem.

Um estudo sempre é bom, mas talvez nem precisássemos desse. Parafraseando Sherlock Homes: “elementar, meu caro Watson”.

Os suecos abrem novas portas para além da velha guerra dos sexos.

Quem teve ou tem “animais de estimação”, tipo cachorros e gatos, já deve ter percebido a diferença de comportamento entre os dois gêneros.

A fêmea é sempre mais cuidadosa, mais espreitadora, mais contida; não se mete em qualquer presepada, a não ser por necessidade.

O macho, não! É useiro e vezeiro em se meter em enrascadas, em se machucar e em atacar outros seres que não estão lhe fazendo nada.

Voltando ao universo humano, isso talvez explique porque os homens são mais  vítimas (em escala geométrica) de eventos violentos do que as mulheres.

Do feminismo

Há uma miríade de livros tidos como iniciadores ou re-iniciadores do feminismo. Destaco dois:

O Segundo Sexo[3], de Simone de Beauvoir, 1947;

A Mística Feminina[4], Betty Friedan, 1963.

Independente do estudo sueco citado acima, o que se tem, neste momento, em todo mundo, é uma reviravolta nessa hierarquia de gênero.

Trata-se de uma mudança de paradigmas. Gostemos ou não gostemos nós, os machos.

Mais do que qualquer outro segmento social (recortemos a sociedade do jeito que quisermos), as mulheres estão fazendo uma revolução, e uma revolução mundial que não permite retornos e retrocessos.

Não teremos mais menininhas vestidinhas de branco e cinta cor de rosa de cetim a acompanhar docilmente a nós, os jovens machinhos, trajando terninhos azul-marinho, calças curtas, camisas e meias brancas e sapatos pretos.

Como diriam os franceses: “c’est fini

Notas

[1] Apenas um rapaz latino americano, Belchior

[2] Evoluçãoato, processo ou efeito de evoluir; qualquer série de movimentos desenvolvidos contínua e regularmente.

Em Charles Darwin, mudanças ou transformações nos seres vivos ao longo do tempo, dando origem a espécies novas, tendo suas bases fortemente corroboradas pelo estudo comparativo dos organismos, sejam fósseis ou atuais.

[3] Para a sua versão eletrônica acesse brasil.indymedia.org/media/2008/01/409660.pdf

[4] Para a sua versão eletrônica acesse brasil.indymedia.org/media/2007/02/374147.pdf

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