
As pedras do dominó dos governos centro-esquerdistas da América Latina não param de cair: Peru, Venezuela, Argentina, Brasil e, agora, a Nicarágua.
Não que Maduro e Dilma já tenham sido definitivamente defenestrados (é até capaz de não serem), mas estão às portas de.
Resiste, ainda, a tida como sensível e moderada Michelle Bachelet, a presidente chilena. Mas pergunta-se, necessariamente, até quando.
Em matéria adensada (no site UOL e na Folha de São Paulo), Sylvia Colombo narra, a seu modo, as agruras pelas quais passam Daniel Ortega, o sandinismo [1] e a Nicarágua: “Presidente radicaliza regime e coloca em risco democracia na Nicarágua” [2].
Não que Ortega esteja caindo neste momento. Muito pelo contrário. Deve se reeleger (mais uma vez) nos próximos dias. Mas a artilharia pesada contra seu governo já começou.
Se lá a desculpa não é a corrupção, como aqui, a artilharia bate pesado no “risco à democracia” (sic).
Ao lado da chamada do site UOL para o texto de Colombo vê-se um link para a coluna de Reinaldo Azevedo, que a propósito de falar dos estragos provocados pela delação de Sérgio Machado termina pedindo a PRIVATIZAÇÃO JÁ! da Petrobras.
Anteontem, o líder oposicionista venezuelano Henrique Caprilles esteve em Brasília pedindo apoio a José Serra, o nosso não diplomata de ocasião, para que o Brasil aperte o cerco contra a Venezuela e Maduro.
Talvez estejamos às portas de reatualizar a Operação Condor[3].
Aparenta existir uma mão (invisível) que balança o berço; talvez duas: os interesses hegemônicos dos EUA e do capital.
Mas talvez seja uma coisa só e as duas mãos se juntem num mesmo gesto.
Paranoia esquerdista?
Improvável! É muita coincidência que as pedras do dominó dos governos ditos populares caiam ao mesmo tempo para que o ato possa ser classificado como paranoico.
Notas
[1] Conjunto de ideias nacionalistas e anti-imperialistas inspiradas na ação do líder revolucionário nicaraguense César Augusto Sandino.
[2] É de se notar que a jornalista da Folha de São Paulo não se preocupou em ouvir Ortega, gente de seu partido e apoiadores. Todas as referências da matéria são de opositores, analistas internacionais (seja lá o que isso queira dizer) e ex-sandinistas.
[3] A Operação Condor foi uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul [Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai] com a CIA dos Estados Unidos, levada a cabo nas décadas de 1970 e 1980, cujo objetivo de coordenar a repressão a opositores dessas ditaduras, eliminar líderes de esquerda nos países do Cone Sul e à Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS), criada por Fidel Castro.
Montada por iniciativa do governo chileno, a Operação Condor durou até a onda de redemocratização, na década seguinte. A operação, liderada por militares da América Latina, foi batizada com o nome do condor, abutre típico dos Andes que se alimenta de carniça.