
Os acontecimentos desta quinta-feira, em Dallas (Texas/EUA), que provocaram a morte (por enquanto) de cinco agentes da polícia, alvejados por francos atiradores, em resposta às duas mortes de homens negros por policiais, podem se estender para esta sexta-feira e, quiçá, pelo final de semana ou mais além.
É uma maneira sensata de reagir ao arbítrio policial contra a população negra (afrodescendente)?
A resposta vai depender de que tese você defenda, mesmo que você, aparentemente, não defenda tese alguma.
Diz-se que a guerra é a extensão da diplomacia ou vice-versa.
Não importa, importa, sim, ver que as recorrentes mortes (por policiais) de homens (e mulheres negras também) nos Estados Unidos e o massacre das populações periféricas no Brasil (majoritariamente não brancas), também por policiais, indicam uma falência do Estado e que as políticas públicas não funcionam, se é que funcionaram algum dia.
Parece que não!
Das responsabilidades
Exceto camadas da população que têm posição firmada contra ou a favor às/das ações policiais, no geral costumamos tirar nosso corpo e nossa responsabilidade fora dessa história dantesca, quando muito externando apenas nossas perplexidade e indignação em conversas com amigos e parentes e nas redes sociais.
No mais, não passamos disso.
Nossa opção por enterrarmos nossas cabeças na areia é apenas sintoma de nossa covardia ou de nossa indiferença (o que é uma forma de covardia).
Enquanto seres sociais, não contribuímos com nada para a solução do problema, muito pelo contrário, a indiferença é apenas um plus ao poder de quem usa do arbítrio, no caso, o sistema repressor, a polícia.
Talvez venhamos, no futuro, quando formos vítimas do mesmo arbítrio, a reagir, a acusar, a cobrar providência. Afinal, viramos, agora, vítima.
Mas aí “Inês é morta”
Das recorrências
Nunca me encantou, tanto quanto nunca me espantou as recorrências, por exemplo, “bandido bom é bandido morto” e “direitos humanos é direito de bandidos”.
São heranças familiares, são heranças sociais, são memes do sistema repressor, coisas das quais não damos conta por conta de nossa ignorância, de nossa incapacidade de refletir, de nossa preguiça e de nossa acomodação a uma vida que nos parece mais segura e sensata que seja assim.
Ontem, pouco antes dos acontecimentos nos EUA, acabei por me atritar com uma jovem paulista no Facebook, que, como era esperado, me acusou de “defender bandidos”, disse que “bandido bom é bandido morto” e, ato continuo, garantiu que o Face “não é democrático mesmo”, que ela não iria continuar lendo as minhas “baboseiras” e que, portanto, eu estava, a partir daquele momento, deletado de seu grupo de amigos: “by” (fechou aspas).
A mim não estranha que a minha desafeta seja mulher, seja jovem, tenha nascido e viva numa cidade periférica da grande São Paulo; que aparenta ser (economicamente) remediada, pose de rebelde e de gente “descolada”.
Ela faz parte do cardápio geral, daquele enorme grupo de gente que se move tangida por algumas verdades que estão postas e exploradas por quem pode usufruir delas.
É essa gente (em parceria com os “indiferentes”) quem mantêm o fogo do caldo cultural aceso.
Dito isso tudo, há que se ter que se é guerra então vamos à guerra, não aparenta ter outra saída, enquanto a sociedade não se movimentar no sentido de combater o arbítrio da repressão e serenar os ânimos.
Sonho que parece distante e, quem sabe, inatingível.
Acho que essa frase foi do Clausewitz: A guerra é a continuação da política por outros meios
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