
Era previsível que com o surgimento da internet (re)aparecessem também os velhos coveiros e as carpideiras de sempre a prognosticar e a chorar a morte do jornalismo.
A informação compartilhada e colaborativa e a quebra do monopólio da notícia pareciam indicar que coveiros e carpideiras tinham razão.
Fechamentos, fusões e migrações de plataforma também pareciam indicar que a “informação tradicional” estava por um fio.
Só parecia, pois uma observação mais acurada e isenta indicava que a produção da informação continuaria nas mãos dos profissionais e que “a participação” de “amadores e especuladores” empurraria a notícia (a informação) para um campo inseguro, amador, obscuro e, no mais das vezes, desonesto, sujeito aos interesses corporativos, grupais ou individuais, ou seja, não universal e não democrático.
No Brasil, por exemplo, ex-profissionais, já sem espaço nos meios de comunicação, inflavam o peito para festejar a derrocada do modelo tradicional, em manipulações grotescas daquilo que se via no dia a dia das mídias.
Das mudanças
É correto dizer que os meios tradicionais tiveram de se adaptar “aos novos tempos”, num processo bastante dolorido e demorado.
Há dois anos ou um pouco mais, veículos e editorias especializados na área de ciência e tecnologia fecharam os seus espaços para as colaborações e os comentários de internautas, e dificultaram a reprodução parcial ou total de textos e de conteúdos.
Estudo realizado por universidades norte-americanas indicaram que os comentários alteravam a percepção de quem lia/acessava os conteúdos (informativos) científicos.
Vários veículos em todo o mundo já haviam colocado, desde o início do novo modelo de produção de informação, óbices consideráveis aos comentários dos senhores internautas.
O caso mais notório sempre pode ser verificado no jornal O Estado de São Paulo, na sua versão online.
A partir deste mês, o jornal Folha de São Paulo também passou a criar um sem número de obstáculos aos comentários; jornal que já havia (como diversos outros) dificultado a cópia e a reprodução de conteúdos por ele produzidos.
Dos futuros
Os veículos de comunicação tradicionais tentaram toda sorte de artimanhas para sobreviver ao novo tempo da informação e à avalanche democratista (sic), passando, por exemplo, a cobrar pelo conteúdo disponível na web.
Não era uma boa medida, como se registrou por aqui , diversas vezes.
Estudo realizado pelo American Press Institute indica que “nada menos que 69 dos 98 jornais norte-americanos com tiragens médias maiores de cinco mil exemplares abandonaram a cobrança de acesso às notícias online de forma temporária ou definitiva”.
Mas nem tudo são espinhos na vida da informação profissional, especialmente na do jornalismo impresso, a principal vítima das novas plataformas de informação.
Peter Preston, no britânico Guardian, diz que “Le Monde mostra que o jornal impresso ainda tem futuro”:
Louis Dreyfus, publisher do jornal Le Monde, conta uma história bem maior. Há cinco anos, o mais famoso jornal da França estava perdendo dinheiro rapidamente e, aparentemente, caminhando aos solavancos para o túmulo. Porém – após uma espécie de enfrentamento com a equipe editorial, que achava que mandava no jornal – os proprietários comerciais do jornal adotaram uma nova estratégia que poderia ser chamada “tudo menos a pia da cozinha”. “No Monde, acreditamos que o jornal impresso não morreu”, diz Dreyfus. “Sejam quais forem as dificuldades e as perdas, as pessoas irão comprar o nosso produto, tanto impresso quanto digital, desde que tenhamos conteúdo exclusivo. Iremos sobreviver e crescer se tivermos os melhores jornalistas e essa é a nossa principal prioridade.”
Acrescente-se a título de fechamento deste texto, que mais de 90% do conteúdo informativo reproduzido, por exemplo, nas redes sociais e em blogues e sites “amadores”, tem origem na imprensa tradicional, quer seja em sua forma integral, quer seja parcial, alterado ou manipulado.