O jornalismo é uma atividade controversa e permanecerá assim até o seu último dia, caso esse dia chegue. A reação ao informado depende do humor do consumidor de informação, que varia segundo seus valores, suas crenças e as oportunidades ocasionais.
Não há ilusão ou medo entre os profissionais de que um dia todo o publicado seja plenamente aceito ou, de outro lado, completamente recusado pelo consumidor de informação.
Os profissionais não sofrem desses devaneios e/ou dessas paranoias.
Karl Marx foi um defensor ferrenho da “imprensa livre”, muito embora todos os Estados que se diziam ou se dizem “comunistas ou socialistas” tenham censurado a imprensa como estratégia de estancar as informações dos “podres poderes” que deveriam ser disponibilizadas/ofertadas à população, o povo.
Marx, aliás, fazia uma analogia da imprensa livre com um telescópio, e, segundo ele, a imprensa tinha/tem tanto poder de mudar a percepção da população sobre as coisas, quanto um telescópio tinha/tem de alterar as leis do universo.
Em países, como é o caso atual do Brasil, assustados e acossados por crises violentas e profundas, há uma tendência de se socorrer dos veículos de comunicação para se saber o que está ocorrendo, por que ocorreu e o que vai acontecer no futuro imediato.
Paralelamente, os veículos de comunicação entram na alça de mira, quer seja da população em geral, quer seja de gente que se diz e se acha especialista em comunicação.
Das sutilezas
A imprensa e seus profissionais, no entanto, fazem por onde merecer as pesadas críticas que recebem. Já se tratou diversas vezes disso por este blog, a última, recente, em Jornalistas vestem a camisa dos patrões e isso é ruim para o jornalismo.
Muita gente, e não são poucos, defende que a imprensa deveria “ter lado”; admitindo-se (de forma simplória), por exemplo, que o mundo seja dividido em esquerda e direita, e que então devessem existir veículos de comunicação parte de um lado, parte de outro.
Não sei se a isso poderíamos chamar de “liberdade de imprensa” ou de informação. Acho que não.
Uma das sutilezas mais enervantes da profissão mostra que o jornalista não trabalha (não tem como) com “verdades” (até porque a “verdade” não existe), mais sim com fatos, ou melhor dizendo, fragmentos de fatos, em outras palavras, versões de dado fato ou factoide (o fato não existente).
Isso não é uma desculpa para nossos desvios e nossas impropriedades.
É, apenas, uma constatação cruel de que nós, os jornalistas, estamos atônitos e perdidos tanto quanto está o consumidor de informação.
Das comunicações
No meio se diz que “assessoria de imprensa” ou ”de comunicação” é uma não atividade de jornalismo, posto que os profissionais da área divulgam apenas “verdades”, verdades que interessam apenas a quem lhes paga.
Nos cursos de comunicação social (sic) há um misturão geral cujos ingredientes são jornalismo, publicidade&propaganda e até relações públicas.
Nunca consegui entender isso, posto que estamos tratando de atividades diferentes (muitas vezes antagônicas) a serem desenvolvidas por estratégias e meios diferentes.
Mas, quem sabe, isso seja proposital (vide mais uma vez o artigo citado acima).
Das reações
As reações do público em geral à informação divulgada guardam, no mais das vezes, muito de injustiça e de incompreensão; muito por conta de que o povo quer ver espelhadas na mídia apenas as suas crenças e os seus valores.
Não se esqueça, igualmente, da reação dos “alvos da notícia” sempre prontos a se furtar a suas responsabilidades e de buscar esconder os seus malfeitos.
Nada disso, no entanto, pode e deve esconder e/ou escamotear os muitos erros, desvios e equívocos dos profissionais e de suas empresas.
A saída deveria estar no reconhecimento, por parte de profissionais e de empresas, desses muitos erros, desvios e equívocos.
Se eles não fizerem isso (e a maioria parece não querer fazer) a saída fica com o consumidor de informação, ao deixar de comprar/assinar jornais e revistas e a “trocar de estação” (TV e de rádio).
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