Internet vira santuário de crendices e desinformação e pode destruir a memória e o conhecimento

Teoria 01
Conspiração há, lá como cá – foto: http://www.publico.pt

Não sei quando (só vi uma re-postagem da postagem nas redes sociais) um blog de jornalismo mostrou um sujeito do Instituto Liberal dizendo que o vice-presidente, agora efetivado, Michel Temer, é comunista.

Ilustrava a postagem do blog uma manipulação, até bastante grosseira e mal feita, de uma foto de Temer abrindo a camisa (gesto característico do super-homem) para mostrar no peito o símbolo do comunismo – a foice e o martelo em amarelo sobre vermelho.

Não deu para saber quem fez a montagem, se o blog ou o liberal.

Além de Temer, o texto identifica Ulisses Guimarães [1] e John Kennedy [2] (ambos mortos, aliás, em circunstância trágicas) também como comunistas.

A conclusão do liberal para justificar o comunismo de Temer seria uma frase famosíssima de Kennedy, que o vice efetivado teria repetido em algum lugar e em tempo indeterminado: “Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país”.

O texto do liberal estaria no site do Instituto. Ocorre que não está. Ou foi retirado (o que é mais provável) ou nunca esteve. Mas vale notar que o IL costuma fazer esse tipo de coisa mesmo.

A cota de comunismo de Ulisses Guimarães entra na história por conta de o ex-deputado federal ter sido um dos fundadores do PMDB, partido que, assim como o PT de Lula e Dilma – dois outros comunistas, é óbvio –, é um disfarce comunista (segundo o liberal) para que a população não se choque tanto assim.

Das multiplicidades

A teoria é complexa e sofisticada; mas não se espante, pois esse tipo de raciocínio profundo nasceu com o ser humano e deu origem, por exemplo, às crendices sobrenaturais e à religiosidade.

O que os meios de comunicação hoje fazem (especialmente a web e as redes sociais) é alavancar esse tipo de maluquice; maluquices que têm público fiel e cativo e que pelo jeito cresce a cada dia.

Não é incomum nas redes sociais lermos, por exemplo, entre pessoas que cultivam um ódio visceral e irremovível pelos Estados Unidos, que os eventos de 11 de setembro de 2001 foram arquitetados e executados pelo próprio país como uma justificativa para uma série de invasões a países do Oriente Médio (sic) ricos em petróleo.

Essa teoria também é complexa e sofisticada, inclui até hologramas de aviões (aqueles que atingiram e derrubaram as Torres Gêmeas, em Nova York) e um conluio da imprensa norte-americana com o governo para esconder a verdade.

Não é necessário ressaltar aqui o quanto é difícil conversar com pessoas que acreditam nessa estratégia mirabolante do governo norte-americano e naquelas que andam por aqui.

ATENÇÃO! PERIGO! MATERIAL ALTAMENTE TÓXICO

Teoria 02
Chuvas e trovoadas; perigos e conspirações sempre nos aguardam – sinalizacaofacil.com.br

A mistura e o embaralhamento de fontes de informação (reais/confiáveis + inventadas/plantadas) transformaram as mídias (sejam quais forem elas) num pântano manipulável e de desinformação e estimularam o crescimento daquilo que se chama teoria da conspiração.

Mas há um perigo maior ainda, este para a memória coletiva e para o conhecimento humano: o desaparecimento do que foi dito e informado no pântano da informação eletrônica, tida como coletiva e democrática.

O exemplo citado logo no início do texto, o caso do Instituto Liberal, não é incomum.

Quem se sente acossado por críticas ou contestado em suas teorias e verdades costuma fazer isso; acrescente-se, no entanto, um perigo ainda maior: os próprios provedores fazem isso costumeiramente, seja por encerramento de um site ou de um blog, por exemplo, seja por uma espécie de faxina que se faz por lá no sentido de liberar espaços ou ainda por problemas técnicos.

Das imortalidades

Dados como mortos (ou, pelo menos, moribundos) os impressos (jornais e livros, por exemplo) teimam em resistir, como mostra pesquisa do Pew Research Center [3].

Poderão, eventualmente, até mesmo vir a desaparecer no futuro, mas esta seria uma péssima ideia, porque, com toda precariedade tecnológica que se possa ver neles, alguns exemplares hão de ser resguardados em algum canto da Terra, certeza que não poderemos ter com a informação e o conhecimento armazenados/hospedados na internet.

Notas

[1] Político brasileiro, ex deputado federal e presidente da Câmara morto em acidente aéreo no litoral sul do Estado do Rio de Janeiro.

[2] Ex-presidente democrata dos EUA assassinado a tiros em Dallas, Texas.

[3] “Não, a internet não está matando o livro impresso” – http://porvir.org/nao-internet-nao-esta-matando-livro-impresso/.

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