Assim como em 2013, 2015 e no início de 2016, parte da população nacional resolveu, agora, se manifestar duramente contra a política brasileira e os políticos.
As manifestações atuais, embora ainda mais discretas, já registram atos de violência (quebra-quebra), em BSB, e o barulhaço paneleiro nas janelas de apartamentos brasileiros.
É provável que as “festividades de fim de ano” e as longas férias de verão arrefeçam (v.p.ex. Alegria fácil mostra imaturidade, alienação e bobice brasileiras) os ânimos um pouco e deem uma trégua aos políticos até lá por março (2017), quando o país começa a funcionar de verdade.
Mas eu não jogaria todas as minhas fichas apenas nesta possibilidade.
Pode ser que a irritação e os protestos embarquem juntos nas malas de veranistas e festeiros de fim de ano.
Embora a economia seja sempre apontada como o principal desestabilizador da sociedade (o que é correto), no Brasil pós 2012 foi a corrupção a principal causa de repúdio e protesto, e mantem-se assim até agora.
Se até março deste ano eram o PT, o Lula e a Dilma as principais figuras a serem execradas e massacradas nas ruas, agora são todos os parlamentares e o próprio presidente Temer, embora este ainda de maneira branda.
Dos protestos e das consequências
Não é muito provável que os assim chamados coxinhas voltem maciçamente às ruas vestidos de verde e amarelo.
A maioria dessas pessoas tinha um objetivo muito claro: derrubar Dilma Rousseff e, como consequência, enfraquecer o PT.
Como lembrou o ex-ministro Joaquim Barbosa, em entrevista à Folha de São Paulo, hoje, o impeachment da ex-presidente, aparentemente dentro das regras constitucionais, foi uma aventura encabeçada por 10 pessoas, que quebrou o equilíbrio político nacional e nos indica um futuro de instabilidades e de caos.
Do alto de sua sapiência, nenhum coxinha pensou nisso. Achou que era só “trocar o comando” que estaria tudo resolvido.
Se o perfil dos batedores de panela de agora (como registrou, aliás, a mídia) segue a padrão de 2015/início de 2016; o perfil dos ativistas de rua foge ao dos violentos de 2013, tendendo mais para a estudantada e jovens em geral, que buscam a superação da política e dos políticos; acrescido (os protestos) de membros de movimento(s) anarquista(s) que no Brasil começam a ganhar densidade e apoio de grupos do exterior.
Sem prestígio e sem força, o presidente Michel Temer não tem como conter nenhuma das ondas (a da violência nas ruas e a das panelas nas janelas).
Vai tentar se segurar ao poder sabe-se lá como.
Quem parece que, mais uma vez, não entendeu o que está acontecendo com o país são as esquerdas em geral e o Partido dos Trabalhadores em particular.
Esfacelada e com discurso velho, corrompido e inconsistente, a esquerda não consegue nem (re)conquistar os jovens e, muito menos, atrair os nacionalistas verde-amarelos batedores de panelas.
Talvez as esquerdas esperem por 2018 e por alguma candidatura salvacionista à presidência com Lula ou Ciro Gomes, por exemplo.
Mas o mais provável é que encontrem um campo já cultivado por outros chuchus e por outras batatas, e não sobre um espacinho sequer para a sua sementinha.