
‘Além desses testemunhos explícitos, quase todos do século XVII, existe uma circunstância que deve merecer aqui nossa atenção. Se procedermos a um rigoroso exame das alcunhas tão frequentes na antiga São Paulo verificaremos que, justamente, por essa época, quase todas são de procedência indígena. Assim é que Manuel Dias da Silva era conhecido por “Bixira”; Domingos Leme da Silva era o” Botuca”; Gaspar de Godoi Moreira, o ”Tavaimana”; Francisco Dias da Siqueira, o “Apuca”; Gaspar Vaz da Cunha, o” Jaguarete”; Francisco Ramalho, o “Tamarutaca”; Antônio Rodrigues de Gois, ou da Silva, o ”Tripoi”. Segundo versão nada inverossímil, o próprio Bartolomeu Bueno deveu aos seus conterrâneos, não aos índios goias, que por sinal nem falavam a língua-geral, a alcunha tupi de Anhanguera, provavelmente de ter um olho furado ou estragado. O episodio do fogo lançado a um vaso de aguardente, que anda associado a sua pessoa, Pedro Taques atribuiu-o a outro sertanista, Francisco Pires Ribeiro.’
Sérgio Buarque de Holanda, in Raízes do Brasil.