Só para começar por algum lugar digo (na verdade, reafirmo) que não tenho nada, absolutamente nada contra a terceirização, até porque vivi boa parte da minha vida profissional terceirizado.
Mas ontem tinha um sujeito reclamando (ele veio instalar na minha internet) de ser um trabalhador na condição de terceirizado.
De acordo com o jovem profissional, há algum tempo ele era funcionário “de carteira assinada” da empresa Vivo, quando entrou a onda da terceirização no Brasil , ele acabou perdendo o seu “emprego estável” e teve de se virar como motorista do Uber.
Segundo o profissional, por pressão da também jovem esposa deixou o “trabalho inseguro” de motorista de Uber para aceitar uma proposta de uma empresa (cujo nome não me lembro mais) que presta serviços para a Net.
Disse ele ainda que a sua jovem esposa assustou-se como o primeiro salário que jovem terceirizado recebeu (e que continua assim mesmo, segundo seu testemunho).
Alinda de acordo com seu depoimento, a cada trabalho concluído (que praticamente ocorre apenas uma vez ao dia) o sujeito ganha um ponto de bonificação, que após determinado acúmulo de pontos resulta em aumento salarial.
Mas, sempre tem um mas, caso o “cliente” reclame por qualquer razão, o terceirizado perde (é penalizado) 3 pontos, o que, mais ou menos, representa que dificilmente o sujeito vá conseguir aumentar o seu próprio salário.
A rigor nada disso deveria ser surpreendente, a não ser o baixo salário.
A pontuação nada mais representa a eficiência (ou não) do profissional. Se você não “erra” certamente deveria ter bons aumentos e até a chance (que são raras) de “subir dentro da empresa” .
Mas a remuneração realmente é bastante baixa para um serviço tão especializado como o dele (R$ 1.500,00) e o sistema de pontuação nesses moldes, não proporcional – 1 contra 3 – é bastante escravizante e na prática representa que o terceirizado fica preso numa roda viva, patinando num mesmo lugar, apenas esperando para, mais cedo ou mais tarde, ser dispensado.
São as mazelas desse nosso capitalismo de periferia, típico de quem (as empresas, no caso) apenas busca formulas de explorar o trabalhador e até de lesar o consumidor com trabalhos de baixa qualidade.
Quando Dilma Rousseff defendeu a projeto de regulamentação da terceirização – dos meios e não dos fins -, certamente ela estava prevendo algo mais substancial ao trabalhador e à trabalhadora brasileiro/a.
Uma salvaguarda mais civilizada tal como ocorre em países de capitalismo avançado (EUA, Grã-Bretanha, França, por exemplo) e para algumas profissões (minoria) aqui mesmo no Brasil.
Está aí uma boa explicação (entre outras, obviamente) para a queda da presidente Dilma Rousseff.