O jornalismo e as armadilhas das críticas gratuitas e de pouca profundidade

Desculpem-me falar na primeira pessoa mas logo aqui abaixo vocês vão saber por quê. Mas é justo que se peça, nesse caso, desculpas antecipadas.

Nunca fui o que se chama de jornalista generalista, daquele tipo que fala de tudo um pouco, sem me fixar ou me especializar numa ou em poucas editorias.

No meu caso preferi apenas (isso é algo generalista, é verdade) me fixar em direitos humanos e, também, em ciência  e tecnologia.

Passei , é verdade também, brevemente pela editoria de economia e como não poderia deixar de ser (até porque inescapável) pela política.

Como se vê economia e política, em meu caso, foram espécies de subtemas, ou se subárea de apoio, mas bastante importantes por serem, como se disse acima, inescapáveis.

Há quem já tenha dito, como boa dose de razão, que jornalista não é notícia, e eu levei essa história ao pé da letra.

Num mundo de egos inflados (egoico), como este em que vivemos, não é de se estranhar, no entanto, que jornalistas deixem o noticiário de lado para eles ou elas próprios/as se transformar em notícia.

Como já se disse (como se verá abaixo, em matéria do Diário do Centro do Mundo) esse tipo de profissional se transforma numa subcelebridade, da qual daqui a alguns anos – ou menos – ninguém irá mais se lembrar do que tenha feito de tão notável.

Grosso modo, a matéria do DCM está correta, embora o alerta (se é que se tratou de um alerta) seja inútil, posto que (se falando apenas de jornalismo e de jornalistas) está é uma história que irá se repetir a miúde daqui para frente.

O que me espanta, no entanto, é o caráter agressivo da matéria.  Não seria e não deveria ser para tanto. Pode-se até criticar o jornalista pela superexibição ao qual se submeteu, mas de uma maneira mais amena e educada, sem que se socorra de escorregões que beiram à grosseria.

De outro lado, também,  pode-se entender o texto do DCM como uma espécie de despeito, no vulgar, de dor-de-cotovelo: porque ele e não eu?

O campo da crítica, especialmente da crítica mais contundente, é um terreno perigoso, pantanoso, pedregoso que nos empurra (quase sempre) para que produzamos  textos rasos, de pouca profundidade; quando não, descontrolados e até mesmo provincianos, se é que se possa usar esta palavra por aqui.

Mas como o prometido acima (embora se mantenha a lincagem para a matéria também acima) reproduzo abaixo o texto do DCM na íntegra, como também o  uso da foto e da legenda tal qual usadas pelo DCM.

“O casamento de César Tralli e o narcisismo doentio que transforma jornalistas em subcelebridades. Por Kiko Nogueira”

Trali
César Tralli e Ticiane Pinheiro estão casados

[César Tralli é um resumo do que pode almejar um jornalista da Globo: virar mais uma subcelebridade doente.

Tralli casa com quem quiser, quando e como quiser, evidentemente.

Mas fica para os anais da psiquiatria, do narcisismo e da cretinice a necessidade de transformar o próprio casamento com uma moça chamada Ticiane Pinheiro em manchete.

Além da imprensa de fofocas falando de cada bocó presente, o casal colocou tudo em suas redes sociais. A festa aconteceu num hotel em Campos do Jordão para 250 convidados.

Rafaela, a filha de Ticiane com Roberto Justus, seu primeiro marido, foi dama de honra. Entre os “famosos” estavam Rodrigo Bocardi (?!?), Márcio Canutto, Gloria Vanique, Ana Hickmann, Otávio Mesquita, César Filho, Sabrina Sato.

A cobertura da imprensa foi ampla. O G1, da Globo, destacou — atenção — “o clima intimista da festa”. É inacreditável.

O apresentador do SPTV não perdeu tempo: no dia seguinte, já postou no Instagram um vídeo em que ele e a noiva recebem os anéis da menina Rafaela em frente ao padre e ele cai no choro.

“Aguenta coração. É muito amor por essa daminha. E pela mãe dela, agora minha esposa. Enfim, casados”, escreveu na legenda.

É obrigatório soar como um idiota? É para agradar a “audiência”?

Onde é que esse pessoal está com a cabeça? Em que momento passou a ser normal e desejável tornar público cada aspecto de sua vida?

Ele vai colocar fotos da noite de núpcias no Facebook? Teremos detalhes do acordo pré-nupcial? A separação vai ser televisionada?

Um mestre, falecido, gostava de repetir que “jornalista não é notícia”. César Tralli é a falência do jornalismo.

Seu público não será capaz de lembrar-se de uma única matéria relevante que ele tenha feito, um furo que tenha dado, uma análise interessante.

Mas ninguém vai esquecer do casamento de Tralli com uma moça chamada Ticiane, que ele fez questão de expor em redes sociais histericamente, como um subproduto de A Fazenda — e que durou menos de seis meses. ]

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