
Trabalhei por breve período, em 1983, na Imprensa Oficial do Estado de São Paulo até ser despedido por, segundo os meus algozes, eu ser petista (pasmem!).
Como se vê, a perseguição ao petismo (seja você petista ou apenas aparente ser) vem de longe.
Era governador de São Paulo Franco Montoro, que estava deixando o antigo MDB (agora o nome deve estar de volta) e ajudando a fundar o PSDB.
Em São Paulo, os tucanos estão há muito tempo por cima da carne seca, nadando de braçada.
Montoro não teve nada a ver com a história da minha dispensa. Aliás, sempre tive esse político paulista em boa conta, ou seja, ele era bastante correto, assim como sempre tive a mesma impressão de Mario Covas e de Fernando Henrique Cardoso, outros dois tucanos (só FHC está vivo).
Mas votar neles foi uma coisa de nunca fiz e nem me passou pela cabeça.
Era dirigente da imprensa o jornalista Audálio Dantas que este sim teve participação no meu defenestramento.
A história de minha dispensa não teve nada a ver com o meu suposto petismo. Nunca fui do PT e em momento algum disse o contrário. O que eu tinha era uma extensa ficha corrida de trabalhos com sem-terra, grupos indígenas e ribeirinhos – talvez tenha sido isso, mas…
… o que causou incômodo foi minha posição em defesa da participação de nós, os empregados, na diretoria da empresa.
Como se vê, mantenho-me anarquista, como sempre – e de família -, coisa que os tucanos não engoliram e nem aceitaram.
E o Maluf?
Essa história, porém, tem pouca importância no contexto da época, ou no julgamento de José Dirceu (“Mensalão do PT“ – antes que alguém esqueça) ou na prisão, agora, de Paulo Maluf.
Maluf, ou o doutor Paulo, como algumas pessoas o chamavam, era um cara encantador.
Certa vez me mandou um cartão de natal diretamente de Paris, como se privássemos de intimidades e nos visitássemos mutuamente.
Já é batida a história de que Maluf considerasse Paris a “cidade luz” – como era e é conhecida – pela qualidade de sua iluminação pública
Maluf não é tão estúpido para chegar a essa conclusão.
Noutra oportunidade que eu o entrevistei, ele perguntou pela minha ex-esposa (na época ainda éramos casados e pelas minhas filhas) como se estivesse saudoso de vê-las (ele nem as conhecia).
Como todos sabem, são táticas populistas de aproximação (mostrar intimidade com o interlocutor – com os jornalistas, por exemplo, como é o meu caso).
A imprensa oficial do estado de São Paulo, durante o governo biônico de Paulo Maluf, foi palco de uma das maiores trapaças política da história do Brasil.
De olho na eleição indireta para a presidência da República, que ocorreria em 1985, Maluf, nos finais de 1982 (na volta das eleições direta para governadores), colocou a imprensa oficial do estado de São Paulo a disposição de candidatos mais conservares e alinhados com os militares, que iriam concorrer à eleição de 82.
Foram confeccionados milhões de santinhos, carteiras, cédulas etc.
A vã esperança de Maluf era que os governadores apoiados (e supostamente vencedores) convencessem as suas bancadas na câmara e no senado a ajudá-lo derrotar Tancredo Neves.
O então governo paulista de Montoro, que sucedeu a Maluf, abriu sindicância para apurar o acontecido, e a bomba acabou estourando na primeira instância (justiça) em São Paulo.
Maluf se safou exatamente porque não havia nenhuma mísera assinatura, nenhuma ordem de serviço sua pedindo a confecção da tal panfletagem.
Sobrou obviamente para quem estava abaixo dele, ou seja, para o presidente da empresa e para mais um ou outro diretor e funcionário.
Ou seja, embora Maluf tivesse pleno domino do fato daquilo que estava sendo feito, acabou por escapar ileso.
Hoje, por outras razões, Maluf está sendo preso (veja aqui, por exemplo, https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/12/20/defesa-de-maluf-recorre-a-juiz-do-df-para-pedir-prisao-domiciliar.htm).
Maluf tem uma ficha corrida extensa, e já foi ídolo dos paulistas, assim como o são agora os tucanos e especialmente Geraldo Alckmin, também hoje envolvido em fraudes licitatórias.
Já José Dirceu acabou cadeia por conta do “Mensalão do PT” (“domínio do fato”) o que não aconteceu com Maluf.
Os tempos mudam, mas a estupidez da justiça permanece.