O domínio do fato que valeu para José Dirceu não valeu para Paulo Maluf que hoje está preso

José_Dirceu
Wikipedia

Trabalhei por breve período, em 1983, na Imprensa Oficial do Estado de São Paulo até ser despedido por, segundo os meus algozes, eu ser petista (pasmem!).

Como se vê, a perseguição ao petismo (seja você petista ou apenas aparente ser) vem de longe.

Era governador de São Paulo Franco Montoro, que estava deixando o antigo MDB (agora o nome deve estar de volta) e ajudando a fundar o PSDB.

Em São Paulo, os tucanos estão há muito tempo por cima da carne seca, nadando de braçada.

Montoro não teve nada a ver com a história da minha dispensa. Aliás, sempre tive esse político paulista em boa conta, ou seja, ele era bastante correto, assim como sempre tive a mesma impressão de Mario Covas e de Fernando Henrique Cardoso, outros dois tucanos (só FHC está vivo).

Mas votar neles foi uma coisa de nunca fiz e nem me passou pela cabeça.

Era dirigente da imprensa o jornalista Audálio Dantas que este sim teve participação no meu defenestramento.

A história de minha dispensa não teve nada a ver com o meu suposto petismo. Nunca fui do PT e em momento algum disse o contrário. O que eu tinha era uma extensa ficha corrida de trabalhos com sem-terra, grupos indígenas e ribeirinhos – talvez tenha sido isso, mas…

… o que causou incômodo foi minha posição em defesa da participação de nós, os empregados, na diretoria da empresa.

Como se vê, mantenho-me anarquista, como sempre – e de família -, coisa que os tucanos não engoliram e nem aceitaram.

E o Maluf?  

Maluf

Essa história, porém, tem pouca importância no contexto da época, ou no julgamento de José Dirceu (“Mensalão do PT“ – antes que alguém esqueça) ou na prisão, agora, de Paulo Maluf.

Maluf, ou o doutor Paulo, como algumas pessoas o chamavam, era um cara encantador.

Certa vez me mandou um cartão de natal diretamente de Paris, como se privássemos de intimidades e nos visitássemos mutuamente.

Já é batida a história de que Maluf considerasse Paris a “cidade luz” – como era e é conhecida – pela qualidade de sua iluminação pública

Maluf não é tão estúpido para chegar a essa conclusão.

Noutra oportunidade que eu o entrevistei, ele perguntou pela minha ex-esposa (na época ainda éramos casados e pelas minhas filhas) como se estivesse saudoso de vê-las (ele nem as conhecia).

Como todos sabem, são táticas populistas de aproximação (mostrar intimidade com o interlocutor – com os jornalistas, por exemplo, como é o meu caso).

A imprensa oficial do estado de São Paulo, durante o governo biônico de Paulo Maluf, foi palco de uma das maiores trapaças política da história do Brasil.

De olho na eleição indireta para a presidência da República, que ocorreria em 1985, Maluf, nos finais de 1982 (na volta das eleições direta para governadores), colocou a imprensa oficial do estado de São Paulo a disposição de candidatos mais conservares e alinhados com os militares, que iriam concorrer à eleição de 82.

Foram confeccionados milhões de santinhos, carteiras, cédulas etc.

A vã esperança de Maluf era que os governadores apoiados (e supostamente vencedores) convencessem as suas bancadas na câmara e no senado a ajudá-lo derrotar Tancredo Neves.

O então governo paulista de Montoro, que sucedeu a Maluf, abriu sindicância para apurar o acontecido, e a bomba acabou estourando na primeira instância (justiça) em São Paulo.

Maluf se safou exatamente porque não havia nenhuma mísera assinatura, nenhuma ordem de serviço sua pedindo a confecção da tal panfletagem.

Sobrou obviamente para quem estava abaixo dele, ou seja, para o presidente da empresa e para mais um ou outro diretor e funcionário.

Ou seja, embora Maluf tivesse pleno domino do fato daquilo que estava sendo feito, acabou por escapar ileso.

Hoje, por outras razões, Maluf está sendo preso (veja aqui, por exemplo, https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/12/20/defesa-de-maluf-recorre-a-juiz-do-df-para-pedir-prisao-domiciliar.htm).

Maluf tem uma ficha corrida extensa, e já foi ídolo dos paulistas, assim como o são agora os tucanos e especialmente Geraldo Alckmin, também hoje envolvido em fraudes licitatórias.

Já José Dirceu acabou cadeia por conta do “Mensalão do PT” (“domínio do fato”) o que não aconteceu com Maluf.

Os tempos mudam, mas a estupidez da justiça permanece.

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