
Em política (partidária) vale tudo. Vale tudo desde que sejam golpes baixos, desleais e traiçoeiros.
Nascido na ilegitimidade (é golpe?) o governo Temer é alvo da ira das esquerdas e de liberais mais esclarecidos, embora não votantes no petismo.
Por duas vezes (embora isso tenha ficado ligeiramente submerso, quando não, restrito aos muros do Palácio do Planalto – que, diga-se, não tem muros) Temer pensou e foi pressionado a renunciar ao cargo temporão que ocupava e que ainda ocupa.
Temer também se viu enrolado nas reformas trabalhista (que já aconteceu, mas que pode ser, a qualquer momento, derrubada) e da previdência (que não aconteceu ainda e dificilmente irá acontecer neste ano entrante, muito por conta das eleições presidenciais e estaduais. Quem irá se atrever da votar pela reforma e enfrentar a ira silenciosa das urnas?).
Como era aguardado, o Partido dos Trabalhadores e seus agregados menores pegaram pesado como Temer (até Dilma Rousseff, chegada a uma discrição, partiu para a guerra aberta e declarada); pegaram tão pesado que até a esposa do presidente, a Marcela Temer, se viu constrangida a recolher-se ao papel de esposa do presidente – e a apenas isso.
Nada, óbvio, diferente do que os opositores de então fizeram com Dilma Rousseff e com Lula da Silva.
O jogo é bruto e pesado, e como se dizia na várzea, antigamente, só vale bater da medalhinha para cima.
As críticas ao governo temerista seguem duas lógicas:
– a supressão dos direitos trabalhistas;
– a venda do patrimônio público a governos e a empresas estrangeiras.
Há ainda uma terceira questão (que na verdade deveria ser a primeira ou, a rigor, deveria ser a única) que é a estagnação econômica, com a falta de investimentos, o minguado mercado de trabalhado e o crescimento do PIB bastante discreto, para não dizer pífio.
Na linha de frente, como não poderia deixar de ser, das denúncias relativas aos direitos trabalhistas, está principalmente a Central Única dos Trabalhadores (CUT), ligada ao PT.
Sem se importar em atinar que o mercado de trabalho sofreu mudanças consideráveis nos últimos anos, onde não cabe mais o discurso arcaico e anacrônico trabalhista, ou seja, pequeno burguês, a CUT cada vez menos representa a vontade dos trabalhadores atuais e hoje apenas serve de braço (desarmado do petismo).
A venda do patrimônio nacional a governos e a empresas estrangeira igualmente deveria ser objeto de melhor análise pelos anti-temerista, já que o próprio PT estava tratando de se livrar (especialmente na era Dilma Rousseff) dos óbices que o estatismo sempre comporta.
De mais, há de se notar (já disse isso em algum lugar por aqui) que a China, tida como comunista ainda pelos supostos esquerdistas, é apoiada (já era assim no tempo de Lula e de Dilma) em sua incursão pelo território nacional para a compra de milhões de hectares pelo Brasil.
E quem não se lembra dos festejos (dos esquerdistas) por conta daquela história dos investimentos chineses, no governo de Dilma Rousseff, para ligar o litoral do Rio de Janeiro, via estrada de ferro, com o Pacifico?
O perigo para esta gente, portanto, não está em vender ou deixar de vender empresas e o patrimônio nacional, mas sim para quem vender.
E isso vale para os dois espectros da política nacional, com sinal, obviamente, invertido.
A questão, no entanto, é saber se o legado de Temer será tão ruim para o Brasil ou não?
Não parece que seja tão catastrófico assim como alguns querem demonstrar.
Estamos num país especializado em crises – tanto as econômicas, quanto as políticas – que sempre soube seguir em frente, sem maiores traumas, inclusive enfrentando uma feroz, absurda e longa ditadura militar que durou infindáveis 21 anos.
Lembremos, inclusive (só para ficarmos nos exemplo do pós-guerra), que tivemos, por exemplo, a crise do café, no inicio dos anos 50; as instabilidades provocadas pelo treloucamento de Jânio Quadro, que depois se repetiu com Fernando Collor de Melo; o golpe militar contra o governo trabalhista de João Goulart; o melancólico e catastrófico fim da ditadura militares e a conturbadíssima era José Sarney e sua inflação superior a 80% ao mês.
O Brasil segue um rumo lento (sempre lento!), mas seguro; o país não tem, obviamente, uma economia espetacular, mas também não será nada que nos levará a morrermos todos de fome daqui a dois dias.
Apesar de Michel Temer e do legado que deixará.