Eu vi um fantasma e tomei quatro sustos

Meu fantasma

Nem fantasma, nem bruxas, nem duendes existem, mas muita gente acredita em alguns deles ou em todos eles – “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay” –; então é bom não abusar, e mesmo que você não creia em nenhum deles é melhor não espalhar isso por aí.

Tomei alguns sustos na minha vida (acho que só foram quatro), e no mais recente deles uma mulher estava em cima de minha cama e, assim achei, armada com uma faca.

Imaginei, obvio, que ela iria me atacar.

Na brevidade daquele momento não deu para atinar qual a razão dessa violência.

Não havia mulher alguma e muito menos uma faca.

Assim que acordei, estava ainda aquele lusco-fusco [1] e o contraste entre a parede branca com a ainda quase noite (eu durmo de janela aberta) me enganou.

Passado o susto voltei a dormir.

Só depois de plenamente acordado, mais tarde, acabei por me preocupar com o meu próprio coração.

Sou recém-enfartado e o susto foi enorme, mas o coração resistiu muito bem – tão bem que voltei a dormir como disse acima.

Talvez fosse uma fantasma que resolveu, por alguma razão insondável, me poupar .

O penúltimo susto ocorreu lá pela final dos anos 70 e não teve nada a ver com fantasmas.

Dirigia eu pela Regis Bittencourt (BR 116), já nas proximidades do acesso ao litoral de Peruíbe (onde costumava acampar), quando um daqueles sujeitos cheios das pressas resolveu me ultrapassar numa curva.

O motorista deu de cara com um caminhão que seguia no sentido de São Paulo e, sem saída, resolveu jogar o seu carro contra o meu.

Não nos acidentamos por detalhes.

Quem sabe eu tenha um bom anjo da guarda. Vai saber?

Já fui caixa de banco – podem acreditar! – e , acho, que a altura de 72 ou 73 atendi a um cliente, daqueles homens elegantes (como não se tem mais), que ao afastar o seu paletó para tirar dinheiro me deu a impressão de que iria sacar um revolver.

Não era revolver. Era o cabo de guarda-chuva que eu até então não percebera.

Mas foi um bom susto aquele.

Quando ainda era criança, fui acometido de um daqueles soluços [2] que parecem intermináveis.

Minha mãe se preocupou com a recorrência do soluço e buscou resolver o problema à sua moda.

Creio que tenha aprendido o “truque” com uma de suas avós, que, segundo reza a lenda familiar, era uma indígena (não veio na lenda familiar a qual nação indígena a minha bisavô pertencia, mas se realmente era ela índia, creio que seria uma kaingang [3]).

Minha mãe, algumas parentes e amigas sentaram-se em círculo (e eu junto) e à nossa frente amontoaram um bocado de pólvora.

Pediram para eu me acalmar e em seguida atearam fogo à pólvora.

Foi aquele também um bom susto, especialmente para um sujeito de no máximo 4 anos de idade – como era eu àquela altura.

Seja o que for o que tenha acontecido o certo é quem o soluço desapareceu.

Portanto não duvide de nada, nunca.

Nem de fantasma, nem de bruxas, nem de duendes.

E repita como um mantra: “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay”.

Notas

[1] lusco-fusco – substantivo masculino – 1. momento de transição entre o dia e a noite; crepúsculo vespertino; o anoitecer; 2. p.ext. crepúsculo matutino; o alvorecer.

[2] soluço – substantivo masculino – 1. pranto entrecortado de suspiros acompanhados de espasmo; singulto. “afogava no lenço s. nervosos”; 2. fisl fenômeno reflexo que se manifesta por contração espasmódica e involuntária do diafragma, seguida de movimento de distensão e de relaxamento, pelo qual o pouco ar que a contração forçara a entrar no peito é expulso com ruído característico [Ocorre às vezes após a ingestão de líquido ou sólido.].

[3] Os caingangues, Kainguangs, kaingang, kanhgág, guainás, coroados, bugres, botocudos, camés ou xoclengues são um povo indígena do Brasil. Wikipédia . Distribuição geográfica no BrasilSanta CatarinaParanáRio Grande do SulSão Paulo

 

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