De jornais e doenças, um longo passeio pela vida

Nossa euUm sujeito está insistindo para que eu “monte” um jornal para “agitar” o município de Cotia, na Grande São Paulo.

Ele e eu somos aqui.

Ele é mais velho que eu (não sei exatamente qual a sua idade) e nunca daqui saiu.

Eu já bati um bocado de pernas e estou por aqui provisoriamente (até quando eu não sei – espero que a estada seja breve).

Disse-lhe que meu negócio não é mais “fazer” jornal, pois há muito migrei para outras plataformas (sites e blog, por exemplo) e não mais me apetece fazer esse tipo de jornalismo (que eu conheço bastante bem), o que fatalmente me levaria a depender de prefeitos e de vereadores, gente pelas quais nutro o mais absoluto horror e desprezo.

Poderia eu brincar/provocá-lo dizendo que toparia a empreitada se ele a bancasse (ele tem bastante dinheiro para tanto, embora seja um cara razoavelmente pão-duro).

Mas jamais lhe diria um despropósito desse quilate, pois além dele ser meu amigo, trata-se de um sujeito bastante respeitável e respeitado.

Mas não me entendam mal.

A pessoa em questão não tem intenções de tirar proveito da ideia, ganhar dinheiro ou influência.

Tenho certeza! Longe disso!

Ele está mesmo a fim de “agitar” Cotia; ele que sempre me pareceu ligeiramente (me permitam dizer dessa forma) um anarquista.

“O infarto lhe pega, doutor” [1]

Enfim, trata-se de um sujeito bem-intencionado (embora se diga que de boas intenções o inferno esteja cheio – mas não é absolutamente o seu caso), como muita gente também bem-intencionada tenta ser cordata e afável comigo, no pós-infarto, dizendo que eu vou me recuperar bem (já estaria, segundo esses observadores informais; o que não é exatamente a opinião de médicos e médicas que me atendem) e que vou acabar correndo, fazendo trilhas mais pesadas e difíceis e até subindo e descendo morros e montanhas.

Esse tipo de incentivo vem de forma mais sofisticada, com citações de outras pessoas que tiveram as mesmas sequelas que eu e, em alguns casos, até maiores, e se recuperaram bem, aliás, muito bem, obrigado.

Acredito em todas elas, por que não?

Mas há um pequeno probleminha nessas historietas incentivadoras e bem-intencionadas todas: os citados e/ou citadas, como exemplos, têm, todos eles e todas elas, por volta de 30 anos, talvez 33 ou 34 anos, enquanto eu estou já batendo nos meus 69 anos (daqui a pouco, em outubro).

Portanto há uma razoável diferença de idade a favor dos moços e das moças sugeridas como exemplos.

Ora, a essa altura, infartado ou não, dificilmente eu conseguiria subir ou descer montanhas, correr (coisa que eu nunca fiz) ou até mesmo me tornar um maratonista (coisa, aliás, para mim incompreensível).

Vá lá que eu ainda caminhe em média 10 quilômetros por dia e pretendo continuar a fazê-lo enquanto o coração e o restante do corpo me permitirem.

Agora sonhar com mais do que isso não é o caso, pois não faço, em absoluto, o tipo sonhador [2].

Mas ok, para as ambas as sugestões acima – jornal e plena recuperação –, valeram as boas intenções, coisa pelas quais agradeço, porém não creio.

Notas

[1] A banca do distinto: https://www.vagalume.com.br/elis-regina/a-banca-do-distinto.html

[2] Como Nossos Pais – https://www.letras.mus.br/belchior/44451/

 

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