Nos iludimos achando que a solução está fora de nós mesmos

Alemdaterra
Crédito da imagem: Apolo11.com

[William Blake disse que se pudéssemos limpar as portas da percepção nós veríamos tudo como verdadeiramente é: infinito. “Pois o homem se fechou, até o ponto em que enxergue as coisas através de fendas estreitas da sua caverna”.

É sempre tentador achar que as soluções estão fora de nós mesmos. Outros que falham em colaborar então podem ser culpados pelo problema. Lentamente na vida aprendemos que não podemos mudar o mundo ou as outras pessoas até que tenhamos primeiro mudado a nós mesmos. É perturbador que isso seja uma lei universal, mas que não exista forma de lidar com êxito com ela.

Uma tentativa de evadir a necessidade de transformação pessoal é pensar que podemos limpar as portas da percepção por meio de pegar algo externo a nós mesmos e colocar para dentro. A humanidade tem estabelecido uma relação com bebidas alcóolicas por dez milhões de anos e depois dominou a arte de produção cerca de dez mil anos atrás. Nossa atual epidemia de vício de drogas simplesmente confirma a facilidade que encontramos em escapar das dolorosas percepções da realidade ao distorcê-las por meios externos. Todo alcoólatra e viciado é testemunha da falência definitiva destas tentativas.

Se queremos ver as coisas como realmente são temos que limpar os poderes de percepção que nos permitem conhecer a nós mesmos como realmente somos. Existem vários destes poderes, assim como existem muitas dimensões de consciência nas esferas físicas, mentais e espirituais. Propriocepção, ou cinestesia, é o termo médico para um destes poderes, que é talvez a percepção que a maioria de nós toma como adquirida. É o senso ou sentido através do qual podemos perceber a posição e o movimento do nosso corpo. Por exemplo, mesmo com nossos olhos fechados, nós sabemos onde nossa mão esquerda ou direita está e o que estão fazendo. Nós também conhecemos por este sentido se estamos nos sentindo equilibrados. Os atletas são bons elementos para o estudo científico desta forma de percepção.

Nós praticamos isso – e limpamos isso – cada vez que meditamos, quando dedicamos alguns instantes para perceber o nosso corpo e a sua postura. Estamos sentados de forma ereta, em quietude, com o pescoço equilibrado e as mãos em posição – “de forma confortável e relaxada?” Esta verificação intuitiva se torna secundária com a prática regular e sustenta a meditação na apreciação da própria percepção. Que nós podemos ter consciência de nós mesmos nesta mais simples e imediata forma nos lembra de que somos seres sensíveis e não apenas indivíduos estressados, ansiosos, descontentes ou rabugentos. Alguns momentos de atenção com a nossa postura mostram um caminho para fora da caverna na qual Blake diz que aprisionamos a nós mesmos.

Pode parecer paradoxal, mas esta forma básica de autoconsciência, percepção sobre a nossa realidade física, inicia uma jornada na capacidade de estarmos centrados no outro. Se você preferir, é atenção plena básica e da forma como for praticada, trará os seus próprios tipos de benefícios. Mas, se não quisermos ficar presos na autoconsciência e se queremos aproveitar todos os frutos do autoconhecimento, precisamos dar o próximo passo. É por isso que meditamos e por isso que algum de nós apoie isso com o trabalho de limpeza de percepção da Quaresma.]

Texto original em inglês

[William Blake said that if we could only cleanse the doors of perception we would see everything as it truly is: infinite. ‘For man has closed himself up, till he sees all things thro’ narrow chinks of his cavern.’

It is always tempting to think that solutions lie outside us. Others who fail to collaborate can then be blamed for the problem. Slowly through life we learn that we cannot change the world or other people until we first change ourselves. It is very annoying that this is a universal law but there’s no getting around it.

One attempt to evade the need for personal transformation is to think that we can cleanse the doors of perception by taking something outside ourselves and putting it inside. Humanity has had a relationship with alcohol for ten million years and then mastered the arts of producing it about ten thousand years ago. Our drug-addiction epidemic today merely confirms how easy we find it to escape painful perceptions of reality by changing them by external means. Every alcoholic and addict witnesses to the ultimate failure of this attempt.

If we want to see things as they really are we have to cleanse the powers of perception that permit us to know ourselves as we truly are. There are many of these powers, as there are many dimensions of consciousness in the physical, mental and spiritual realms. Proprioception, or kinesthesia, is the medical term for one of these powers, which is perhaps the perception we most take for granted. It is the sense by which we can perceive the position and movement of our body. For example, even with our eyes closed we know where our left and right hands are and what they are doing. We also know by this sense whether we are feeling balanced. Athletes make good subjects for the scientific study of this form of perception.

We practice it – and cleanse it – each time we meditate, when we take a few moments to be aware of our body and its posture. Are we sitting upright, still, with neck balanced and hands in position – ‘comfortable and relaxed’? This intuitive checklist becomes second nature with regular practice and grounds meditation in the wonder of perception itself. That we can be aware of ourselves in this most simple and immediate way reminds us that we are sentient beings not just stressed, anxious, discontented or complaining individuals. A few moments’ attention to our posture shows a way out of the cavern in which Blake says we have incarcerated ourselves.

Paradoxical as it may sound, this most basic power of self-awareness, perception concerning our physical reality, initiates the journey into other-centredness. It is, if you like, basic mindfulness and however it is practiced it brings its own kinds of benefits. But, if we are not to get stuck at self-awareness and if we are to enjoy the fruits of self-knowledge, we need to take the next step. This is why we meditate and why some of us support it with the perception-cleansing work of Lent.]

  1. Laurence Freeman in Comunidade mundial para a meditação cristã.

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s