No dia em que quase assassinei o ditador Emilio Garrastazu Médici

Lula Dops
Foto da ficha de Luiz Inácio Lula da Silva, no DOPS, de São Paulo – Acervo O GLOBO

Alguns jornalistas, nominalmente Ricardo Boechat e Vera Magalhães, ele da Band e ela da Jovem Pan (é provável que existam outros, mas que me escapam às observações), a modo de criticarem as violências que ora cercam a Caravana do Lula pelo Sul do País, afirmam que tal comportamento apenas repete o que sempre se fez contra os adversários do petismo.

A primeira observação a ser feita é que se trata de uma forma bastante acanalhada de justificar uma conduta se espelhando em outra; numa espécie de olho por olho, dente por dente [1].

A segunda é que está se usando, neste caso, apenas o senso comum que foi, diga-se, bastante cultivado pela própria imprensa (a tal da grande) e pelos senhores (leia-se capital, dinheiro) a quem ela serve.

No caso, a população, desavisada e distraída, apenas entra de “boi de piranha[2] e apenas repete aquilo que já estava posto na mesa.

Num confronto cara-a-cara esses jornalistas dificilmente conseguiriam eles sustentar a difamação contestatória – muito pelo contrário, já que esse tipo de violência de direita abunda-se a perder de vista, sem a necessária contrapartida esquerdista.

Não se pode dizer, sem perder o pé da história, que as esquerdas (entre elas o petismo) sejam anjos de candura, mas é difícil anotar que desde o surgimento do partido, ele e seus militantes não tenham sido as vítimas, e não o contrário, os algozes de seus adversários e inimigos.

Aqui também os exemplos abundam e falam por si só.

Alguns petistas estão tão assustados, temerosos com os acontecimentos sulinos que chegam a sugerir/pedir a suspensão da Caravana do Lula, o que seria, convenhamos, uma demonstração de fraqueza, não compatível com a história do PT e muito menos com a história de Lula.

Obviamente que isso não deve e nem pode acontecer.

É correto esperar, no entanto, que o exemplo do Sul se espalhe pelo restante do País e que a partir de agora esse tipo de agressão recrudesça, o que pode desandar em direção de problemas maiores ainda, especialmente durante as eleições.

Mas não creio que seja o perfil da esquerda partir para o revide, partir para o confronto aberto.

Quando eu ainda era estudante de jornalismo tive, segundo alguns colegas, duas oportunidades de praticar atentados contra a ditadura militar.

Numa delas, foi cobrir uma cerimônia em Quitaúna, em Osasco, onde fica o 4° Batalhão de Infantaria Leve (4º BIL) do exército brasileiro.

Na outra, estive a dois passos do general Emilio Garrastazu Médici, o terceiro dos ditadores do golpe de 1964.

Em ambos os episódios meus colega de faculdade me questionaram porque eu não estava de posse de bombas e de algumas armas para “fazer justiça com as próprias mãos”.

A rigor não sou exatamente um sujeito corajoso e nem me passou pela cabeça fazer um troço desses.

E sem necessariamente ser um pacifista, nunca me pareceu oportuno reagir dessa maneira tresloucada, assim como entendo que de nada adiantará ao petismo reagir à violência que se vê no Sul do País com mais violência.

A não ser que se queira “colocar fogo no País” e dar chances a que extremistas e oportunistas, como Jair Bolsonaro, para possa chegar à presidência da república.

Leia também

1964-1985: anos de perseguição na USPJornal GGN

Terça-feira da Semana Santa – Comunidade mundial para a meditação cristã

O filósofo e o sofista, segundo Platão – Agência Fapesp

Brasil pode perder protagonismo nas ações da IPBES nos próximos anos – Agência Fapesp

América Latina: as faces do novo autoritarismoOutras Palavras

O golpe como elemento da Guerra HíbridaOutras Palavras

Estamos sob uma ameaça fascista? – IHU/Unisinos

Em livro de 1915, autora imagina país utópico e exclusivamente feminino – Revista Cult

Notas

[1] “Olho por olho, dente por dente” [*] é uma expressão que significa vingança, e que o castigo deve ser dado na mesma proporção do dano causado.

Olho por olho, dente por dente, é um dito popular que sugere uma punição do mesmo tamanho da ofensa.

A expressão “Olho por olho, dente por dente”, surgiu na antiguidade, onde a justiça era feita pelas mãos dos homens. (veja mais https://www.significados.com.br/olho-por-olho-dente-por-dente/)

[*] Lei de talião, pena antiga pela qual se vingava o delito, infligindo ao delinquente o mesmo dano ou mal que ele praticava. (Hamurabi, rei da Babilônia, no século XVIII a.C. – ibid.)

[2] Expressão popular brasileira que designa uma situação onde um bem menor e de pouco valor é sacrificado para que em troca outros bens mais valiosos não sofram dano.

 

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s