
Até maio de 1984 conhecia a Amazônia por sua periferia.
Explico: atravessei algumas vezes o hoje Estado de Tocantins; fui ao sul do Pará vez ou outra; nadei e naveguei no Tocantins, no Araguaia e em alguns de seus afluentes, mas nunca havia entrado (adentrado, como gostam de dizer os brasilienses) no interior da floresta, coisa que ocorreu apenas alguns meses após a nossa chegada (a de minha família e minha).
Foi uma experiência singular para um sujeito como eu, que não era da região, e que por lá é conhecido como “paulista”, mesmo não sendo, o que não é o meu caso.
Entrei no interior da floresta em outras ocasiões , mas a “primeira entrada a gente nunca esquece”.
Trilhamos um longo caminho até chegarmos ao destino, um “banho”, um local onde se banha e se diverte, “perdido” no meio da floresta, às margens de um igarapé sem nome, ou pelo menos eu nunca soube que tivesse um.
A Amazônia é uma suntuosidade, mas estamos muito próximo de perdê-la.
Agora se tenta avançar sobre a floresta com o cultivo de cana-de-açúcar, o que deve ser aprovado em breve pelo Senado, e, obviamente, o governo de Michel Temer não mexerá uma palha para deter a insânia.
Quando eu era ainda criança costumava me assustar com duas histórias sobre a Amazônia.
– a Amazônia seria totalmente destruída até no máximo o ano de 2000;
– a hileia é o pulmão do mundo e destruí-la significará a morte de todas as espécies – humanos no meio desse holocausto.
A destruição da Amazônia espera-se para breve, mas a história do pulmão do mundo não passa de uma enorme besteira como se pode ver por aqui [1].
Na segunda oportunidade em que entrei no interior da floresta acabei caindo num enorme buraco (havia chovido muito) e cheguei em casam assustando todo mundo, pois meu corpo todo era uma lama só.
Há histórias e histórias nesses 6 anos e tanto em que vivi na Amazônia, mas essas reminiscências serão contadas (se forem) aos poucos, em conta gotas.
Mas há algumas bastante importantes (as quais não necessariamente eu vivi) que foram o massacre dos índios pela ditadura militar (veja, por exemplo, aqui: https://istoe.com.br/massacre-de-indios-pela-ditadura-militar/) e a Ordem da Santa Cruz.
Nota
[1] Pulmão do mundo. No que você pensa ao ouvir essa expressão? Ora, só dá para imaginar que a Amazônia é a maior produtora mundial do oxigênio que mantém a Terra viva! Acontece que essa história de “pulmão do mundo” é uma enorme bobagem. Na verdade, são as algas marinhas que fazem a maior parte desse trabalho – elas jogam na atmosfera quase 55% de todo o oxigênio produzido no planeta. E mais: florestas como a Amazônia, segundo os cientistas, são ambientes em clímax ecológico. Isso quer dizer que elas consomem todo – ou quase todo – o oxigênio que produzem.
As estimativas variam, mas todas indicam que a parcela de oxigênio excedente fornecida pela Amazônia para o mundo é bem pequena. Talvez ela nem exista! É que, além de produzir oxigênio na fotossíntese (enquanto sequestram gás carbônico da atmosfera e o transformam em matéria-prima para galhos e folhas), as árvores também respiram – consumindo oxigênio e liberando gás carbônico. No fim, a relação produção/consumo tende a ficar no empate.
Isso não significa, contudo, que derrubar a floresta teria impacto zero sobre o clima do planeta. Ao contrário: quando não alimentam a indústria legal ou ilegal de madeira, árvores derrubadas se decompõem, liberando gás carbônico e agravando o problema do aquecimento global. Além disso, já se sabe que, de várias maneiras, a Amazônia produz sua própria chuva e influencia o regime pluviométrico de outras regiões. Segundo os cientistas, ela lança na atmosfera uma quantidade inimaginável de partículas de origem biológica – de pedacinhos de plantas a fungos e moléculas orgânicas. Levadas pelo vento, essas partículas acabam virando núcleos de condensação de nuvens (em torno dos quais o vapor d’água se transforma em gotículas ou cristais de gelo). É por isso, entre outros fatores, que as chuvas são tão abundantes na Amazônia. Quanto mais o desmatamento avança, mais elas tendem a rarear – colocando em risco o delicado equilíbrio da floresta.
PRODUÇÃO DE OXIGÊNIO NO MUNDO
Algas marinhas – 54,7%
Bosques e florestas – 24,9%
Estepes, campos e pastos – 9,1%
Áreas cultivadas – 8,0%
Algas de água doce – 0,3%
https://super.abril.com.br/ciencia/a-amazonia-nao-e-o-pulmao-do-mundo/