
Neste final de semana recolhi dois testemunhos de gente que não está apenas assustada com o que está acontecendo com o Brasil, mas também, surpreendida, não sabe explicar as causas que transformam rapidamente o país numa espécie de área de terra arrasada, campo fértil para que um “aventureiro lance mão” [1], tal qual no samba de Chico Buarque de Holanda.
O final de semana também registrou, em São Paulo, dois policiais militares (em situações diferentes e não no mesmo local e dia) baleando ladrões. Um deles morreu e a policial acabou sendo homenageada pelo atual governador paulista.
O abate dos ladrões não foi tão somente alvo de homenagens governamentais, mas também saudado por parte da população e objeto de extensas reportagens na mídia, especialmente pelas TVs.
Ninguém se condoeu com o destino dos ladrões, nem mesmo gente ligada à mídia de esquerda e nem se viu os grupos sociais, defensores dos direitos humanos, reclamando da temeridade da ação dos PMs.
Não fixei nem o caso, nem a sua origem, mas li ainda ontem que se preocupar com o direito alheio – social, ambiental etc. – está saindo de moda, e já sendo alvo de gozações e achincalhamentos.
Provavelmente estejamos começando a viver um “revival” (revivalismo) dos anos 80 e 90 do século passando quando se apontava como o único culpado pelos infortúnios da vida (entre eles, o mais chocante: a pobreza) o próprio infortunado.
Simultâneo a isso, ainda persiste junto a parcela considerável da população a crença cega na ciência, que, igualmente, irá (finalmente?) apartar os bem nascidos (sic) e inteligentes (sic) da imensa camada pobre e desqualificada.
Há uma certa negligência, tenho notado, nessas abordagens; uma certa preguiça irresponsável que nos empurra fugir de entender por que cresce o número de pessoas para quem, por exemplo, “bandido bom é bandido morto”.
Estamos, ao que parece, apenas fixados nas injustiças sociais que vitimina boa parte da sociedade, mas não olhamos para o outro lado da questão, qual seja, para aqueles que igualmente se sentem vítimas, embora vítimas com certos privilegiados.
Isso talvez nós ajudasse a compreende o que ocorre com a sociedade como um todo.
Já passa da hora de nos superarmos e de buscarmos explicações menos simplista para os dramas sociais que vivemos.
Os testemunhos
Dos testemunhos que recolhi, e que está apontado no primeiro parágrafo, chama atenção a unanimidade da descrença e do desalento.
A atual crise que se iniciou antes do final do primeiro mandato de Dilma Rousseff, apenas fez crescer com Michel Temer, e não dá sinais de refluxo.
A expectativa do PIB, por exemplo, que deveria chegar a 4% ou até mais um pouco (ao fechar 2018) agora está recuando para 3,7% com tendência de queda acentuada, e não devemos nos surpreender se o PIB brasileiro fechar o ano próximo a 1%.
Os reflexos disso estão sendo devastadores para a economia brasileira e para a sociedade nacional, especialmente para a população mais pobre e a menos preparada (equipada) para enfrentar esse tipo de vicissitude. (MTS)
Nota
[1] “Samba de Orly” – Chico Buarque: https://www.youtube.com/watch?v=rfpjEeK1Jeg