
Hoje uma jovem blogueira estava reclamando na Folha de São Paulo/UOL que pelas razões mais banais do mundo as pessoas se referem às mulheres chamando-as de “feias”.
Ela anotou ainda que a prática se disseminou muito pelas redes sociais.
Aos homens normalmente nos referimos chamando-os de filhos-da-puta, veados e de outras delicadezas do gênero.
Mas se você quer saber: dói mais chamar uma mulher de “feia” do que um homem de filho-da-puta ou veado.
Isso é bastante estranho, mas é assim mesmo.
Qual mulher aceita de bom grado ser chamada de feia? Nem as notoriamente feias (e mulher feia é que não nos faltam).
A esperança da jovem blogueira reside no fato (notório) de ainda estarmos na puberdade das redes sociais o que nos levaria a saber que quando chegarmos à maturidade (das redes) seremos, com quase absoluta certeza, civilizados, e não mais venhamos a chamar as mulheres de feias e nem os homens de filhos-da-puta e de veados.
Pode até ser que isso aconteça, mas com isso eu não me preocuparia tanto.
Acho que em tempos de redes sociais há uma outra bizarrice bastante pior e, creio, de resolução impossível.
Estou falando daquela prática corriqueira de “seguir” gente famosa nas redes sociais.
A cantora Annita, por exemplo, deve ter alguns milhões de seguidores.
Um jogador de futebol que disputou ou ainda está disputando a copa da Rússia tem mais seguidores do que a população de seu país (somando-se aí gente que no país do craque sequer tem acesso à internet).
O que explica isso?
Para mim é um fenômeno sui generis, irracional – portanto sem explicação.
Mas há ainda algo pior nesse descalabro todo.
As redes sociais foram criadas para unir as pessoas, juntá-las, seja em diálogos difusos e à distância, seja nas trocas de ideias e de informações, mesmo que essas trocas não passem de receitas de bolos.
Pois então, as redes sociais realmente nos unem, certo!
Errado! Elas nos separam, como todos nós já estamos carecas de saber, mesmo quem não é careca!
Mas espere que tem mais ainda!
Ok! Eu e você seguimos a Annita e o tal jogador de futebol.
E daí?
Eles sabem ao menos que nós existimos?
Em algum momento de suas carreiras, quando a decadência chegar (e vai chegar!), eles vão manter contato com você e comigo?
Márcio Tadeu dos Santos