“Boaventura : em busca de Outros Iluminismos”

Iluminismos
Manto funerário do Alto Peru, cultura Paracas (700 a.C a 200 d.C). Em 2014, dezenas de peças como esta foram devolvidas ao país pela Suécia, que as conservou ilegalmente por mais de cem anos

[A conhecida revista de arte norte-americana Artforum solicitou-me um curto texto sobre o tema “O que é o Iluminismo?” Este é o título do famoso texto de Immanuel Kant publicado em 1784, glosado desde então por muitos autores, inclusivamente por Michel Foucault. A editora da revista queria especificamente que eu abordasse o tema a partir da minha proposta das epistemologias do sul (Epistemologies of the South: Justice against Epistemicide. Nova Iorque, Routledge, 2014; The End of the Cognitive Empire: The Coming of Age of the Epistemologies of the South. Durham, Duke University Press, 2018.). Eis a minha resposta.

Em 1966, um dos mais inovadores intelectuais ocidentais do século XX, Pier Paolo Pasolini, escreveu que somos muitas vezes prisioneiros de palavras doentes. Referia-se a palavras que parecem plenas de sentido, mas que, de fato, estão desprovidas dele ou, talvez mais precisamente, palavras que possuem conotações vagas e misteriosas, mas nos deixam muito inquietos, dada a sua aparência de estabilidade e coerência. Pasolini refere três palavras doentes — cinema, homem e diálogo —, insistindo no fato de existirem muitas mais. Penso que uma delas é Iluminismo. Foucault mostrou já que somos prisioneiros desta palavra. Contudo, na sua obsessão com a ideia de poder, não reconheceu que os prisioneiros nunca estão totalmente aprisionados e que a resistência nunca é apenas determinada pelas condições impostas pelo opressor. Afinal, as conquistas revolucionárias dos protagonistas do Iluminismo europeu mostram-nos precisamente isso. Devemos então começar a partir do ponto em que Foucault nos deixou. Poderemos nós curar essa palavra doente? Duvido que possamos. Contudo, se houver uma cura, ela ocorrerá, sem dúvida, contra a vontade do doente.

Se perguntarmos a um budista o que é o Iluminismo, poderemos obter uma resposta como a de Matthieu Ricard, um monge que vive no Nepal. Para Ricard, Iluminismo implica:

Um estado de conhecimento ou sabedoria perfeitos, aliado a uma infinita compaixão. Neste caso, o conhecimento não significa somente a acumulação de dados ou uma descrição do mundo dos fenómenos até aos mais ínfimos pormenores. O Iluminismo é uma compreensão tanto do modo relativo da existência (a forma como as coisas se nos apresentam) como do modo último da existência (a verdadeira natureza dessas mesmas aparências). Tal inclui as nossas mentes, bem como o mundo exterior. Esse conhecimento é o antídoto básico para a ignorância e o sofrimento.

Até que ponto é que o Iluminismo de Ricard é diferente do de Kant, Locke ou Diderot? Ambas as concepções implicam uma ruptura com o mundo tal como ele nos é dado. Ambas exigem uma luta contínua pela verdade e pelo conhecimento, sendo que o seu objetivo último equivale a uma revolução — uma revolução interior, no caso do Iluminismo budista, e uma revolução social e cultural, no caso do Iluminismo europeu. Será que existem continuidades entre essas rupturas, tão distantes em termos das suas gêneses e dos seus resultados? Devemos considerar como dado adquirido que nos conhecemos a nós ao conhecermos o mundo, conforme nos promete o Iluminismo europeu, ou devemos antes partir do pressuposto de que conhecemos o mundo uma vez que nos conheçamos a nós, conforme a promessa do Iluminismo budista? Qual dos dois pressupõe a tarefa mais impossível?

Qual dos dois acarreta mais riscos para os que não acreditam nas suas promessas? E, finalmente, porque é que questionar o Iluminismo europeu é ainda hoje, mais de dois séculos depois da sua formulação, tão mais relevante e controverso do que questionar o Iluminismo budista? Será apenas porque a maioria de nós é ontológica, cultural e socialmente eurocêntrica, e não budocêntrica?

A força do Iluminismo europeu baseia-se em duas demandas incondicionais: a busca do conhecimento científico, entendido como a única forma verdadeira de conhecimento e como fonte única de racionalidade; e o empenho no sentido de vencer a “escuridão”, ou seja, de banir tudo quanto é não-científico ou irracional. A incondicionalidade dessas demandas tem como premissa a incondicionalidade das causas que as orientam. E causas incondicionais levam logicamente a consequências incondicionalmente positivas. Aqui reside a fatal debilidade dessa força tão extrema, o seu calcanhar de Aquiles. Tomar como base uma concepção única de conhecimento e de racionalidade social exige que se sacrifique tudo aquilo que não lhe é conforme. A natureza sacrificial desta confiança reside em que a tolerância e a fraternidade decorrentes da celebração da liberdade e da autonomia contêm em si a fatal incapacidade de distinguir coerção e servidão de modos alternativos de ser livre ou autônomo. Ambos são concebidos como inimigos da liberdade e da autonomia e, logicamente, tratados com desapiedada intolerância e violência. É esse o impulso atávico que subjaz à construção iluminista da humanidade “universal” e o impele a sacrificar alguns humanos, banindo-os da categoria do humano, como o antigo bode expiatório abandonado no deserto. Isso explica a razão pela qual os direitos humanos podem ser violados em nome dos direitos humanos, a democracia pode ser destruída em nome da democracia e a morte pode ser celebrada em nome da vida. Aquilo que torna o Iluminismo europeu tão fatalmente relevante e tão necessitado de constante reavaliação é o fato de, ao contrário de outros projetos iluministas (como o budista), o poder de impor as suas ideias aos outros não se reger, ele próprio, por essas ideias e sim pelo desígnio de prevalecer, se necessário através de uma imposição violenta, sobre aqueles que não acreditam em tais ideias iluminadas ou se veem fatalmente afetados pelas consequências da implementação delas na vida económica, social, cultural e política.

A natureza sacrificial do Iluminismo europeu manifesta-se na forma como raciocina sem razoabilidade, na forma como apresenta as opções que rejeita ou os caminhos que não escolhe como prova da inexistência de outras vias, na forma como justifica resultados catastróficos como danos colaterais inevitáveis. Estas operações traçam uma linha abissal entre, por um lado, a luz forte das boas causas e das formas iluminadas de organização social e, por outro, a escuridão profunda das alternativas silenciadas e das consequências destruidoras. Historicamente, o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado são as forças principais que têm sustentado a fronteira abissal entre seres totalmente humanos, que merecem a vida plena, e criaturas sub-humanas descartáveis.

Essa linha abissal é uma linha epistêmica. Por isso, a justiça social exige justiça cognitiva e a justiça cognitiva exige que se reconheça que a querela entre a ciência, por um lado, e a filosofia e a teologia, por outro, é um conflito que se enquadra confortavelmente no âmbito da epistemologia iluminista. Aquilo que precisamos de entender é o fato de estes modos de conhecimento se oporem coletivamente a formas de pensamento e sabedorias alheias ao paradigma ocidental. O colonial propriamente dito poderia definir-se em termos dessa terra incógnita epistemológica. Como observou Locke de forma bem reveladora, “No princípio o mundo todo era a América”. Longe de representar a superação universal do “estado de natureza” pela sociedade civil, o que o Iluminismo fez foi criar o estado de natureza, consignando-lhe amplas extensões de humanidade e vastos conjuntos de conhecimentos. A cartografia, enquanto disciplina, inscreveu uma demarcação precisa entre a metrópole civilizada e as distantes terras selvagens (americanas, africanas, oceânicas). Esse mundo “natural”, na lógica geo-temporal lockiana, tornou-se também uma história “natural”. A contemporaneidade e a simultaneidade dos mundos do Outro colonial tornaram-se uma espécie de passado dentro do presente.

Para se chegar ao tipo de pensamento pós-abissal capaz de transcender completamente a oposição binária metropolitano/colonial, é necessário travar uma batalha que excede parâmetros epistêmicos. Apenas se pode confrontar o poder hegemônico através das lutas daqueles grupos sociais que têm sido sistematicamente lesados e privados da possibilidade e do direito de representar o mundo como seu. Os seus conhecimentos, nascidos em lutas anticapitalistas, anticoloniais e antipatriarcais, constituem aquilo a que chamo epistemologias do sul. Tais lutas não se regem por princípios anti-iluministas (a opção conservadora, de direita), mas criam condições para que seja possível uma conversação entre diferentes projetos de Iluminismo, uma ecologia de ideais iluministas.

Os conhecimentos nascidos nas lutas apontam para a razoabilidade (troca de razões) e não para racionalidade unilateralmente imposta, e partem das consequências em vez de partirem das causas. A noção de causa enquanto objeto privilegiado de conhecimento—a ideia de que a nossa tarefa consiste em ir cada vez mais fundo até se chegar, por fim, às fundações epistemológicas ou ontológicas, a causa sui ou causa sem causa—é ela própria um artefato da modernidade ocidental. Para os oprimidos, uma epistemologia a partir das consequências torna legível a experiência e possível a justiça. Só assim podem as ruínas converter-se em sementes.]

Por  Boaventura de Sousa Santos in Outras Palavras.

“Mudanças na lógica da acumulação capitalista precisam de uma crítica a partir da periferia”

Miguez
Pablo Míguez – foto: Ricardo Machado – IHU

Destaque-se abaixo entrevista com Pablo Míguez [1] para a Revista IHU On-line, realizada por Vitor Necchi com tradução de Henrique Denis Lucas (“A apropriação privada do ‘general intelect’. As mudanças na lógica da acumulação capitalista precisam de uma crítica a partir da periferia. Entrevista especial com Pablo Míguez”).

[Ao destacar governos alinhados ao pensamento de esquerda na América Latina no século 20, o professor Pablo Míguez cita a Revolução Cubana, o governo de Allende e experiências mais localizadas, como a Revolução Sandinista, e avalia que as duas primeiras “conviveram com ditaduras militares no seu entorno e com o peso dos Estados Unidos apoiando-as politicamente”, enquanto as outras “perderam peso com a queda da União Soviética e a ascensão do neoliberalismo”. A partir dos anos 80, “com o conhecido retrocesso da ideologia esquerdista, após a queda do Muro de Berlim e o aparente sucesso do capitalismo como o único sistema econômico sustentável, a esquerda teve de esperar pela crise do neoliberalismo, no final dos anos 90, para ter opções reais de formar um governo novamente”.

No século 21, Míguez cita a chamada “nova esquerda latino-americana“: Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, e Kirchner, na Argentina, com “processos que se mantêm à esquerda do espectro ideológico, pela oposição às reformas neoliberais que os três países sofreram na década anterior”. Depois, em outro momento, Correa, no Equador, e Morales, na Bolívia. “Todas são experiências distintas, embora compartilhem de uma ideologia de redistribuição de renda e do reconhecimento de direitos a setores desfavorecidos, camponeses e indígenas”, observa. Aponta que esses governos tiveram, no início, grande apoio de movimentos sociais, mas, ao final do ciclo progressista, a adesão enfraqueceu devido aos próprios erros dos governos. “Depois de mais de uma década de governos progressistas, é inadmissível que o saldo seja um enfraquecimento do campo popular ao invés do seu fortalecimento”, destaca.

Após o fim do ciclo de governos progressistas, para Míguez, “há grande dificuldade em separar uma ideia de ‘esquerda’ dos processos estatais, corruptos e ineficientes, pensamentos que as direitas são responsáveis por difundir, baseadas em alguns fatos concretos, por mais que seja parte de um ataque ideológico por demais previsível”.

Mesmo com o enfraquecimento da esquerda, Míguez entende que ela “seguirá questionando as pessoas porque as desigualdades do capitalismo não param de crescer, e a crítica a partir da esquerda permite pelo menos compreender o sentido dos avanços dessas dinâmicas”. No contexto atual, entende que é uma oportunidade para o pensamento de esquerda “lançar novamente sua mensagem, não permanecendo imobilizado diante de um evidente avanço das novas direitas na América Latina”. No entanto, “será fundamental fazer uma autocrítica sobre os aspectos que foram funcionais para a reprodução da ordem e resistir às políticas mais agressivas contra o campo popular que surgiram no horizonte”.]

Veja a integra da entrevista em http://www.ihu.unisinos.br/579642-a-apropriacao-privada-do-general-intelect-as-mudancas-na-logica-da-acumulacao-capitalista-precisam-de-uma-critica-a-partir-da-periferia-entrevista-especial-com-pablo-miguez .

Nota

[1] Pablo Míguez é natural de Lanús, Província de Buenos Aires. Doutor em Ciências Sociais e licenciado em Economia e em Ciência Política pela Universidade de Buenos Aires (UBA). É pesquisador da Universidade Nacional de San Martín (UNSAM) e docente da Universidade Nacional de General Sarmiento (UNGS) e da Universidade de Buenos Aires (UBA).

É preciso buscar outro modo de fazer política

Ohomem
Alexandre Costa / Foto: Arquivo Pessoal

Em entrevista à IHU/Unisinos, Alexandre Araújo Costa diz que frente às “necessidades do Antropoceno e a época das tecnologias digitais urgem um outro modo de fazer política”.

Veja, abaixo, o texto na integra.

[Uma análise sobre o futuro e a relevância das esquerdas na política brasileira precisa reconhecer a “existência de algumas conquistas sociais em 13 anos de governo encabeçado pelo maior partido de esquerda brasileiro”, mas também necessita “colocar o dedo na ferida” para verificar as consequências da política do “ganha-ganha” e das apostas econômicas e ambientais feitas nos últimos anos, pondera Alexandre Araújo Costa na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line.

“A política de ganha-ganha, de benefícios para os andares de cima e de baixo só encontrava sustentação numa conjuntura de preços elevados das commodities (minério de ferro, petróleo, soja). Portanto, além do risco econômico de manter tamanha dependência da pauta de exportações (o caso venezuelano é trágico nesse sentido), o custo ambiental disso é gigantesco”, afirma.

Crítico das políticas desenvolvimentistas dos governos petistas, Costa avalia que elas implicam na “negação de outros modos de vida, de imposição da ‘transformação do índio em pobre’”. E acrescenta: “Esse pensamento de bandeirante é que tornou possível vir das mãos de governos que se reivindicaram de esquerda a liberação dos transgênicos, a aposta nos combustíveis fósseis e a ênfase no pré-sal, a ampliação desmedida do uso de água para irrigação e que deixou Mariana e Belo Monte como tristes cicatrizes”.

Na avaliação dele, a reinvenção da esquerda na política “precisa se dar a partir de uma reorientação profunda de programa e estratégia, adaptados às necessidades do Antropoceno e da época das tecnologias digitais, de fato olhando para o futuro, mas também prestando conta do passado, do peso dos cinco séculos de etnogenocídio e de escravidão contra as populações indígenas e africanas, de uma cultura que reproduz as discriminações e opressões diversas. Também se trata de reorientar profundamente forma organizativa e métodos, no modo de fazer política”. Nesse sentido, explica, talvez “a contribuição possa se dar principalmente a partir de um programa baseado na lógica do Programa de Transição, mas profundamente reelaborado. Que parta do combate aos privilégios dos de cima e de reformas essenciais, como reforma tributária, reforma agrária, reforma urbana, demarcação de terras indígenas, transição energética etc. e que, com base na mobilização e organização populares, construa um contra poder”. Mas adverte: “Embora possamos falar de esgotamento de um determinado modelo de esquerda, isso não significa que esquerdas renovadas não possam apontar para esse caminho. Pelo contrário”.

Alexandre Araújo Costa é professor da Universidade Estadual do Ceará. Formado em Física, Ph.D. em Ciências Atmosféricas pela Universidade do Estado do Colorado, com pós-doutorado na Universidade de Yale. Foi um dos autores principais do primeiro relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas. Militante ecossocialista e ativista climático, edita o blog O Que Você Faria se Soubesse o Que Eu Sei e é um dos coordenadores do fórum de articulação Ceará no Clima.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Que balanço faz da trajetória das esquerdas no país nos últimos anos?

Alexandre Araújo Costa – Existem diversos aspectos, complexos por sinal, a serem incluídos num balanço da esquerda brasileira, ou melhor, das esquerdas, no plural mesmo.

O primeiro aspecto, e isso precisa ser enfatizado, é que a experiência demonstrou que qualquer avanço social, qualquer melhoria mínima nas condições de vida do “andar de baixo” vai enfrentar resistência das classes dominantes. Fundada sobre genocídio indígena e sequestro e escravidão de povos africanos, a elite brasileira segue escravista e autoritária, avessa a qualquer inclusão.

Dito isto e reconhecendo a existência de algumas conquistas sociais em 13 anos de governo encabeçado pelo maior partido de esquerda brasileiro, há que se colocar o dedo na ferida. A política de ganha-ganha, de benefícios para os andares de cima e de baixo só encontrava sustentação numa conjuntura de preços elevados das commodities (minério de ferro, petróleo, soja). Portanto, além do risco econômico de manter tamanha dependência da pauta de exportações (o caso venezuelano é trágico nesse sentido), o custo ambiental disso é gigantesco.

Essa conciliação de classes, que vai muito além dos acordos eleitorais com partidos representantes dos interesses das empreiteiras, do agronegócio, dos bancos, das mineradoras etc., também se deu no nível direto, econômico. É terrível constatar que o favorecimento escancarado desses setores ampliou-se nos governos petistas. E, claro, deu-se às custas do sacrifício de uma agenda de reformas e transformações profundas: reforma agrária, demarcação indígena, reforma tributária, democratização da mídia, reforma política etc.

Especialmente é lamentável, é trágica a permanência, na mentalidade de setores da esquerda, de um pensamento desenvolvimentista, de negação de outros modos de vida, de imposição da “transformação do índio em pobre”, tomando por empréstimo Eduardo Viveiros de Castro, enfim de colonizador interno. Aliás, esse pensamento de bandeirante é que tornou possível vir das mãos de governos que se reivindicaram de esquerda a liberação dos transgênicos, a aposta nos combustíveis fósseis e a ênfase no pré-sal, a ampliação desmedida do uso de água para irrigação e que deixou Mariana e Belo Monte como tristes cicatrizes.

IHU On-Line – Por que na sua avaliação o desenvolvimentismo de esquerda é uma tragédia? Por que o caracteriza como um “pensamento de colonizador interno”?

Alexandre Araújo Costa – A tragédia é na verdade dupla. Primeiro porque se baseia num negacionismo, consciente ou inconsciente, dos limites da natureza. A ciência reconhece que a humanidade – de maneira desigual, é claro, com a pegada ecológica dos ricos várias vezes maior – tem hoje o poder de uma força geológica para alterar o ambiente em escala global. No que se conhece por Antropoceno, uma nova época geológica, das chamadas fronteiras planetárias já ultrapassamos marcos seguros em pelo menos biodiversidade, clima, ciclos biogeoquímicos e provavelmente no nível de contaminação por plástico, substâncias tóxicas etc. e estamos próximos ao limite nas demais, incluindo uso de água doce, terra ocupada e acidez oceânica. Quando a expansão do capital é cada vez mais violenta socioambientalmente, a crítica anticapitalista bem como a proposta de sociedade pós-capitalista precisam ser vertebralmente ecológicas.

Segundo porque se materializa num não reconhecimento de outros modos de vida que não o modo predatório baseado na infinita expansão capitalista industrial. Como se o Socialismo fosse a produção destrutiva capitalista convertida de propriedade privada em pública. É uma lógica que, como os economistas e políticos capitalistas, adota como métrica fundamental um PIB que contabiliza produção e venda de armas e não contabiliza tudo que é usufruído de maneira comum, sem relações mercantis, sem moeda envolvida, em comunidades ribeirinhas, sertanejas, quilombolas e indígenas.

É o que faz com que pessoas de esquerda se refiram a essas comunidades e povos como “pobres em terra rica”, perigosamente flertando com uma política “socialista” de empobrecimento da própria natureza. É a base das ilusões sobre obtenção de recurso econômico a partir da exploração do petróleo do pré-sal, ignorando o fato de que não há “CO₂ de esquerda” e de tantas outras.

IHU On-Line – Como as esquerdas entendem e tratam a questão ambiental no Brasil?

Alexandre Araújo Costa – Conectando com a pergunta anterior, digo, lamentando, que as esquerdas em sua maioria ainda percebem o meio natural com um oponente a ser conquistado, explorado e exaurido. E que é do crescimento econômico baseado nessa exploração que advirá a riqueza para a classe trabalhadora. Ledo engano. Não há Socialismo em terra (Terra) arrasada.

Mas outros setores, ao meu ver, estão dando seus primeiros passos no debate. Em geral sob uma consigna geral do Ecossocialismo, dialogam com o ecossistema de saídas ecológicas, que combina também as ideias de decrescimento justo, de buen-vivir, de direitos da Mãe-Terra etc. E isso abre caminho para esses setores ocuparem um novo nicho, não abdicando das tradições melhores da esquerda (clareza da oposição de classe e da necessidade de superação do capitalismo e entendimento da necessidade de mobilização de massas, por exemplo), mas revisitadas para as condições de crise ecológica global.

IHU On-Line – O que significa ser e fazer esquerda no Brasil hoje? Qual é o seu diagnóstico sobre a possibilidade de reinvenção das esquerdas brasileiras na política neste momento?

Alexandre Araújo Costa – O conceito genérico de esquerda pressupõe a afirmação de um conjunto de valores, de uma concepção de mundo baseada na igualdade. Creio que isso permanece em certa medida atual, mas especialmente hoje em dia, por esse guarda-chuva ser demasiado amplo, é provavelmente melhor usar “esquerdas”, no plural mesmo. Afinal não apenas na questão ecológica e nos critérios para alianças, mas nas pautas do combate ao machismo, racismo e homofobia (e no entendimento ou não de como elas se articulam com a exploração de classe), nos métodos e formas organizativas etc., há muitas diferenças.

Para falarmos da reinvenção das esquerdas no Brasil, precisamos fazer um balanço muito sério, duro, mas também sereno, da derrota política da esquerda hegemônica para a direita, processo que não se iniciou em 2016 ou, pior ainda, em 2013 como alguns tentam atribuir. Também não é um balanço que possa ser resumido na palavra “traição de classe”.

Sim, é preciso condenar os acordos por cima com o que há de pior na política burguesa, de Sarney a Maluf, de Sérgio Cabral a Lobão e Eunício Oliveira. É preciso não deixar sombra de dúvidas sobre o quanto a direita se fortaleceu politicamente ao se fortalecer economicamente durante os governos petistas, sendo talvez o agronegócio e sua bancada ruralista a expressão máxima disso.

Mas acredito também que houve um processo erosivo começado antes mesmo da primeira eleição de Lula e que se aprofundou a partir dela, de burocratização, captura da energia dos movimentos sociais para as instituições de Estado, uso de métodos e práticas viciados, despolitização, redução de capilaridade social, desatenção para com as redes sociais e até despreparo para lidar até com a transição geracional. Os e as jovens de hoje cresceram sob governos petistas e lamentavelmente isso abre flanco para crerem que é “culpa da esquerda” o quadro de desesperança e desalento que sobre eles e elas se abate.

A reinvenção da esquerda precisa se dar a partir de uma reorientação profunda de programa e estratégia, adaptados às necessidades do Antropoceno e da época das tecnologias digitais, de fato olhando para o futuro, mas também prestando conta do passado, do peso dos cinco séculos de etnogenocídio e de escravidão contra as populações indígenas e africanas, de uma cultura que reproduz as discriminações e opressões diversas. Também se trata de reorientar profundamente forma organizativa e métodos, no modo de fazer política.

IHU On-Line – Nesse sentido, em que pontos fundamentais as esquerdas deveriam avançar no seu modo de fazer política?

Alexandre Araújo Costa – Método não é apenas forma. É conteúdo também. Por isso na minha opinião, para os dias de hoje, de uma sociedade globalizada e conectada à internet, sob crise ecológica global, com movimentos novos do tipo “indignados” e “occupy” emergindo, com a disputa das redes sociais, tendo de enfrentar o apelo ao consumo e ao individualismo, transformações ideológicas e políticas enormes, precisamos mais do que resistir, nos repensar, nos reequipar e nos reinventar.

Afinal o anacronismo e a inadequação não pesam apenas sobre as esquerdas mais moderadas, seus métodos demasiado institucionais e a lógica de conciliação de classes. Ela permeia – em alguns casos até de forma mais aguda – os setores de esquerda radical ou que se reivindicam revolucionários.

A noção de “dirigir a classe” a partir de um “partido de vanguarda”, altamente centralizado, e que “introduz a consciência a partir de fora”, por exemplo, parece muito mais campo fértil para disputas miúdas, emergência de chefetes ególatras etc. É preciso superar a ilusão do controle.

Ao invés da inspiração na organização fabril, devemos buscar inspiração nas estruturas complexas da natureza, como as correntes do oceano e os ventos ou como os próprios ecossistemas: fluidos, adaptativos, enérgicos, vivos e diversos e por isso mesmo muito mais poderosos. A luta de massas e os processos revolucionários são fluidos e caóticos: despertam criatividade, divergências, diferenças, choques e estranhamente progride em meio a esse (aparente) caos.

Enfim, se a organização política de esquerda é uma “amostra grátis” do poder que almejamos construir, um poder popular, de baixo, que abra caminho para superação do próprio Estado, nossas organizações têm de ser construídas desde já mirando esse paradigma. Têm de ser associações de ativistas, militantes e colaboradores livres, com a mais ampla democracia, horizontalidade, poder de decisão distribuído, acesso amplo e irrestrito à informação, conhecimento de causa construído com base nesse acesso e no acesso às ferramentas para análise crítica, uso de plataformas em rede, autonomia e iniciativa sem medo de ser tolhido pelo burocrata de plantão, generosidade para com o erro, solidariedade no acerto, capacidade de adaptação, reconhecimento, no debate da preponderância de evidências independente de se a favor ou contra sua opinião inicial, na gestão coletiva, corresponsável e ao mesmo tempo descentralizada e globalmente harmônica.

IHU On-Line – Que tipo de contribuição as esquerdas ainda podem dar para projetos futuros para o país? Na sua avaliação, é possível perceber um esgotamento de um modelo de esquerda ou ainda há um caminho à esquerda?

Alexandre Araújo Costa – Como mencionei antes, prefiro pensar em “esquerdas”, numa “ecologia de esquerdas”, com espaço para expressar, discursiva e praticamente, acordos e diferenças. Dito isto, embora boa parte das esquerdas não se mostre capaz de lidar com os desafios do século XXI, não vejo como não vir do lado esquerdo soluções para nenhum desafio posto hoje: do aquecimento global à erradicação do trabalho escravo, da superação da ordem patriarcal às consequências da crescente automação. Daí, embora possamos falar de esgotamento de um determinado modelo de esquerda, isso não significa que esquerdas renovadas não possam apontar para esse caminho. Pelo contrário.

Assim, acredito que a contribuição possa se dar principalmente a partir de um programa baseado na lógica do Programa de Transição, mas profundamente reelaborado. Que parta do combate aos privilégios dos de cima e de reformas essenciais, como reforma tributária, reforma agrária, reforma urbana, demarcação de terras indígenas, transição energética etc. e que, com base na mobilização e organização populares, construa um contrapoder. E que por meio deste e de transformações metabólicas que envolvam agroecologia, recuperação de ecossistemas, matas, nascentes, leitos de rios, agricultura urbana, permacultura, sistema de energia renovável descentralizada, ecocidades, ecovilas e demais comunidades intencionais etc., abra caminho para outra sociedade.

 IHU On-Line – Qual é a situação das esquerdas neste ano de eleições presidenciais? Na sua avaliação, a tendência é que haja uma fragmentação das esquerdas nestas eleições ou uma união em torno de algum projeto? Dado a trajetória das esquerdas nos últimos anos, quais são suas chances reais nas eleições deste ano?

Alexandre Araújo Costa – Até pela diversidade de projetos, não gosto do termo “fragmentação” para caracterizar a existência de mais de uma candidatura no guarda-chuva amplo que possa ser considerado de esquerda. Por exemplo, a candidatura de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara é uma expressão para lá de fundamental nesse contexto de reorganização das esquerdas, justamente por ser a mais aberta aos debates que apresentei, de alternativa ecológica, de vínculo com os movimentos sociais etc. Afinal, Sonia e o próprio Guilherme têm feito duras críticas ao “modelo de desenvolvimento”, além de serem expressões públicas de dois movimentos muito ativos na conjuntura recente: dos sem-teto e dos povos indígenas.

Obviamente as possibilidades das esquerdas serão limitadas pelo avanço do conservadorismo. Mas de outro lado podem se ampliar em função da crise econômica explícita, da maneira nítida como o ônus dessa crise tem sido jogado sobre as maiorias sociais a partir do governo golpista de Michel Temer. Essas possibilidades se ampliam também se mantivermos um otimismo contido e inteligente e a perseverança em dialogar com a população.

Evidentemente saber se movimentar, sem limitar a expressão das diferenças, para barrar o avanço conservador, especialmente em sua forma mais truculenta, neofascista, também precisa estar na agenda, assim como tentar incidir sobre a composição do Congresso Nacional.

É nesse sentido, como ambientalista e militante das causas socioambientais e também como trabalhador da ciência e da pesquisa, que coloquei meu nome à disposição do PSOL para disputar uma vaga na Câmara Federal. Nos EUA, em função da posição anticiência institucionalizada na administração Trump e no Congresso (especialmente o negacionismo climático), cientistas estão colocando seu nome na disputa eleitoral. Então por que não aqui?]

Exposição no Arquivo Público de SP mostrará usos históricos do Rio Tietê

Tiete
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[O Arquivo Público de São Paulo (Apesp) abre na quarta-feira (14) exposição que discute usos históricos do Rio Tietê. A mostra “Expedição Tietê: registros de usos, ocupação e recuperação” será gratuita e aberta às 9 horas com seminário que discutirá a gestão das águas no estado. A atividade é uma parceria com a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e a Fundação Energia e Saneamento.

Marca constante na paisagem paulistana, o Rio Tietê margeia umas principais vias da capital paulista, a Marginal Tietê. Embora seja mais conhecido por sua versão maltratada pela poluição que atravessa a cidade, ele nasce a uma altitude de 1.030 metros da Serra do Mar, em Salesópolis, a 96 quilômetros (km) de São Paulo e a 22 km do Oceano Atlântico. As informações são do Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee). Em vez de correr para o mar como a maioria dos rios, o Tietê segue para o interior do estado e deságua no Rio Paraná depois de percorrer quase 1.100 km.

É a trajetória desse rio ao longo da história que será contada na exposição. Abastecimento de água, geração de energia por barragens, mudanças no leito do rio para permitir ocupação e navegação, além de mineração, lazer e esporte são algumas das múltiplas formas que a sociedade utilizou e ainda utiliza os recursos naturais do Tietê. De acordo com o Daae, ele é o rio mais extenso que corta o estado e tem importância histórica e econômica desde o período das expedições Bandeirantes.

O curador da exposição, Flávio Ricci, que é diretor do Centro de Difusão e Apoio à Pesquisa do Apesp, destaca o uso para esporte e lazer como um dos mais saudosos entre os paulistanos. “Competições de remo e natação aconteciam no rio até 1950. Isso era comum, tanto que tem um grande número de clubes famosos em São Paulo que se instalaram em torno do Tietê”, apontou. Ele lembrou que era comum também a retirada de areia das margens do rio para a construção de prédio no centro da capital. “O [edifício] Martinelli é um que foi feito a partir de areia captada do Tietê”.

Ricci explicou que a preocupação com a preservação e recuperação é mais recente e se tornou mais forte a partir das décadas de 1980 e 1990. “[No início do século 20,] as retificações e canalizações que transformam o curso natural, o qual é formado por pedras e vegetação aquática, acabou sendo acimentado. Assim você regula a quantidade de vida no rio. Na época não havia essa preocupação. A sociedade entendia como necessário e o governo foi lá e fez”, relatou.

Fotos, documentos, mapas e livros estão entre os itens que serão exibidos na mostra por meio de painéis verticais, vitrines e TVs. Há documentação que data de 1893. Registros de instituições privadas de interesse público também compõem o acervo do Arquivo Público.

Fórum Mundial da Água

De acordo com Ricci, este tema foi escolhido em consonância com os debates do 8º Fórum Mundial da Água, que ocorre em Brasília, de 18 a 24 de março. “Na semana anterior ao fórum, a ideia é fazer um aquecimento com discussão sobre a questão dos rios e a gestão das águas especificamente aqui em São Paulo”, apontou.

A metodologia em formato de expedição, proposta pela curadoria, é inspirada na proposta da Comissão Geográfica e Geológica (CGG), órgão ligado à Secretaria de Agricultura. No começo do século 20, equipe multidisciplinar, formada por engenheiros, geógrafos, biólogos, geólogos, entre outros profissionais, mapearam os recursos disponíveis ao longo dos principais rios que cortam o estado.

Seminário

O seminário de abertura da mostra, no dia 14 às 9h, terá a participação do presidente do conselho da Fundação Energia, Sergio Augusto de Arruda Camargo; do professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisador Janes Jorge; do biólogo e ambientalista Cesar Pegoraro, consultor da Fundação SOS Mata Atlântica; e será mediada por Rose Marie Inojosa, do Arquivo Público do Estado.

A exposição fica em cartaz no saguão de entrada do Arquivo Público de São Paulo até o dia 23 de março das 9 às 17 horas. O endereço é Rua Voluntários da Pátria, 596, ao lado da estação de metrô Portuguesa-Tietê.]

Edição: Maria Claudia, da Agência Brasil.

“As raízes filosóficas da destruição do mundo”

Santo Agostinho
Sandro Boticelli, Agostinho de Hippo

[Sabemos/ para onde estamos indo. Há muitos anos os cientistas avisam que estamos explodindo os limites  ecológicos da Terra. Sabemos bem que estamos no meio de uma ruptura climática e colapso ecológico. Apesar disso, parecemos fisicamente incapazes de agir a partir desse conhecimento.

Os Estados Unidos elegeram para presidi-los um homem que prometeu desencadear um gigantesco ataque ecológico, e infelizmente cumpriu a promessa. O governo do Reino Unido produziu 150 páginas de greenwash que chama de Plano Ambiental de 25 Anos: a mesma tagarelice que governos covardes vêm publicando nos últimos 25 anos. Como sempre, ele foi descrito em determinados círculos como “um bom começo”. Nenhuma política, em lugar nenhum, é proporcional à escala do desafio que temos diante de nós.

O que nos impede de responder à ameaça? Durante anos suspeitei que a causa fosse ainda mais profunda que o poder das grandes corporações e a obsessão oficial pelo crescimento econômico, apesar de serem forças tão poderosas. Agora, graças ao livro mais profundo e de amplo alcance que jamais li, sinto que começo a entender o que pode ser.

The Patterning Instinct  (O Instinto de Modelagem, em tradução livre), de Jeremy Lent, foi publicado há alguns meses mas demorei um tempo para processá-lo, já que quase cada página me fez repensar o que considerava verdadeiro. Unindo história cultural e neurociência, Lent desenvolve uma nova disciplina que denomina história cognitiva.

Desde a infância, nossas mentes são modeladas pela cultura em que crescemos – o que produz trilhas que aprendemos a seguir, como se fossem caminhos através de um campo de grama alta. Ajudam a construir esses padrões de significado poderosas metáforas de raiz encravadas em nossa linguagem. Sem conhecimento consciente, elas guiam as escolhas que fazemos.

Lent argumenta que o caráter peculiar ao pensamento religioso e científico do Ocidente, que dominou o resto do mundo, empurrou a civilização humana e todo o mundo vivo para a beira do colapso. Mas mostra também como, compreendendo suas metáforas e padrões, podemos sair de nosso caminho e desenvolver novas trilhas através do campo de grama, o que nos afastaria da beira do precipício.

Há muitas questões pelas quais poderíamos começar, mas talvez uma das mais cruciais seja entender a influência do pensamento de Platão no início da teologia cristã. Ele propôs um mundo ideal percebido pela alma, existente numa esfera apartada do mundo material vivido pelo corpo. Para alcançar o conhecimento puro que existe acima do mundo material, a alma precisa separar-se dos sentidos e dos desejos do corpo. Platão ajudou a firmar uma profunda moldura no entendimento ocidental, associando capacidade de pensamento abstrato com alma, alma com verdade, verdade com imortalidade.

Alguns dos primeiros pensadores cristãos, em particular Santo Agostinho, levaram mais longe essas metáforas, até um ponto em que não apenas o corpo humano, mas todo o mundo natural passou a ser visto como anátema, que distrai e corrompe a alma. Deveríamos odiar nossa vida neste mundo para assegurar a vida no próximo.

O cristianismo, por sua vez, exerceu influência poderosa sobre o conhecimento científico moderno. Longe de romper com padrões de pensamento anteriores, a famosa crença de René Descartes – de que este consistia em “uma substância cuja essência ou natureza inteira é pensar e cujo ser não requer lugar e não depende de coisas materiais” – foi uma extensão das cosmologias platônicas e cristãs, com uma diferença crucial: substituiu a alma pela mente.

Se nossa identidade está estabelecida somente na mente, então, como insistiam os cristãos, nosso corpo e o resto da natureza, sendo incapazes de ter razão, não têm valor intrínseco. Descartes foi explícito sobre isso: ele insistiu que não há diferença “entre as máquinas feitas por artesãos e os vários corpos criados pela própria natureza”. A mente ou alma era sagrada, enquanto o mundo natural não possuía nem valor inerente nem significado. Existia para ser dissecado e explorado sem remorso.

Essa visão de mundo sustentou a revolução científica, que nos trouxe espantosas maravilhas e benefícios que transformaram nossas vidas. Mas também incorporou em nossas mentes metáforas de raiz catastróficas, que ajudam a explicar nossa atual relação com o mundo vivo. Entre elas estão as noções do humano desconectado da natureza, do nosso domínio sobre a natureza, da natureza como máquina e, mais recentemente, da mente como software e o corpo como hardware.

Essas metáforas de raiz continuam a informar o discurso público. O biólogo britânico Richard Dawkins, por exemplo, argumentou  que “um morcego é uma máquina, cuja eletrônica interna está tão ligada que os músculos de sua asa miram automaticamente os insetos”. Se uma máquina com a complexidade, auto-organização e autoperpetuação de um morcego foi desenvolvida, o professor Dawkins deveria nos dizer onde encontrá-la.

Num mundo em que falta supostamente valor inerente, mas no qual muitos de nós perderam a crença na alma imortal ou na santidade da razão pura, estamos diante de um vazio de significado. Buscamos preenchê-lo com um consumismo desenfreado. Para mudar nosso comportamento, afirma Lent, é preciso mudar nossas metáforas de raiz.

Isso não significa que deveríamos abandonar a ciência: longe disso. O estudo de sistemas complexos revela a natureza como uma série de sistemas auto-organizados, auto regenerativos, cujos componentes estão conectados uns aos outros de maneiras até há pouco inimagináveis. Isso mostra que, como propôs o grande conservacionista John Muir, “Quando tentamos selecionar uma coisa por si só, descobrimos que está atrelada a tudo o mais no universo.” Longe de estarmos afastados da natureza ou poder dominá-la, estamos incorporados nela, intimamente conectados a processos que nunca podemos controlar completamente. Potencialmente, isso nos possibilita ver o próprio universo como uma teia de significados: uma poderosa nova metáfora de raiz que poderia, talvez, mudar a maneira como vivemos.

Há muito trabalho a fazer até traduzir esses insights em políticas práticas. Mas me parece que Lent explicou por que, a despeito de nosso conhecimento ou mesmo de nossas intenções, continuamos a seguir o caminho do precipício. Para resolver um problema, precisamos primeiro entendê-lo: “um bom começo” é assim. Não podemos mudar o destino até que mudemos o trajeto.]

Outras Palavras

Por George Monbiot  com tradução de Inês Castilho.

“Seriam os ciborgues pós-capitalistas?”

[1 – Pós-humano: cérebro ciborgue

The cyborg is not subject to Foucault’s biopolitics; the cyborg simulates politics, a much more potent field of operations.
(O ciborgue não está sujeito à biopolítica de Foucault; o ciborgue simula a política, um campo de operações muito mais potente – tradução da Redação)  – Donna Haraway

(Por Rui Matoso [1] )

Na modulação atual do Império[1], o poder é exercido mediante máquinas que organizam diretamente os cérebros e os corpos, com o objectivo de criar um estado de alienação permanente e independente do sentido da vida, ou seja, o Império como Sociedade de Controle[2].

Neste sentido, a esperança daqueles que pretendem uma política radicalmente democrática reside na expectativa de que a subjetividade política do ciborgue[3], enquanto sujeito pós-humano, possua características totalmente distintas, de modo a não poder ser reinscrito na história do humanismo e da submissão à violência imperial.

Há muito que o ciborgue deixou de ser apenas o organismo cibernético da ficção científica, entrando definitivamente na esfera da realidade social -a nossa construção política mais importante-, mas significa também uma ficção capaz de mudar o mundo (Haraway: 36). Neste enquadramento, a noção de pós-humano assume a dupla transmutação do potencial plástico da espécie: a) ao nível biotecnológico[4], o processo de replicação sintética do ciborgue está desvinculado do processo de reprodução sexual-orgânica; b)  ao nível dos fenômenos mentais, i.e., da subjetividade individual e coletiva (individuação e transindividuação) como lugar de desconstrução da categoria de “humano” proveniente do iluminismo, por exemplo através de Michel Foucault[5] e da sua crítica da racionalização/normalização das sociedades disciplinares e da biopolítica.

Através da obra de Katherine Hayles (Hayles, 1999) e da sua crítica ao individualismo humanista liberal e do livre arbítrio autoproclamado, à qual a categoria de pós-humano permite contrapor o reconhecimento da agência relacional e distribuída pelo coletivo sociotécnico, corrigindo assim a excessiva ênfase na autonomia da consciência ensimesmada com uma proposta cibernética dos processos cognitivos incorporados na carne e simultaneamente expandidos à envolvente sociocultural e tecnológica.

A  fusão carne-máquina, apesar da sua sublimação no imaginário ciborgue sci-fi, não requer obrigatoriamente o fetichismo do autômato, do androide ou sequer do homem/mulher biônico(a). O evento da conexão entre cibernética, cérebro e organismo humano já se deu há várias décadas[6], somos já ciborgues de nascença[7] sem necessariamente termos circuitos electrônicos incorporados na carne ou implantes no cérebro.

De fato, quando o meio-envolvente forma ele mesmo uma bio-electro-esfera cibernética e quando o regime de computação penetra todas as esferas da vida, social, biológica ou econômica, alterando paradigmas de governança política[8] e constituindo-se globalmente como realidade computacional ou cognisfera, o pós-humano emerge como categoria para pensar este admirável mundo novo, sob duas perspetivas políticas antagônicas: i) um mundo de ciborgues como imposição final de uma matrix de controle  hegemônico sobre o planeta – que significa a abstração final corporificada na ciberguerra preventiva travada em nome da defesa, e jogada em simuladores de realidade virtual[9]; ii) de uma outra perspectiva, um mundo de ciborgues pode significar realidades sociais e corporais vividas, nas quais as pessoas não temam sua estreita afinidade com animais e máquinas, que não temam identidades parciais, posições contraditórias e a valorização da afinidade em vez da identidade (Haraway, 1991, p. 295).

É neste trabalho de adaptação constante da rede neuronal (neuroplasticidade) que reside, de acordo com Warren Neidich a operacionalidade do neuropoder (Neidich, 2010, p. 545). Isto significa que nada pode ser completamente externo ao humano, porque a sua extensão protésica e ubíqua não pode ser fixada. Esta parece-nos ser uma das condições do pós-humano[10], já que o “ser humano” deixou de existir tal como estávamos comumente habituados a pensar que existia, como uma entidade separada e em perpétuo antagonismo com o ambiente que lhe é externo (Cf. Pepperell: 22)[11].

Retomando Foucault, parece-nos claro que as interferências psicotecnológicas na estrutura da rede neuronal (neuropoder) e nas formas de consciência (noopower/noopolítica), requerem novas formas de resistência cultural antagonistas das formas de governabilidade ancoradas no controle e submissão das subjetividades. Tornam-se cada vez mais importantes, mais até do que as resistências contra os mecanismos de dominação e exploração. Neste aspecto, das formas de governabilidade, Antoinette Rouvroy, invoca a expressão algorithmic governmentality como aquela que não permite processos de subjetivação humana, pois, a “algorithmic governmentality is without subject: it operates with infra-individual data and supra-individual patterns without, at any moment, calling the subject to account for himself.” (“a governança algorítmica é sem sujeito: ela opera com dados infra-individuais e padrões supra-individuais, sem, a qualquer momento, convocar o sujeito considerar-se a si próprio” –tradução da Redação) (Rouvroy, 2012, p. 2).

Em Neuro-Futures: The Brain, Politics, and Power  (Jake F. Dunagan), encontramos o cerne de um debate em torno da construção social da subjetividade pós-humana que nos permita lidar com as condições do pós-humano, de tal forma que possibilite ultrapassar o status quo do ator político do antropoceno. Para Rosi Braidotti, uma teoria do pós-humano seria identicamente uma “generative tool to help us re-think the basic unit of reference for the human in the bio-genetic age known as ‘anthropocene’, the historical moment when the Human has become a geological force capable of affecting all life on this planet” (“ferramenta geradora para nos ajudar a repensar a unidade básica de referência para o ser humano na era bio-genética que se conhece como ‘antropoceno’, momento histórico em que o ser humano tornou-se uma força geológica capaz de afetar toda a vida neste planeta” – tradução da Redação) (Braidotti, 2013, p. 5). Trata-se portanto da necessidade de repensar uma outra figura do humano e de imaginar uma subjetividade que expresse e incorpore um sentido forte de coletividade, do relacional e da capacidade de construção de laços comunitários localizados, mas nomádicos (nomadic subjectivity):

The posthuman subjectivity I advocate is rather materialist and vitalist, embodied and embedded, firmly located somewhere, according to the feminist ‘politics of location’ (…) Because a theory of subjectivity as both materialist and relational, ‘naturecultural’ and self-organizing is crucial in order to elaborate critical tools suited to the complexity and contradictions of our times. (A subjetividade pós-humana que defendo é bastante materialista e vital, corporificada e incorporada, localizada firmemente em algum lugar, de acordo com as ‘políticas de localização’ feminista. (…) Pois uma teoria da subjetividade simultaneamente materialista e relacional, ‘natucultural’ e auto-organizadora é crucial para elaborar ferramentas críticas adequadas à complexidade e às contradições de nossos tempos – tradução da Redação) (idem., pp. 51-52)

Na atualidade do debate neurocêntrico, as propriedades plásticas do cérebro –  neuroplasticidade[12] – que permitem ao cérebro modificar-se a si mesmo em função da sua resposta às mudanças do meio-ambiente, apresentam-se como uma das problemáticas fundamentais. A plasticidade e a multiplicidade são duas constantes da nossa engenharia cognitiva concebida para a auto-transformação face ao meio-ambiente sociocultural, daí a importância de se conjugar  com a visão neuro-construtivista de Steven Quartz[13], para reclamar a importância de envolventes culturais e tecnológicos amenos, catalisadores de desenvolvimento neuronal, de autonomia e liberdade crítica do agenciamento:

Brain plasticity or neuroplasticity refers to the capacity of the brain to modify itself in response to changes in its functioning or environment(…)  We are beings factory-tweaked and primed in order to be ready to participate in hybrid cognitive and computational regimes, able to think and learn in ways that take us, bit-by-bit, far beyond the scope and limits of our basic biological endowments. (A plasticidade cerebral ou neuroplasticidade refere-se à capacidade de o cérebro modificar-se em resposta a mudanças no seu funcionamento ou ambiente (…) Somos seres com capacidade de aperfeiçoamento e preparados para participar de sistemas cognitivos e computacionais híbridos, capazes de pensar e aprender de maneira que nos levem, pouco a pouco, muito além do alcance e dos limites de nossas dotações biológicas básicas –tradução da Redação). (Clark, 2003:  84-86)

2 – Elogio do ciborgue irreverente

The brain is a work, and we do not know it. We are its subjects -authors and products at once- and we do not know it. (O cérebro é um trabalho, e não sabemos disso. Nós somos seus sujeitos – autores e produtos ao mesmo tempo – e não sabemos disso -tradução da Redação).

Catherine Malabou

Atualizando a concepção inicial de Marx, Franco “Bifo” Berardi introduz o conceito de cognitarian subjectivation e incide a sua análise nos excessos do trabalho semiótico nas redes telemáticas em torno da linguagem e da informação, i.e., na produção daquilo que designa como info-commodity ou semiocapital: “Semiocapital puts neuro-psychic energies to work, submitting them to mechanistic speed, compelling cognitive activity to follow the rhythm of networked productivity” (“O semiocapital coloca as energias neuro-psíquicas a trabalhar, submetendo-as à velocidade mecanicista, atraindo a atividade cognitiva para acompanhar o ritmo da produtividade em rede – tradução da Redação) (Bifo, 2010). Esta viragem (cognitiva) operada pelo semiocapital e pelo capitalismo financeiro só é possível porque se operam duas descodificações em paralelo, a do capital e a da língua.

Se por um lado o capital se tornou abstrato e desterritorializado, por outro nunca como antes a língua foi tão fortemente colonizada pelo “economês” – a economia com estatuto de linguagem universal. É neste horizonte regulado pela esquizo-economia que o capitalismo esquizofreniza cada vez mais na periferia (Deleuze e Guattari, 1997, p. 241), porque a esquizofrenia é o limite exterior do próprio capitalismo.

A cognição algorítmica é hoje central a um tecnocapitalismo que se apropriou dos mecanismos psicológicos do comportamento-cognição-afecção (ciberbehaviourismo[14]) e que integra a retroalimentação implícita ao coletivo sociotécnico (feedback) enquanto parte da equação política e ideológica do neoliberalismo, que pretende anular todas as pretensões históricas do materialismo dialético, afastando assim a conflitualidade  e os antagonismos sociais do centro da esfera política.

Contudo, nem as propostas de Lazzarato acerca da construção do homem endividado[15], nem as teorias farmacológicas e tecnocapitalistas de Stiegler[16], conseguem dar conta das transformações no campo da automação algorítmica que incluem hoje elementos[17] incomputáveis, e que excedem a mera instrumentalização da razão humana para fins de controle ideológico e poder simbólico.

Apesar da prudência necessária que a perspectiva foucauldiana da governamentabilidade biopolítica[18] sugere, a de termos parcimônia na celebração da liberdade inerente à neuroplasticidade, é num contexto de neoliberalismo complexo e mutante como o atual que a filósofa Catherine Malabou entrevê possibilidades progressistas para a plasticidade cerebral, possibilidades de rebelião, criatividade e antideterminismo:

To talk about the plasticity of the brain means – to see in it not only the creator and receiver of form but also an agency of disobedience to every constituted form, a refusal to submit to a model (…) making its history, becoming the subject of its history, grasping the connection between the role of genetic nondeterminism at work in the construction of the brain and the possibility of a social and political nondeterminism, in a word, a new freedom. (Para falar sobre o que significa a plasticidade do cérebro – ver nele não apenas o criador e o receptor da forma, mas também uma agência de desobediência a todas as formas constituídas, a recusa a se submeter a um modelo (…) fazendo sua própria história, tornando-se o sujeito de sua história, aproveitando a conexão entre o papel do não determinismo genético no trabalho da construção do cérebro e a possibilidade de um não determinismo social e político, em uma palavra, uma nova liberdade – tradução da Redação).(Malabou, 2008: 5–13) .

Catherine Malabou situa a neuroplasticidade no quadro da crítica da economia política,  argumentando que muitas das descrições da plasticidade cerebral são de fato justificações para uma flexibilidade neoliberal sem limites, ou seja, sinal de que o neoliberalismo é uma economia da plasticidade coadjuvada pelo conhecimento neurocientífico[19]  (Malabou, 2008, p. 41).

No enquadramento de uma crítica à neuroplasticidade neoliberal, o Manifesto Ciborgue de Donna Haraway é um autêntico reservatório de subversão e insubmissão, desde logo porque a identidade  ciborgue não pertence ao modelo da família orgânica nem ao projeto edipiano que o configura ao longo da história, por isso, o ciborgue nunca reconhecerá o mito do Éden nem será reverente, mostrando ter uma inclinação natural para unidade política sem necessidade de partidos de vanguarda (Haraway, 1991, p. 293).

É a ontologia híbrida do ciborgue que lhe fornece uma política, uma imagem condensada da imaginação e da realidade material que evoca a possibilidade de transformação histórica: “cyborg politics is the struggle for language and the struggle against perfect communication, against the one code that translates all meaning perfectly, the central dogma of phallogocentrism” (“a política do ciborgue é a luta pela linguagem e a luta contra a comunicação perfeita, contra o código único que traduz perfeitamente o significado, o dogma central do falogocentrismo” – tradução da Redação) (idem, p. 304).

Diante de um contexto civilizacional paranoico, onde a vigilância ativa (24/7) sobre os cidadãos se torna ubíqua e onipresente[20], a individuação psíquica e a transindividuação colectiva requerem novos espaços onde a privacidade seja possível. Para Michel Foucault, a privacidade é essencial enquanto espaço de resistência face ao poder hegemônico dos Estados e das corporações, alertando-nos para a necessidade do reconhecimento das estruturas e dos modos através do qual o poder é disseminado pelas relações sociais, comportamentos, hábitos, estruturas de conhecimento e instituições.

Ao relacionarmos, numa perspetiva histórica, a vigilância (escuta) e o potencial de disseminação e inculcação de palavras-de-ordem geradoras de medo e pânico social, é porque concordamos com Byung-Chul Han quanto ao fato de a liberdade de comunicação ilimitada se ter convertido hoje num mecanismo de controle e vigilância total (panóptico digital). Segundo Han, dirigimo-nos da vigilância passiva para uma época da psicopolítica digital, onde o controle ativo e as novas técnicas do poder neoliberal permitem intervir na psique e condicioná-la a um nível pré-reflexivo  (Han, 2014, p. 12).

É também através da conjugação das várias crises simultâneas que Braidotti considera pertinente o desafio colocado pelo pós-humano, nomeadamente na tentativa de superação do confronto histórico entre humanismo e anti-humanismo, e na sequência da emergência das vozes pós-colonialistas e da crise de alteridade que essa voz vem provocando um pouco por todo o globo, designadamente na velha Europa:

The new mission that Europe has to embrace entails the criticism of narrow-minded self-interests, intolerance and xenophobic rejection of otherness. Symbolic of the closure of the European mind is the fate of migrants, refugees and asylum-seekers who bear the brunt of racism in contemporary Europe.

A new agenda needs to be set, which is no longer that of European or Eurocentric universal, rational subjectivity, but rather a radical transformation of it, in a break from Europe’s imperial, fascistic and undemocratic tendencies. (A nova missão que a Europa deve abraçar implica a crítica a interesses mesquinhos, intolerância e rejeição xenófoba da alteridade. O simbolo do fechamento da mente europeia é o destino dos migrantes, dos refugiados e dos que pedem asilo, que enfrentam o racismo na Europa contemporânea. Uma nova agenda precisa ser definida, que não é mais a europeia ou eurocêntrica, a subjetividade racional, mas sim a sua transformação radical com uma ruptura com as tendências de uma Europa imperial, fascista e antidemocrática. – tradução da Redação) (Braidotti, 2013: 52)]

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Referências

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Bibliografia

[1]Hardt, Michael e Negri, Antonio (2000). Empire. Harvard University Press.

[2]Cf. Gilles Deleuze,  Postscript on the Societies of Control.

[3]«Cyborg subjectivity is refigured in accordance to the ontology of the code, “We become the codes we punch,”and cyborgs could be masters of the code.» (Dunagan, 2004: 7).  Cf. Geoff Cox (2013).Speaking Code: Coding as Aesthetic and Political Expression. The MIT Press.

[4]Matoso, Rui (2015). Biotransduções. http://bit.ly/2955T8j

[5]Entre outros textos, Cf. Foucault, Michel (1982). The Subject and Power. In Critical Inquiry, Vol. 8, No. 4, (Summer, 1982),The University of Chicago Press. Pp. 777-795.

[6]Segundo Katherine Hayles existem três fases de expansão da cibernética: a de primeira ordem (1945-1960); a de segunda ordem também por si denominada como autopoiética (1960-1985); a de terceira ordem ou da virtualidade (1985-1995); e a fase atual um quarto nível nomeado como regime da computação (Hayles, 2007: 161).

[7]Clark, Andy (2003). Natural-born cyborgs: Minds, Technologies, and the Future of Human Intelligence.  Oxford University Press.

[8]A este novo regime de governamentabilidade e controlo das subjectividades, capaz de instaurar simultaneamente uma realidade virtual, a codificação digital da vida e a redução das incertezas pelo tratamento algorítmico da informação acumulada, Antoinette Rouvroy caracteriza-o por se fundamentar em dois processos complementares: o data-behaviourism e a governação algoritmíca (Rouvroy, 2012).

[9]The Military-Entertainment Complex. Vide Serious Games, Harun Farocki (https://youtu.be/TcKL-_RtU5Y )

[10]Nota: O debate público em Portugal teve início em 2004, com o  Ciclo de Conferências ‘A Condição Pós-Humana. Técnica, Ciência e Cultura no século XXI’ http://www.cecl.com.pt/redes/cph/cph-home.html

[11]Para além do manifesto elaborado pelo próprio Robert Pepperell, The Posthuman Manifesto(http://www.robertpepperell.com/Posthum/cont.htm), identificámos ainda o A Metahumanist Manifesto de Jaime del Val e Stefan Lorenz Sorgner (http://www.metahumanism.eu/ ); a Transhumanist Declaration do colectivo Humanity+ (http://humanityplus.org/philosophy/transhumanist-declaration/ ); as posições  tecnoprogressivas do Institute for Ethics and Emerging Technologies (http://www.ieet.org/); o Manifesto Transhumanista The Singularity is Near, de Ray Kurzweil  (http://www.kurzweilai.net/ ).

[12]«Plasticity refers to multiple processes of brain function and structure. The brain can make new cells (neurogenesis) and new synaptic connections between neurons (synaptogenesis), and see established connections strengthened and weakened (synaptic modulation) (…) Plasticity has been correlated not only with early learning, but also with shifts in stress levels and hormones, with recovery from trauma and injury, and with learning new skills in adolescence and adulthood.» (Pitts-Taylor, 2012: 636)

[13]Quartz, Steven R. (1999). The constructivist brain. Trends in Cognitive Sciences 3 (2):48-57.  Elsevier Science.

[14]“Ciberbehaviourismo” é um neologismo criado pelo autor para se referir à inclusão da racionalidade instrumental promovida pelos dispositivos actuais da tecnociência (vigilância, bigdata, biopolíticas, algoritmos..) no percurso histórico do behavorismo e da sua relação com outras correntes de pensamento próximas: mecanicismo, positivismo, determinismo e darwinismo.

[15]Lazzarato, Maurizio. (2012). The Making of the Indebted Man. Los Angeles: Semiotext(e).

[16]Stiegler, Bernard. (2014). States of Shock: Stupidity and Knowledge in the 21st Century. Cambridge:

Polity Press.

[17]Chaitin, Gregory. 2006. “The Limits of Reason.” Scientific American 294 (3): 74–81.; Chaitin, Gregory. 2007. “The Halting Probability Omega: Irreducible Complexity in Pure Mathematics.” Milan Journal of Mathematics 75 (1): 291–304.

[18]« As many have argued recently, pressures around our personal abilities to improve our wellness and prevent disease and even aging are suggestive of a form of power Michel Foucault identified as governmentality, where the notions of risk and empowerment play crucial roles (…) the commercialization of bodies and biological materials in biocapitalism. Biological vitality, from the levels of surface flesh all the way to molecule, neuron and gene, has become a prime resource for ‘marketization’ in biocaptialist economies (…) Neoliberalism cannot be, as some descriptions might suggest, utterly totalizing and hegemonic. Brenda Weber (2009), following Wendy Brown (2006) and Aihwa Ong (1999), emphasizes how neoliberalism is a complex ideological apparatus that is inconsistent and ever-changing. Rather than creating wholly ‘passive and complacent’ citizens, Weber (2009: 52) argues that it instead mutates and is mutating, and is incomplete in its ability to shape the citizenry. » (Pitts-Taylor, 2012:641).

[19]«The intimacy between neoliberal capitalist models of organization and neuroscientific models of the plastic brain that Malabou recognizes is two-directional. Malabou finds global capitalism saturated with neurosciencebased language, so that neuroscience serves ideologically to naturalize global capitalism.» (Pitts-Taylor, 2012: 648).

[20]Para uma análise, redigida por N. Katherine Hayles, do relatório «Surveillance: Citizens and the State.», do Reino Unido, Cf. Hayles (2009).

Publicado no site Outras Palavras.

Nota sobre o autor

[1] Rui Matoso é especialista da European Network Expert on Culture e investigador da European Communication Research and Education Association. Gestor e Programador Cultural. Professor na ECATI – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (Lisboa), no Mestrado em Gestão e Programação Cultural e na Licenciatura em Ciências da Comunicação e da Cultura/Ramo de Gestão das Artes. É investigador no CICANT e doutorando em Ciências da Comunicação. Mestre em Práticas Culturais para Municípios – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa (2008), tendo anteriormente realizado uma Pós-Graduação em Gestão Cultural na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias(2006). É formador certificado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (CAP) e pelo Centro Científico-Pedagógico da Formação Continua (reg nº CCPF/RFO-32391/12).

A crise cresce no mundo todo e ninguém parece ter uma boa explicação para o evento

Davos
Só Deus nos salva de crise ou nem ele?

Estava eu ontem em uma cerimonia religiosa (católica) e foi sintomático ver que a maioria das pessoas (maioria mesmo) presentes, durante o ofertório, lembrava que vários de seus “entes queridos” – principalmente filhos e filhas – estavam desempregados – apenas uma delas lembrou-se de agradecer “a Deus”, pois recentemente um filho conseguiu, finalmente, voltar a empregar-se, após alguns anos.

Foi interessante também notar que a maioria absoluta dessa gente é o que a esquerda (aqui no Brasil) chama normalmente de “coxinha”, qual seja, conservadora e de direita.

Também se destaca por aqui que quem oficiava a cerimônia (um padre) sempre esteve mais ligado à Teologia da Libertação (dita de esquerda) e ao Concilio Vaticano Segundo, mas (o padre) buscou ser discreto, pois sempre foi amigo da maioria dos presentes.

O que não é necessariamente uma contradição – como algumas pessoas hão de pensar – posto que, como sacerdote, não lhe cabe fazer distinções, até porque a ação primária do catolicismo é a (indistinta) evangelização, mesmo no caso da Teologia da Libertação.

Não se pode dizer que aquelas pessoas passassem por “dificuldades financeiras”, muito pelo contrário, mas estavam e estão, sim, sentindo o baque de uma crise que se alonga por vários anos – problema que não apenas assola o país, mas todo restante do planeta.

E os reclamantes não estão sozinhos, ao contrário: o país fechou 20.832 vagas de trabalho formal em 2017, como aponta o Caged do Ministério do Trabalho.

Neste ponto chegamos a um consenso: a crise não é (apenas) brasileira, mas mundial; e ela não se iniciou no atual governo, mas sim durante os mandatos petistas – de Lula e de Dilma, que parecem (isso é uma ironia) ter se esquecido de que não se gasta mais do que se ganha.

Mas é certo, também e no entanto, dizer que o atual mandatário Temer (que, aliás, manda pouco) não está conseguindo debelar a crise herdada (por surrupio), até porque, como já se disse acima, trata-se de uma crise mundial.  Mas muito pelo contrário: Temer e sua equipe a está agudizando (isso ele consegue fazer com desenvoltura) e criando pânico entre a população por conta da supressão dos direitos trabalhistas e da seguridade pública.

Apesar disso, Temer está buscando vender, em Davos, na Suíça, um espécie de encantamento de serpente (como está tentando fazer o mesmo o atual presidente dos Estados Unidos), com a história da reforma da Previdência Social, o que é claramente um engodo.

O presidente norte-americano Trump fala de uma retomada da união e da importância da América Latina, no cenário internacional e principalmente americano, o que, obviamente, é outra balela imensa e absoluta.

Balela (e esta criminosa) é a própria reunião de Davos, que prega uma intensificação e um aprofundamento do neoliberalismo e ainda uma expansão da internacionalização da economia, o que é um troço obviamente estúpido e abjeto, pois o que isso quer dizer, na prática, é uma agudização da exploração maciça de pessoas e do meio ambiente.

Resta saber o que devem fazer as pessoas, o povo, a população, tanto aqui, como lá fora.

Pelo menos por enquanto, aparentemente, nada, pois estamos vivendo um momento de perplexidade e de medos.

Até quando isso vai durar não se sabe, mas desconfia-se que por algumas décadas.

Como acréscimo, diga-se que as pessoas (a maioria delas e principalmente a totalidade dos presentes na cerimônia religiosa) parecem não ter a mínima capacidade para fazer a conexão entre a enorme crise mundial (a que rapta os empregos dos ”entes queridos”) com aquilo que corre no Brasil neste momento.

Ou quem sabe não queiram fazer essa conexão, o que acaba resultando exatamente na mesma coisa.

Leia também

A ética de Arnaut e o espírito do capitalismo – Esquerda net

Obituário de Úrsula K. Le Guin, la creadora de Anarres, el planeta anarquista – Periódico Libertário

A construção do socialismo (1) – Passa Palavra

Bolsonaro não vê nada demais em o Brasil ser explorado pelos Estados Unidos

Bolsa
http://www.youtube.com

Jair Bolsonaro, o deputado federal e suposto candidato à presidência da república, ano que vem (ele ainda não tem partido definido e a maioria dos partidos com os quais flerta não o quer – daí o suposto), alimenta (isso é uma grande desinformação ou um jogo de cena apenas) que a China é um país, ainda, comunista.

Muita gente dita de esquerda (e tão desinformada quanto Jair Bolsonaro – se for mesmo esta a hipótese) acredita pia e candidamente no comunismo chinês.

A favor de Jair Bolsonaro a outra hipótese, a do jogo de cena, que busca atrair a direita anticomunista, soa mais verossímil.

Ou Jair Bolsonaro é um sujeito bastante bem informado (e quem sabe jogue o jogo das paixões política), ou existe alguém a seu lado que faz esse papel.

Se Jair Bolsonaro não tivesse percebido até então, deveria perceber após seu périplo pelos EUA que redundou num enorme fiasco e nalguma hostilização.

As “vozes do mercado” – por ele ansiadas e por ele tão esperadas – o taxam de um sujeito tacanho, ignorante e desqualificado para dirigir um país do tamanho do Brasil (tal qual ocorre com os ruralistas aqui mesmo no Brasil). Parece que ninguém mais quer um aventureiro tipo Fernando Collor de Melo nos dirigindo.

Talvez seja mais fácil seduzir exatamente os chineses (aos quais ele ofende), pois são esses mesmos chineses que estão a fazer acordos não importando a ideologia e nem a cor do dinheiro, mesmo aqueles sujos de sangue.

Mas com uma esquerda (especialmente a petista – se é possível acreditar que o PT seja de esquerda) completamente anestesiada e muito mal informada, Jair Bolsonaro vai, sim, cada vez mais explorar o filão do anticomunismo, do perigo vermelho, seja o do PT, seja o da Venezuela, seja o (do suposto) chinês, e, quem sabe?,  ele possa até ressuscitar, apenas para assustar ainda mais as classes pobre e média, a extinta URSS. Por que não?

Jair Bolsonaro é capaz (como aliás é o caso de Lula, o líder do PT) de tudo para chegar à presidência da república, não com o apoio irrestrito das “vozes do mercado”, como almeja, mas com o apoio de boa parte dos pobres e de segmentos da classe média que exatamente temem a “volta” (sic) do comunismo no Brasil; que flerta descaradamente com uma solução militar, e hostiliza brutalmente os defensores de direitos humanos, como se eles fossem desumanos (quem sabe sejam mesmos!) e que, por isso mesmo, prescindam de direito, de leis e de constituição. É o vale tudo! O salve-se quem puder!

Estaríamos rumando para o caos e para o precipício? Quem sabe? É uma boa hipótese para se apostar.

Leia também

Bolsonaro faz alerta contra ‘invasão chinesa’ no Brasil – Revista Veja

General Mourão diz que Temer faz ‘balcão de negócios’ para governar – Folha de São Paulo

Intervenção cívica – Youtube

Joseph Stiglitz: por que é preciso negar as patentes

Patentes
Reprodução

Um Nobel de Economia explica: imposto a pretexto de estimular a ciência, sistema de propriedade intelectual (PI) favoreceu apenas as grandes corporações. Em favor da pesquisa, há alternativas

Ao longo das últimas duas décadas, houve uma grave reação do mundo em desenvolvimento contra o atual regime de PI. Em grande medida, isso se deve a que os países ricos quiseram impor um modelo único para todos os países no mundo, influenciando o processo de definição de regras na Organização Mundial do Comércio (OMC) e forçando sua vontade por meio de acordos de comércio.

Os padrões de PI defendidos pelos países desenvolvidos são tipicamente projetados não para maximizar a inovação e o progresso científico, mas para maximizar os lucros de grandes empresas farmacêuticas e outros atores capazes de influenciar negociações comerciais. Não surpreende, portanto, que grandes países em desenvolvimento, com bases industriais substanciais – como África do Sul, Índia e Brasil  – estejam liderando o contra-ataque.

Esses países colocaram na mira principalmente a manifestação mais visível da injustiça da PI: a acessibilidade a medicamentos essenciais.

Por Joseph Stiglitz, Dean Baker e Arjun Jayadev, em Project Syndicate  –  tradução: Maurício Ayer.

Leia texto na integra em Outras Palavras.

INPI abre inscrições curso de Propriedade Intelectual a distância

Prpiedade intelectual

[Estão abertas as inscrições, até o dia 28 de julho, para a 3ª edição de 2017 do Curso Geral de Propriedade Intelectual à Distância (DL 101P BR), oferecido pelo INPI em parceria com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI).

O curso é online, gratuito, possui carga horária de 75 horas e apresenta uma visão geral sobre diversos temas relativos à propriedade intelectual, com enfoque na legislação brasileira. As aulas serão realizadas entre os dias 01 de agosto e 29 de setembro, com exame final entre 24 a 26 de setembro.

Dentre os temas a serem abordados estão: direitos autorais, patentes, marcas, indicações geográficas, desenhos industriais, proteção de novas variedades vegetais/cultivares, concorrência desleal, informação tecnológica, contratos de tecnologia e tratados internacionais. O DL 101 P BR conta com tutoria de especialistas nacionais nos temas abordados.

Veja as informações completas e se inscreva aqui

Confira abaixo mais informações sobre o processo de inscrição:

Cadastro no Centro de Usuário da OMPI

Antes de fazer a inscrição em qualquer curso à distância da OMPI, é necessário que o interessado se cadastre, inicialmente, no Centro de Usuário da OMPI: https://welc.wipo.int/wipoaccounts/pt/usercenter/public/register.jsf.

Se a página estiver em inglês ou em outro idioma, selecione “Português” na parte superior da página.

O cadastro no Centro de Usuário da OMPI pode ser feito a qualquer momento, não há prazo determinado para isso. No entanto, o usuário deve seguir todos os passos até o final. Se interromper o registro em algum momento ou se não seguir corretamente as instruções, o cadastro não será finalizado.

Importante: O username/login e a senha criados para acessar o Centro de Usuário da OMPI devem ser guardados em local de fácil recuperação, pois serão necessários para efetuar a inscrição nos cursos à distância da OMPI. Não é possível efetuar a inscrição nos cursos à distância da OMPI sem antes possuir uma conta no Centro de Usuário da OMPI.

Inscrição no Curso Geral de Propriedade Intelectual à Distância

O curso é oferecido por meio de uma Plataforma Eletrônica, cuja administração técnica e hospedagem estão localizadas em Genebra (Suíça). Para matricular-se no curso, o interessado, com seu login e senha do Centro de Usuário da OMPI, deve proceder à matrícula na edição do curso de seu interesse. Note que há dois cursos diferentes, o DL 101 P e o DL 101 P BR.

Os cursos à distância da OMPI estão relacionados na página da Academia da OMPI: http://wipo.int/academy/pt/courses/rp_catalog/index.jsp.

Apenas o candidato à vaga pode efetuar sua inscrição Curso Geral de Propriedade Intelectual à Distância – DL 101P BR, pois é necessário preencher dados pessoais, informar e-mail e atualizar informações, quando solicitado.

A comunicação com o usuário é feita pelo e-mail informado por ele. Por isso, certifique-se de que o e-mail cadastrado está apto a receber mensagens. Também sugerimos que consulte periodicamente a pasta de spam, pois é possível que os e-mails enviados caiam na pasta de spam e, consequentemente, não sejam acessados pelo usuário.

O INPI e a OMPI não se responsabilizam pela inscrição em seus cursos à distância. A inscrição é de responsabilidade exclusiva do interessado.

As vagas para o curso são limitadas, e o prazo de inscrição está condicionado ao preenchimento das vagas. Caso as vagas sejam preenchidas antes do término previsto para o final das inscrições, o INPI e a OMPI se reservam o direito de encerrar imediatamente as inscrições.

Essa medida visa manter a capacidade de operacionalização e a viabilidade do curso, já que é de interesse de todos que a formação por meio do Ensino à Distância seja efetiva e esteja de acordo com os padrões de qualidade estabelecidos por ambas as instituições.

Não há, de forma alguma, a possibilidade de reserva de vagas.

Para informações e mais esclarecimentos sobre os Cursos à Distância do INPI, envie e-mail para: ead@inpi.gov.br.]

Publicado no sítio NIT Mantiqueira