“A sociedade dos empregos de merda”

Trabalho
Reprodução

[Em 1930, o economista britânico John Maynard Keynes previu que, no final do século 20, países como os Estados Unidos teriam – ou deveriam ter – jornadas de trabalho de 15 horas semanais. Por que? Em grande medida, a tecnologia tiraria de nossas mãos tarefas sem sentido. Claro, isso nunca ocorreu. Ao contrário, muitíssimas pessoas, em todo o mundo, estão submetidas a longas jornadas como advogados corporativos, consultores, operadores de telemarketing e outras ocupações.

Mas enquanto muitos de nós julgamos nossos trabalhos muito aborrecidos, algumas ocupações não fazem sentido algum, segundo o escritor anarquista David Graeber. Em seu novo livro, “Bullshit Jobs: A Theory” [“Trabalhos de Merda: Uma Teoria”], o autor argumenta que os seres humanos consomem suas vidas, muito frequentemente, em atividades assalariadas inúteis. Graeber, que nasceu nos EUA e que já havia escrito, entre outras obras, Dívida: Os Primeiros 5000 anos e The Utopia of Rules [ainda sem edição em português] é professor de Antropologia na London School of Economics e uma das vozes mais conhecidas do movimento Occupy Wall Street (atribui-se a ele a frase “Somos os 99%”).

A “Vice” encontrou-se há pouco com Graeber para conversar sobre o que ele define como “emprego de merda”; por que os trabalhos socialmente úteis são tão mal pagos, e como uma renda básica assegurada a todos poderia resolver esta enorme injustiça.

Em primeiro lugar, o que são empregos de merda e por que existem?

David Graeber: Basicamente, um emprego de merda é aquele cujo executor pensa secretamente que sua atividade ou é completamente sem sentido, ou não produz nada. E também considera que se aquele emprego desaparecesse, o mundo poderia inclusive converter-se num lugar melhor. Mas o trabalhador não pode admitir isso – daí o elemento de merda. Trata-se, portanto, em essência, de fingir que se está fazendo algo útil, só que não.

Uma série de fatores contribuiu para criar esta situação estranha. Um deles é a filosofia geral de que o trabalho – não importa qual – é sempre bom. Se há algo em que a esquerda e a direita clássicas frequentemente estão de acordo é no fato de ambas concordarem que mais empregos são uma solução para qualquer problema. Não se fala em “bons” trabalhos, que de fato signifiquem algo. Um conservador, para o qual precisamos reduzir impostos para estimular os “criadores de emprego”, não falará sobre que tipo de ocupações quer criar. Mas há também partidários da esquerda insistindo em como precisamos de mais ocupações para apoiar as famílias que trabalham duro. Mas e as famílias que desejam trabalhar moderadamente? Quem as apoiará?

Até mesmo os empregos de merda garantem a renda necessária para que as pessoas sobrevivam. No fim das contas, por que isso é ruim?

Mas a questão é: se a sociedade tem os meios para sustentar todo mundo – o que é verdade – por que insistimos em que os trabalhadores passem sua vida cavando e em seguida tapando buracos? Não faz muito sentido, certo? Em termos sociais, parece sadismo.

Em termos individuais, isso pode ser visto como uma boa troca. Mas, na verdade, as pessoas obrigadas a tais trabalhos estão em situação miserável. Podem considerar: “estou ganhando algo por nada”. Bem, as pessoas que recebem salários bons, muitas vezes de nível executivo, certamente de classe média, quase sempre passam o dia em jogos de computador ou atualizando seus perfis de Facebook. Quem sabe, atendendo o telefone duas vezes por dia. Deveriam estar felizes por ser malandros, certo? Mas não são.

As pessoas contratadas para tais trabalhos relatam, regularmente, que estão deprimidas. E se lamentarão, e praticarão bullying umas contra as outras, e se apavorarão com prazos finais porque são de fato muito raras. Porém, se pudessem buscar uma razão social no trabalho, uma boa parte de suas atividades desapareceria. As doenças psicossomáticas de que as pessoas padecem simplesmente somem, no momento em que elas precisam realizar uma tarefa real, ou em que se demitem e partem para um trabalho de verdade.

Segundo seu livro, a sociedade pressiona os jovens estudantes para buscar alguma experiência de emprego, com o único objetivo de ensiná-los a fingir que trabalham

É interessante. Chamo de trabalho real aquele em que o trabalhador realiza alguma coisa. Se você é estudante, trata-se de escrever. Preparar projetos. Se você é um estudante de Ciências, faz atividades de laboratório. Presta exames. É condicionado pelos resultados e precisa organizar sua atividade da maneira mais efetiva possível para chegar a eles.

Porém, os empregos oferecidos aos estudantes frequentemente implicam não fazer nada. Muitas vezes, são funções administrativas onde eles simplesmente rearranjam papéis o dia inteiro. Na verdade, estão sendo ensinados a não se queixar e a compreender que, assim que terminarem os estudos, não serão mais julgados pelos resultados – mas, essencialmente, pela habilidade em cumprir ordens.

E os empregos tecnológicos ou na mídia. Seriam, também, de merda?

Certamente. Por meio do Twitter, pedi às pessoas que me relatassem seus empregos mais sem sentido. Obtive centenas de respostas. Havia um rapaz, por exemplo, que desenhava bâners publicitários para páginas web. Disse que havia dados demonstrando que ninguém nunca clica nestes anúncios. Mas era preciso manipular os dados para “demonstrar” aos clientes que havia visualizações – para que as pessoas julgassem o trabalho importante.

Na mídia, ha um exemplo interessante: revistas e jornais internos, para grandes corporações. Há bastante gente envolvida na produção deste material, que existe principalmente para que os executivos sintam-se bem a respeito de si próprios. Ninguém mais lê estas publicações.

A automação é vista, muitas vezes, como algo negativo. Você discorda deste ponto de vista, não?

Certamente. Não o compreendo. Por que não deveríamos eliminar os trabalhos desagradáveis? Em 1900 ou 1950, quando se imaginava o futuro, pensava-se: “As pessoas estarão trabalhando 15 horas por semana. É ótimo, porque os robôs farão o trabalho por nós”. Hoje, este futuro chegou e dizemos: ”Oh, não. Os robôs estão chegando para roubar nossos trabalhos”. Em parte, é porque não podemos mais imaginar o que faríamos conosco mesmo se tivéssemos um tempo razoável de lazer.

Como antropólogo, sei perfeitamente que tempo abundante de lazer não irá levar a maioria das pessoas à depressão. As pessoas encontram o que fazer. Apenas não sabemos que tipo de atividade seria, porque não temos tempo de lazer suficiente para imaginar.

Pergunto: por que as pessoas agem como se a perspectiva de eliminar o trabalho desnecessário fosse um problema? Deveríamos pensar que um sistema eficiente é aquele em que se pode dizer: “Bem, temos menos necessidade de trabalho. Vamos redistribuir o trabalho necessário de maneira equitativa”. Por que isso é difícil? Se as pessoas simplesmente assumem que é algo completamente impossível, parece-me claro que não estamos em um sistema eficiente.

Um dos pontos mais interessantes do livro são suas observações sobre como os empregos socialmente valiosos são quase sempre menos bem pagos que os empregos de merda.

Foi uma das coisas que, pessoalmente, mais me chocou na fase da pesquisa. Comecei a tentar descobrir se algum economista havia observado o fenômeno e tentado explicá-lo. Houve antecedentes, na verdade. Alguns eram economistas de esquerda; outros, não. Alguns eram totalmente mainstream.

Mas todos chegaram à mesma conclusão. Segundo eles, há uma tendência: quanto mais benefícios sociais um emprego produz, menor tende a ser a remuneração – e também a dignidade, o respeito e os benefícios. É curioso. Há poucas exceções e não são tão excepcionais como se poderia pensar. Os médicos, é claro, são um caso notório: é evidente que são pagos com justiça e oferecem benefícios sociais.

Porém, há um argumento recorrente: “Não seria bom que pessoas interessadas apenas em dinheiro ensinassem as crianças. Não se deve pagar demais aos professores. Se o fizéssemos, teríamos gente gananciosa na profissão, em vez de professores que se sacrificam”. Há também a ideia de que se um trabalhador sabe que sua atividade produz benefícios, isso pode ser o bastante. “Como, você quer dinheiro, além de tudo?” As pessoas tendem a discriminar qualquer um que tenha escolhido um emprego altruísta, sacrificante ou apenas útil.

Aparentemente, você é pouco favorável à ideia de garantia de trabalho, defendida entre outros por Bernie Sanders [candidato de esquerda à presidência dos EUA], por preferir a garantia de renda cidadã.

Sim. Sou alguém que não quer criar mais burocracia e mais empregos de merda. Há um debate sobre garantia de trabalho – que Sanders, de fato, propõe, nos EUA. Significa que os governos deveriam assegurar que todos tenham acesso ao menos a algum tipo de trabalho. Mas a ideia por trás da renda universal da cidadania é outra: simplesmente assegurar às pessoas meios suficientes para viver com dignidade. Além desse patamar, cada um pode definir quanto mais deseja.

Acredito que a garantia de trabalho certamente criaria mais empregos de merda. Historicamente, é o que sempre acontece. E por que deveríamos querer que os governos decidissem o que podemos fazer? Liberdade implica em nossa capacidade de decidir por nós mesmos o que queremos e como queremos contribuir para a sociedade. Mas vivemos como se tivéssemos nos condicionado a pensar que, embora vejamos na liberdade o valor mais alto, na verdade não a desejamos. A renda básica da cidadania ajudaria a garantir exatamente isso. Não seria ótimo dizer: “Você não tem mais que se preocupar com a sobrevivência. Vá e decida o que quer fazer consigo mesmo”?]

David Graeber, entrevistado por Eric Allen Been, na Vice,  tradução: Antonio Martins, para Outras Palavras.

Crise dos combustíveis é culpa da corrupção e da incúria petista e da incompetência temerista

Combu
Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Pode parecer sadismo, e talvez seja, ficar olhando e se divertindo um pouco para e com as imensas filas que se formaram nos postos de gasolina nesta manhã.

Se formaram e de nada adiantou porque não demorou muito para que os gerentes dos postos e os frentistas anunciassem que gasolina havia acabado.

Isso também foi bastante estranho porque os postos “fecharam” mais ou menos à mesma hora, pelo menos aqui na região de Cotia, o que parece ter sido uma movimentação orquestrada.

Mas como não tenho certeza disso fico apenas com mais esta teoria da conspiração.

Eu não tenho carro. Já tive, mas não tenho mais.

Pode ser que no futuro eu venha a ter outro, mas isso é bastante improvável.

Então dá pra eu observar e me divertir à farta sem qualquer tipo de culpa.

Nunca gostei muito de carro. Demorei para comprar um, e ao longo dessa minha vida, que não é curta, apenas tive três veículos.

Longe de mim ser um ambientalista de carteirinha assinada (como tantos que conheço), mas os automóveis (aqui estou falando “em geral” – carros a passeio, vans, ônibus, caminhões etc.) são um dos principais poluidores do planeta, se não forem os principais.

Também não entro nessa onda esquerdista de culpar apenas o Temer pelo caos, tentando tirar a bundinha da Dilma e do PT da reta, quando foram exatamente a corrupção do período dela e de Lula e o subsidio criminoso aos combustíveis que levaram a este caos atual.

O Temer só entrou no palco em seu papel de incompetente, que, acho, está desempenhando a contento. (MTS)

“O Brasil perdido, num mundo em transe”

Beuzzo
Fotomontagem CartaMaior

[No jogo econômico e geopolítico global de hoje, as principais cartas estão colocadas por um gigante do Oriente. “A escalada da China não tem como ser contida. A não ser que se tente fazer uma coisa de enorme violência“, diz o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

O que a China fez foi se encaixar de maneira adequada na globalização, proposta pela expansão americana financeira e produtiva”, diz. Prova disso é que os chineses estão comprando empresas em todo o mundo. Inclusive no Brasil, nos setores estratégicos de energia e petróleo.

Por outro lado, os Estados Unidos continuam a possuir uma carta fundamental no jogo da economia e finanças globais: o dólar. “É o ativo em que o mercado confia.” O resultado da complexa disputa pelo protagonismo mundial ou por posições estratégicas não está claro, considerando que o mundo passa por uma transição que parece apontar para o fim da hegemonia neoliberal, mas sem horizontes muito claros.

Acho que estamos num momento de passagem, não sabemos bem para onde. Eu diria que o arranjo internacional está moribundo, está sendo fundamentalmente sustentado pela exceção chinesa, que é uma parte do conjunto”, diz Belluzzo. “Acho que esse arranjo proposto lá atrás, nos anos 80, que o pessoal chama de neoliberalismo, está moribundo, mas não morre.

Enquanto isso, o Brasil é hoje apenas formalmente parte integrante do Brics – bloco em que está ao lado de Rússia, Índia, China e África do Sul –, pois na prática perdeu completamente o protagonismo e caminha por uma opção geopolítica equivocada, ao reaproximar-se da esfera norte-americana.

Estamos fazendo uma aproximação geopolítica errada. Os chineses estão entrando aqui e não estamos exigindo ou negociando nada com eles.” E, no Brics, o Brasil de Michel Temer “não faz nada”.

Principalmente porque, segundo Belluzzo, sob o governo de Michel Temer e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o país está sem comando. “Eles não têm noção de nada, não têm noção do que estão falando”, diz o economista. “Conheço bem o presidente da República. Ele tem uma inteligência bem restrita”, garante Belluzzo.

Leia a entrevista:

Recentemente o FMI informou que a dívida global chegou a 225% do PIB mundial, com valor de U$ 164 trilhões. Como interpreta esse dado? 

Depois da crise de 2008-2009, os bancos centrais entraram firmemente para impedir que a crise se espalhasse de maneira incontrolável e bloqueasse os mercados interbancários, que ficaram paralisados. Sem a presença dos bancos e dos mercados financeiros numa economia como a de hoje, haveria um colapso de grandes proporções. Vamos olhar as dívidas públicas. A do Japão, por exemplo, é de mais de 200% do PIB, o que já vem dos anos 90 pelas operações que fizeram, para segurar a economia japonesa, depois da crise iniciada em 1989.

Em 2006, antes da crise, a dívida pública dos Estados Unidos estava em torno de 60% do PIB, e hoje está em torno de 110%. Por que subiu a dívida pública? O governo americano gastou mais em infraestrutura, obras públicas? Não. Foi porque o tesouro foi obrigado a socorrer os bancos, com títulos da dívida pública, o título considerado mais seguro, a cúspide do sistema financeiro internacional. É o ativo em que o mercado confia. Quando há insegurança maior, todo mundo corre para o título da dívida pública americana.

Então aumentou a dívida pública americana por causa dessa operação. Em seguida, por causa das taxas de juros muito baixas, os fundos e bancos de investimento começaram a se re-alavancar. Há uma tremenda expansão do crédito intra-financeiro e também para as empresas transnacionais.

O excesso de liquidez – muito dinheiro considerado confiável, o dólar americano – forçou o endividamento das empresas da periferia. No Brasil, por exemplo, as empresas privadas começaram a tomar muita dívida em dólar, sobretudo porque era barato, a taxa de juros baixa. Então há um endividamento elevado das empresas brasileiras em dólar. Isso foi percebido agora, porque o dólar começou a ficar caro e isso afeta o estoque de dívida das empresas.

Isso globalmente…

Globalmente: Turquia, Brasil, Índia, vários países que fizeram endividamentos altos. Quando se desvaloriza o dólar, o Federal Reserve (banco central americano) deu sinal de que poderia começar a diminuir a compra de ativos privados, o seu papel de market maker, como comprador e vendedor nos mercados secundários. Quando ele começou a dar o sinal, correu todo mundo pra sair das posições nos países que estavam com moeda valorizada. Esse é o fenômeno da extrema dependência que os países têm dos movimentos da política monetária americana. Ela dá um soluço lá, isso afeta todo mundo.

Essa discussão não é feita no Brasil, porque os economistas de bancos não querem saber dessa história. Eles querem dizer que o Brasil tem essa vulnerabilidade, a despeito das reservas altas (U$ 380 bilhões), porque a situação fiscal é ruim. A situação fiscal é ruim no mundo inteiro, porque todas as moedas se desvalorizaram em relação ao dólar. Todas. Menos algumas, como o yuan chinês, porque eles têm uma política de controle de câmbio.

Está existindo uma fuga de investidores de países emergentes?

Isso é um pouco mais complicado, porque você opera nos mercados futuros. Você muda a posição de estar vendido em dólar para ficar comprado. É uma mudança de posição dos seus estoques de riqueza. Por exemplo, quando o investidor percebe que vai haver uma desvalorização do real ele deixa de apostar no real e passa a apostar no dólar…

Mas está acontecendo isso?

Claro que está. Mas o Brasil tem uma proteção (as reservas). A questão central é que você não pode ter um preço tão fundamental, como o câmbio, sujeito a essas flutuações, a essas incertezas. Quem fez um projeto de aumento da produção em cima do aumento das importações, quando dá uma paulada dessa no dólar, ele fica a perigo, da mesma maneira que o exportador, quando faz um projeto de exportação com uma taxa de câmbio a R$ 3,70 e ela cai para R$ 3,20, por exemplo, os planos dele ficam ameaçados. Essa volatilidade do câmbio, uma característica da economia atual, sempre nos deu problema, e nos deu mais problemas quando estávamos mais desprotegidos.

Vamos lembrar do Fernando Henrique Cardoso, que ninguém lembra. Ele fez a estabilização com câmbio fixo, destruiu uma parte da indústria brasileira. Lembro do (José) Mindlin me falando que ia vender a Metal Leve, porque não aguentava mais. Hoje ninguém fala nada, eles (os empresários) levam na cabeça e devem achar bom, viraram rentistas também. Mas o Fernando Henrique fez essa aposta, valorizou o câmbio, destruiu uma parte da indústria brasileira importante, sobretudo as cadeias produtivas, danou o setor de bens de capital e carregou isso ao longo dos anos 90, meados de 94 até 98, quando houve uma sucessão de crises cambiais – México em 94, Ásia em 97, depois Rússia, Brasil e Argentina. Mas para os economistas da banca não aconteceu nada, era só para os países que estavam com suas situações domésticas ruins.

Viemos de uma dívida pública, que Collor deixou, de aproximadamente 30%, e chegou a cerca de 70% do PIB. A economia cresceu pouco, taxa média de 2,5%, e só fomos nos recuperar a partir de 2003…

Com Lula…

Com Lula. Na época, houve um choque brutal de commodities e de demanda na economia mundial. Isso beneficiou muito os países que tinham um setor de agronegócio muito forte, como Argentina e Brasil. A Argentina cresceu até mais que o Brasil, 8,5%, 9% nesse período. Lula pegou esse momento e fez as políticas corretas de inclusão, foi muito hábil nisso. Colocou 40 milhões de pessoas para dentro da economia, não é pouca coisa, é um prodígio. Mas isso tem a ver com ciclo de commodities, ainda que ele tenha mantido a tendência de valorização do câmbio. A indústria continuou a perder peso. A indústria brasileira tinha uma participação de 25% do PIB no início dos 80 e passou a ter 12% (dados recentes do IBGE).

Passamos a década de 80 inteira, a “década perdida”, tentando resolver o problema dos efeitos da dívida externa, efeitos fiscais – porque houve estatização de dívida pelo Tesouro –, incapacidade  de pagamento, várias cartas de intenção com o FMI. A economia tinha momentos de crescimento e queda sucessivos. Saímos da crise em 94, com o Plano Real. Por quê? Porque tínhamos 40 bilhões de reserva.  Aí começa o negócio de privatização. A economia mundial já estava se tornando o que ela é hoje, muito inclinada a tirar proveito da propriedade, que é o rentismo, em vez da produção. Vieram para cá e compraram as empresas brasileiras.

Mais ou menos como hoje?

Sem dúvida. Dizem: “vamos melhorar a eficiência das empresas”. Mentira. Pergunta se o setor elétrico melhorou a eficiência ou se aumentou as tarifas brutalmente. Não tem nada a ver com eficiência.

Na verdade, no caso da energia elétrica, é a produção de um insumo universal. Todo mundo usa. Na China e nos países asiáticos, os setores que produzem insumos universais são públicos para ajudar o setor privado, permitir custos baixos. Aqui não se faz a discussão das inter-relações entre privado e público. Isso é que é o capitalismo!

O Brasil ainda está no pré-capitalismo, então?

O Brasil já fez capitalismo em alguns momentos (risos). Tentou fazer com Getúlio, Juscelino, até com os militares, independentemente das tropelias que eles fizeram.

Como a economia de um país grande como o Brasil pode se sustentar com a indústria na situação atual?

Virou uma espécie de consenso entre os economistas do mercado ou próximos a ele que a indústria não é importante. Você pode produzir banana e produzir computadores que é a mesma coisa. Não é só uma regressão na estrutura produtiva, é uma regressão mental, achar que tudo é a mesma coisa.

Os chineses disseram em Davos que “quem acredita que vai fazer dinheiro se houver uma crise na China está equivocado”. Eles estão bastante seguros de sua posição, não?

Eles estão crescendo em torno de 6,5%, 7%. A taxa média de crescimento deles era 10% nos anos 90 e mesmo no começo dos 2000. Mas eles fizeram agora um Congresso do Partido Comunista. São muito prudentes, administram de acordo com as circunstâncias. Estão fazendo uma transição, saindo de uma economia que era muito dependente do saldo da balança de transações correntes. Quando você vende mais do que compra, essa diferença é importante. Quando esse saldo é positivo, você vende mais do que compra, injeta demanda na economia.

O resultado das exportações menos as importações teve um papel muito importante no crescimento deles. Eles tinham uma capacidade de estímulo ao investimento muito grande, com bancos públicos e taxas de juros muito baixas. Tinham taxas de juros muito baixas porque não tinham que prestar contas ao capital de curto prazo que queria especular. É como disse um chinês: “nós abrimos, mas botamos uma tela, para só entrar o que interessa, não entrar mosquito”.

Eles têm projetos importantíssimos tanto na área financeira quanto na produtiva, articulando as duas coisas. As finanças para eles são muito importantes, uma coisa importante do capitalismo, desde que controlada, para financiar o gasto produtivo. É o contrário dos emergentes, onde o sistema financeiro é perverso, só serve pra perturbar.

A chamada nova rota da seda está assustando os Estados Unidos, por exemplo…

Sim. Para ser claro: essa escalada da China não tem como ser contida. A não ser que se tente fazer uma coisa de enorme violência. O capitalismo é um sistema autotransformador. Se você tiver a embocadura certa no momento em que a transformação está ocorrendo, você vai se beneficiar. O que a China fez foi se encaixar de maneira adequada na globalização, proposta pela expansão americana financeira e produtiva. Eles se beneficiaram porque perceberam a articulação necessária.

Agora eles estão na segunda etapa. Na primeira, até meados de 2000, até a crise, eles tinham 4 trilhões de dólares de reservas, que acumularam com as exportações líquidas e com a entrada de capitais produtivos. Hoje eles têm 3 trilhões. Mas eles não jogaram reservas fora. Eles precisam também diminuir a pressão que tinham no seu mercado financeiro da entrada de dinheiro estrangeiro, que não era especulativo, e em segundo lugar estão mudando a composição da riqueza deles, do portfólio. Eles saíram dos títulos e estão comprando empresa em tudo quanto é lugar. Veja quantas empresas de energia eles estão operando hoje no Brasil.

E na área de petróleo…

Sim, mas não é só no Brasil. Compraram empresas na Europa, na África…

No futuro vamos ser todos chineses?

Se deixar, vamos.

E a questão do Brasil nos Brics hoje?

Estamos no Brics, mas o Brasil não faz nada. Conheço bem o presidente da República. Ele é um provinciano, para não dizer outra coisa. O mínimo que ele pode dizer é o seguinte: que nós regredimos 20 anos em dois (risos). Ele tem uma inteligência bem restrita. Frequentava meu grupo político no tempo da faculdade. Não era capaz de dizer uma coisa interessante, e continua do mesmo jeito. Nunca teve protagonismo. Virou presidente da República. São os fenômenos brasileiros.

Temos presença nos Brics, mas não temos projeto, não apresentamos nada. O Banco Central fez o favor de tirar o nosso vice-presidente lá, o Paulo Nogueira Batista, que tem capacidade de entender essas coisas, porque eles acham que têm que fazer uma aproximação com os Estados Unidos, que não é uma economia desprezível nem decadente, mas não promete dinamismo para nós. O Trump nunca se referiu ao Brasil.

Estamos fazendo uma aproximação geopolítica errada. Os chineses estão entrando aqui e não estamos exigindo ou negociando nada com eles.

Como comparar os países ibéricos Espanha e Portugal, que está fazendo políticas mais sociais do que a Espanha e está dando certo?

Portugal fez uma trajetória de um compromisso de centro-direita e centro-esquerda que está levando ao abandono das políticas de austeridade, que melhorou muito a situação nos últimos anos. Já a Espanha sofreu uma crise imobiliária muito grave em 2007 e 2008. Continua com uma taxa de desemprego altíssima. Está mais ou menos estagnada. Portugal é um país peculiar, porque é muito pequeno, tem dez milhões de habitantes. A Espanha tinha um superávit fiscal de 2,5% nominal e uma dívida pública de 25% do PIB. É nada. Em compensação, uma tremenda dívida privada que vinha pelo lado imobiliário.

Quem financiava a Espanha eram os bancos alemães e franceses. Para ver como são essas conexões. Então, a Espanha tinha superávit fiscal, um endividamento privado brutal, maior que o dos EUA, se medir per capita, e um déficit em conta corrente de 8% do PIB. Ou seja, virou uma importadora líquida. Quando deu a crise global, levou uma paulada, o déficit público subiu às alturas, os endividados espanhóis quebraram.

Como vê a situação argentina? O Brasil pode ir pelo mesmo caminho?

O Brasil está mais defendido, com o colchão (das reservas), que não impede que você tenha flutuações indesejáveis no câmbio. A volatilidade do câmbio é tão danosa quanto o câmbio valorizado, que deixamos durante anos, inclusive no período de bonança que tivemos entre 2002 a 2010. O Brasil reagiu muito bem à crise de 2009, conseguiu se colocar numa posição melhor que muitos outros países. Mas a Argentina tem uma recorrência de crises cambiais. Eu citaria várias. A crise da divida externa dos anos 70, por exemplo, quando o país viveu de maneira imprudente porque não sofreu tanto como o Brasil com o choque do petróleo, já que a Argentina era produtora de petróleo. Mas o Martínez de Hoz, um economista bem convencional, resolveu endividar a Argentina.

Tensões geopolíticas, como no Oriente Médio, por exemplo, poderiam desencadear uma crise econômica global grave?

Acho que estamos num momento de passagem, não sabemos bem para onde. Eu diria que o arranjo internacional está moribundo, está sendo fundamentalmente sustentado pela exceção chinesa, que é uma parte do conjunto. Então, acho que esse arranjo proposto lá atrás, nos anos 80, que o pessoal chama de neoliberalismo, está moribundo, mas não morre. Do ponto de vista geopolítico e geoeconômico, que são inseparáveis, as transformações da economia global foram muito importantes e tiveram implicações geopolíticas. E o que aparece agora como geopolítico é o protagonismo da China, mas isso nasce de um arranjo geoeconômico.

Não há como não aparecer essa dimensão política. Não existe a economia tal como os economistas a concebem hoje, como um conjunto de abstrações; a economia está colada ao social e ao político. Essa coisa do Oriente Médio está inscrita dentro disso. Na verdade os Estados Unidos produziram o Estado Islâmico, ao dizimar o Iraque, dizimar a Síria. Isso é uma coisa de hospício, uma coisa absurda, você destruir as estruturas sem saber qual a sua história, sua natureza.

Quando se vê Michel Temer e Meirelles falarem da economia, não dá impressão de que eles estão fora da realidade?

Mas isso é típico do Temer e do Meirelles. Eles não têm noção de nada, não têm noção do que estão falando. Isso acontece na história da humanidade. Você está na mão de dois sujeitos que estão no planeta Netuno, não têm nada a ver com a realidade do seu país.

Mas não existem forças por trás deles?

Claro, é evidente que existem. Falo disso num livro que escrevi com o Gabriel Galípolo, que chama Manda quem Pode, Obedece quem tem Prejuízo. É a estrutura de poder concentrada exatamente nos mercados financeiros. Temer e Meirelles são a expressão física disso, que eles refletem sem saber. Veja o que a imprensa diz o tempo inteiro dos atuais candidatos à presidência. “Fulano de tal será bem recebido pelos mercados?” Onde está o poder real?

As pessoas não percebem, mas são vitimadas por um sistema que concentra o poder e entrega a esses cidadãos que estou mencionando, que são provincianos, têm uma visão tola de como as coisas funcionam. Se tivessem uma visão mais clara, mais profunda, eles não proporiam essas coisas que propõem. Outro dia o Meirelles disse que a economia voltou a se expandir. Em que mundo ele está? Não sei.]

Por Eduardo Maretti, da RBA – Em Outras Mídias

Iniciada por Dilma Rousseff crise está destroçando o país da Era Temer

Governo faz virada gradual e realista de página, diz Dilma
Foto GGN (alterada)

Neste final de semana recolhi dois testemunhos de gente que não está apenas assustada com o que está acontecendo com o Brasil, mas também, surpreendida, não sabe explicar as causas que transformam rapidamente o país numa espécie de área de terra arrasada, campo fértil para que um “aventureiro lance mão” [1], tal qual no samba de Chico Buarque de Holanda.

O final de semana também registrou, em São Paulo, dois policiais militares (em situações diferentes e não no mesmo local e dia) baleando ladrões. Um deles morreu e a policial acabou sendo homenageada pelo atual governador paulista.

O abate dos ladrões não foi tão somente alvo de homenagens governamentais, mas também saudado por parte da população e objeto de extensas reportagens na mídia, especialmente pelas TVs.

Ninguém se condoeu com o destino dos ladrões, nem mesmo gente ligada à mídia de esquerda e nem se viu os grupos sociais, defensores dos direitos humanos, reclamando da temeridade da ação dos PMs.

Não fixei nem o caso, nem a sua origem, mas li ainda ontem que se preocupar com o direito alheio – social, ambiental etc. – está saindo de moda, e já sendo alvo de gozações e achincalhamentos.

Provavelmente estejamos começando a viver um “revival” (revivalismo) dos anos 80 e 90 do século passando quando se apontava como o único culpado pelos infortúnios da vida (entre eles, o mais chocante: a pobreza) o próprio infortunado.

Simultâneo a isso, ainda persiste junto a parcela considerável da população a crença cega na ciência, que, igualmente, irá (finalmente?) apartar os bem nascidos (sic) e inteligentes (sic) da imensa camada pobre e desqualificada.

Há uma certa negligência, tenho notado, nessas abordagens; uma certa preguiça irresponsável que nos empurra fugir de entender por que cresce o número de pessoas para quem, por exemplo, “bandido bom é bandido morto”.

Estamos, ao que parece, apenas fixados nas injustiças sociais que vitimina boa parte da sociedade, mas não olhamos para o outro lado da questão, qual seja, para aqueles que igualmente se sentem vítimas, embora vítimas com certos privilegiados.

Isso talvez nós ajudasse a compreende o que ocorre com a sociedade como um todo.

Já passa da hora de nos superarmos e de buscarmos explicações menos simplista para os dramas sociais que vivemos.

Os testemunhos

Dos testemunhos que recolhi, e que está apontado no primeiro parágrafo, chama atenção a unanimidade da descrença e do desalento.

A atual crise que se iniciou antes do final do primeiro mandato de Dilma Rousseff, apenas fez crescer com Michel Temer, e não dá sinais de refluxo.

A expectativa do PIB, por exemplo, que deveria chegar a 4% ou até mais um pouco (ao fechar 2018) agora está recuando para 3,7% com tendência de queda acentuada, e não devemos nos surpreender se o PIB brasileiro fechar o ano próximo a 1%.

Os reflexos disso estão sendo devastadores para a economia brasileira e para a sociedade nacional, especialmente para a população mais pobre e a menos preparada (equipada) para enfrentar esse tipo de vicissitude. (MTS)

Nota

[1] “Samba de Orly” – Chico Buarque: https://www.youtube.com/watch?v=rfpjEeK1Jeg

 

Com ou sem o lulismo o Brasil continua e continuará pobre

Pobreza
Navegações nas fronteiras do Pensamento

Temos várias maneiras de checar o índice de pobreza de um país como o Brasil, por exemplo.

Índice que dizem ter aumentado ou crescido (como se queira) em alguns milhões de pessoas após o final melancólico do período lulo-petista.

Eu não acredito muito nessa história, nesse discurso do petismo salvacionista, não porque não ache que o não houve crescimento no período, mais sim porque com o lulo-petismo ou sem o lulo-petismo continuamos o que sempre fomos, qual seja, não conseguimos sair de nosso misere que me parece eterno.

O que houve durante o lulo-petismo, além de muita roubalheira (às vezes justificável), foi uma espécie de encantamento de serpentes, com empregos precários e vagabundos (daqueles que você mal ganha um salário mínimo) e uma farta distribuição de benesses financeiras, via facilitação do crédito– carro, casa, roupa, relógio, telefones celulares etc. e tal –, o que, na prática, apenas beneficiou as indústria, os serviços e o comércio (que, diga-se, continuaram pagando salários precários, miseráveis a seus funcionários), enquanto nós, os pobres consumidores, tivemos e teremos de pagar a salgada e custosa conta.

Vamos todos parar, mais cedo ou mais tarde, no SPC.

Acabaremos por ter de entregar nossos carros e nossas casas (ambos já detonados pelo uso por nós mesmo).

Mas como lembrei acima, há várias maneiras de checar nosso índice de pobreza.

Podemos nos socorrer dos sofisticados (mas não isentos de manipulações) estudos acadêmicos.

Ou dos claramente manipulados e manipuláveis números e índices oficiais do governo, via IBGE, IPEA, Banco Central etc. e tal.

Se quisermos algo mais objetivo e preciso, no entanto, devemos observar o comportamento assustado e indignado das donas de casa nas feiras livres e nos supermercados.

Eu prefiro, porém, uma metodologia própria.

Observo aquelas pessoas, independente de suas idades, que vão a bares e padarias atrás de “comer um salgado”.

Salgado é aquele troço no qual quituteiros e padeiros acrescentam um bocado de sal: pasteis, coxinhas, rissoles, pedaços de pizza etc. e tal.

Repare que muita gente antes pergunta “quanto custa” para depois avaliar se tem capital (pois se trata mesmo de se fazer investimento para aplacar a fome) para comprar a guloseima.

Quase sempre essa gente não tem ou, quando muito, possui recurso para “apenas um salgado”.

E repare também que as pessoas nem pensam em tomar um café ou um refri, porque aí já seria demais para as suas parcas finanças.

Quando muito, e se o balconista ou atendente for simpático e condescendente, se arranja um copo de água torneiral.

Agora, fale sério: em sã consciência você acha mesmo que a situação financeira do brasileiro “melhorou” no período lulo-petista para depois despencar no interinato de Temer, ou o que se viu então, como cantou Paulinho da Viola, “foi um rio que passou em minha vida”?

E parece que levou tudo embora tal qual uma tsunami.

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Ajuda mas não muito

FHC
CGM

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou, em entrevista à Rádio Eldorado, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está certo quando disse, durante o Fórum Estadão, na terça, 27, que “quem for o candidato de mercado vai perder a eleição” de outubro. “Ele (FHC) está certo. Quem é candidato só do mercado tem apoio (em número de votos) proporcionalmente pequeno. Mas, a questão é que a importância do mercado não é o número de votos. Quem ganha eleição tem apoio de todas as classes sociais e de todo o Brasil”, afirmou Meirelles. (O Estado de São Paulo)

Colapso do Capitalismo (?)

“Tenho três objeções a essa tese. A primeira é observacional: as evidências empíricas disponíveis não indicam que esse fenômeno tenha de fato ocorrido até o presente momento, mesmo se permanece como possível. Ao contrário, a globalização parece ter elevado fortemente a força de trabalho submetida à relação de capital nas últimas décadas. A segunda é teórica: a elevação da produtividade do trabalho que reduz o valor contido em um dado volume de produção sempre pode ser compensada, em princípio, por uma expansão do volume produzido. A terceira é que mesmo em condições de decadência, o capitalismo pode continuar se ele não é obstado pela luta social.”

(Eleutério F. S. Prado  professor de Economia, aposentado -USP)

Dos limites do capitalismo

“No livro III de O Capital, Marx afirma que ‘a produção capitalista tende constantemente a exceder os limites que lhe são imanentes, mas só o consegue fazer utilizando meios, que, mais uma vez, e agora em escala maior, recolocam depois perante si essas mesmas barreiras’. A questão posta é a de saber se a produção capitalista está agora se confrontando com barreiras que ela não pode mais ultrapassar, nem mesmo temporariamente. Estaríamos em presença de duas formas de limites intransponíveis, com implicações muito fortes para a reprodução do capital e a gestão da ordem burguesa, sobretudo para a vida civilizada. Uma delas, decorrente dos efeitos da automação, remonta ao século XIX e tem um caráter imanente, interno ao movimento do capital, sobre o qual Marx insistiu fortemente. A outra, decorrente da destruição pela produção capitalista dos equilíbrios ecossistêmicos, particularmente da biosfera, não foi prevista por Marx e foi inicialmente definida como um limite externo”.

(François Chesnais, professor francês de economia internacional na Universidade de Paris XIII)