“A esquerda dividida por junho de 2013 e a possibilidade de construir novas conexões”

Jean
Jean Tible – foto: Arquivo pessoal

[ (IHU-Unisinos) “A esquerda se divide em dois polos: quem celebra e quem detesta junho”, resume Jean Tible à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Segundo ele, o “polo” que existe entre a esquerda anti-Junho e a pró-Junho também foi manifestado na greve dos caminhoneiros, que aconteceu no mês passado. “É curioso como parte da esquerda tem medo das mobilizações dos de baixo e das contradições que sempre surgem. É claro que houve sinais assustadores de parte das mobilizações, com alguns clamando por intervenção militar, mas as demandas em geral pareciam legítimas e justas. Ao invés de a esquerda tentar disputar e estar nesse momento, ela escolhe julgar de fora; isso é uma pena, porque causa uma perda de potencial de transformação”, lamenta.

Na avaliação de Tible, nem a esquerda institucional, formada pelos partidos e movimentos tradicionais, nem a esquerda mais autônoma deram conta das “aberturas de Junho”. “Por um lado, a esquerda mais institucional — uma parte dela — tentou responder às demandas de Junho, mas no fundo, passada a tempestade mais imediata, continuou tocando a vida. Por outro lado, a esquerda mais autônoma não conseguiu aproveitar aquele momento para dialogar com a população de forma mais continuada no sentido de construir novas conexões. De alguma forma, as esquerdas se surpreenderam com esse movimento e mesmo quem ajudou diretamente a produzir essa faísca, não conseguiu produzir esses novos encontros com mais força. Essas oportunidades perdidas são trágicas e ao se repetirem no tempo abrem espaços para a extrema direita (lembremos de Walter Benjamin falando do fascismo como resultado de uma revolução fracassada)”, pontua.

Na entrevista a seguir, Tible frisa ainda que “Junho de 2013 abriu um novo ciclo político”, que obrigou os atores políticos a se reposicionarem. Nesse novo cenário, diz, “talvez seja a candidatura de Guilherme Boulos a que melhor converse com esse acontecimento. Lembro de ele dizer que depois de Junho de 2013 o MTST não dava mais conta do anseio por ocupações nas periferias de São Paulo. Ou seja, abriu-se um canal de desejo e luta por esses direitos. Seria extremamente difícil imaginá-lo como candidato antes de Junho de 2013. Talvez o MTST tenha sido o único ator de esquerda que soube se posicionar bem depois de Junho de 2013 e crescer em influência política de forma contundente. A candidatura de Guilherme Boulos expressa isso e a escolha de Sônia Guajajara como sua vice também expressa um primeiro encontro entre uma esquerda, digamos, mais convencional e as pautas indígenas, que são fundamentais no país por causa da reparação histórica e porque as construções indígenas têm muito a nos ensinar sobre outras formas de fazer política: uma forma menos vertical, mais horizontal, distribuída e potente, mais alegre, além também de poder nos ajudar a viver sem capitalismo e sem Estado”, conclui.

Jean Tible é graduado em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), mestre pelo Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e doutor em Sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atualmente é professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP). É autor de Marx selvagem (São Paulo, Annablume, 2013; 2ª edição, 2016) e co-organizador de Junho: potência das ruas e das redes (Fundação Friedrich Ebert, 2014) e de Cartografias da emergência: novas lutas no Brasil (FES, 2015).

Confira a entrevista.

IHU On-Line — Qual sua avaliação de Junho de 2013, cinco anos depois da emergência daquelas manifestações no país?

Jean Tible — O que vou dizer tem relação direta com o que pensei e produzi com uma série de pessoas no livro “Junho: potência da rua e das redes” e em debates ininterruptos sobre o que ocorreu em Junho e seus desdobramentos com muita gente, em particular com Ramon Szermeta. Então, essa não é exatamente uma reflexão individual, é parte de uma reflexão coletiva, embora seja eu quem esteja falando agora nesta entrevista específica.

Junho é algo que foi muito forte e inédito no Brasil, e tem um ponto interessante: ele nos conectou com o mundo. Num período anterior a Junho de 2013, em praticamente todos os países da América Latina as lutas também se davam nas ruas e não só nas instituições; o Brasil era uma exceção naquele contexto (e podemos reparar nas influências zapatistas e piqueteiras-argentinas em coletivos e movimentos presentes nos protestos). Junho também se conecta a um ciclo de revoltas globais, que começou na Tunísia, se espraiou pelo mundo árabe, atravessou o Mediterrâneo e depois atravessou o Atlântico Norte. Mais tarde aconteceram as manifestações na Turquia, no Brasil, em vários pontos do continente africano e na Ásia. Essas lutas não são um raio em um céu azul; elas têm uma história e uma memória.

Uma delas é a luta pelo transporte: sempre houve os tradicionais quebra-quebra nas cidades brasileiras por conta do aumento do preço da passagem. Nesse período mais recente ocorreram várias revoltas nesse sentido, como a do Buzu em Salvador, mais duas em Florianópolis e em Vitória. Também vimos lutas como o Fora Micarla, em Natal (RN), em 2012, as greves de Jirau e Santo Antônio, a ampla solidariedade com os Guarani Kaiowá, a ocupação indígena do Congresso poucas semanas antes de estourarem as manifestações de Junho, o Bloco de Lutas em Porto Alegre e as lutas pelo transporte em Goiânia, a organização dos Comitês Populares da Copa. Portanto, havia todo um caldo mais subterrâneo — de alguma forma não tão visível para as lentes convencionais — que estava se desenvolvendo naquele período (em São Paulo, o churrascão da gente diferenciada e a marcha da liberdade, atos contra o aumento das passagens na periferia). Talvez o principal ponto disso tudo seja uma crítica aos representantes em geral (na política, economia, cultura), com as manifestações que afirmavam “não me representam”, como apareceu na Espanha em outro contexto.

O que parece um ponto muito forte de Junho de 2013 é que o medo, em geral, é sentido pelas pessoas comuns (por conta de sua vulnerabilidade permanente, em vários sentidos), mas nesse acontecimento de Junho de 2013 isso muda, porque todos os poderes constituídos passam a ter medo — lembrando do livro Agora eles têm medo de nós: uma coletânea de textos sobre as revoltas populares em Mozambique (2008-2012), organizado por Luís de Brito. Com isso, os donos da Globo e da mídia, dos bancos, os políticos graúdos, os juízes, militares, os industriais e o agronegócio, ou seja, todos os poderosos sentiram medo, e isso revela, de certa forma, uma verdade da democracia, a de que o poder é da população e a população cede esse poder ao Estado, que seria o contrato social. Nesses momentos de disrupção — que são muito preciosos e cujos efeitos são duradouros —, mostra-se de quem é o verdadeiro poder que não é exercido, e naquele momento passa a ser exercido. Daí que vem a grande força desses acontecimentos.

Outro ponto forte de Junho e em geral pouco enfatizado: o número de greves estoura segundo o Dieese: de 877 em 2012 para 2050 em 2013 (maior número desde o início da contagem nos anos 1980) e também tocando setores geralmente menos propensos às greves: indústria da alimentação, segurança, limpeza urbana… Assim como os aumentos nos transportes foram revogados em mais de cem cidades, era possível reivindicar e ganhar em outros setores e pautas. As comportas se abriram, ou melhor, foram abertas. Não podemos esquecer dos “loucos dias” de Junho, quando tudo parecia fugir – e fugia – de qualquer controle: tomada do Congresso em Brasília, da ALERJ no Rio, o apoio aos protestos com vandalismo por parte dos espectadores do programa do Datena…

IHU On-Line — Quais diria que são as principais consequências políticas e sociais de Junho de 2013?

Jean Tible — Tem um paralelo interessante de Junho de 2013 com 1968, no sentido de entender 1968 como uma revolução global que se deu com distintas intensidades em vários pontos do planeta. 68 foi muito forte no México, em Senegal, em Paris, no Vietnã e na China e também se espalhou pelos Estados Unidos e chegou ao Brasil e à Argentina. Foi uma revolução global, talvez a primeira nesse sentido. As revoluções têm impactos internacionais, porém, como coletivamente dizemos em outro contexto, “Junho está sendo” e por isso as consequências ainda estão se dando, o que também dificulta a nossa leitura de tudo isso.

Mas acredito que existem alguns pontos que poderíamos destacar: primeiro, para o bem ou para o mal — depende dos atores que analisarem isso — é o fim da estabilidade que o país estava vivendo, ou seja, vivia-se um recorde de eleições presidenciais seguidas e com isso uma certa estabilidade política. Além disso, vínhamos de um momento econômico no governo Lula que conseguiu crescimento com distribuição de renda e, talvez, de riqueza. Havia ainda mecanismos de participação, embora muito limitados, mas que não deixam de ser importantes. Existia ainda uma política externa, nas palavras de [Celso] Amorim, “ativa e altiva” e uma ativação do mercado interno e micropolíticas econômicas com incentivos a vários setores não habituais (cultura, por exemplo). Portanto, o primeiro ponto parece ser o fim da estabilidade, o que trouxe oportunidades e riscos.

O segundo ponto é que novas questões, que não eram nenhum pouco inéditas, ganharam força. A própria questão do transporte, que á a ativação inicial do 13 de Junho, tem toda uma história — inclusive a proposta da tarifa zero tem uma formulação de origem no PT, na gestão da Erundina com o Lúcio Gregori. Essa questão do transporte foi um aspecto fundamental para os trabalhadores — é uma questão de classe —, mas também entram em pauta questões muito caras, por exemplo, ao movimento negro, questões que eram ignoradas em geral pela sociedade como um todo e também em boa parte pela esquerda. Desse modo, houve questões também vinculadas à violência policial, e nesse sentido as mobilizações “Cadê o Amarildo?” que foram precedidas por atos organizados na Rocinha e manifestações morro-asfalto são fundamentais. E sabemos o quanto isso assusta — lembremos da repressão violentíssima na Maré na noite do 24 de junho.

Depois vimos um protagonismo feminista muito forte: houve várias mobilizações no período posterior e que continuam. Também a marcha da maconha (puxada pelo DAR – desentorpecendo a razão) é um dos movimentos atuantes antes de Junho de 2013 que se fortaleceu e conseguiu ter uma presença periférica muito forte nos últimos anos. Também uma série de Questões LGBTQI ganharam mais força e contundência, inclusive com tentativas de captura por parte de forças como a Globo, sempre hábil e alerta.

Um terceiro ponto é que Junho de 2013 abriu um novo ciclo político. A partir daí todos os atores da sociedade brasileira são obrigados, de alguma forma, a se reposicionar — isso vale para a direita, a esquerda e o centro, para as empresas como a Globo, a Fiesp, o agronegócio, para os movimentos indígenas, o movimento negro, ou seja, todos os atores da sociedade brasileira foram interpelados por Junho de 2013 e mudaram ou tentaram levar em conta esse acontecimento. A turma da Lava Jato e seus aliados nacionais e internacionais foi um dos setores que melhor se posicionou para fazer prevalecer seus objetivos.

Podemos ver, por exemplo, a criação do Movimento Brasil Livre — MBL, que copia, inclusive a sonoridade do Movimento Passe Livre — MPL, que rouba, de alguma forma, uma sigla, uma sonoridade e certo símbolo, assim como o Vem Pra Rua, no âmbito da direita. Nesse sentido, existe uma reação que tenta corresponder a esse anseio. Na medida em que o sistema político não leva em conta o evento de Junho e a crise política que Junho aguça — a qual talvez já existisse —, ele vai aguçando essa crise e assim chegamos ao cenário de hoje, onde tem uma crise total de legitimidade das instituições políticas.

Os dois eventos recentes e trágicos que ocorreram no país — assassinato de Marielle e a perseguição política e prisão do Lula —, embora sejam acontecimentos envolvendo gerações diferentes, causas específicas e distintas, se conectam porque o recado que o país dá para a população é o seguinte: que os maus nascidos não têm lugar na política. Vemos, progressivamente, se aprofundar essa crise que já era grande, tanto que estamos nessa situação que é, inclusive, muito perigosa, porque os atores não cabem mais nas instituições e não se vê nenhuma possibilidade imediata de transformação dessas instituições.

IHU On-Line — Como você interpreta Junho de 2013 à luz do conceito de multidão de Negri?

Jean Tible — O Conceito de multidão nos ajuda a compreender uma questão que mencionei antes: o medo dos poderes constituídos. Nesse sentido, Junho é a manifestação de um poder constituinte, mas faltou fôlego para chegar a uma questão que é muito importante para Negri e Hardt, que é a criação de novas instituições. Se falava muito da nova classe média e da nova classe trabalhadora naquele momento, o que foi muito interessante, porque a “rua” encarnou essas pessoas, que estavam expressando novos desejos. Esse aspecto de Junho de 2013 é muito relevante porque, de novo, tem um paralelo com 1968 (Tlatelolco, Dakar, Berkeley, Nanterre, Córdoba), no papel dos estudantes universitários (no Brasil seu número explode nos anos anteriores, constituindo um fermento para a revolta — novas possibilidades existenciais para esses jovens trabalhadores se confrontando com um mundo que muda devagar demais).

Outros aspectos que o conceito de multidão nos coloca para pensar são as tensões, confluências e conexões entre classe e diferença. No Brasil, em outros contextos, parte da esquerda tentava opor classe e diferença e isso está muito preso no debate político nacional. O que, a meu ver, nos ajuda a pensar é o seguinte: a classe sempre foi preta, a classe sempre foi mulher, a classe sempre foi indígena. O conceito de multidão pode nos ajudar a entender justamente isto: como essas questões se colocam, ou seja, muitas vezes ficamos nos opondo a questões que estão muito mais conectadas. Inclusive, os adversários dos “de baixo” percebem isso. Se observarmos aquela famosa citação depois de 68 de Samuel Huntington e outros, segundo a qual o problema era que havia democracia e demandas sociais demais e não tinha dinheiro para isso, e a conectarmos com a declaração do deputado gaúcho da Frente Parlamentar do Agronegócio, quando ele diz que no gabinete do Gilberto Carvalho estavam aninhados tudo o que não prestava, como lésbicas, índios, gays e tudo mais, veremos que os adversários dos “de baixo” entendem essas conexões e, às vezes, a própria classe em suas diferenças, não tanto.

É interessante observar ainda que as pautas de classe em relação ao transporte, à questão da violência policial, à questão do feminismo, trans, ficaram mais fortes depois de Junho de 2013. Não por acaso essas questões estão se colocando até hoje no Brasil. A constituição da multidão envolve isso tudo.

Outro ponto de Hardt e Negri que pode nos interpelar é o que os autores discutem em Assembly, ao inverterem a apreensão habitual da esquerda na qual a tática seria tarefa dos movimentos e a estratégia do partido: agora, os movimentos indicariam a estratégia e aos partidos caberia a tática. Em Junho, a estratégia aberta pelos movimentos não encontrou a virtude tática dos partidos.

IHU On-Line — Passados cinco anos de Junho de 2013, como avalia que a esquerda recepcionou as manifestações à época e que leituras a esquerda faz das manifestações hoje, cinco anos depois?

Jean Tible — A esquerda divide-se em dois polos: quem celebra e quem detesta Junho. Claro que isso é um pouco simplista, mas nos ajuda a pensar. É interessante pensarmos a esquerda em outros dois polos: um mais institucional, hegemonizado, conduzido mais pelo PT, mas que abrange outros setores como a CUT, o MST e os movimentos feminista e negro mais vinculados ao ciclo de lutas que se inicia no fim dos anos 1970 e início dos 1980; e outro representando a esquerda mais autônoma, que inclui dezenas de organizações, sensibilidades e movimentos.

Na verdade, nenhum desses dois polos acabou, infelizmente, dando conta das aberturas de Junho. Por um lado, a esquerda mais institucional — uma parte dela — tentou responder às demandas de Junho, mas no fundo, passada a tempestade mais imediata, continuou tocando a vida. Por outro lado, a esquerda mais autônoma não conseguiu aproveitar aquele momento para dialogar com a população de forma mais continuada no sentido de construir novas conexões. De alguma forma, as esquerdas se surpreenderam com esse movimento e mesmo quem ajudou diretamente a produzir essa faísca, não conseguiu produzir esses novos encontros com mais força. Essas oportunidades perdidas são trágicas e ao se repetirem no tempo abrem espaços para a extrema direita (lembremos de Walter Benjamin falando do fascismo como resultado de uma revolução fracassada).

Retomando, Belo Horizonte é uma cidade muito interessante para pensar Junho, pois essa cidade tem ocupações urbanas fortes, a Assembleia Popular Horizontal, a ocupação da Câmara dos Vereadores, praia da estação, carnaval de rua voltando e tudo mais. Essa efervescência, de alguma forma, continua e tem até um desdobramento institucional. De todos esses grupos que propuseram uma nova política e tentaram entrar nas instituições, o único que realmente produziu um processo mais contundente foi o das Muitas, que teve como consequência a eleição de duas vereadoras. Tudo isso ainda está em curso, por isso acredito que veremos nesses próximos meses e anos novas articulações da esquerda, e é esse um dos sentidos de que Junho “está sendo”.

IHU On-Line — A leitura que o PT fez acerca de Junho de 2013 à época e a reação do governo ao movimento naquele período contribuíram para aumentar a crise do partido ou a reação negativa de uma parcela da população ao partido? Quais diria que são as consequências de Junho de 2013 para o PT em particular?

Jean Tible — O PT é múltiplo e, portanto, não existe somente um PT. Nesse sentido é possível ver a posição de alguns setores e figuras do PT e ver também que a posição do partido se desdobrou ou mudou. De um lado, o ex-prefeito Fernando Haddad se opôs a Junho e viu esse movimento como a chegada dos novos bárbaros, como ouvi dele. É curioso, pois sua campanha à Prefeitura no ano anterior falava de um tempo novo. Esse tempo novo poderia se conectar com o que emergiu com mais força em Junho, mas o espírito não reconheceu o corpo encarnando nas ruas e o rejeitou. De outro lado, Dilma, como presidente, fez um gesto interessante e recebeu os manifestantes no Palácio, mas as respostas dela foram muito tímidas e insuficientes. Não se teve um entendimento mais concreto de que o milagre lulista não era mais possível no sentido de deixar todo mundo feliz, ou seja, de os de baixo conquistarem mais sem os de cima terem que pagar mais por isso — daí as insuficiências de combinar ajuste fiscal e Mais Médicos e royalties do pré-sal para educação; a disrupção exigia muito mais, outras pautas e o fortalecimento de outros sujeitos.

O caso do Lula em relação a Junho é interessante porque vejo uma mudança de posição. No início ouvi dele uma análise de que o povo tinha conquistado o pão e agora queria manteiga. Mas sobretudo a partir do momento em que o movimento pró-impeachment cresceu, ele fez uma releitura e disse que a classe média tradicional teria predominado naquelas manifestações de 2013 e que teria também o dedo da CIA, como o alertaram na época Putin e Erdogan. Essa mudança de postura do Lula tentou justificar a derrocada do governo Dilma, que era o governo do PT. Foi isso que de alguma forma disse Gilberto Carvalho, num ato falho, que havia uma ingratidão por conta de todas as conquistas sociais que o governo do PT tinha possibilitado.

Mas havia e há um conflito geracional aí, porque uma nova geração de militância e ativismo surgiu com mais força e ela não era contra o PT, mas o PT não levou a sério o que aconteceu e nem buscou se transformar. O próprio Lula disse reiteradamente, de Junho de 2013 até a pauta do impedimento ficar forte, que o PT tinha que mudar, mas ao mesmo tempo o PT não foi capaz de mudar e nem Lula de impulsionar essa transformação.

Tem outro capítulo nesta questão, que é importante citar: trata-se da questão da repressão. Embora os casos de repressão sejam uma questão sobretudo estadual, o governo federal teve um papel nisso tudo quando, no bojo das manifestações contra a Copa ou mesmo em 2013, a Força Nacional de Segurança foi oferecida aos estados. Essas são ações absurdas por parte de um partido de esquerda. Eu estava muito preocupado com a repressão antes da Copa e, estando em Brasília, solicitei uma conversa no Ministério da Justiça para entender por que o governo estava agindo daquela forma, não se opondo claramente às várias táticas repressivas estaduais que estavam se manifestando: qual não foi minha surpresa quando o alto funcionário foi ainda mais crítico do que eu em relação à atuação do ministro nesse tema — uma máquina repressiva estava se fortalecendo. O que se reforçou com a lei antiterrorismo. Não brecar essa máquina foi um tremendo erro.

Sabemos que o Brasil fica nas primeiras posições nos dados de assassinato de militantes, numa certa política de assassinatos seletivos de pessoas fundamentais para termos um país mais digno (sobretudo nas questões ligadas à Terra, povos indígenas e grupos mais vulneráveis). Sabemos também da repressão permanente que sofrem os que se levantam, secundaristas e outros. Desmontar essa máquina repressiva deveria ser uma tarefa fundamental de qualquer governo que busque transformações. Isso se articula com o fundamental direito de se manifestar — recordo aqui da não resposta de Dilma quando o MPL pautou na reunião no Palácio do Planalto a questão da regulamentação das armas menos letais: silêncio.

IHU On-Line — Como avalia que, à esquerda e à direita, partidos, movimentos e possíveis candidatos à presidência têm lidado com a insatisfação política de Junho ao longo desses cinco anos?

Jean Tible — Alguns sentidos de Junho que se destacam: a questão da participação contra a representação, a questão da corrupção, uma rebelião contra o inadequado uso do dinheiro público, especialmente por conta dos gastos feitos para a Copa, a questão da violência policial e a pauta de uma nova subjetividade indígena, negra, feminista, LGBTQI. É por esse prisma que podemos olhar para os candidatos e ver como a política institucional tem tentado responder a isso.

Nesse cenário temos na extrema direita e na direita duas candidaturas que dialogam com essas questões: de um lado, Álvaro Dias, que é um fruto desse sistema político brasileiro mas está com um discurso antissistêmico e, de outro, Bolsonaro, que representa muito o anti-Junho (basta ver a escolha que Bolsonaro fez ao nomear o ultraliberal Paulo Guedes como seu chefe de programa de governo — dificilmente uma pauta será tão antipopular, de fazer os de baixo pagarem a crise, aliada à mano dura), embora ele tenha aproveitado o ciclo político aberto em Junho.

No centro tem a Marina, que tem um certo diálogo com Junho, embora suas opções recentes a colocam como aliada dos poderes conservadores (opções de política econômica, abandono da ecologia dos pobres, posições concretas no segundo turno da eleição presidencial passada, no processo do impedimento e na intervenção militar no Rio).

No amplo bloco da esquerda existe a candidatura, de um lado, do Lula, que como disse antes, mudou sua perspectiva sobre o que aconteceu em Junho e, de outro lado, a candidatura de Ciro Gomes, que dialoga muito pouco com Junho — ela é pré-Junho. A Manuela é uma candidata que tem diálogo com as pautas feministas e LGBT: teria sido ela candidata pelo PCdoB antes de Junho?

Dos nomes postos, talvez seja a candidatura de Guilherme Boulos a que melhor converse com esse acontecimento. Lembro de ele dizer que depois de Junho de 2013 o MTST não dava mais conta do anseio por ocupações nas periferias de São Paulo. Ou seja, abriu-se um canal de desejo e luta por esses direitos. Seria extremamente difícil imaginá-lo como candidato antes de Junho de 2013. Talvez o MTST tenha sido o único ator de esquerda que soube se posicionar bem depois de Junho de 2013 e crescer em influência política de forma contundente. A candidatura de Guilherme Boulos expressa isso e a escolha da Sônia Guajajara como sua vice também expressa um primeiro encontro entre uma esquerda, digamos, mais convencional e as pautas indígenas, que são fundamentais no país por causa da reparação histórica e porque as construções indígenas têm muito a nos ensinar sobre outras formas de fazer política: uma forma menos vertical, mais horizontal, distribuída e potente, mais alegre, além também de poder nos ajudar a viver sem capitalismo e sem Estado.

IHU On-Line — Que balanço faz da greve dos caminhoneiros que aconteceu recentemente no Brasil? É possível estabelecer alguma relação entre essa greve e as manifestações de Junho de 2013?

Jean Tible — O polo que existe entre uma esquerda anti-Junho e uma pró-Junho também se manifestou, de algum modo, na greve dos caminhoneiros. A pauta dos setores de baixo da sociedade brasileira foi sendo interpretada como locaute, mas quem conhece esse setor mostrou que não se tratava disso, mas de uma demanda derivada das aplicações das políticas ultraliberais do governo, sem a mínima sensibilidade social. Foi essa política que causou esse efeito de prejudicar a população, seja no aumento do gás de cozinha ou dos combustíveis.

Isso indica um debate sobre o capitalismo contemporâneo e as revoluções. Curzio Malaparte conta que na noite da insurreição em outubro de 1917, Trotsky estava tranquilo, porque a revolução já tinha ocorrido, porque toda a infraestrutura (energia, comunicações, transportes) já tinha sido tomada pelos bolcheviques. A tomada do palácio de inverno teria sido, nessa perspectiva, mais uma performance de tomada do poder que já havia ocorrido.

Para entender o capitalismo contemporâneo, muitos como Negri e Sandro Mezzadra ou o comitê invisível, insistem que a logística é fundamental, o bloqueio é muito importante e, nesse sentido, os caminhoneiros mostraram como alguns setores são capazes de bloquear o sistema. Isso é um elemento muito interessante.

Mas retomando, é curioso como parte da esquerda tem medo das mobilizações dos de baixo e das contradições que sempre surgem. É claro que houve sinais assustadores de parte das mobilizações, com alguns clamando por intervenção militar, mas as demandas em geral pareciam legítimas e justas. Ao invés de a esquerda tentar disputar e estar nesse momento, ela escolhe julgar de fora; isso é uma pena, porque causa uma perda de potencial de transformação.

Junho mostrou uma série de caminhos e abriu espaço para novas práticas e alianças políticas. Vimos, depois de Junho, as manifestações dos garis, as conexões entre jovens e professores no Rio de Janeiro, e uma série de lutas que se reforçaram, como os secundaristas que ocuparam escolas no Brasil. Foram alianças surpreendentes, não habituais, de auto-organização, de autogestão; as pessoas tomaram o controle das suas próprias vidas. Isso é inspirador para lutarmos e transformarmos. Vejam a peça Quando Quebra Queima da ColetivA Ocupação, dirigida por Martha Kiss Perrone, na Casa do Povo e no Teatro Oficina e sintam Junho vivo e pulsando.

Existe um potencial importante para essas lutas num encontro entre um ciclo de lutas que surgiu nos anos 1970 e 1980 e esse de Junho de 2013. Se os movimentos e organizações desses ciclos anteriores conseguissem se renovar, ajudariam bastante essa nova geração que surge com força, mas também com fragilidades; poderia haver um bom encontro entre eles para enfrentar a extrema direita, assanhada no Brasil e no mundo.

As manifestações de 68 foram derrotadas por um lado, mas, por outro, também foram vitoriosas em uma série de questões, como no surgimento da nova subjetividade e das novas políticas que ganharam força a partir daquele período. Do mesmo modo, embora o ímpeto de Junho tenha sido em parte derrotado, a partida segue em curso. As revoltas têm essa característica: elas vão maturando, vão sendo reconvocadas e com isso surge um mapa e uma cartografia de um outro Brasil. Junho indica essa desobediência imprescindível para a criatividade política. A desobediência é fundamental para buscar e encontrar novos caminhos.]

IHU On-Line

“Contra el progreso, el trabajo y toda dominación”

Trabalho
Reprodução

[Para entender esto, es necesario aclarar que cuando se habla de “trabajo”, se hace referencia a toda actividad que mueve la sociedad industrial, la cual nos pone precio y nos destruye tal cual lo hace con la naturaleza y demás habitantes en flora y fauna. No nos estamos refiriendo al esfuerzo físico y/o mental que en su época ejercían las tribus recolectoras y cazadoras antes de la llegada del “trabajo” bajo el concepto de la sociedad industrial. Es entonces que para marcar distancia entre lo que el sistema ha llamado “trabajo” y el esfuerzo físico y/o mental, podemos decir que preferimos dedicar ese esfuerzo a las acciones que cada uno cada una hace para manejar nuestras propias vidas como pieza clave que nos lleve a la libertad. Pues entendemos que la libertad no nos la va a dar ni el Estado ni el Capital ni algún grupo de Científicos con promesas de “mundo felíz” que desean meternos en la cabeza.

No intentamos colocarnos en una posición de “tener la fórmula secreta para una vida en libertad”, tal cual por ahí muchas podrían y ofrecen, pero que a las finales es un engaño para captar sirvientes creyentes de una nueva cara de gobierno. Lo que vamos a exponer solo son producto de experiencias, reflexiones y propuestas. Se agradece para su entera comprensión, paciencia, buen humor y mente abierta al cambio.

Esta idea de “Vivir sin depender del trabajo”, en primera instancia podría ser tomada de inmadura o de una falta de percepción a la realidad o un simple capricho de alguien mantenido por madre y/o padre o por alguien más, a quien comúnmente le llamarían “vividor/a”. Y estos pensamientos no solo lo haría algún empresaria sino también alguna obrero. Y es lógico esa reacción, pues hemos sido domesticados mediante la fuerza y la astucia hasta adoptar ese orgullo por el trabajo, aunque esta actividad sea en realidad la pérdida de nuestra identidad como individuos. Sumado a una de las razones por la cual no podemos disfrutar de una vida en libertad, este sistema ha sabido atarnos al trabajo como una necesidad impuesta entre deudas vitales como pagos por hogar alimento ropa – deudas superficiales como el pago de cosas que vitalmente no necesitamos como celulares tvs maquillajes comida envasada alcohol drogas y un largo etc – y deudas creadas a razón cultural como el pago de escuelas universidades clases de diversos artes conciertos y otro largo etc. Sería de ayuda entender que lo vital, la naturaleza nos la da, gratis. Recordar también que eso que la naturaleza nos da, los entes de dominación se apropian de esas cosas vitales y nos la restringen de alguna manera u otra. Usan la fuerza represiva el miedo el control y sobre todo la astucia plasmada en la apatía y  comodidad que nos hace delegar desde nuestras necesidades vitales hasta las superficiales para así no hacernos cargo de lanzarnos a una reconexión con eso vital perdido ni luchar para crear espacios donde podamos obtener todo lo vital gratis como debe ser y así poder esparcir esas ideas y acciones. Pero la cosa es que no tenemos tiempo ni siquiera para luchar por eso, estamos ocupadas trabajando y no nos queda tiempo fuerzas ni ganas para aventurarnos hacia eso muchas veces desconocido por nosotras. Eso es cierto, pero no por eso vamos a dejar de lanzar propuestas, aunque estas por el momento “no se ajusten a nuestra realidad”. Porque sí creo sí creemos que vale la pena replantearnos eso recordarlo siempre, y tomarlo como objetivo final, el tema de nuestra libertad.

El como cuando donde y con quienes lo hacemos, es algo que podríamos ir analizando para empezar a encontrar soluciones que creo será a largo plazo, pero lo mejor es que valdrá la pena porque así empieza una revolución. Sabemos ya que ninguna revolución es fácil o rápida, toda revolución toma su tiempo fuerzas ganas convicción y perseverancia. Pero si queremos cambiar todo este sistema que nos han impuesto, es mejor empezar desde ya, el tiempo del proceso en que nos tardemos no es lo más importante  aunque parezca todo lo contrario. Con más esfuerzo podemos acelerarlo pero sin patinar, porque no se trata de tiempo sino del paso firme y sincero en que nos encaminemos. Estas búsquedas hacia un mundo sin trabajo lo sabe el sistema, es por eso que cada vez que se enteran de alguna muestra de revolución, nos achacan más con más trabajo con más consumismo que nos distrae divide y envenena y con más moralidad que nos frena cada vez que nos planteamos romper con los cánones de este sistema. No caer en sus trampas puede ayudarnos muchísimo. Si hablamos de falta de tiempo creemos es más una excusa que algo real, pues siendo sinceras podemos resolver eso del tiempo con autoorganización en nuestras vidas y nuestros horarios. Podemos empezar a hacerle un espacio a nuestra revolución, a crear y reforzar tácticas y estrategias, tal cual lo hacemos con algunas actividades innecesarias llámese vicios distracción etc…

Recordemos que la clase obrera explotada siempre se dió su tiempo para luchar por lo que se consideraba mejor para ellas y ellos, o al menos dentro de las reales posibilidades también. En lo personal creo creemos que algo más se pudo hacer, y lo digo fraternalmente pues entiendo que en todo movimiento siempre hay motivaciones y objetivos distintos que pueden ser manejados en conjunto, pero también hay con intenciones de resquebrajar el movimiento al que se infiltran. Eso ha pasado, aunque muchas veces no queramos enfrentar esa realidad por el bien común por un avance, por eso creo que eso no se analizó en esas épocas cuando algunas intenciones eran solo la del reformismo y terminaron pagando con la perpetuidad del trabajo que solo se redució a 8 horas. De 12 horas o más a 8 horas, claro que fué un logro, pero repito se pudo haber hecho más. A veces hay que repetir esto, para no cometer los mismos errores. Se puede leer en algunos textos que hubo un sector anarquista dentro de la clase obrera que querían algo más que solo reducir las horas de trabajo o implementar mejoras laborales. También hubo naturistas de tendencia anarquista que promovían una vida en el campo (que en ese tiempo aún no eran o estaban en proceso de ser tomados por los centros de producción) dentro o fuera de la lucha obrera y que se oponían a esa idea de apropiarse de las fábricas para seguir trabajando. Pues sabían que “con patrón o sin patrón” “autogestionado o no”, mientras exista esa idea latente del Progreso, la entrega de fuerza laboral seguirá siendo la misma y con el mismo objetivo de seguir moviendo la megamáquina.

Esta idea de perpetuar el funcionamiento de la megamáquina era y es una idea del marxismo (aunque tengan por ahí un manifiesto “en contra del trabajo” al cual en realidad deberían llamarle “manifiesto en contra del patrón pero a favor de la megamáquina que perpetúe el trabajo con una nuvea figura digna a sentirse orgullosa”, y otras corrientes ideológicas insertadas en la clase obrera.

Pero ¿por qué quería este sector anarquista ir más allá de las 8 horas y el grupo naturista de tendencia anarquista de retomar una vida en el campo?. Pues porque en común veían como sus vidas y la de sus compañeros y compañeras eran reducidas a una esclavitud aceptada bajo un salario. Ya la historia nos cuenta los resultados de la lucha por la reforma laboral, que muchos celebran sin el debido cuestionamiento tomando también en cuenta que hasta el mismo sistema ha catalogado “día del trabajo” aquel 01 de mayo para desaparecer la memoria de las manifestantes que fueron asesinados afuera de la fábrica McKormick por la policía tras dar inicio a la huelga mundial ese día posterior a otras huelgas que ya se estaban gestando años anteriores, en aquella huelga la fábrica McKormick y demás empleadores de Chicago se negaron a reducir las horas de trabajo a 8 horas que fué lo dictaminado por el presidente de aquella época. Eso desencadenó en más huelgas huelgas y más represión policial con respuesta incluída que fué la que se usó como excusa para dictaminar la sentencia a muerte de los llamados “Mártires de Chicago” en noviembre de 1886. Un día para celebrar haciendo apología a nuestra propia esclavitud y luego a seguir trabajando todo el año para que nuestras cadenas no se oxiden. En lugar de avivar o reavivar la lucha por la abolición del trabajo y medios de producción, se ha decidio mantener la lucha por mejorar las condiciones laborales, esa lógica es similar a algunas perspectivas de luchas contra los zoológicos donde solo se busca (dicen que es por estrategia pero no se les ve avanzando hacia algo más que eso) mejorar las condiciones de vida de las especies animales encerradas en lugar de trazar como objetivo la libertad de aquellas especies animales aprisionadas.

Si no tenían esa información, ayudaría buscarla para conocer lo que muchos libros han editado en sus textos sobre la lucha obrera, naturismo libertario y otros. No podemos dar una lucha a ciegas o conociendo medias verdades, porque eso no nos permitiría conocer a las enemigos y sus tácticas y trucos para que no se perjudique la fortaleza de sus imperios. En el ahora quizás el escenario no sea tan distinto pues trabajamos y hasta orgullosas nos sentimos, eso favorece al sistema y al patrona que tanto decimos odiar.

Muestra de estas tácticas y trucos es la existencia de sindicatos pagados por el Estado y “autofinanciados” (exceptuando algunos sindicatos horizontales que en realidad tienen un objetivo sincero y aplaudible) que bloquean la furia de las y los trabajadores que más allá de beneficios laborales desean caminar hacia la abolición del trabajo para poder así reapropiarse de sus propias vidas. De esta manera los sindicatos apagan la llama de la revolución. A su vez encasillan el papel de las y los trabajadores y hasta les obligan a dar una cuota al sindicato (algunos se los mutilan de sus sueldos el fin de semana o fin de mes, ya que la repartición de sueldos son manejados por esos sindicatos y demuestra una total complicidad entre la patronal, las autoridades y el sindicato) como aporte “voluntario” para “mejoras laborales” o “para la lucha sindicalista”. Se perpetúa así ese círculo de explotación, manejado por el Estado el Capital con la ayuda y complicidad de los sindicatos. Y esta modalidad es la que funciona casi perfectamente, pues si deseas encontrar trabajo urgente o seguro económicamente hablando con prestaciones de servicios médicos etc… estás obligado a afiliarte a un sindicato que te facilitará esa búsqueda y te evitará “andar pateando latas” desesperada por conseguir trabajo quizás ahogando tus penas en un bar gastando las últimas monedas de la semana. A estos “favores” que te ofrece el afiliarte a un sindicato, tras esa “cuota sindical”, que claro también ayuda en casos entre otros como si tienes algún accidente laboral y la patrón no quiere hacerse cargo de los gastos. Ahí está el sindicato “salvador”, es así que los sindicatos funcionan de igual manera que lo hace el Estado y el Capital, como una mafia más. Creo que más de un trabajadora ha experimentado esto ¿o no?.

Esta cuestión del alcohol  es algo real y no solo un simple ataque al consumo de alcohol que es usual en el ámbito laboral porque desde el empresario hasta el obrero lo hacen, y de hecho que no todas y todos pero es mayoría. Pero aunque fuese minoría también es algo por qué preocuparse, pues ese poco dinero podría ser de mejor utilidad, y las consecuencias y resagos del alcohol podrían ser negativas para la salud física y mental del consumidor y hasta para su familia y entorno. Es un tema que nos ha tomado aceptar y esforzarnos en cambiar, sí, también hemos sido consumidoras del acohol pero no es nuestra intensión creernos ahora mejores que otras solo porque ya  hemos podido superarlo. Cada cosa a su paso y a las ganas que se le de por cambiar.

Recordemos que en la edad media la gente iba al trabajo solo para obtener dinero para comprar alimentos y otras cosas vitales, y luego dejaban de trabajar ya que el sueldo era diario (y luego fué semanal y mensual “para corregir esas actitudes”) y eran pocos los que querían trabajar por eso les daba cierta facilidad esa forma de rebelión y apatía hacia el trabajo, pues tenían bien claro que el trabajo era prácticamente un castigo pues fué iniciado el trabajo así con el “tripalium” un mecanismo de forma de aspa de madera que se usaba para torturar a las esclavos y reos es por eso que de ahí proviene el nombre del “trabajo”. Y si vamos más atrás el trabajo el sistema lo hizo necesario al apropiarse de los bosques de donde se podía disponer de frutos, hojas, semillas y raíces para consumo. Luego depredaron esos bosques para colocar plantaciones monocultivos que trata solo de sembrar determinadas plantas que más adelante se usó y se usa para nuestra alimentación. Privándonos así de la variedad en alimentos y valor nutricional que los bosques nos ofrecían. Podríamos ir más atrás en el tema de la alimentación, pero eso queda en cada una de informarse tal cual lo hacemos con algún tema de nuestro interés, a nosotras nos interesa mucho porque es de vital importancia conocer todo esto porque nos sirve para forjar nuestro camino hacia la libertad.

Vivir sin depender del trabajo – ¿ Se puede eso ?

Sí, siempre se pudo, se puede y se podrá seguir haciendo.

Desde luego que no es fácil, pero tampoco imposible. Solo bastaría ver como gente que vive en las calles sobrevive sin tener que trabajar (contribuir al sistema – al contrario con su presencia lo dañan), también lo hacen las perros, aves, ratones, gatos y demás animales de ciudad. Todo aquella que viven en la calle (sin importar su especie o sexo) logra adquirir ciertas habilidades que le servirán para vivir o sobrevivir en el peor de los casos. Quizás al leer esto, lo primero que pensarán será en que la vida en la calle no es tan linda y segura como la vida dentro de algún inmueble (desde mansiones hasta dormir en una cabina de internet como lo hacen en Japón) o como creen que lo estoy afirmando en este párrafo. Pues no, no es del todo lindo, pero ¿Acaso una vida dentro de un inmueble es del todo lindo?: impuestos, otros pagos, miedo al desalojo, peleas con quienes convivimos, miedo a que nos roben, etc… Pero es innegable que dentro de un inmueble hay comodidad, y es por eso que preferimos siempre la comodidad. Pero recordemos que

La comodidad es el enemigo oculto de la libertad

Ah, entonces hemos caído en lo que quiere el sistema, en rechazar una idea que nos pueda llevar a la libertad. Hemos preferido buscar argumentos negativos y darlo por sentado, en lugar de buscar también argumentos positivos aunque sea para tomarlo en cuenta reflexionarlo y decidir luego que pasa.

Ver como perras, aves, gatas, ratonas, … rompen bolsas que botan en algún lugar por ser considerado ya “basura” o bolsas de alguien que está comprando y está distraída o de la “mercadería” de alguna carnicero pollero abarrotero etc…, es un deleite para los ojos de alguien quien se plantea el camino a la libertad y comprende que los llamados “productos” que el mercado ha puesto precio es debido a que hay un control sobre lo que la naturaleza nos da y es ahí que acaricia la reflexión que la propiedad privada es una imposición. Nos deleitamos con esas acciones, sonreímos y nos decimos “eso es libertad”. Esas acciones también lo realizan animales de nuestra especie y es igual de gratificante el ver como lo hacen. Desde luego que a quienes “se les arrebata esas mercaderías” reaccionarán en su mayoría de una manera violenta, porque sienten que le están afectando dañando por los productos que ellas con su dinero han pagado, pero ¿Acaso ese dinero y ese producto no provienen de acciones que directa o indirectamente dañaron a otros seres y a la misma naturaleza?. Se suele creer que cuando alguien trabaja, deja de dañar a otros, eso es falso porque el trabajo daña a quien trabaja y a quienes intervienen en ese proceso tal cual lo explicamos al principio. Es a través de la moral impuesta por la sociedad que vemos esas acciones como un robo, algunas podríamos llamarle expropiación y tiene sentido pues esos productos en realidad deberían ser gratis sino fuera por esa restricción que hace el sistema para asegurar su economía y sobre todo su Poder. La patronal nos roba gran parte de nuestro sueldo que comparado a nuestro esfuerzo deberíamos recibir más que la misma patronal. La empresario agricultora le roba al suelo flora y fauna al explotarles sacarles y desalojarles de su hábitat hacia otros lugares con fines comerciales – a la fauna que aún perdura ahí le genera una escaséz de alimento y nutrientes generado por el modelo agrícola monocultivo que usando agrotóxicos o no genera estragos en nutrientes por el mismo modelo de monocultivo. El transportista le roba a la agricultora porque es la transportista quien rige el precio del mercado y la mayoría de veces paga por debajo del costo invertido por el agricultor. La mayorista le roba al transportista porque es quien va a vender el producto final de una manera rápida y se vale de eso para fijar su precio también –no es tanto el robo pero lo hay – ante eso algunas transportistaas prefieren vender ellos mismas lo que traen, pero la mayoría prefiere evitar eso y solo traer mercancía. Entre mayorista y minorista hay robo muto, al igual que entre minorista y final consumidora. Todo depende del escenario económico mundial para perpetrar esos robos. El que extrae legal o ilegalmente los minerales (nombraremos el coltán que es la aleación de 2 minerales) para fabricar entre otros los celulares, le roba a la tierra aquellos minerales que por procesos evolutivos de formación de la tierra han quedado en esos lugares y por lo tanto tienen una función escencial ahí. La milicia (de Estado o informal) les roba a los que extraen el coltán al cobrarles “peaje” y subirles el costo de vida en la zona de extracción. Las empresas de celulares le roban a la milicia, porque el precio que les pagan es ínfimo al precio que las empresas ganan en sus ventas. Las empresas le roban al consumidora final al cobrarles de más comparado al proceso de producción. Finalmente la consumidora que compra un nuevo celular sellado de caja le roba la vida a los que extrajeron el coltán.

Y finalmente el trabajo nos roba la vida y no veo a la masa de la sociedad indignándose y luchando contra ello. El sistema nos roba la libertad con un complejo mecanismo moral físico mental y legal. Y seguimos alimentando y reforzando al sistema bajo el yugo del Progreso y el Trabajo con orgullo incluído.

También hay otras formas de conseguir comida, y es mediante el reciclaje que consiste en recoger lo que la gente ya no necesita o está “podrido” o sucio o deforme etc… puede ser desde frutas y verudras en calles o mercados hasta la comida que alguien dejó en algún restaurante “porque ya se llenó o porque no le gusto la sazón” , etc … Este esfuerzo es menos repudiado por quienes creen en la propiedad privada, pero también toma su tiempo el adoptarlo, sea por falta de “experiencia” que luego se irá afinando o por verguenza que luego se irá disipando.

Otra forma de obtener comida es mediante árboles frutales en las calles, osea mediante la recolección. Y es una de las razones por la cual las autoridades ni el mercado no colocan árboles frutales y medicinales ni permiten que estos crezcan para así restringirnos de otra forma el acceso gratis a alimentación. Las áreas verdes colocadas en las ciudades son en función a lo estético, bajo el argumento de contribución al medio ambiente, el mismo uso indiscrimiando de césped (otro monocultivo más) nos demuestra que para nada es su intención cuidar el medio ambiente pues el césped demanda gran cantidad de agua y contribuye poco a las relaciones naturales de donde se le implanta además de ser cortado cada vez que este crece. En algunos lugares se hace el esfuerzo de sembrar árboles frutales y cuida su crecimiento sin que las autoridades lo arranquen o le contaminen con el legal y constante riego a las áreas verdes con sustancias tóxicas para el medio ambiente la cual las autoridades llaman “repelentes para plagas animales y malas hierbas”.

La plaga para la naturaleza no son las insectos ni las llamadas malas hierbas, la plaga para la naturaleza son las ciudades y todo lo artificial (que no cumple con un ritmo biológico propio de una evolución cuidadosa y planificada del propio organismo, y no mediante aplicaciones ni manipulaciones externas a ese proceso evolutivo como lo hacen a través de la transgenia) que en ellos se produce.

Otra forma es lo que se le llama “mendigar” usando diversas técnicas desde alguna gracia hasta lo que la imaginación nos provea.

Y otra forma sería a través de cierto intercambio de esfuerzo por comida ropa o refugio, tal cual lo hacen entre otros las malabaristas artesanos limpia lunas carreros etc.

Y por supuesto hay otras formas más que cada uno deberá ir descubriendo si desea liberarse de este sistema, ejemplo de esto sería una vida en el campo aunque con el temor real de ser contaminado por alguna actividad extractiva o afectado por el avance de la inmobiliaria.

Desde luego que no estamos diciendo que hay que salir todas todes y todos de nuestras casas, aunque si alguien decide tomar esa decisión bienvenida sea. Lo que hemos narrado ha sido para romper ciertos mitos y sustentar la vida en las calles como una forma más de afrontar esa dependencia al Trabajo. También queda lo que se hace en otras partes del mundo que es el okupar los inmuebles deshabitados, aunque con ciertos riesgos pero que podría ayudar en un proceso de aclimatación a una vida en las calles.

Recordemos que la mayoría del daño que vemos en las calles y nuestras casas, es consecuencia del Progreso y del Trabajo que son también armas de la dominación.

Todo cambio radical (sí, radical porque supone un cambio empezando desde la raíz del problema) viene con un gran esfuerzo y estrategia compleja, y por ahí vamos. Si nos atrevemos a criticar el trabajo y el progreso, es porque también nos podemos atrever a más que solo críticas, por tanto nos atrevemos a decir que un mundo sin trabajo y progreso sí es posible. Solo es cuestión de creer en nosotros mismas, en nuestras fuerzas y nuestra capacidad autónoma y autoorganizativa. Nos atrevemos por lo tanto a crear las condiciones hacia nuestra libertad y al mismo tiempo ir dejando paso a paso el trabajo y la idea del progreso.

Si crees en soluciones a corto plazo, entonces sigue con la misma fórmula de siempre con los mismos resultados de siempre que solo han perpetuado nuestra esclavitud haciéndola poco más digerible.

Para romper esta cadena de esclavitud que nos han creado desde hace miles de años (pues esto no ha empezado con el capitalismo ni con la revolcuión industrial, esto ha empezado desde el neolítico con el nacimiento de la agricultura aquella actividad que abrió paso a otras opresiones), no hay soluciones a corto plazo. Quien te haya vendido eso de una solución a corto plazo, es porque le ha sido fácil engañarte o engañarnos pues alguna vez también les hemos creído, no desea realmente que nos abramos paso hacia la libertad. Y no le daremos el gusto.

Entonces lo real es que este camino será largo y nada sencillo. Pero si hemos soportado todo este tiempo bajo el yugo del trabajo y progreso y además de sus horarios y condiciones laborales, su imposición como única forma de sustento. Entonces creemos que quizás esa fortaleza que aún nos mantiene vivos, nos pueda ayudar para lo que se viene en el futuro empezando desde el ahora. Ya es tiempo de creer en nosotras mismos, en nuestra capacidad en nuestra autonomía, y no en las mentiras de algún grupo hambriento de Poder, Dinero y Control.

Perpetuar el trabajo y el progreso, es también pasarnos por encima la individualidad de cada especie animal que al igual que la nuestra también está luchando por la libertad. Creer que solo nuestra especie animal tenga esa capacidad, demuestra que estamos ignorando dichas resistencias (a lo que en algunos textos le llaman “agencia”), también las plantas resisten desde sus posibilidades claro está. Porque también plantas, elementos de la tierra y el mismo planeta son afectadas por esa perpetuación del trabajo y el progreso. El dominio del trabajo y el progreso se está reforzando mediante la robótica (incrementando su independencia de nuestras órdenes con la inteligencia artificial que le están implantando) y la bionanotecnología que nos está llevando a un escenario de total dominación incrustado hasta en nuestros ADN y cada rincón externo de nuestro organismo pero dentro de la naturaleza donde alguna vez podamos necesitar para huír de sus alcances y de luchar contra su dominación.

¿Te suenan las “smart cities”?

Ciudades limpias iluminadas con energía nuclear supervigiladas con chips y cámaras interconectadas hasta con tu laptop o celular sin tu permiso disque para combatir la delincuencia “ a los malos”? ¿Te suenan los microchips instalados en las llamadas “mascotas”? “para que no se pierdan” irradiándoles su organismo desde dentro de su piel,

¿Te suena los microchips instalados en animales de nuestra especie?

Lo hacen con ciudadanos para aceptar asistencia del Estado, tal es el caso del programa de salud “Obama care” en el que era una obligació implantarse ese microchip. El argumento era que era más fácil para el registro, así como para situaciones de emergencia que con solo pasarte un scaner podían ver todo tu historial médico al instante.

¿Te suenan los microchips instalados en ropa?

Por ahora colocadas solo en ropas caras con la función de transmitir tu posición aún tú ya hayas pagado por dicha ropa.

Dicen lo hacen por seguridad ciudadana, y esa siempre va a ser la justificación para tenernos supervigiladas.

¿Te suenan los celulares con inteligencia artificial?

Celulares que tienen su propia unidad de procesamiento neural. Este nuevo chip es el primero con la capacidad de asumir las necesidades de procesamiento en el propio dispositivo ¿Qué implica todo esto? Que las tareas son más rápidas y personalizadas, y con un menor consumo. Tiene además la capacidad de diferenciar lo que tienen al frente de su cámara : paisaje, rostro, comida, etc… Hace traducciones rápidas con solo apuntar el texto o una imagen con texto a la cámara.

¿Te suenan los carros autónomos?

Un auto en prueba hace poco atropelló a una señora que iba a cruzar la pista en Arizona. Científicos defendían ese accidente diciendo que eso ocurrió porque era de noche y la señora había cruzado intempestivamente, pero en ese caso si fuera un humana el que conducía hibiera quizás podido reaccionar o en todo caso sería ahora juzgado. Pero en el caso de un auto autónomo ¿reaccionará de manera rápida y a quién se le juzgará en estos casos?. No deseo con esto un perfeccionamiento de esa tecnología o invento, solo estoy soltando algunas interrogantes que también han sido lanzados por otro grupo de científicas que por motivos propios al que ellos llaman “bioética” y no por estar en contra de la dominación, también tienen sus críticas. Uno de los científicos que defiende este invento, puntualizó así: “con los autos manejados por humanos tenemos mucho más accidentes, querer detener este modelo aprueba es absurdo por un accidente, además tenemos la certeza que un auto autónomo jamás estará borracho”. Ese mensaje en resumen lo dice todo, no les importa los daños, solo desean alcanzar sus logros trazados que es la dominación en cada ámbito en que la ciencia esté presente.

¿Te suenan las nanopartículas que promocionan en detergentes?

Cuya función es ir directo a la mugre grasa o pintura.

Mediante la combinación de componentes tensioactivos modificados con polímeros (estructura de peine) innovadores patentados, el grupo CHT ha logrado desarrollar una nueva generación de detergentes. El FELOSAN FOX marca la pauta en innovación y aumenta la eficacia de limpieza y de lavado, como mínimo, en un 20 %.

¿Te suenan las pintura inteligentes?

Son creadas con nanotecnología, entre sus promesas alarmantes están que estas permiten hacer un proceso de fotocatálisis que permite imitar el proceso de fotosíntesis de las plantas para eliminar compuestos contaminantes para limpiar el aire del humo de autos e industrias. Descomponen los materiales y  gases  que generan el mal olor a nivel molecular, transformándolos en agua y dióxido de carbono. Elimina el 99% de las bacterias y virus incluido gripe aviar y SARS lo que le convierte en una potente solución para evitar la propagación de infecciones de tipo respiratorio. Su aplicación en hospitales, colegios, guarderías, transportes públicos, hoteles, comedores, industrias alimenticias, etc. es una gran ventaja para evitar el contagio de enfermedades. El uso de nano TIO2 como filtro o bloqueo de los rayos UV  es de gran eficiencia en varias aplicaciones como paneles de anuncio que se deterioran con facilidad, alargando “su vida”. Son auto-limpiantes cuando llueve o se limpian fácilmente sólo con agua.

Las mismas aplicaciones son para cosméticos, antiarrugas, antiespinillas antiestrías,…

También los microorganismo sintéticos (genéticamente modificados) lanzados a los océanos para limpiar los derrames de petróleo y esa industria nunca se detenga. En el caso del derrame de petróleo en el Golfo de méxico en 2010, se usó estos microorganismo trayendo luego repercusiones en el océano con reportes de langostinos, cangrejos y peces que han mutado debido a estos microorganismos. Estas bacterias esparcidas para devorar el petróleo, han terminado siendo más tóxicas al reducir el nivel de oxígeno en el agua y mutando a sus habitantes más aún al haberse esparcido a través del aire alcanzando zonas en las orillas del golfo de mexico. Los trabajadoras de limpieza del desastre ese han sido rociados directamente con Corexit (conocido por dañar el sistema respiratorio y el sistema nervioso central, causar deformaciones a embriones o fetos y ser cancerígenos).

Y como no mencionar los “alimentos” transgénicos y las hamburguesas hechas de carne in vitro o también los “alimentos” “reforzados con vitaminas” que venden industrialmente.

Las vacunas antiguas y las nuevas con estas nuevas tecnologías. Al parecer no han aprendido la lección que nos ha dejado el mensaje que las bacterias y virus en principio podrán aparentar ser combatidas y luego se reforzarán y se hará más dificil “contrarrestarlas”. Por tanto decimos que las vacunas no sirven, sirve sí el reforzar nuestro sistema inmune con una alimentación que además de nutrir nuestro cuerpo tradicionalmente también nutra las bacterias que tenemos dentro, pues no todas las bacterias generan la muerte osea “no son todas malas”. Con un sistema inmune enriquecido de bacterias, lograremos ese equilibrio bacterial que necesitamos para afronatr otra bacterias y virus presentes en el planeta desde su formación y no desaparecerán nunca pues son parte de este equilibrio mundial.

Tenemos también las prótesis robóticas, que pasaron de ser una extensión encima de una extremidad o parte corporal “amputada” o no crecida, a ser una fusión con los nervios que llegan al cerebro para su total control, lo impresionante de esta prótesis es lo profundas que están implantadas las interfaces neuromusculares. El aparato es “osteointegrado”, lo que significa que se adjunta directamente al esqueleto. No es necesario que el usuario lo utilice todo el tiempo ya que un implante de titanio está integrado con el hueso y el brazo se adjunta a este. La ventaja es que elimina una pieza utilizada convencionalmente en las prótesis, lo que suprime la incomodidad y permite mayor libertad en los movimientos. Otro tipo de prótesis es la que se instala en concordancia con el sistema musucular, como el caso de Angel Giufra. Su brazo robótico es el Bebionic v2, desarrollado por Steeper. Es una prótesis muy avanzada capaz de moverse según las necesidades de su dueño gracias a los movimientos del músculo de su brazo, pero la misma empresa ya está trabajando en una versión capaz de moverse gracias a un implante directamente en el músculo. Pero antes que esa evolcuión en prótesis, está las que son hechas de carbono o silicona. Caso resaltante de esta prótesis biónica es la del atleta Oscar Pistorius con 2 piernas biónicas desde niño, cuya familiaridad con su pierna le ha llevado a romper records en su deporte. Oscar asesinó a su pareja argumentando que la confundió con un asaltante dentro de su casa en la noche. Le hizo 4 disparos luego de golpearla con un bate de beisbol. Dicen que desarrolló cierto grado de paranoia que le llevó a tener una obsesión por posesión de armas, la cual también usó en un restaurante que dijo por casualidad. Y la muestra más contundente fué que en una entrevista en su casa, se tiró al suelo empezó a reptar con arma en mano porque dijo que había escuchado una bulla. Este comportamiento talvés se deba a ese deseo de superación que le han metido desde niño y en más por el consumo de anabolizantes para su deporte y medicación necesaria por el uso de sus piernas biónicas. Sin esas medicaciones el organismo no resistiria a ninguna prótesis.
Así como incrustan el uso de estas prótesis con fines “humanitarios” que más que nada son promovidas por un deseo de superación innecesario pues nadie es menos por tener miembros aputados o no crecidos.

También tenemos el uso de prótesis no vitales, o no “humanitarios”, solo con el fin de sentirse superiores.

Exponemos el caso de Neil Harbisson, el primer cyborg reconocido por un gobierno. El dice que él no lleva tecnología, dice que él es tecnología. El tiene implantado una antena en el cerebro que sobresale encima de su cabeza, el eyeborg consiste en un sensor y una antena que envía señales a un chip implantado en su cráneo; este chip convierte las frecuencias de luz en vibraciones para que sea capaz de escuchar los colores. Hasta que comenzó a utilizar este dispositivo Harbisson no sabía lo que era percibir el color: una extraña enfermedad congénita llamada acromatopsia limitaba su visión al blanco y negro.

Exponemos también el caso de Moon Ribas que porta un sensor en el brazo que la conecta con cada movimiento sísmico que se produce en el planeta. A través de vibraciones, percibe desde un movimiento de nivel 1 en la escala de Ritcher hasta el más grande de los terremotos del planeta.

Las grandes (por su dimensión y complejidad, no por su importancia pues consideramos que todas las luchas importan por igual) luchas del futuro ya no serán por mejoras laborales, sino por la defensa de las últimas zonas donde poder cultivar nuestros propios alimentos lejos de la artificialidad que imponen y que gana espacio con los transgénicos, y en contra del “mejoramiento” de nuestro organismo mediente estas nuevas tecnologías y sus exclusiones y ataques al valorarnos y pronto tratarnos como humanxs de segunda clase. Un transhumanista dijo una vez “quienes se opongan al mejoramiento de la raza humana, serán considerados los nuevos chimpancés de un mundo mejorado”. El transhumanismo es ela transición al Posthumanismo cuya premisa es la de la perpetuidad de la vida humana y todo ser que alcance la consciencia sea este animal, robot o de otro planeta. También desean llevar esa supuesta “ética” de reducir los estratos de sufrimiento de toda manera posible usando la bionanotecnología a todo el universo, sin importar las exclusiones ni los daños colaterales que esa ideología supuestamente admirable se ha trazado como meta o mejor dicho como excusa perfecta para controlarlo todo a nivel genoma. Y cuyo objetivo final es llegar a la Postbiología que significa el desprendimiento del cuerpo envoltorio del humano (carne, huesos, etc) a avatares holográficos con transferencia completa de conciencia. Todo depende de la capacidad que tengamos de transferir los datos cerebrales de una conciencia humana a soportes no biológicos sin que para ello la sensación y experiencia de ser humano desaparezca, para así alcanzar la vida eterna.

El progreso es aquella idea que mueve esta megamáquina que renovada con estas nuevas tecnologías no dudará en reemplazarnos por robots con inteligencia artificial, pues ya lo han hecho en parte con otras maquinarias (como el caso de la fábrica de autos FORD que implementó grandes máquinas para acelerar la producción) con cierto grado de inteligencia pero que también son considerados robots. Y talvés cuando seamos reemplazados por esas máquinas por ser consideradas nosotros imprescindibles lentos torpes etc…, recién empezaremos a cuestionar el Progreso y podría ser tarde pues ya con todo automatizado y controlado será difícil rebelarse tomando en cuenta que en el ahora ya es dificil eso, pero no imposible. Aunque daría igual si solo nos reemplazan en el trabajo, pero eso no quedará ahí, pues seremos para ese nuevo sistema un total estorbo a sus planes.

¡Por un mundo de completa libertad, equilibrio y responsabilidad. Por la sangre derramada bajo las órdenes de empresarios y del Estado, hemos de abolir el trabajo, el Progreso, el Estado, la tecnología y toda forma de dominación!]

[Tomado de https://www.portaloaca.com/opinion/13662-contra-el-progreso-el-trabajo-y-toda-dominacion.html.]

Debate (A): Contra el progreso, el trabajo y toda dominación, V. Locas , in El Libertário

PRA FRENTE BRASIL! Um país partido em três pedaços

Torcida
Foto: http://www.sbie.com.br/blog/o-impacto-emocional-causado-pela-torcida-brasileira-nas-olimpiadas/

O Brasil vai à copa da Rússia, que se inicia daqui a pouco, dividido.

Na verdade não dividido – o que, a rigor, pressupõe partido em dois, em dois pedaços – mas fraturado ou trincado em três pedaços disformes.

De um lado estão aqueles que irão torcer pelo selecionado, desbragada ou discretamente.

Esse povo eufórico com os feitos da seleção tem diminuído bastante – e não é de hoje – na medida contrária em que cresce o número dos discretos, que muitas vezes, porém, se cansam e deixam de torcer para “Neymar e Cia”.

O que nós estamos presenciando nos últimos tempos – e não é apenas após os eventos de junho de 2013 – é um brasileiro, embora ainda perdido, sem saber que rumo irá tomar mais crítico, mais cético e mais cínico.

Creio que em algum momento do passado recente nós perdemos a nossa inocência.

Quem sabe tenha sido durante a ditadura militar, mas isso é impossível de se saber sem que se façam estudos profundos sobre nosso comportamento, o que me parece ninguém tenha ainda feito, pelo menos que eu saiba.

A outra banda dessa fissura é formada por aqueles que garantem não torcer – de jeito nenhum – e até torcer contra pelo selecionado nacional.

É fácil perceber quem é essa gente, até porque ela faz questão de afirmar-se.

Trata-se de esquerdistas(e)petistas humilhados pelas ofensas dirigidas a então presidente  Dilma Rousseff momentos antes do início da copa disputada no Brasil em 2014.

Mais há mais outra razão mais severa e mais impactante: as acachapantes derrotas para a Alemanha (7 a 1) e para a Holanda (3 a 0).

Sem medo de copiar bisonhamente uma ideia velhíssima vinda do século passado, a esquerda(e)petista reconstruiu uma teoria  da conspiração (lá na França, contra a França; aqui no Brasil contra a Alemanha e depois contra a Holanda) garantindo que o Brasil “vendeu” a copa do mundo para poder derrubar mais facilmente a Dilma da presidência, como se com “venda” ou “não-venda” a presidente tivesse alguma condição de permanecer no Palácio do Planalto.

A terceira parte, que parece de longe a maior das três, é indiferente não apenas à própria copa do mundo como ao próprio futebol.

Argumentam as esquerdas(e)petistas que esse desinteresse, desencanto, que beiraria os 70%, é o resultado  do eles chamam de golpe contra a Dilma e agora contra o principal ídolo das esquerdas(e)petistas, qual seja Luiz Inácio Lula da Silva.

Trata-se de um argumento que  não se sustenta,  pois historicamente  60% dos brasileiros não “apreciam” futebol.

Se esse índice “cresceu” 10 pontos percentuais não é exatamente uma surpresa, principalmente sabendo-se  que muitos dos críticos do selecionado tendem a  engrossar esta terceira fatia.

E é anda  de se observar duas questões:

(1) parte dessa torcida “contra” deverá passar a torcer pelo Brasil, mesmo que discretamente – aliás, como é de costume;

(2) o índice de indiferentes pela copa (60%? 70%?) tende a cair ao longo do torneio, especialmente se o Brasil for avançando (o que deverá acontecer) até se classificar para a final.

“Mudanças na lógica da acumulação capitalista precisam de uma crítica a partir da periferia”

Miguez
Pablo Míguez – foto: Ricardo Machado – IHU

Destaque-se abaixo entrevista com Pablo Míguez [1] para a Revista IHU On-line, realizada por Vitor Necchi com tradução de Henrique Denis Lucas (“A apropriação privada do ‘general intelect’. As mudanças na lógica da acumulação capitalista precisam de uma crítica a partir da periferia. Entrevista especial com Pablo Míguez”).

[Ao destacar governos alinhados ao pensamento de esquerda na América Latina no século 20, o professor Pablo Míguez cita a Revolução Cubana, o governo de Allende e experiências mais localizadas, como a Revolução Sandinista, e avalia que as duas primeiras “conviveram com ditaduras militares no seu entorno e com o peso dos Estados Unidos apoiando-as politicamente”, enquanto as outras “perderam peso com a queda da União Soviética e a ascensão do neoliberalismo”. A partir dos anos 80, “com o conhecido retrocesso da ideologia esquerdista, após a queda do Muro de Berlim e o aparente sucesso do capitalismo como o único sistema econômico sustentável, a esquerda teve de esperar pela crise do neoliberalismo, no final dos anos 90, para ter opções reais de formar um governo novamente”.

No século 21, Míguez cita a chamada “nova esquerda latino-americana“: Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, e Kirchner, na Argentina, com “processos que se mantêm à esquerda do espectro ideológico, pela oposição às reformas neoliberais que os três países sofreram na década anterior”. Depois, em outro momento, Correa, no Equador, e Morales, na Bolívia. “Todas são experiências distintas, embora compartilhem de uma ideologia de redistribuição de renda e do reconhecimento de direitos a setores desfavorecidos, camponeses e indígenas”, observa. Aponta que esses governos tiveram, no início, grande apoio de movimentos sociais, mas, ao final do ciclo progressista, a adesão enfraqueceu devido aos próprios erros dos governos. “Depois de mais de uma década de governos progressistas, é inadmissível que o saldo seja um enfraquecimento do campo popular ao invés do seu fortalecimento”, destaca.

Após o fim do ciclo de governos progressistas, para Míguez, “há grande dificuldade em separar uma ideia de ‘esquerda’ dos processos estatais, corruptos e ineficientes, pensamentos que as direitas são responsáveis por difundir, baseadas em alguns fatos concretos, por mais que seja parte de um ataque ideológico por demais previsível”.

Mesmo com o enfraquecimento da esquerda, Míguez entende que ela “seguirá questionando as pessoas porque as desigualdades do capitalismo não param de crescer, e a crítica a partir da esquerda permite pelo menos compreender o sentido dos avanços dessas dinâmicas”. No contexto atual, entende que é uma oportunidade para o pensamento de esquerda “lançar novamente sua mensagem, não permanecendo imobilizado diante de um evidente avanço das novas direitas na América Latina”. No entanto, “será fundamental fazer uma autocrítica sobre os aspectos que foram funcionais para a reprodução da ordem e resistir às políticas mais agressivas contra o campo popular que surgiram no horizonte”.]

Veja a integra da entrevista em http://www.ihu.unisinos.br/579642-a-apropriacao-privada-do-general-intelect-as-mudancas-na-logica-da-acumulacao-capitalista-precisam-de-uma-critica-a-partir-da-periferia-entrevista-especial-com-pablo-miguez .

Nota

[1] Pablo Míguez é natural de Lanús, Província de Buenos Aires. Doutor em Ciências Sociais e licenciado em Economia e em Ciência Política pela Universidade de Buenos Aires (UBA). É pesquisador da Universidade Nacional de San Martín (UNSAM) e docente da Universidade Nacional de General Sarmiento (UNGS) e da Universidade de Buenos Aires (UBA).

“Questões levantadas nas lutas dos anos 1960 permanecem atualíssimas”

Maio de 68
Créditos da foto: ElUniverso

[Rio de Janeiro – Um dos maiores estudiosos do país sobre a trajetória da esquerda e dos movimentos revolucionários e libertários no Brasil e no mundo, o historiador Daniel Aarão Reis insere os acontecimentos do Maio Francês em uma série de movimentos que, nos anos 1960, sacudiram vários pontos do planeta. A importância da luta dos estudantes na França, e também em outros países como os Estados Unidos, pode ser medida, segundo ele, pelo legado em forma de novas bandeiras progressistas que viriam a alimentar nos anos seguintes os movimentos ambiental, feminista, de jovens, negros, povos originários e gays, entre outros.

Professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), Aarão Reis, em conversa exclusiva com Carta Maior, diz que as lutas daquela década – sobretudo no histórico ano de 1968 – deram origem a movimentos e pensamentos políticos complexos: “A díade esquerda-direita, chave para muitas reflexões sobre lutas sociais e políticas, sofreu um profundo desgaste”, analisa. Mesmo com a passagem de cinco décadas, o que aconteceu na França e no mundo naquele ano, diz o professor, forneceu as bases para o que viria em seguida: “Embora as lutas tenham sido derrotadas no curto prazo deixaram questões fundamentais fermentando e tais questões, em não pequena medida, permanecem atualíssimas”.]

Leia a seguir a íntegra da entrevista em Carta Maior (Por Maurício Thuswohl).

“Ciclo progressista chegou ao fim e está em crescimento uma nova direita”

Rzaul
Raúl Zibechi | Foto: Susana Rocca – IHU

[O ciclo progressista na América do Sul chegou ao fim e está em crescimento uma nova direita, “mais ofensiva e militante que as anteriores”, entende o uruguaio Raúl Zibechi. Ele elenca três fatores para se chegar a esta conjuntura: citando Noam Chomsky, afirma que “os Estados Unidos já não possuem a força para impulsionar golpes e acabam por apoiar as direitas de cada país”; sob governos progressistas, as direitas se tornaram mais fortes; por fim, a incompreensão da esquerda após a crise de 2008 e a reativação dos movimentos populares, e, conforme Zibechi, “quando a esquerda não compreende, põe a culpa na direita, no império e nos meios de comunicação”.

Ao avaliar as possibilidades para um projeto político de esquerda, aponta que o principal limite é o Estado. “O poder estatal é um problema grave que transforma os revolucionários em uma nova burguesia de gestores, que não são proprietários dos meios de produção, mas, a partir do poder, os administram em benefício da nação e de si mesmos”, avalia em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line. No seu entendimento, “as possibilidades da esquerda começariam a surgir se a derrota do 1% que está no topo fosse discutida seriamente. Sem isso, não há nada a ser feito”.

Na atual conjuntura, observa que “a esquerda necessita de um projeto de transformação da sociedade que não passe necessariamente pela ocupação do Estado”. Para Zibechi, “ser de esquerda é assentar as bases éticas e organizacionais para que os movimentos populares perdurem no tempo, ainda que sejam derrotados, o que não é algo negativo”. Ele sugere que a esquerda se desfoque “das agendas eleitorais, algo que está muito longe de passar pela mente dos dirigentes sindicais e dos partidos de esquerda”.

Para Zibechi, o ciclo progressista se caracteriza pelos altos preços das commodities, “que permitiu que os governos pudessem melhorar a situação dos pobres, sem tocar nos interesses dos ricos”. Durou pouco tempo. Ele estima que entre 2008 e 2010, “e a partir desse momento, com a queda dos preços das exportações, toda a estrutura começou a ranger, pois, não havendo mais superávits, os recursos para seguir melhorando a situação dos setores populares começam a ficar escassos, e a direita toma a dianteira”.

Na sua visão, uma nova direita está emergindo no mundo e também na América Latina. Ela “tem uma profunda rejeição a negros e pobres, ainda que aceite a maconha e os gays”. Seu projeto é “muito elitista, muito mais do que a direita de 64, porque aquela queria domesticar os pobres e esta – eles não comentam – quer exterminá-los”. De outro lado, “a esquerda não está nada preparada para enfrentá-la, nem no terreno militante, nem no ideológico”.]

Veja  entrevista especial na íntegra com Raúl Zibechi em IHU.Unisinos.

O tempo urge, mas as esquerdas brasileiras teimam em discutir miolo de pote

Projeto Calha Norte
Reprodução

O programa Calha Norte[1], de meados anos 80, causou bastante desconforto ao governo ditatorial, aos governos estaduais, compreendidos em sua área, e às esquerdas nacionais.

A ditadura teve de conviver com a desconfiança de países vizinhos (expansionismo territorial), mas também (internamente, principalmente) desconfiava-se que o governo federal não seria capaz de enfrentar a empreitada, seja pelas extensas fronteiras brasileiras, seja pela precariedade logística, seja pela falta de pessoal qualificado.

Os governos estaduais ficaram atônitos, não sabendo ao certo a que se destinava o projeto (os militares nunca foram muito de dar satisfações aos civis) e, por fim, que parte da tarefa caberia a eles.

As esquerdas, como sempre, surpreendidas e desinformadas, resgataram o seu velho discurso da invasão do capital internacional no interior do Brasil (entreguismo), nunca se dando conta de que são as esquerdas (no mundo) quem mais defendem uma integração dos povos e a derrubada das fronteiras nacionais.

Tempos mais tarde, uma ala do PT reconheceu o equívoco, mas já era tarde, pois se perdeu, mais uma vez, uma boa oportunidade para uma discussão madura e adulta sobre um interesse nacional.

A discussão sobre o Calha Norte me lembrou de outra, esta do final dos anos 50 inicio dos 60, sobre uma ligação que “cortava” o Brasil ao meio, de norte a sul, qual seja a rodovia Belém- Brasília.

As esquerdas também daquela vez se adiantaram em críticas à rodovia (governo Juscelino Kubitschek), temendo que estavam, igualmente, do avanço do capital pelo interior do Brasil.

Como se vê, o discurso esquerdista muda muito pouco,ou quase nada.

Trabalhei por 10 meses no município amazonense do Envira, que estava compreendido no interior do Projeto.

Num dia qualquer (de 1985), sem que o prefeito e o vice estivessem presentes, nos apareceu no Envira cinco militares (dois do exército e três a aeronáutica) e eu tive de recepcioná-los.

Tentei não externar as minhas críticas nem minhas desconfiança com o projeto, mas essa gente é bastante experiente, e logo supuseram que eu fosse “de esquerda”.

Não houve nenhum embate ideológico entre eles e eu e a única preocupação que externaram (além de buscar um bom campo de pouso para as aeronaves do projeto) foi com o nascente Partido dos Trabalhadores, que já naquela época causava preocupação e desconfiança.

Os esquerdistas parecem esquecer que os militares brasileiros são extremamente nacionalistas e em muitos momento mais nacionalista, por exemplo, que Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, vide o caso do marechal e indigenista Cândido Mariano da Silva Rondon [2], um positivista [3], que inclusive influenciou fortemente os sertanistas irmãos Villas-Boas [4] e o antropólogo Darcy Ribeiro [5] .

Márcio Tadeu dos Santos

Notas

[1] O Programa Calha Norte (PCN) foi criado em 1985 pelo Governo Federal diante de uma preocupação dos militares sobre a causa amazônica. Naquela época, se propagava a cobiça internacional sobre as reservas naturais estratégicas do país.

Desde 1999 sob a coordenação do Ministério da Defesa, o Calha Norte tem o propósito de promover a ocupação e o desenvolvimento ordenado e sustentável da região amazônica. O programa abrange 379 municípios, distribuídos em oito estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul (faixa de fronteira), Pará, Rondônia e Roraima.

Ao todo, são quase nove milhões de brasileiros beneficiados, incluindo 46% da população indígena – em uma área que corresponde a 44% do território nacional.

Link: https://www.defesa.gov.br/index.php/programas-sociais/programa-calha-norte

[2] Cândido Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como Marechal Rondon (Santo Antônio de Leverger, 5 de maio de 1865Rio de Janeiro, 19 de janeiro de 1958), foi um militar e sertanista brasileiro.

De origem indígena por parte de seus bisavós maternos (Bororó e Terena) e bisavó paterna (Guará), Rondon tornou-se órfão precocemente, tendo sido criado pelo tio e, depois de sua morte, transferiu-se para o Rio de Janeiro para ingressar na Escola Militar desta cidade,[1] pois além dos estudos serem gratuitos, os alunos da escola recebiam, desde que assentassem praça, soldo de sargento.

Alistou-se no 3º Regimento de Artilharia a Cavalo em 1881. Dentre outros estudos, cursou Matemática e Ciências Físicas e Naturais da Escola Superior de Guerra.[1]

Ainda estudante, teve participação nos movimentos abolicionista e republicano. Foi nomeado chefe do Distrito Telegráfico de Mato Grosso.[1] Foi então designado para a Comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Mato Grosso e Goiás.

Link https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A2ndido_Rondon

[3] Sistema criado por Auguste Comte 1798-1857 que se propõe a ordenar as ciências experimentais, considerando-as o modelo por excelência do conhecimento humano, em detrimento das especulações metafísicas ou teológicas; comtismo.

Link https://www.google.com/search?q=Positivismo&ie=utf-8&oe=utf-8&client=firefox-b-ab

[4] Os Irmãos Villas-Bôas: Orlando (1914-2002), Cláudio (1916-1998) e Leonardo Villas-Bôas (1918-1961), foram importantes sertanistas brasileiros.

Orlando, Cláudio e Leonardo tomaram parte desde as primeiras atividades da vanguarda da Expedição Roncador-Xingu criada pelo governo federal no início de 1943 com o objetivo de conhecer e desbravar as áreas mostradas em branco nas cartas geográficas brasileiras. O índio apareceria, mais tarde, diante da expedição como um “obstáculo”.

Posteriormente foram designados chefes da expedição. Em face disso foram acelerados todos os trabalhos em andamento, possibilitando assim que fosse vencida a grande e difícil etapa (Rio das Mortes – Alto Xingu). A segunda etapa, ainda mais longa (Xingu – Serra do Cachimbo – Tapajós), deixou no roteiro uma dezena de campos de pouso. Alguns desses campos – Aragarças, Barra do Garças, Xavantina, Xingu, Cachimbo e Jacareacanga, foram mais tarde transformados em Bases Militares e em importantes pontos de apoio de rotas aéreas nacionais e transcontinentais pelo Ministério da Aeronáutica. Outros campos intermediários como o Kuluene, Xingu, Posto Leonardo Villas-Bôas, Diauarum, Telles Pires e Kren-Akôro, tornaram-se postos de assistência aos índios.

Link https://pt.wikipedia.org/wiki/Irm%C3%A3os_Villas-B%C3%B4as

[5] Darcy Ribeiro, antropólogo, educador e romancista, nasceu em Montes Claros (MG), em 26 de outubro de 1922, e faleceu em Brasília, DF, em 17 de fevereiro de 1997. Eleito em 8 de outubro de 1992 para a Cadeira nº 11, sucedendo a Deolindo Couto, foi recebido em 15 de abril de 1993, pelo acadêmico Candido Mendes de Almeida.

Diplomou-se em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1946), com especialização em Antropologia. Etnólogo do Serviço de Proteção aos Índios, dedicou os primeiros anos de vida profissional (1947-56) ao estudo dos índios de várias tribos do país. Fundou o Museu do Índio, que dirigiu até 1947, e colaborou na criação do Parque Indígena do Xingu. Escreveu uma vasta obra etnográfica e de defesa da causa indígena. Elaborou para a UNESCO um estudo do impacto da civilização sobre os grupos indígenas brasileiros no século XX e colaborou com a Organização Internacional do Trabalho na preparação de um manual sobre os povos aborígenes de todo o mundo. Organizou e dirigiu o primeiro curso de pós-graduação em Antropologia, e foi professor de Etnologia da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (1955-56).

Diretor de Estudos Sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais do MEC (1957-61); presidente da Associação Brasileira de Antropologia. Participou com Anísio Teixeira, da defesa da escola pública por ocasião da discussão de Lei de Diretrizes e Bases da Educação; criou a Universidade de Brasília, de que foi o primeiro reitor; foi ministro da Educação e chefe da Casa Civil do Governo João Goulart. Com o golpe militar de 64, teve os direitos políticos cassados e se exilou.

Viveu em vários países da América Latina, conduzindo programas de reforma universitária, com base nas idéias que defendeu em A Universidade necessária. Professor de Antropologia da Universidade Oriental do Uruguai; foi assessor do presidente Salvador Allende, no Chile, e de Velasco Alvarado, no Peru. Escreveu nesse período os cinco volumes dos estudos de Antropologia da Civilização (O processo civilizatório, As Américas e a civilização, O dilema da América Latina, Os brasileiros – 1. Teoria do Brasil e Os índios e a civilização), nos quais propõe uma teoria explicativa das causas do desenvolvimento desigual dos povos americanos.

Ainda no exílio, escreveu dois romances: Maíra e O mulo, aos quais acrescentou, mais tarde, Utopia selvagem e Migo. Publicou Aos trancos e barrancos, que é um balanço crítico da história brasileira de 1900 a 1980. Publicou também a coletânea Ensaios Insólitos e um balanço da sua vida intelectual: Testemunho. Editou, juntamente com Berta G. Ribeiro, a Suma etnológica brasileira. Publicou, pela Biblioteca Ayacucho, em espanhol, e pela Editora Vozes, em português, A fundação do Brasil, um compêndio de textos históricos dos séculos XVI e XVII, comentados por Carlos Moreira e precedidos de longo ensaio analítico sobre os primórdios do Brasil.

Em 1976, retornou ao Brasil, e foi anistiado em 1980. Voltou a dedicar-se à educação e à política. Participando do PDT com Leonel Brizola, foi eleito vice-governador do Estado do Rio de Janeiro (1982). Foi cumulativamente secretário de Estado da Cultura e coordenador do Programa Especial de Educação, com o encargo de implantar 500 CIEPs no Estado do Rio de Janeiro. Criou também a Biblioteca Pública Estadual, a Casa França-Brasil, a Casa Laura Alvim e o Sambódromo, em que colocou 200 salas de aula para fazê-lo funcionar também como uma enorme escola primária.

Em 1990, foi eleito senador da República, função que exerceu defendendo vários projetos, entre eles uma lei dos transplantes que, invertendo as regras vigentes, torna possível usar os órgãos dos mortos para salvar os vivos. Publicou, pelo Senado Federal, a revista Carta, onde os principais problemas do Brasil e do mundo são analisados e discutidos.

Entre suas atividades conta-se haver contribuído para o tombamento de 98 quilômetros de belíssimas praias e encostas, além de mais de mil casas do Rio antigo. Colaborou na criação do Memorial da América Latina, edificado em São Paulo com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. E mereceu títulos de Doutor Honoris Causa da Sorbonne, da Universidade de Copenhague, da Universidade do Uruguai, da Universidade da Venezuela e da Universidade de Brasília (1995).

Entre 1992 e 1994, ocupou-se de completar a rede dos CIEPs; de criar um novo padrão de ensino médio, através dos Ginásios Públicos; e de implantar e consolidar a nova Universidade Estadual do Norte Fluminense, com a ambição de ser uma Universidade do Terceiro Milênio.

Em 1995, lançou seu mais recente livro, “O povo brasileiro”, que encerra a coleção de seus Estudos de Antropologia da Civilização, além de uma compilação de seus discursos e ensaios intitulada O Brasil como problema. Lançou, ainda, um livro para adolescentes, Noções das coisas, com ilustrações de Ziraldo, considerado, em 1996, como altamente recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Em 1996, entregou à Editora Companhia das Letras seus Diários índios, em que reproduziu anotações que fez durante dois anos de convívio e de estudo dos índios Urubu-Kaapor, da Amazônia. Seu primeiro romance, Maíra, recebeu uma edição comemorativa de seus 20 anos, incluindo resenhas e críticas de Antonio Callado, Alfredo Bosi, Antonio Houaiss, Maria Luíza Ramos e de outros especialistas em literatura e antropologia. Ainda nesse ano, recebeu o Prêmio Interamericano de Educação Andrés Bello, concedido pela OEA.

Link http://www.academia.org.br/academicos/darcy-ribeiro/biografia

 

 

 

As razões que levam às razões custosas de entender

MundaoJá deu para perceber que greve não faz sucesso entre os meus parcos leitores.

Política faz um pouco, mas não muito.

Meus parcos leitores também não estão muito interessados nessas histórias ascensionais e de superações.

Pelo que pude apreender até agora, espero não estar muito enganado (só um pouco, aceito isso) eles gostam  das minhas historinhas, daquelas reminiscências – nem sempre verazes.

Gostam, também, creio eu, quando o assunto é linguagem, acho, principalmente os deslizes e os desvios que nós os jornalistas e comunicadores[1] (sic) cometemos.

Às vezes me aventuro pelas religiões (gostaria de me dedicar mais ao assunto, e talvez apenas dele tratar – mas esta não é uma tarefa das mais fáceis) e, aparentemente, a aceitação, neste caso,  é bastante boa.

Este público diminuto não é muito de “curtir”  ou de comentar, o que , me parece, uma boa opção, já que a maioria é formada por jovens e por  alguns não-jovens, mas  bastante joviais, de muito frescor, que vive num outro tempo e em um novo espaço.

Sintoma deste “hoje em dia”.

Estamos em tempo niilistas?

Talvez! Mas isso também soa desrespeitoso e, portanto , injusto e acusatório.

Mas, enfim,  que mal há nisso?

São pessoas que, apesar das aparências, gostam e consideram outras pessoas.

E que vagam por  ondas e por grupos não-fixos e nem uniformes e nem coesos, o que é uma marca, também, destes novos tempos.

Gente que não se deixa aprisionar por velhas ideologias, por  arcaicas utopias.

São viajante do tempo.

São viajante no tempo.

Nota

[1] Já que todos nos comunicamos, nunca entendi por que definir uma categoria em separado de comunicadores. Chacrinha dizia “quem não se comunicada, se trumbica” ( e não ‘estrumbica’ como alguns dizem.

“A história na visão de anarquistas”

anarch

[Objetiva-se analisar como foi abordada a História por alguns pensadores e “teóricos” do anarquismo.[1] Para atingir este objetivo, foi feita uma revisão de alguns textos de anarquistas “clássicos”, que se destacaram como pensadores e filósofos do movimento anarquista internacional: Proudhon, Bakunin, Kropótkine e o historiador Rudolf Rocker. Parte-se do princípio de que uma das funções da História é servir de instrumento para a transformação da sociedade, e que é utilizada pelos mais variados “agentes sociais” como “guia para ação”. O trabalho inicia com uma definição de passado ontológico e epistemologia do passado. Logo se apresentam as discussões atualizadas sobre a produção do conhecimento histórico, sua “evolução”. Em seguida, constrói-se o cenário, como os historiadores vinham pensando e discutiam sobre seu oficio, ou seja, o cenário em que se inserem os escritos anarquistas sobre a história. Faz-se uma “analise de conteúdo” destacando trechos em que os autores citados acima dedicaram algumas linhas para escrever sobre a História. Para concluir, compara-se a analise com o contexto histórico e as discussões atualizadas.

  1. Introdução

É difícil saber se este trabalho é uma história da História a partir do pensamento anarquista ou se é uma história do pensamento anarquista e suas concepções de História. Talvez seja um pouco de cada. O que se pretende saber é como os anarquistas entendiam a História, tanto no sentido ontológico quanto no epistemológico. É importante destacar como e por que se faz o estudo da História no pensamento anarquista.

A história ontológica é o passado real e concreto, a História epistemológica significa a construção de um saber, uma disciplina, uma ciência (teoria e método) compreendendo também seu discurso (historiografia). Os procedimentos da analise seguirão a técnica da “comparação” dos modelos, e a relação ao contexto da produção literária.

Rodrigo Quesada Monge diz que, com o fim do projeto do Capitalismo de Estado (monopoliza), ocorre, principalmente após 1989, um crescente descrédito na teoria marxista para interpretação da história. Muitos historiadores utopistas e sonhadores ficam, assim, órfãos de um projeto teórico de uma filosofia da história. O historiador afirma que, se forem revisados os trabalhos investigativos dos grandes historiadores anarquistas como Nettlau, Paul Avrich, Rudolf Rocker, Murria Bookchin y Howard Zinn, somente para recordar alguns exemplos, aparece um exaustivo levantamento documental unido a um desmedido compromisso político e social com as implicações morais e políticas do seu ofício. (MONGE, 2006) Para saber no aspecto teórico e metodológico a prática historiográfica dos anarquistas, correto seria analisar as produções historiográficas destes. Escolher um período e conjuntura e estudar esta produção. Porém esta tarefa não é obra para nenhum pesquisador solitário. A intenção deste artigo é bem mais modesta e limitada ao discurso, ao que se afirma sobre “como deve ser” e não necessariamente ao que realmente é.

José Carlos Reis escreve que a história, assim como toda cultura ocidental, passou por uma transição entre o século XVIII e o século XX. Esta transição caracteriza-se pelo iluminismo (racionalista, globalizante e moderno), o estruturalismo e o pós-estruturalismo.

O projeto iluminista vê a história como “espírito universal”, que progressivamente vai “tomando consciência de si”. O projeto moderno e iluminista é extremamente otimista, crê no poder da razão. A hipótese iluminista é hegeliana, não pode não ter sentido. A história seria então governada pela razão. A história, segundo Carlos Reis, é a busca de sentido e não vontade de potência. O projeto iluminista legitima toda violência contra o passado-presente, que é considerado um entrave para o progresso e evolução. (REIS, 2000:178s)

No século XX, o movimento estruturalista veio desconfiar deste sujeito consciente em busca da liberdade. A convicção de que a razão governa o mundo foi posta sob suspeita. Passou-se a duvidar do progresso, do evolucionismo, do eurocentrismo, da razão racionalista. O homem não é totalmente sujeito e livre, e a sociedade não é guiada por uma teleologia. De acordo com José Carlos Reis, a história deveria dedicar-se mais ao repetitivo, cíclico, resistente, inerte e estrutural. Deveria dedicar-se à realidade empírica, produzindo um saber objetivo e conceitual. O estruturalismo ainda se diz racionalista, porém procura a razão a contrapelo, onde ela se esconde, acaba adotando um determinismo inconsciente. Os estruturalistas são contrários às utopias, pois discordam do fato de misturar a filosofia com a ciência. A utopia só faz sentido dentro de um raciocínio típico-ideal, uma abstração que permite conhecer a realidade. (Ibidem:182)

A segunda fase do estruturalismo, o pós-estruturalismo, não duvida da razão, isto é, não acredita na própria existência da razão. Não procuram mais verdades históricas, nem essenciais, nem aparentes, nem manifestas e nem ocultas. O universal não é pensável, a unificação é impossível. O conhecimento histórico pós-estrutural é antiestrutural, parcial, limitado, individual, em migalhas. Não se quer neutralidade, passividade, serenidade e universalidade. Não existe uma razão, moral, verdade universal. A partir dos anos 80, o homem não é mais o horizonte do historiador, a história deixou de ser análise do passado para produzir mudanças no presente etc.(Ibidem:183)

Acima foi transcrito como Carlos Reis descreve a relação e influencia da cultura ocidental na concepção de história e na prática historiográfica. Esta trajetória que ocorreu aproximadamente entre os anos 30 e 80 do século XX. Carlos Reis diz que uma bandeira que vem ganhando adeptos entre os historiadores é a proposta defendida pelo historiador francês F. Dosse. Este autor defende um retorno ao projeto inicial da Escola dos Annales, que se pode destacar: a mesma relação interdisciplinar com as ciências sociais, a mesma referencia à história problema, a mesma resistência e substituição do marxismo. (Ibidem: 187) A compreensão e o aprimoramento do saber histórico, absorvendo todo o avanço possível das ciências humanas e sociais, esta em gestação. Para Dosse:

A lógica mesma da ação mantém aberto o campo dos possíveis, em uma reabertura das potencialidades do presente alimentada pelos possíveis não averiguados do passado. A função da história continua, portanto, viva, e o luto das visões teleológicas pode se tornar uma chance para se repensar o mundo do amanhã. (DOSSE, 2003:16)

Enfim, procura-se entender como os anarquistas viam a história, enquanto o que ficou para trás, em que medida e como esta história influencia o presente e o futuro dos indivíduos e da sociedade. Também se procura saber em que medida a História, enquanto saber, se constitui em ciência e, se para os anarquistas, é possível uma previsibilidade e o estabelecimento de leis históricas.

  1. Historia e historiografia (de 1840 a 1940)

A delimitação temporal para trabalhar deveu-se ao fato de ser o período que abrange a produção dos “teóricos” que serão analisados. As produções de Proudhon que iniciam por volta de 1840 e a de Rudolf Rocker, em 1937. As discussões sobre filosofia e teoria da história da segunda metade do século XIX e da primeira metade do século XX, serão o contraponto para análise e comparação da produção dos teóricos anarquistas. Cenário habitado por discussões de historiadores historicistas e a Escola Metódica como Leopold von Ranke, Taine e Fustel de Coulanges, Gabriel Monod, Charles Seignobos, Charles Langlois. Aparece a concepção de história enquanto ciência social com a transição entre Henri Berr e o movimento dos Annales com Lucien Febvre e Bloch.

Os principais historiadores antes de 1840 eram conhecidos como românticos. Produziam uma história com comprometimento político, como Michelet e Tocqueville. São eles que estão publicando suas histórias neste período, em defesa das experiências republicanas e democráticas liberais. Até aproximadamente 1860 vai a hegemonia dos historiadores românticos com forte ligação com a filosofia. O historicismo, ou a “Escola Metódica” e positiva, pretende elevar a história à categoria de ciência. Leopold von Rank defende a separação da filosofia da história, ele critica a metafísica hegeliana e acredita que a história constitui um saber cientifico na medida em que se detém no empírico, nos fatos e na individualidade histórica.(COLLIOT-THÉLENE, 1995:20) Emana um espírito positivo que abrange a história, e passa a predominar entre os historiadores, inicia-se uma luta contra a influência da filosofia da história na ciência da história. A ciência histórica quer ser objetiva, quer formular enunciados adequados ao seu objeto e que sejam válidos para todo tempo e lugar, como estimavam que faziam as ciências naturais. (REIS, 1996:07) A história procura encontrar fatos e descobrir verdades, a história é a ciência da observação. No final da década de 70 do século XIX, Gabriel Monod inicia uma produção voltada para o método histórico, empreitada levada adiante também por Charles Langlois e Seignobos. No final do século XIX, este esforço de criar uma história cientifica, dividiu-se em três proposições: A proposição rankiana, que aproxima a história das ciências naturais; a orientação de Dithey, que quer descobrir o que há de especifico no conhecimento histórico e cria a concepção de ciência social, lugar onde se destaca a história; e o marxismo.

Ao iniciar o século XX, ocorre um período transitório entre a “Escola Metódica” e a “Escola dos Annales”, onde Charles Péguy, F. Simiand, Dithey e Henrii Berr constroem uma concepção de história relacionada às ciências sociais. A história esta, então, entre as ciências sociais e não entre as ciências naturais. O objeto de estudo do historiador é o próprio homem, a sociedade humana. Dosse escreve que o projeto da Escola dos Annales é um projeto de espírito de “Frente Popular”, e para demonstrar isto ele traça o itinerário de alguns membros fundadores da Escola. No inicio da vida intelectual, Lucien Febvre era socialista fervoroso; segundo Dosse, ele escreve, entre 1907 e 1909, no Lê Socialiste Comtois, órgão semanal da federação do Doubs da SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária). No dia 21 de março de 1909, redige mais da metade da primeira página do jornal com quatro artigos: “Viva a vida! Abaixo a autoridade”. Em 1909, ele escreve em um artigo: “Ah querido velho Proudhon¹ E há pessoas que dizem que você está morto! Vai, esteja tranquilo: a personalidade humana se empertigará, enfim, ela que há tantos séculos vinha se corrompendo, imutável nessa degradação. Ela solta com uma voz ainda fraca, mas que não é mais tímida, o grito libertador que você mesmo soltava: nenhuma autoridade!” (DOSSE, 2003:92) François Dosse diz que Lucien Febvre vê no discurso marxista ao mesmo tempo uma concepção tão voluntarista e factual quanto à da história tradicional e também sua forma de espiritualismo econômico. (Ibidem:98) Portanto, a Escola dos Annales procura se constituir, por seus fundadores em 1929, numa alternativa à história tradicional e à história marxista, com a emergência do econômico e do social na História. Lucien Febvre e Marc Bloch veem na teoria das probabilidades, na teoria da relatividade da medida temporal e espacial, a possibilidade de a história aspirar, ao estatuto de ciência, contanto que critique os testemunhos do passado, elabore fichas de leitura, teste as hipóteses, passe do dado ao criado. Segundo Dosse, eles acreditam que a pesquisa histórica pode tomar emprestada a via das pesquisas causais a partir da crítica dos documentos, mesmo se aos olhos dos promotores dos Annales ela deva se precaver contra toda metafísica, contra todo monismo de causalidade. (Ibidem:55) Dosse escreve que o projeto dos Annales é indissociável de sua dimensão estratégica: Todo projeto cientifico é inseparável de um projeto de poder /…/. Vontade de convencer e vontade de poder estão unidas como a luz e a sombra. (Ibidem: 71)

  1. Anarquismo

O anarquismo pode ser entendido como uma ideologia, matriz de pensamento e teoria revolucionária. Como movimento político e social, com propósitos revolucionários aparece entre os operários na Associação Internacional dos Trabalhadores (A.I.T), também conhecida como “Primeira Internancional” (1864) e nos grupos de conspiradores revolucionários organizados por Bakunin, que seguiam as ideias federalistas e mutualistas de Proudhon.

Os anarquistas são também conhecidos como socialistas libertários, para distinguir-se dos marxistas, que são denominados de socialistas autoritários. Durante a Primeira Internacional, as teses anarquistas revolucionárias defendiam a proposta de uma revolução social, com a construção do socialismo a partir de bases federalistas, e com autogestão socioeconômica. Acreditavam que o socialismo só é possível com liberdade, e por isso defendiam a abolição do “Estado Moderno”. Os socialistas autoritários (marxistas) eram reformistas, defendiam a conquista do Estado para, através de reformas, irem transformando a sociedade. Enfim, os anarquistas defendem a ideia de uma sociedade sem classes, sem domínio, opressão e exploração. É importante destacar que as concepções de história dos anarquistas, carregam também este componente de disputa, tanto com as concepções conservadoras, quanto com as ideias marxistas. (WOODCOCK, 2002)

3.1. Proudhon: “O movimento da história”

Pierre-Joseph Proudhon, francês, nascido em 1809 e falecido em 1865, foi um dos grandes mestres do pensamento socialista do século XIX. Filho de camponeses, tornou-se gráfico e “livre pensador”; em 1837, conquista uma bolsa na Academia de Besançon para cursar letras ou ciência. O conjunto de sua obra se encontra num horizonte de afirmação da sociedade como realidade plural, dotada de forças coletivas, resultantes da união, da harmonia e da convergência de esforços. Este raciocínio é a arma que esgrime contra o capital e o Estado. (RESENDE, 1986) Para abordar aspectos do pensamento de Proudhon sobre a História, serão utilizados como fontes dois livros: “Proudhon”, de Paulo-Edgar Resende e “Proudhon e Marx”, de Georges Guvitch. Proudhon foi também como o “homem dos paradoxos”, e suas proposições, realmente, muitas vezes eram contraditórias. Para compreender melhor seu pensamento, seria interessante analisá-lo à luz do contexto de produção e encará-los como construção, o que não seria possível nas pretensões deste modesto trabalho.

Na seleção de textos organizada por Paulo Resende e Edson Passeti, a principal referência feita à História, na obra de Proudhon, foi quando Resende e Passeti escrevem: Proudhon afirma não ter um projeto de sociedade, postulando antes um método de análise que possibilite detectar o movimento da história. (Ibidem: 21) Não ficou claro, onde, quando e em que obra Proudhon teria feito esta afirmação, porém se buscou identificar nos textos publicados este “método que detecta o movimento da história”. Segundo os organizadores da obra, o “movimento da história” aponta na seguinte direção: anarquia industrial, feudalismo industrial (referência ao jacobinismo estatizante), império industrial e, finalmente, a república industrial (referente ao mutualismo). (Ibidem: 18) O “movimento da história’ vai na direção da afirmação econômica da autonomia do trabalho, da negação da apropriação do Capital e da “democracia operária”.(Ibidem: 21)

Proudhon escreve que, diante da complexidade do real, o pensamento humano, no início, apela para um principio de unidade transcendente. Aí, surge o dogma, que é a afirmação estática, por cima da diversidade histórica, em que a fé religiosa transparece como passividade. (Ibidem: 14) Segundo o pensamento de Proudhon, a metafísica significa a mesma coisa que Deus para as religiões e a procura por um “motor da história” em certas concepções “científicas”. Ao fazer a crítica a toda tentativa totalizadora, e de unidade dogmática, Proudhon opta por chamar sua busca por uma explicação do “movimento da história” de método e não de teoria (para fugir das Leis da metafísica científica). Ele faz questão de afirmar que sua proposta não é exterior, não é transcendente à pratica social, e que a “teoria da lei serial” é um método de conhecimento assentado no terreno movediço da realidade plural. Segundo o filosofo, este método estabelece-se na relação de revezamento com a prática.

Segundo Proudhon, este método é um processo bem-determinado de conhecimento, que acompanha o movimento da prática. No pensamento dele, quem diz movimento diz série, unidade diversificada. A série é a condição fundamental da ciência, na medida em que a divisão, e não a unidade, é a primeira condição do que existe. (Ibidem:15s) Para o anarquista, o conhecimento serial é um tipo de saber que se processa em decorrência de uma relação prática dos homens com o mundo e suas criações, ensejando o desenvolvimento integrado entre teoria e prática.” (RESENDE, 1986:16) Proudhon escreve que, na teoria serial, não existe continuidade, pois continuidade é sinônimo de identidade absoluta e é análoga à ideia de substância e de causa. Quem diz substância, fala de algo particular, limitado; portanto, não contínuo nem absoluto. Também ocorre que, se é contínuo, não tem início. Se não inicia, não tem causa. Proudhon diz que a continuidade apresenta-se de fato para nós, mas ela é uma ideia verdadeira somente no momento em que ela apresenta-se anterior à diferenciação dos seres e anterior a nós. A ideia de continuidade é legitima porque a hipótese que ela exprime é em virtude das leis de nosso entendimento, que é obtida da própria observação da série, que é sua contraditória. Assim, a coesão dos corpos e a sucessão dos fenômenos nos dão a ideia de continuidade, mas na verdade esta continuidade não existe em parte alguma.(Ibidem:43)

Pierre-Joseph Proudhon escreve que a natureza não faz nada bruscamente e nem procede por saltos, mas opera de maneira sucessiva e progressiva. Essa ideia de continuidade é, na verdade, “progresso seriado”.

As ideias de continuidade e de progressão parecem realmente se excluir: quem diz progresso diz necessariamente sucessão, transporte, crescimento, passagem, adição, multiplicação, diferença, série, enfim; de maneira que a expressão movimento continuo não é mais que uma metáfora. (Idem)

O autor diz que cada série encerra em si mesmo seu princípio, sua lei, sua certeza. Cada uma das séries é independente, e o conhecimento de uma não supõe nem engloba o conhecimento da outra. (RESENDE, 1986:45) O que produz nas ciências a diversidade da série é a diversidade do objeto. Ainda que se possa, por abstração de todo objeto, construir uma teoria geral da seriação, as diversas formas de séries não se explicam umas pelas outras. Não existe ciência universal, porque não há objeto universal. (Idem)

De todas essas considerações, resulta que a metafísica, ou teoria da lei serial, não é ciência, mas método; não é um método especial e objetivo, mas um método sumário e ideal; que ela não prejulga e não exclui nada, acolhe todos os fatos e os nomeia sem temor de ser desmentida por nenhum; que ela não pretende de modo algum produzir por si mesma o conhecimento e não se antecipa à observação: bem diferente dos pretensos sistemas universais, construídos com base na atração, expansão, causação, deificação e outros sistemas ontológicos, monumentos da preguiça e da impotência. (Idem)

Proudhon diz que a série é a antítese da unidade, que se forma pela repetição das combinações diversas da unidade. (Ibidem: 46) A unidade, por sua vez, é considerada elemento da série, se reveste de todas as formas possíveis: (…) Numa roda de engrenagem, a unidade de série é o dente; num tabuleiro de xadrez, essa unidade é a casa; num poliedro, ela é a pirâmide, tendo seu cume no centro do sólido e sua base na superfície. (Idem) Proudhon defende a ideia do “sistema”, que configura o conjunto. O sistema é a roda de engrenagem, o tabuleiro etc. Este sistema deve ser compreendido de maneira progressiva, nos termos que o próprio Proudhon define: Sem unidade, nada de verdade, nada de beleza, nem mesmo de moralidade. Um sistema sem unidade é uma contradição; uma dupla justiça é a própria iniquidade. (Ibidem: 83)

Para Proudhon : (…) a história nos apresenta, numa sucessão lógica e cronológica, os dois princípios – Autoridade e Liberdade –, os mesmos de onde procede todo mal “(Ibidem:70) Ele escreve que, durante todos os tempos e em todas as sociedades, quanto mais um organismo ganha em unidade perde em massa. E que, em toda coletividade, a potência orgânica perde em intensidade o que ganha em extensão e reciprocamente. (Ibidem:83) Acrescenta ele: Essa lei é universal, rege o mundo do espírito tanto quanto o dos corpos; ela se encontra na filosofia, na ciência, no direito, na literatura, na arte, na poesia, na história etc. (Idem) O escritor opõe-se a toda filosofia da história, seja a de Bossuet, de Condercet, de Saint-Simon, de Hegel ou de Herder. Para ele, a filosofia da história nega a responsabilidade do homem coletivo ou individual, na orientação do esforço voluntário, seja no sentido do progresso ou do regresso. (GURVITCH:89)

Para Georges Gurvitch, na obra de Proudhon está presente a concepção de saber instrumental. No livro “La Célebration du Dimache”, ele escreve que deve existir uma ciência social (sociologia) que guie a revolução social. (Ibidem:25) Para o anarquista, a ciência deve ser um instrumento para a transformação da sociedade. No livro La Création de l’Ordre, Proudhon escreve: As leis da economia política são as leis da história. (Ibidem:44) Nesta passagem, Proudhon acredita na existência de Leis na “ciência social”, e que, no caso da história, as leis seriam encontradas na economia política. Para Proudhon, a História não é uma ciência, mas matéria de uma ciência. (Idem) Ele recusa confiar na ciência histórica do seu presente, que, segundo ele, é uma reconstrução guiada por ideologias da sociedade existente. (Idem) Em poucas palavras, pode-se perceber que Proudhon acreditava ser possível um ciência social, e que a História não é uma ciência, mas se utiliza das ciências auxiliares e que, na metade do século XIX, a História era utilizada para fins políticos e ideológicos.

Para Proudhon, o progresso é esforço criador e revolução sempre renovada, é visto como a negativa do absoluto. O progresso é a permanente mudança, transformação. (Ibidem:87) Ele defende uma dialética realista e empírica por um lado, e da liberdade coletiva criadora por outro. Os resultados não são previsíveis, no sentido de não serem determinados. (Ibidem:43) A dialética proudhoniana prova que, na realidade social, a liberdade e o determinismo social se interpenetram, se completam, se implicam e se polarizam de diversas maneiras. (Ibidem:142)

A análise sobre a ideia de História no discurso de Proudhon ficou prejudicada na medida em que não se teve acesso às obras de Proudhon, mas a interpretações das mesmas. Boa parte das informações apresentadas aqui são frutos de leituras indiretas. Não é necessariamente o que ele disse, mas o que se disse sobre ele. Pelo exposto no texto, é possível afirmar que Joseph Proudhon não quer construir uma teoria absoluta que explique “toda” a história, mas procura compreender a “Conjuntura” capitalista, a partir da “Revolução Industrial” onde ele fala em quatro tipos de períodos ou estágios da sociedade industrial. Ele procura construir um “método que detecta o movimento da história”. Sua concepção é “progressista” e parte da economia política. O progresso para ele representa a continuidade da ruptura. Os fenômenos desenvolvem-se em unidades arranjadas de forma sistêmica, onde cada parte mantém relativa ou total autonomia em relação ao todo. A base da sociedade, para ele, é a “oficina”, por isso ele defende a economia política. Defende as particularidades na história, o empírico, e que não há determinismo na história. Do que foi escrito acima, fica nítido que Proudhon não reconhecia, na História, uma ciência, que a explicação só é possível a partir da economia política (ciência auxiliar). Para ele, a história é uma narrativa lógica, cronológica e que é utilizada de forma político-ideológica.

3.2. Bakunin: a história é a negação do passado.

Michael Alexandtovich Bakunin nasceu em 1814 e faleceu em 1876. Pertenceu a uma rica família proprietária de terras na Rússia. Foi na Europa que se converteu ao radicalismo político. Participou das rebeliões que ocorreram em Paris em 1848 e 1849. Era um conspirador nato, viveu a maior parte do tempo de sua vida organizando insurreições, rebeliões, organizações políticas revolucionárias e preso. Nos curtos espaços de tempo que possuía, quando não estava em “barricadas” e organizando revoltas, escrevia principalmente artigos para a imprensa revolucionária e operária. (BAKUNIN, 1999:05s)

Dos vários escritos de Bakunin, neste manuscrito, que, mais tarde, torna-se conhecido como Deus e o Estado, ele dedica algumas linhas ao estudo da História. A primeira edição de Deus e o Estado foi, em 1882, publicada em Genebra, o titulo da obra não é de autoria de Bakunin, mas dos organizadores dos textos: Carlo Cafiero e Eliseé Reclus. O texto original foi recolhido de trechos do manuscrito denominado “Império Knouto-germânico” de 1871. Bakunin inicia seus escritos afirmando que três elementos constituem na história, as condições essenciais de todo desenvolvimento humano: 1º) a animalidade humana; 2º) o pensamento; 3º) a revolta. À primeira corresponde propriamente a economia social e privada; à segunda, a ciência; à terceira, a liberdade. (Ibidem: 03)

Bakunin escreve que o homem, com toda sua inteligência, ideias sublimes e aspirações infinitas “é produto da vil matéria”. (Idem) O revolucionário russo define-se materialista e escreve: Sim, os fatos têm primazia sobre as ideias; sim, o ideal, como disse Proudhon, nada mais é do que uma flor, cujas condições materiais de existência constituem a raiz. Sim, toda a história intelectual e moral, política e social da humanidade é um reflexo da sua história econômica. (Ibidem: 04) Para Bakunin, a condição animal no homem é nata, o pensamento é uma faculdade e capacidade, a revolta uma necessidade. (Idem) A ação progressiva da história se constituiu em combinar a faculdade de pensar e de se revoltar. É a potência negativa no desenvolvimento positivo da animalidade humana e que constitui tudo o que há de humanidade nos homens. (Idem) Para Bakunin, a humanidade é um ato de revolta; assim escreve: O homem se emancipou, separou-se da animalidade e se constituiu homem; ele começou sua história e seu desenvolvimento especificamente humano por um ato de desobediência e de ciência, isto é, pela revolta e pelo pensamento. (BAKUNIN, 2008:06)

Para exemplificar a animalidade humana, Bakunin cita como exemplo a invasão da França pela Alemanha. No momento em que se aceita esta origem animal do homem, tudo se explica. A história consiste na negação progressiva da animalidade primitiva do homem pelo desenvolvimento de sua humanidade. Progredir é negar o passado. O autor acredita na “evolução” humana, ele é um evolucionista:

O homem, animal feroz, primo do gorila, partiu da noite profunda do instinto para chegar à luz do espírito, o que explica de uma maneira completamente natural todas as suas divagações passadas e nos consola em parte de seus erros presentes. Ele partiu da escravidão animal, e atravessou a escravidão divina, termo transitório entre sua animalidade e humanidade, caminha hoje rumo à conquista e a realização da liberdade humana. (Ibidem:10)

A antiguidade de uma crença ou ideia, longe de provar alguma coisa, deve, pelo contrário, torná-la suspeita entre nós. Justo porque, atrás de nós, está nossa animalidade, e, diante de nós, nossa humanidade; a luz humana, a única que pode nos aquecer e nos iluminar, a única que pode nos emancipar, tornar-nos dignos, livres, felizes, e realizar a fraternidade entre nós, jamais esta no princípio, mas, relativamente, na época em que se vive, e sempre no fim da história.(Idem)

Depois de afirmar que jamais devemos olhar para trás, que é necessário olhar sempre pra frente, aonde o autor chega falar em “salvação”, ele assim se refere ao estudo do passado:

(…) se nos é permitido, se é mesmo útil, necessário, nos viramos para o estudo de nosso passado, é apenas para constatar o que fomos e o que não devemos mais ser, o que acreditamos e pensamos, e o que não devemos mais acreditar nem pensar, o que fizemos e o que nunca mais devemos fazer. (Idem)

A História, também pode servir como “lição”, e como testemunho e recurso argumentativo, como nestes exemplos: (…) não faltam as provas da história (Ibidem:23); ou Numa palavra, não é difícil provar, com a história na mão (…) (Ibidem:25)

A contradição de Bakunin está no fato de que ele quer combater a “metafísica”, com outra “metafísica”, fazendo crer que existe um destino histórico. Esta contradição é expressa na passagem a seguir:

Ela sabe, enfim, quando não está viciada pelo doutrinarismo teológico ou metafísico, político ou jurídico, ou mesmo por um estrito orgulho, quando ela não é surda aos institutos e às aspirações da vida, e que o grande, o verdadeiro objetivo da história, o único legítimo, é a humanização e a emancipação, é a liberdade real, a prosperidade de cada indivíduo vivo na sociedade. (Ibidem:31)

Para tratar do estudo científico dos fenômenos sociais, Bakunin escreve que não são individualidades abstratas, mas indivíduos, agindo e vivendo, que fazem a história. Segundo ele, as abstrações só existem quando conduzidas por homens reais, e acrescenta: Para esses seres formados, não somente em ideias, mas em realidade, de carne e de sangue, a ciência não tem coração. (Ibidem: 32)

Bakunin escreve que a ciência jamais abdicaria de suas teorias eternas; para ele, isso é a “ciência”. Para ele, a ciência não se ocupa do concreto, ela só pode mover-se em abstrações:

Sua missão é ocupar-se da situação e das condições gerais da existência e do desenvolvimento, seja da espécie humana em geral, seja de tal raça, de tal povo, de tal classe ou categorias de indivíduos, das causas gerais de sua prosperidade, de sua decadência e dos meios gerais bons, para fazê-los progredir de todas as maneiras. Desde que ela realize ampla e racionalmente esta tarefa, ela terá feito todo seu dever e seria realmente injusto pedir-lhe mais. (Idem)

A crítica de Bakunin é posta no momento em que ele afirma que, até o presente momento, toda a história humana foi uma imolação perpétua e sangrenta de milhões de pobres seres humanos em nome de uma abstração impiedosa qualquer: Deus, Pátria, poder do Estado, honra Nacional, direitos históricos, liberdade política, bem-público. (Idem)

Bakunin discute a possibilidade da constituição de uma ciência histórica, e faz alguns questionamentos no sentido de saber o seu alcance: A verdadeira ciência da história ainda não existe; quando muito, começam-se a entrever, hoje, as condições extremamente complicadas. Mas suponhamo-la definitivamente feita, o que ela poderá nos dar?(Ibidem: 33) Ele escreve que esta História científica estabelecerá o quadro fiel do desenvolvimento das sociedades que tiveram história. Se ele diz: das sociedades que tiveram história, deixa implícito que em sua concepção existiram sociedades sem história. O ideólogo anarquista escreve: Mas este quadro universal da civilização humana, por mais detalhado que seja, jamais poderá conter, senão, apreciações gerais e, por consequência, abstratas. (Idem)

Sobre os bilhões de indivíduos que forneceram a matéria-prima viva e sofredora desta história, Bakunin diz que eles não encontrarão sequer o mínimo lugar nos anais. Desta forma, eles viveram e foram sacrificados pelo bem da humanidade abstrata, eis tudo! (Idem) Ele pergunta: Será preciso censurar a ciência da história? E responde: Seria injusto e ridículo. (Idem) A ciência é incapaz de abordar os indivíduos, pois estes são inapreensíveis pelo pensamento, pela reflexão, até mesmo pela palavra, que só é capaz de exprimir abstrações. Esta incapacidade, diz Bakunin, ocorre tanto no presente, quanto no passado. A ciência social, a ciência do futuro, continuará forçosamente a ignorá-los. No que podem contribuir as ciências sociais e a História:

Tudo o que temos direito de exigir dela é que nos indique, com mão fiel e segura, as causas gerais dos sofrimentos individuais, e, entre estas causas, ela sem dúvida não esquecerá a imolação e a subordinação ainda muito frequente, infelizmente, dos indivíduos vivos às generalidades abstratas; e, ao mesmo tempo, nos mostrará às condições gerais necessárias à emancipação real dos indivíduos vivendo na sociedade. Eis sua missão, eis também seus limites (…)” (Ibidem:33s)

Fica evidente que Bakunin é adepto da metafísica, chegando a afirmar: Todos os sistemas de metafísica nada mais são do que a psicologia humana se desenvolvendo na história. (Ibidem: 39) Ele escreve que a história é feita pelos homens, condicionados pelas condições históricas. Para fecundar os elementos históricos, para fazê-los percorrer uma série de transformações, é necessário um fato vivo, espontâneo, sem o qual podem permanecer muitos séculos ainda em estado de elementos improdutivos. (Ibidem: 40)

Neste texto de Bakunin, datado de 1871, Deus e o Estado é uma produção que possui como fundo o processo histórico. O autor inicia a exposição escrevendo sobre “estágios” ou “etapas” da história da humanidade. Bakunin proclama-se materialista, e escreve sobre as crenças e concepções ideológicas e filosóficas dos seres humanos na história. Trabalha com a ideia de progresso e evolução. Possui uma concepção metafísica da história, deixando transparecer que existe um “objetivo” na história, uma lei suprema etc. Para ele, o último estágio da evolução humana é a necessidade de revolta, que potencializa para a construção da sociedade mais humana. Michael Bakunin diz que não devemos estudar o passado, a História, para procurar exemplos positivos, mas sim exemplos negativos, de como não fazer. Justifica dizendo que atrás está nossa animalidade e é na frente que encontramos nossa humanidade. Fica evidente que, para ele, a humanidade não regride, que só existe progresso. Ele acredita que seria possível uma História ciência com suas leis correspondentes. Esta História científica não estudaria os indivíduos, pois somente trataria de generalidades. Teria como tarefa iluminar o caminho para libertação da sociedade e dos seres humanos. Para este anarquista, os indivíduos não apareceriam na História, somente os grandes conjuntos, grupos e classes. Bakunin afirma que existe algo exterior aos homens que condiciona o rumo da história, porém ele acrescenta que a história é feita pelos homens, condicionados, que fecundam os elementos latentes do devir histórico. Assim, percebe-se que Bakunin concorda com a criação de teorias científicas que expliquem o desenvolvimento da história. Ele possui uma concepção metafísica, hipotético-dedutiva e teórica para o estabelecimento da “ciência social” e da História.

3.3. Peter Kropótkine: A história no comportamento do homem.

Pedro Alekesyvich Kropotkine nasceu em 1842, na Rússia, e faleceu em 1921, no mesmo país. Era de família rica, descendia de nobres russos. Filho de um oficial de alta patente, Kropótkine não quis seguir a carreira militar e preferiu os estudos científicos. Tornou-se geógrafo, publicando várias obras importantíssimas, é ainda lembrado pelos geógrafos como o cientista que muito contribuiu para o conhecimento da história da terra. Vai para a Europa, onde se dedica ao estudo e produção intelectual, do que ele chama de “idealismo social”. A ciência passou a ser a serva de seus objetivos revolucionários. Na Suíça, participa ativamente de grupos de revolucionários e conspiradores, identificando-se com os anarquistas. Passou a produzir e publicar estudos de sociologia, procurando dar ao anarquismo o caráter de ciência. Para ele, a sociedade evolui no sentido da concretização da sociedade sem classes e sem o Estado. (WOODCOCK, 2002:212s) A obra escolhida para analisar-se, aqui, foi “A Questão Social”. No prefácio da edição francesa, de fevereiro de 1913, Peter Kropótkine agradece ao historiador (anarquista) “Dr. Max Nettlau”, pela ajuda na elaboração das Notas com o grande conhecimento deste último sobre a literatura socialista. (KROPÓTKINE, s/d:09)

Ao referir-se aos avanços da ciência, e a contribuição desta para a melhoria, reforma ou revolução da sociedade, Kropótkine cita, entre esses avanços, a “interpretação antropológica da história”. (Ibidem: 26) Depois de fazer uma avaliação da contribuição de Darwin para a interpretação dos fenômenos, Kropótkine escreve que a ideia de um contínuo desenvolvimento, da progressiva evolução e gradual adaptação dos indivíduos e sociedades às novas condições, a partir do momento em que estas se modificam, encontrou aplicação muito mais larga que a que, até então, pretendia explicar a origem das espécies. Assim escreve que, se fundamentando nesse principio, tão rico de consequência, foi possível reconstituir, não somente a história dos organismos, mas a própria das instituições humanas. (Ibidem: 40s)

Kropótkine afirma que os estudos de Darwin são os primeiros fundamentos sólidos e científicos da História. O evolucionismo fundamenta a história dos hábitos, dos costumes, das crenças e das instituições humanas. Essa fundamentação científica faltava para os cientistas sociais do século XVIII, e que, para ele, é um golpe contra a metafísica do século XIX:

Essa história – a das sociedades humanas, das várias instituições sociais e das religiões – podemos agora escrevê-la, norteando-nos pelo fecundo princípio da evolução, sem necessidade de recorrermos às formulas metafísicas de Hegel, sem ser preciso apelar para ideias inatas, para uma revelação exterior e superior ou ainda para a substância de Kant. (Ibidem:41)

Pedro Kropótkine diz que, graças aos trabalhos de naturalistas, que souberam aplicar o mesmo método científico aos estudos das instituições primitivas e das leis que delas derivam a sua origem, foi possível estabelecer a história do desenvolvimento das instituições humanas em bases tão firmes como hoje está a história do desenvolvimento de qualquer espécie vegetal ou animal. (Idem) Só foi possível obter resultados exatos, científicos, depois que os homens de ciência começaram a considerar os fatos históricos do mesmo modo por que um naturalista considera o desenvolvimento gradual dos órgãos de uma planta ou de uma nova espécie. (Ibidem: 42)

O cientista anarquista defende o método empírico para o estudo da história, relacionando a História à antropologia e não à economia política. Para ele, o estudo da antropologia, que o é o estudo da evolução fisiológica do homem e do desenvolvimento das suas instituições sociais e religiosas, auxilia e possibilita a compreensão da História. Só assim foi, enfim, possível traçar as linhas essenciais da história da humanidade, abandonando para sempre a metafísica, que, até então, só havia obstruído o estudo da História tal como a tradição bíblica obstruíra outrora o estudo científico e o progresso da geologia. (Ibidem:43)

Apresenta críticas aos marxistas, escrevendo: Em consequência da sua predileção pelo método dialético e pela metafísica econômica, em vez de se aplicarem aos estudos dos fatos concretos da vida econômica dos povos, bastaria referir os numerosos e crassos erros econômicos em que os marxistas incidiram. (Ibidem:43) Kopótkine diz que a metafísica só obstruiu o desenvolvimento e o estudo científico da história. Após criticar a metodologia dos economistas políticos, em relação ao que ele chama de metafísica (deduções) e elucubrações teóricas, Peter Kropótkine escreve: A questão unicamente pode ser resolvida estudando os fatos econômicos pelo mesmo método por que se estudam as ciências naturais. (Ibidem:152) Neste caso, o método empírico.

O cientista escreve que a estrutura da sociedade humana é algo que nunca está definitivamente constituído. As estruturas estão sempre transbordando de vida e vivem em continua mutação conforme as necessidades e aspirações de cada momento histórico. (Ibidem: 162) A história é feita pelos indivíduos, e acrescenta: (…) a nossa concepção de progresso está em uma ininterrupta aproximação do princípio do desenvolvimento da livre iniciativa individual e coletiva.(Idem)

Apresenta o papel político e ideológico do cientista e historiador, que, para ele, apresenta-se também na escolha dos temas de pesquisa: Pois que partido revolucionário somos, procuremos averiguar exatamente a gênese e a evolução das revoluções passadas, desembaraçando a sua história das falsas interpretações estatistas que os historiadores lhe têm atribuído até hoje. (Ibidem:163)

Kropótkine diz que, nas Histórias escritas até aquele tempo, das várias revoluções ocorridas, o que menos vemos nelas é a ação do povo. Afirma que, nestas Histórias, nada ficamos sabendo acerca de sua gênese. Ele afirma que as frases que se habituou ler na introdução dessas Histórias sobre o estado de desespero do povo, nas vésperas das sublevações, não nos elucidam em coisa alguma. Não sabemos como, no meio desse desespero, surgiu no espírito popular, e como se elaborou e desenvolveu a esperança de uma melhoria possível de situação, de uma aurora nova, que o redimisse da condição sofredora em que se achava. (Idem) O escritor incentiva a pesquisa história, ao escrever:

E assim é que, depois de havermos lido essas histórias, que nada esclarecem, se, porventura, quisermos encontrar alguma informação útil sobre a marcha das ideias e do seu despertar no seio do povo, a parte efetiva que este tomou nos acontecimentos, temos de recorrer às fontes históricas de primeira mão, sem o que ficaremos na mesma, como antes. (Idem)

Na conclusão do livro, Kropótkine afirma que os anarquistas optam pelo método indutivo-dedutivo para a apreciação das instituições humanas. (Ibidem: 170) Para ele, os anarquistas, usando do método indutivo-dedutivo da ciência, para reconstruir as instituições sociais e culturais, baseando-se nas modernas investigações etnológicas e antropológicas e utilizando-se dos documentos históricos que a ciência moderna tem vindo arquivando, oferece-se um caminho para uma interpretação da história. (Ibidem:171) A escolha pelo método indutivo-dedutivo é justificada por Kropótkine na medida em que previne e possibilita ao investigador corrigir possíveis erros nas descobertas e nos próprios métodos. Ele não concorda com a “metafísica alemã” e as “leis científicas”, pois, para ele, estas leis são tomadas como “verdades absolutas”; conforme Kropótkine, em primeiro lugar vêm os fatos, as realidades e a constituição de verdades provisórias, sempre críticas. (Ibidem:172)

Kropótkine diz que, entre os avanços da ciência, está a interpretação antropológica da história. Ele acredita que o evolucionismo confere cientificidade à História. Defende a utilização do método indutivo-dedutivo, que, para ele, é o verdadeiro método científico, partindo do empírico e confrontando com as teorias e generalizações. Defende que os fatos econômicos devem ser estudados com os mesmos métodos das ciências naturais, ou seja, caso a caso. Segundo Kropótkine, o historiador deve ser um agente político. Conforme o “cientista”, nas Histórias das revoluções escritas até aquele tempo, o que menos se vê é a participação do povo. Se por algum motivo, queira-se saber da participação do povo, seus projetos, suas ações, suas formas de organização e suas ideias, é necessário procurar nos documentos históricos.

3.4. Rudolf Rocker: a história como “vontade de potência”.

Rudolf Rocker nasceu em 1873 na Alemanha, e faleceu em 1958 nos E.U.A.; é reconhecido como historiador e ativista anarquista. Contribuiu muito para o pensamento anarquista do século XX, publicando mais de 30 obras. Sua principal obra é, sem dúvida, “Nacionalismo e Cultura”, obra em que assinala que o nacionalismo moderno é uma ruptura no processo geral da cultural. O primeiro capítulo desta obra, que será analisada a seguir, chama-se “La insuficiência del materialismo econômico” ou “A insuficiência de todas as interpretações históricas”, em algumas traduções. Rudolf Rocker acredita que seja impossível analisar a história com métodos científicos. (ROCKER, 2007)

Rocker escreve que o reconhecimento da significação das condições econômicas na conformação da sociedade é a essência do socialismo. (Idem) Para abordar as interpretações Históricas do marxismo, Rudolff Rocker diz que o erro fundamental da teoria marxista é equiparar as causas dos fenômenos sociais às causas dos fenômenos físicos. (Ibidem:02) Para ele, quanto mais profundamente se examina as influências políticas na história, mais se chega à convicção de que a “vontade de poder” tem sido, até agora, um dos estímulos no desenvolvimento das formas de sociedade humana. (Ibidem:01)

O historiador anarquista escreve que a ciência se ocupa exclusivamente dos fenômenos naturais, que está ligada ao tempo e espaço, sendo acessíveis aos cálculos do intelecto humano. (Ibidem: 02) Ele diz que grande parte das interpretações históricas se baseiam nesta noção errada das leis da existência e que estão na base de todo acontecimento social. Em outras palavras: porque confundieron las necesidades mecánicas del desarrollo natural con las intenciones y los propósitos de los hombres, que han de valorarse simplemente como resultados de sus pensamientos y de su voluntad. (Idem)

O historiador afirma que não nega a existência na História de relações internas que se pode atribuir à noção de causa e efeito, mas se trata de processos sociais, sempre de uma causalidade de fins humanos. As causalidades de natureza físicas se desenvolvem independentes do nosso consentimento; as causalidades históricas são manifestações de nossa vontade. (ROCKER, 2007) Toda finalidade humana preestabelecida é uma questão de fé, e escapa ao calculo cientifico. Assim, Rudolf Rocker diz que: En el reino de los hechos físicos sólo rige el debe ocurrir, en el reino de la fe, de la creencia, existe sólo la probabilidad: puede ser, pero no es forzoso que ocurra. (Idem)

Para ele, toda tentativa de previsão humana, de uma finalidade, é para a existência social de grande importância, porém deve deixar de considerar os acontecimentos sociais como manifestações forçosas de uma evolução naturalmente necessária. Semelhante interpretação tem levado aos piores sofismas e levado à perda total de todo verdadeiro entendimento da história. (Idem) Rudolf Rocker escreve sobre a incapacidade de prever os acontecimentos na história, a partir dos motivos e das causas:

Para el cálculo de motivos y propósitos humanos no hay ninguna medida exacta, porque no son accesibles, de ninguna manera al cálculo. Es imposible calcular y predecir el destino de pueblos, razas, naciones y otras agrupaciones sociales; ni siquiera nos es dado encontrar una explicación completa de todo lo acontecido. (Ibidem:04)

A definição de história, pelo historiador anarquista Rudolff Rocker, é a seguinte: La historia no es otra cosa que el gran dominio de los propósitos humanos; por eso toda interpretación histórica es sólo una cuestión de creencia, lo que, en el mejor de los casos, puede basarse en probabilidades, pero nunca tiene de su parte la seguridad inconmovible. (Idem) O escritor diz que toda interpretação da História pode conter ideias importantes para a explicação dos fatos históricos, isto é inquestionável, porém afirma que só não concorda com a afirmação de que a “marcha” da história esteja sujeita às mesmas e idênticas leis dos conhecimentos mecânicos e físicos da natureza. (Idem) Para ele, não existem leis na História, esta é sua afirmação categórica: No hay ninguna ley en la Historia que muestre el camino de cualquier actuación social del hombre. (Idem) As causas que originam os processos da vida social não têm nada de comum com as leis do devir natural físico e mecânico, pois estas causas são resultado das tendências finalistas dos homens, e que não se deixam explicar de modo puramente científico. (ROCKER, 2007)

Qualquer pessoa que pense de forma mediana sabe que é impossível conhecer um período histórico sem levar em consideração suas condições econômicas. Porém, é completamente equivocado querer que toda a história seja unicamente resultado das condições econômicas. (Idem) Sendo contrário ao monocausalismo econômico, Rudolf Rocker defende uma concepção pluricausal, ou multicausal:

Todos os fenómenos sociales se producen por una serie de motivos diversos que, en la mayoría de los casos, están entrelazados de tal modo, que no es posible delimitarlos concretamente. Se trata siempre de efectos de múltiples causas, que pueden reconocerse claramente, pero que no se pueden calcular de acuerdo con métodos científicos. (Ibidem:06)

O historiador anarquista destaca que a “vontade de poder”, que parte sempre de indivíduos ou de pequenas minorias da sociedade, é uma das forças motriz mais importante da história, porém que tem importância decisiva na formação da vida econômica e social inteira. (Idem) É um erro muito grave para os historiadores, quando os diversos estratos sociais de uma determinada época, são reduzidos a uma relação econômica, e completa: Una interpretación tal no sólo empequeñece el campo general de visión del investigador, sino que hace de la Historia entera una caricatura que ha de conducir siempre a nuevos sofismas. (Ibidem: 09)

Rudolf Rocker diz que as condições econômicas, por si só, não podem modificar toda uma estrutura social, se não existirem nos homens as condições psicológicas e espirituais que deem sentido e agrupem as forças sociais dispersas para uma obra comum. (Ibidem: 10) Segundo ele, todos sabem que as questões econômicas têm muita influência na transformação das condições sociais, mas é muito mais importante saber o modo como os seres humanos reagem, em seu pensamento e ação, sobre a influência e os passos que dão no sentido de implantar uma transformação na vida social considerada necessária. (Ibidem: 13) Para destacar o estudo dos fatores subjetivos na história, ele escreve: El valor y la cobardía no son determinados por las formas eventuales de la producción, sino que arraigan en los estratos psíquicos del hombre. (ROCKER, 2007)

Ao estudar as relações de poder, Rudolf Rocker destaca que é necessário analisar a “política de domínio”, sem se importar por quem esta seja movida e nem a que finalidade imediata sirva. (Ibidem: 16) Para o historiador, que escreveu este texto em 1937, o estudo da “vontade de poder” ou “política de domínio”, pode ser um instrumento para a interpretação da história, e assim completa: El triunfo o el fracaso de los planes de dominio capitalista-monopolistas determinará la nueva estructuración de la vida social en el próximo futuro. (Ibidem: 18)

Portanto, para Rudolf Rocker, o reconhecimento da importância do fator econômico é a essência do socialismo, porém não justifica o reducionismo e o determinismo econômico. Diz que não existe possibilidade do uso do método científico das ciências naturais para a interpretação da história. Para ele, não existem leis históricas, mas acredita no regime de causalidade. As causas em história são manifestações das vontades humanas. Acredita que seja interessante a busca por “previsão” na história. Escreve que, no máximo, pode-se falar em probabilidades em História, nunca em certezas. Defende a ideia de que, em história, não existe um mecanismo monocausal, mas sim pluricausal. O historiador acredita que a “vontade de poder” é um grande estimulador do desenvolvimento das formações sociais. Para ele, minorias, muitas vezes organizadas, possuem importância decisiva na formação da vida econômica e social de dadas sociedades. A “vontade de poder” ou a “política do domínio” deveriam ser mais bem estudadas na História, pois estas forças é que disputam e são deveras responsáveis pelas representações e construções sociais que existem. Rudolf Rocker, fazendo alusão às atividades políticas revolucionárias, diz que não são as condições econômicas que produzem o covarde.

  1. Conclusão

As discussões propostas por Proudhon em relação à história estão de acordo com o historicismo e o empirismo positivista e da Escola Metódica, na medida em que ele não pretende criar uma teoria que explique toda a história, mas um “método que detecta o movimento da história”. Pretende deixar de lado toda metafísica, a filosofia da história, porém o que mais vemos em suas obras são citações de historiadores românticos, como Michelet. As contradições aparecem, e o autor não as nega, uma vez que ele afirma o movimento teleológico da história, representado na continuidade da ruptura. Para ele, os fenômenos desenvolvem-se em unidades arranjadas de forma sistêmica, onde cada parte mantém relativa ou total autonomia em relação ao todo. Defende as particularidades na história, o empírico, e que não há determinismo na história. Para Proudhon, a História é uma narrativa lógica, cronológica e que é utilizada de forma político-ideológica, funcionando com o auxílio de “ciências auxiliares”, que, para ele, seria a economia política. O modelo de ciência, segundo ele, era a ciência natural; por isso, Proudhon não admitia que a História produzisse leis, portanto a História não seria ciência. Proudhon discutia com Marx a questão da constituição de “Ciências Sociais”. Marx buscava a construção de uma teoria, não pelo método empírico, mas pelo dedutivo. Proudhon acreditava que a constituição de teorias, principalmente se não fossem fundamentadas em experiências, seria a intromissão da filosofia e da ideologia na ciência. Em uma carta em resposta a Marx, Proudhon escreve: (…) faço profissão pública de um antidogmatismo econômico quase absoluto. Se o senhor quiser, investiguemos juntos as leis da sociedade. (…) Mas, por Deus! Depois de demolir todos os dogmatismos a priori, não sonhemos, de nossa parte, com a doutrinação do povo. (RESENDE, 1986: 20) Proudhon dizia que não é o econômico que determina a sociedade, mas a sociedade (conjunto de vários fatores) que produz a economia. Ele morreu dois anos antes da publicação de O Capital.

Bakunin tenta “desvendar” o processo histórico, descrevendo sobre “estágios” ou “etapas” da história da humanidade. Proclama-se materialista, e escreve sobre as crenças, as concepções ideológicas e filosóficas dos seres humanos na história. É um iluminista, acreditando na razão e na ideia de progresso e evolução. Possui uma concepção metafísica da história, deixando transparecer que existe um “objetivo”, um destino já traçado na história. Michael Bakunin desconfia do passado e possui fé no futuro. Defende uma ruptura com o passado, que o devir histórico é contra a história. Ele acredita que seria possível uma História ciência com suas leis correspondentes. A História científica, para Bakunin, não estudaria os indivíduos, mas somente os grandes grupos e classes. Teria como tarefa iluminar o caminho para libertação da sociedade e dos seres humanos. Bakunin afirma que existe algo exterior aos homens que condiciona o rumo da história; porém, ele acrescenta que a história é feita pelos homens, condicionados, que fecundam os elementos latentes do devir histórico. Ele possui uma concepção metafísica, hipotético-dedutiva e teórica para o estabelecimento da História ciência. Não se pode deixar de considerar que o texto de Bakunin é incompleto, foi interrompido. Sua análise histórica é muito fraca, metafísica, filosófica e muito idealista. Destaca-se que, no período em que ele escreveu seu texto, alguns historiadores já estavam procurando a constituição da história como ciência social, com suas teorias próprias e independentes. Ele procurou fazer o contraponto ideológico à produção de Marx, que escreveu sua tese fundamentando-se na economia política, enquanto Bakunin, embora se afirmando materialista, produziu o que hoje se chama “história das mentalidades”.

No inicio do século XX, antes da Primeira Guerra e da Revolução Russa, Kropótkine, também em oposição ao marxismo, diz que, entre os avanços da ciência, está a interpretação antropológica da história. Ele acredita que o evolucionismo confere cientificidade à História. Defende a utilização do método indutivo-dedutivo no estudo da História, que, para ele, é o verdadeiro método científico, partindo do empírico e confrontando com as teorias e generalizações antropológicas. Defende que os fatos econômicos devem ser estudados com os mesmos métodos das ciências naturais, ou seja, caso a caso. Defende também que o historiador deve ter compromisso político. Na historiografia das revoluções escritas, até aquele momento o que menos se vê é a participação do povo. Para saber da participação do povo na história, seus projetos, suas ações, suas formas de organização, lutas e ideias, é necessário procurar nos documentos históricos. Kropótkine pensava de acordo com os historiadores de seu tempo – procuravam uma história social, onde aparecesse a participação do povo. Defende uma concepção de história científica aliada às ciências sociais, principalmente a antropologia. Buscava provar que a “ajuda mútua” era o fator determinante no processo histórico, que conduzia a sociedade para o “reino” da igualdade e da liberdade. Apesar disso, no caso da História especificamente, foi bem coerente em termos teóricos e metodológicos.

O historiador Rudolf Rocker afirma que reconhecer a importância do fator econômico é a essência do socialismo, mas isso não justifica o reducionismo nem o determinismo econômico. Para ele, não existe possibilidade do uso do método científico das ciências naturais para a interpretação da história. Ele escreve que não existem leis históricas, todavia acredita no regime de causalidade. As causas em história são manifestações das vontades humanas. Não acredita em leis históricas, embora considere que, no máximo, seja possível falar em probabilidades em História, nunca em certezas. É contra a tese de um mecanismo monocausal, defendendo, sim, o pluricausal. Para Rudolf Rocker, a “vontade de poder” é um grande estimulador do desenvolvimento das formações sociais. As minorias, muitas vezes organizadas, possuem importância decisiva na formação da vida econômica e social de dadas sociedades. Os historiadores deveriam estudar mais a “vontade de poder” ou a “política do domínio”. Rudolf Rocker parece não estar acompanhando as transformações historiográficas que passam a surgir a partir da Escola dos Annales. O modelo de ciência que os historiadores vêm tomando desde o início do século não é o das ciências naturais e nomotéticas, mas as ciências sociais que vêm se desenvolvendo. Sua crítica ao determinismo econômico propõe uma historiografia contraria ao marxismo-leninismo. Em sua principal obra, denominada “Nacionalismo e Cultural”, aborda questões caras ao socialismo, como o Estado e o nacionalismo. O estudo de sua prática historiográfica merece mais dedicação nos termos da metodologia e da historiografia. A princípio, o que pôde ser observado é que, neste capítulo sobre metodologia da história escrito por ele, não exclui o político da história como faz a Escola dos Annales.

Resumindo: o único que apresenta um pensamento destoante é Bakunin. Ele se difere dos outros anarquistas por acreditar em um “destino na história”, na razão iluminista e na ciência. Defende que o principal fator determinante na história é o fator econômico, aposta na constituição da “Ciência histórica” e que sejam criadas leis históricas. O método de Bakunin é hipotético-dedutivo (metafísico). Proudhon, querendo criar um método e defendendo o empirismo, criou uma teoria. Kropótine misturou “ciência” e ideologia (filosofia), contudo foi capaz de formular orientação mais coerente para a prática historiográfica, para a construção do saber histórico ao relacionar a história com a antropologia. O único problema nas discussões de Rudolf Rocker é o fato de ele considerar somente o modelo das ciências naturais como sendo o verdadeiro método científico.

Considerando as observações acima, o pensamento anarquista em relação à história apresenta algumas características: a aposta na concepção de que os homens possuem autonomia relativa perante o devir; que a história é uma construção a partir da disputa de vários projetos e de diversos agentes sociais; que não existe determinismo; que existe uma continuidade de rupturas; que as causas em história são de caráter humano e social; que não existe um mecanismo monocausal, mas sim pluricausal e que não existem leis, em história. A história existe em diálogo com as ciências sociais. Os anarquistas defendem em primeiro lugar o estudo do empírico, as particularidades, individualidades e especificidades, articulando, estas, ao global e geral, à unidade e à teoria. No campo temático, os anarquistas em estudo apostam na história das ideias e mentalidades, uma história social da cultural.

A questão fundamental, para os tempos atuais, é que os projetos sociais de igualdade e liberdade não dependem da vontade da ciência. A ciência não tem vontade. As ideologias sim, estas podem construir, de acordo com as condições reais, seus projetos de socialismo e liberdade. A História pode contribuir, na construção dos discursos de identidade, nas memórias de lutas, no estudo dos processos reais, para a construção dos programas revolucionários. A busca do sentido que defende Dosse pode estar na possibilidade de trabalhar com a pluralidade serial, respeitando as particularidades e articulando de forma federativa e libertária os saberes e poderes em “combates pela história”.]

Anderson Romário Pereira Corrêa, em Anarkismo.net

  1. Bibliografia

BAKUNIN, Michael Alexandrovich. 1814 – 1876. Textos Anarquistas. Seleção e notas de Daniel Guérin. Porto Alegre: L&PM, 1999.

BAKUNIN, Mikhail. Deus e o Estado. http://www.culturabrasil.org/deuseoestado.html.26/06/20…10:25

COLLIOT-THÉLÈNE, Catherine. Max Weber e a história. São Paulo: Brasiliense, 1995.

DOSSE, François. A História em migalhas: dos Annales à Nova História. Tradução Dulce Oliveira Amarante dos Santos; revisão técnica José Leonardo do Nascimento. Bauru, SP: EDUSC, 2003.
GURVITCH, Georges. Proudhon e Marx. Biblioteca de textos universitários. 2ª Edição. Editorial Presença/Martins Fontes.s.d.

KROPÓTKINE, Peter. A Questão Social: O humanismo libertário em face da ciência. Rio de Janeiro, Ed. Mundo Livre. s/d.

MONGE, Rodrigo Quesada. Utopia y anarquia em el discurso historiográfico contemporâneo. Escaner Cultural. Santiago de Chile. Revista Virtual. Ano 8. Número 82, Abril de 2006. http://www.escaner.cl/escaner82/perfiles.html. 25/06/2008. 11:05.

REIS, José Carlos. Da “história global” à “história em migalhas”: o que se ganha, o que se perde? In: Questões de teoria e metodologia da história. Porto Alegre: Ed.Universidade/UFRGS, 2000.

REIS, José Carlos. A história entre a filosofia e a ciência. São Paulo. Ática, 1996
RESENDE, Paulo-Edgar e Edson Passeti. Pierre-Joseph Proudhon:Política. São Paulo. Ed. Ática, 1986.

ROCKER, Rudolff. La insuficiência de todas las interpretaciones históricas. In: Nacionalismo e Cultara.1ªEd.Londres, 1937. 1ª Ed. Cibernética, março de 2007. http://es.wikipedia.org/wiki/Rudolf_Rocker

WOODCOCK, George. História das idéias e movimentos anarquistas –v.2, O movimento. Porto Alegre, L&PM, 2002.

Obs.:Artigo integrante dos instrumentos avaliativos utilizados pelo Prof. Dr. Arno Alvarez Kern durante o Seminário: “Debates teóricos do tempo presente sobre a epistemologia do passado: teorias da história e da arqueologia.”. Mestrado em História – PUCRS.2008.

Publicado primeiramente no:

http://www.estrategiaeanalise.com.br/ler02.php?idsecao=…b2308

http://andersonpereiracorrea.blogspot.com/

Related Link: http://andersonpereiracorrea.blogspot.com/search?update…ts=19

Nota

[1] Durante as programações da I Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre, foi lançado o livro “A História por Anarquistas”. Com apresentação de Felipe Corrêa, que escreveu sobre o anarquismo contemporâneo/ a história para os anarquistas/ teoria e método de análise; O primeiro capitulo foi escrito por Bruno Lima Rocha, com o capitulo “organização política Anarquista e Democracia de Base Libertária. Bruno desenvolve seus argumentos “com exemplos e debates de fundo histórico e sob a perspectiva do anarquismo de matriz especifista.” O texto a seguir é o segundo capitulo “A História na Visão de Anarquistas”, de autoria de Anderson Romário Pereira Corrêa.

“Que espaço sobrou para uma política dos trabalhadores na democracia moderna?”

Marx
Wikipédia

[O último sábado foi o bicentenário de Karl Marx. É uma oportunidade para discutir a relação do pensamento de Marx com o maior partido de esquerda da história do Brasil, o Partido dos Trabalhadores. [1]

Há um trabalho interessantíssimo de história intelectual ainda a ser escrito mostrando a influência de autores marxistas heterodoxos e pós-marxistas sobre o PT. Eurocomunistas gramscianos, autonomistas adeptos das ideias do grupo francês “Socialisme ou Barbarie” (socialismo ou barbárie), admiradores dos “operaistas” italianos, todos tinham em comum características que marcaram muito a experiência petista: a preferência pelos movimentos de base, em vez das vanguardas teóricas leninistas, e a recusa do economicismo característico do marxismo ortodoxo. A crítica ao leninismo era um retorno a Marx. A crítica do economicismo era uma correção feita ao velho comuna.

O artesanato ideológico envolvido na construção de um partido tão heterogêneo foi difícil, mas produziu um resultado muito positivo: o PT não apoiou o totalitarismo soviético. Quando Gorbachev, em 1991, sofreu um golpe da velha guarda comunista, a Folha publicou, na página 3, dois artigos: o do presidente do PCdoB, João Amazonas, tinha o título “Uma Notícia Alvissareira”. Pelo lado do PT, o petista José Genoino defendia o processo de democratização e se opunha ao golpe. O PT ficou do lado certo.

Mas a independência do PT frente ao socialismo real teve ao menos duas consequências ruins.

Em primeiro lugar, desobrigou o PT de fazer a autocrítica que o PCB, por exemplo, não conseguiu evitar. Embora não apoiasse os outros regimes do socialismo real, o PT apoiava o castrismo. Eventualmente, a “exceção” que era o apoio ao regime cubano abriu as portas para o apoio ao regime chavista, a maior culpa da história do Partido dos Trabalhadores. Diferentemente de várias outras, ela é explicável exclusivamente por defeitos do próprio PT.

Em segundo lugar, as ideias marxistas heterodoxas ou pós-marxistas que influenciaram o PT tinham também seus problemas. O marxismo ortodoxo é, como se sabe, bastante economicista (e o próprio Marx gostava bastante de economia). Na reação a isso, os marxistas ocidentais produziram análises que enfatizavam a importância da política e da cultura na vida social. Grandes obras foram escritas sob essa perspectiva, mas a nova esquerda passou a ter um déficit de reflexão econômica do qual o PT até hoje se ressente.

Mas o principal interesse da história petista para a reflexão do bicentenário é outra. O PT, até mais do que os partidos de esquerda do primeiro mundo, tem que resolver, na prática, questões que estão no centro da discussão do bicentenário.

O PT, bem mais que os outros partidos de esquerda brasileiros, continua sendo o partido dos sindicatos. O que fazer com essa herança? Como organizar uma classe trabalhadora que não é mais a da indústria fordista? Que espaço para a política sobrou agora que a produção é global? Como garantir que a automação gere tempo livre e não miséria? Que espaço sobrou para uma política “dos trabalhadores” na democracia moderna?

Essa questão é especialmente importante porque, desde que as formas anteriores de política dos trabalhadores entraram em crise, a democracia moderna não anda lá muito bem. Nem a nossa nem nenhuma.]

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Nota

[1] Este texto foi capturado da Folha de São Paulo publicado no site   IHU/Unisinos – “O PT no bicentenário de Marx,

[“O principal interesse da história petista para a reflexão do bicentenário de Marx é que o PT, até mais do que os partidos de esquerda do primeiro mundo, tem que resolver, na prática, questões que estão no centro da discussão do bicentenário. O PT, bem mais que os outros partidos de esquerda brasileiros, continua sendo o partido dos sindicatos. O que fazer com essa herança? Como organizar uma classe trabalhadora que não é mais a da indústria fordista? Que espaço para a política sobrou agora que a produção é global? Como garantir que a automação gere tempo livre e não miséria? Que espaço sobrou para uma política “dos trabalhadores” na democracia moderna?”, questiona Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, em artigo publicado por Folha de S. Paulo, 07-05-2018.]