Não já ingenuidade nas fake news; apenas interesses desonestos

Ehfaklsidade
Reprodução/internet

O mundo parece estar vivendo um grande impasse com a proliferação daquilo que atualmente chamamos de fake news, ou seja, das notícias e informações falsas (ou parcialmente falsas) que se proliferam pelas redes sociais e por sites blogues.

Uma das vítimas das fake são as ciências.

Segundo Anna Carla Goldberg, do hospital israelita de São Paulo, “a divulgação de notícias falsas na área é ainda mais grave, porque há um descrédito geral no potencial de ajuda e de desenvolvimento que a ciência traz para a população”.

Para o jornalista Marcos Pivetta, editor de ciência da Revista Pesquisa Fapesp, o leitor deve, ao se deparar com uma informação qualquer, buscar checar se a informação é correta ou não e descobrir em que a instituição um pesquisador, por exemplo, atua e se há registro de que realmente a informação proceda.

A sugestão de Pivetta propõe um caminho árduo ao leitor comum, aquele que, por exemplo, não é cientista (seja de que área for) e não tem porque e nem como aprofundar esse tipo de pesquisa.

Anna Carla não abre sequer uma sugestão de como o consumidor de informação deva proceder.

O uso do fake news (das notícias e informações falsas) guarda alguma lógica, algumas delas de mercado, outras de política e ideológica e outras tantas visando desestabilizar grupos sociais, sociedades inteiras e até mesmo de países.

As saídas, difíceis de serem encontradas – é verdade, de combate as notícias falsas, no entanto, não passam pelo acomodamento expresso acima, tanto por Anna quanto por Pivetta.

É necessário, isso sim, fazer muito mais do que nisso, e não apenar educando e esclarecendo as pessoas sobre os perigos que representam as notícias e as informações falsas, como, igualmente, usando de meios coercitivos às praticas, mesmo que isso, em algum momento, possa parecer autoritarismo e cerceamento de liberdades.

Trata-se de um risco que a sociedade e os governos devem e têm de correr.

Márcio Tadeu dos Santos

Estratégia pune o PT mais uma vez

Abogado
Advogado argentino que supostamente ia entregar um terço abençoado pelo papa a Lula – http://www.jb.com.br

Essa história de o papa Francisco ter enviado um  terço para Lula a Curitiba foi, desde o começo, uma história mal contada e que acabou como (mais um) um enorme vexame do Partido dos Trabalhadores, pego este na mentira.

O interlocutor, um advogado argentino, de pronto já não inspirava a menor confiança, mas não se pode culpar a sua nacionalidade, como fez a Vera Magalhães, da Jovem Pan, pela falseta.

Dificilmente o Vaticano correria o risco de confrontar as leis brasileiras embarcando nessa história irreal de que Lula é um “preso político”.

Se assim fizesse, o Vaticano correria sério risco de desgastar ainda mais o já combalido catolicismo e se chocaria com o Estado brasileiro.

Por que iria o Vaticano iniciar uma guerrinha  com o Estado brasileiro? Com que propósito?

Nas muitas diversas vezes em que dirigi redações de jornais e de agências de notícias sempre defendi que nós jornalistas não poderíamos ser ingênuos e deveríamos ser bastante bem informados, bem acima da média do população, para não cairmos nas armadilhas que a informação e as notícias nos preparam.

Sei, obviamente, que a massa de fanáticos petistas foi estimulada pelos  veículos de informação do PT, alguns deles com ares de independência, o que, obviamente, não é o caso.

A ideia era uma só: pegar um aventureiro qualquer,  que se dispusesse a praticar a armação, e, assim, difundir ao máximo a historieta  junto à massa fanática de petistas, que não se vexaria a dar amplitude à mentira, até porque esse tipo de gente, dogmática, acredita nas coisas mais bizarras e estranhas que saem “das bocas petistas”,  não se importando, nem um pouco, em checar a origem da informação.

Mas ocorre que mesmo nesses casos, a mídia petista deveria ter um mínimo de responsabilidade para não alimentar esse tipo de farsa (fake, factóide), até porque esse tipo de mentira é facilmente desmascarada, o que apenas contribui para a desmoralização do PT.

Costumo repetir em várias de minha postagem que “o PT já foi melhor do que isso”.

Mas também entendo (embora isso não se justifique) que a ideia do PT é salvar a “honra” de Luiz Inácio Lula da Silva e atacar (demonizar) a do juiz Sérgio Moro.

Ocorre, no entanto, ser fácil perceber quem está goleando quem nessa guerra bizarra e sem sentido.

Márcio Tadeu dos Santos

Onde estávamos enquanto a ditadura nos matava?

Bolsobra
Reprodução

Os veículos de comunicação e a academia estão correndo para ajustar a nossa história após a revelação da CIA (a agência norte-americana) dando conta de que Ernesto Geisel não apenas estava ciente como ainda autorizava a morte de opositores ao “regime”.

Estava essa gente aonde, pois no quarto livro (“ditaduras”) de Elio Gaspari a informação já estava contida.

Mais desatentos ainda estão alguns (supostos) esquerdistas que esperam vivamente ansiosos para o tempo em que a CIA irá revelar o que eles chamam de golpe que levou Lula à prisão em Curitiba.

Trata-se de uma espera no mínimo esdrúxula, pois não são esses mesmos (supostos) esquerdistas quem denunciam as tramóias (seriam golpes ou fraudes também?) da CIA “contra os interesses nacionais” (sic).

Não devemos, no entanto, nos vexar com essas contradições todas, até porque tanto os meios de comunicação quanto a academia são bastante preguiçosas, ao ponto de sempre esperarem por alguém que lhes derrube no colo algumas informações relevantes, capazes de alterar os rumos dos acontecimentos históricos.

Mas aqui vamos, igualmente, reservar um cantinho para as nossas próprias benevolências, lembrando que sempre soubemos, embora não tivéssemos provas, de que a ditadura não apenas estava ciente como autorizava as matanças e as torturas.

Quem mais faria isso?

Éramos meio avoantes, ou como diria minha mãe, andávamos no mundo da lua (portanto, bem antes dos americanos), mas ninguém poderia nos chamar de ingênuos e de desinformados.

Para ficar na mesma história, desde sempre sabíamos das operações da marinha norte-americana na costa brasileira, dando apoio explícito à ditadura militar, e pronta (a marinha norte-americana) para entrar em ação a qualquer momento.

Nos ofendiam vivamente, dizendo que éramos comunistas (veja como o mundo dá voltas para cair sempre no mesmo lugar comum!) e antiamericanos (sic).

Realmente não tínhamos provas da presença da marinha dos EUA, como não tínhamos provas das autorizações de matanças e torturas, mas ninguém poderia nos chamar de ingênuos e de desinformados.

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Os usos que damos às palavras e às expressões em nosso dia a dia

LulaCah
MTS sobre foto alterada

O jornalista Wiliam Waack, em seu Painel WW , disse, ontem, que os únicos dois heróis brasileiros são o juiz Sergio Moro e a cabo Kátia da Silva Sastre, que em frente a uma escola em Suzano (SP) reagiu a um assalto e matou o bandido.

WW costumeiramente é associado à direita brasileira, coisa da qual divirjo, preferido entende-lo como um cara liberal, tanto nos costumes quanto em economia.

Porém, não prezo o discurso de WW sobre Sérgio Moro e discordo da maneira como Kátia Sastre agiu, assim como discordo das homenagens prestadas pelo senhor governador de São Paulo, Márcio França, à PM.

Sobre Mouro pairam sérias dúvidas a respeito de sua conduta supostamente partidária, coisa que vem se espraiando para o exterior e até mesmo provocando uma tímida desconfiança no próprio país em gente que o apoiava abertamente.

Com a homenagem à PM, o governador paulista sinaliza um aval tanto para as ações tresloucadas e inumanas da polícia militar, quanto para que cada vez mais nos armemos, o que seguramente trata-se de um perigo, posto que, armados, podemos usar a arma em qualquer situação, inclusive em acidentes banais como os de trânsito, por exemplo.

Amigo de WW, a quem diz respeitar muito e o chama de “o maior jornalista brasileiro” vivo, Reinaldo Azevedo abre uma discussão interessante sobre o uso que a ex-presidente Dilma Rousseff, para a BBC de Londres, fez da palavra “reconstrução”: “Preso ou solto, condenado ou absolvido, Lula será necessariamente uma presença na reconstrução do Brasil”.

RA diz que o Brasil não está destruído – “ainda” – e que portando o uso correto seria “construir” – no sentido “de ajudar a”, “de ir em frente”, “ir à diante”.

Paralelamente, no entanto, RA caiu naquilo que chamo de “facilismo” ao dizer que “O Brasil ainda não está destruído, o que não quer dizer que não possamos chegar lá”.

Por mim, o uso da expressão “chegar lá” soa indevida e, igualmente, execrável, pois não sei ao certo se nos esforçamos ou queremos nos esforçar para “chegar a algum lugar” e muito menos se devemos “chegar a algum lugar”.

Talvez RA não queira, de um lado, afirmar que o PT destruiu o Pais (o que derrubaria parte de sua tese em defesa de Lula e contra as arbitrariedades supostamente cometidas por Moro) e de outro deixaria, ele que tanto defende o atual presidente, Temer montado em um perfil de incompetência, incapaz de “dar contra do recado” – continuando nesse linguajar popularesco usado pelo jornalista.

Seja tudo isso o que for, é sempre bom deixarmos nossos preconceitos de lado e prestarmos um pouco de atenção ao que falam esses jornalistas tidos como de direita.

“Kotodama” – o espirito das palavras

Kodama
Teoria da Conspiração

[Kotodama, do japonês, literalmente, “espírito da palavra”, mais comumente traduzido como “poder da palavra”, é conhecido popularmente como a crença japonesa no poder das palavras, que pode alterar ambientes, afetar objetos e todo aquele hocus pocus que vocês já devem estar acostumados…

Que as palavras têm poder, nós já iremos chegar lá, mas vejamos os kanji, primeiro:

Imagen 01

Quanto a “gen”, o seu significado é o de palavra oral.

O processo de formação dos kanji é muito interessante. Basicamente, há kanji que são chamados de ‘básicos’ ou ‘originários’, os quais serão utilizados como radicais na composição de kanji mais complexos. Dessa forma, “kuchi”, que significa “boca”, é um desses, vejam só:

Imagem 02

Muito parecido com a parte inferior do kanjigen”, certo? Errado! Eles são exatamente o mesmo! Agora vocês perguntam: “o que são aqueles ‘risquinhos’ ali em cima”? Oras, o que vocês acham que são?

Sim, os japoneses são nerds e já sabiam física há milhares de anos atrás. Os risquinhos nada mais são do que a representação das ondas sonoras, a verbalização da palavra.  Basta procurar qualquer dicionário pictográfico de kanji. Eles explicam como é que os kanji se formaram a partir de imagens que ilustram o sentido da palavra.

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Para os que ainda desconfiam que “gen” significa a palavra verbalizada, tal kanji é usado como radical na composição da (e de várias outras) palavra “go”, que significa “idioma” ou “língua” (no sentido de ‘language’).

Já “rei”, o significado é “espírito”, “fantasma”, “alma penada”. Contudo, não podemos confundir com “tamashii”, cujo kanji é diferente e cujo significado é “alma”, “espírito”. Explico: enquanto “tamashii” significa a alma humana, “rei” é a essência espiritual propriamente dita.

Só para vocês terem uma idéia de como o buraco é mais embaixo, o kanjitamashii” também é pronunciado como “kon”, que é um dos quatro elementos do xintoísmo. “Kon”, no shinto, também é chamado de “waketama”, ou seja, “almas separadas individualmente”, outra forma de dizer “crianças do kami”, ou seja, nós, os seres humanos. A alma (kon) é chamada dessa forma (waketama) porque ela é composta de quatro partes, quais sejam, “aramitama”, ou a coragem, “nigimitama”, ou a amizade, “sachimitama”, ou o amor, e “kushimitama”, ou a sabedoria.

É óbvio que o significado de cada uma dessas palavras é muito mais complexo e intrínseco, mas essa explicação fica para outra oportunidade…

Voltando ao significado de “rei”, que é o que importa nesse momento, no shinto, “rei” é outro dos quatro elementos.

Podemos associar “kon” ao intelecto que só os seres humanos possuem (a alma intelectiva de São Tomás de Aquino) e ao plano mental, enquanto “rei” é a manifestação do espírito e corresponde ao plano espiritual.

Após esse breve estudo etimológico, podemos finalmente conceituar Kotodama como a arte de animar através da verbalização da palavra.

Aoi Kuwan , para Teoria da Conspiração.

Como a mídia alinhada ao PT irá sobreviver após outubro?

Peao

Minha curiosidade é saber o que irá acontecer com as “mídias” alinhadas ao PT (e às esquerdas, naturalmente) após as eleições gerais de outubro deste ano.

Pode ser que elas resistam mais um pouco, até novembro, quando ocorrerá o segundo turno, mas a tendência é de fragmentação, com a possível e esperada derrota do Partido dos Trabalhadores, ainda mais se sabendo, já de antemão (a não ser que aconteça algum surpreendente fato novo), que Luís Inácio Lula da Silva estará impedido de concorrer, e dificilmente outro candidato petista terá sustância e estofo para aguentar a corrida eleitoral.

Aliás, diante dessa indefinição toda Lula parece pender para uma solução não muito ao gosto da militância, qual seja, Ciro Gomes.

Seja o que for que saia da eleição presidencial de outubro/novembro (creio que dificilmente alguém vencerá no primeiro turno) estarão, assim, abertas três possibilidades para as mídias (ainda) alinhadas ao PT:

– manter-se alinhada, já que muitas são petistas mesmo e não devem abrir mão de continuar na militância;

– fazer uma transição (que por ora não acontece) para um avaliação/reavaliação do modus operandi do petismo em seus quatro governos, mas mantendo um certo recato em apoiar abertamente um governo, mesmo que seja de centro ou até de centro–esquerda.

– fazer uma reversão total no sentido de uma oposição ferrenha, de negação, como muita gente vem ensaiando quando o partido, já cambaleante, ainda mantem uma sobrevida.

Da mesma forma que muitos “petistas de carteirinha” vieram, na verdade, do tucanato, e alguns apoiaram Collor e até mesmo a ditadura militar, eles não se vexarão de dar uma meia volta, passando a desqualificar o petismo, alinhando-se às ferozes criticas ao partido, coisa que está muito próxima de acontecer.

by Marcio Tadeu dos Santos

“Pesquisa: notícias falsas circulam 70% mais do que as verdadeiras na internet”

Nota falsa
Uma mensagem falsa tem 70% mais chances de ser retransmitida (Reuters/Kacper Pempel)

[Notícias consideradas falsas se espalham mais facilmente na internet do que textos verdadeiros. A conclusão foi de um estudo realizado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), instituição de ensino reconhecida mundialmente pela qualidade de cursos de ciências exatas e de áreas vinculadas à tecnologia.

Os pesquisadores Soroush Vosoughi, Deb Roy e Sinan Aral analisaram 126 mil mensagens (não apenas notícias jornalísticas) divulgadas na rede social Twitter entre 2006 e 2017. No total, 3 milhões de pessoas publicaram ou compartilharam essas histórias 4,5 milhões de vezes. O caráter verdadeiro ou falso dos conteúdos foi definido a partir de análises realizadas por seis instituições profissionais de checagem de fatos.

Os autores estimaram que uma mensagem falsa tem 70% mais chances de ser retransmitida (retuitada, no jargão da rede social) do que uma verdadeira. As principais mensagens falsas analisadas chegaram a ser disseminadas com profundidade oito vezes maior do que as verdadeiras. O conceito de profundidade foi usado pelos autores para medir a difusão por meio dos retuítes (quando um usuário compartilha aquela publicação em sua rede).

O alcance também é maior. Enquanto os conteúdos verdadeiros em geral chegam a 1.000 pessoas, as principais mensagens falsas são lidas por até 100.000 pessoas. Esse aspecto faz com que a própria dinâmica de “viralização” seja mais potente, uma vez que a difusão é “pessoa a pessoa”, e não por meio de menos fontes com mais seguidores (como matérias verdadeiras de contas de grandes veículos na Internet).

Motivos

Os pesquisadores investigaram o perfil dos usuários para saber se estaria aí o motivo do problema. Mas, para sua própria surpresa, descobriram que os promotores desses conteúdos não são aqueles com maior número de seguidores ou mais ativos. Ao contrário, em geral são pessoas com menos seguidores, que seguem menos pessoas, com pouca frequência no uso e com menos tempo na rede social.

Uma explicação apresentada no estudo seria a novidade das mensagens. As publicações falsas mais compartilhadas eram mais recentes do que as verdadeiras. Outra motivação destacada pelos autores foi a reação emocional provocada pelas mensagens. Analisando uma amostra de tuítes, perceberam que elas geravam mais sentimentos de surpresa e desgosto, enquanto os conteúdos verdadeiros inspiravam tristeza e confiança.
Política no centro

A pesquisa também examinou a disseminação por assunto. As mensagens sobre política circulam mais e mais rapidamente que as de outras temáticas. Esses tipos de conteúdos obtiveram um alto alcance (mais de 20 mil pessoas) três vezes mais rápido que as publicações de outros assuntos. Também ganharam visibilidade os tuítes sobre as chamadas “lendas urbanas” e sobre ciência.

“Conteúdos falsos circularam significantemente mais rapidamente, mais longe e mais profundamente do que os verdadeiros em todas as categorias de informação. E esses efeitos foram mais presentes nas notícias falsas sobre política do que naquelas sobre terrorismo, desastres naturais, lendas urbanas e finanças”, constaram os autores.

Robôs

Os autores também examinaram a participação de robôs (bots, no jargão utilizado por especialistas) na disseminação dessas notícias. Diferentemente de teses apresentadas em outros estudos, os robôs avaliados compartilharam mensagens falsas e verdadeiras com a mesma intensidade. “Notícias falsas se espalham mais do que as corretas porque humanos, e não robôs, são mais suscetíveis a divulgá-las”, sugere o artigo.]

Jonas Valente – Repórter da Agência Brasil, Edição: Fernando Fraga para Agência Brasil

As famílias são cercadas de mentiras, de invenções e de distorções da realidade

FLONA de Ipanema
Fotografo Osvaldo Cristo – Acervo Floresta Nacional de Ipanema – http://www.ipero.sp.gov.br/floresta-nacional-de-ipanema/

Meu pai deveria ter lutado na segunda guerra mundial com a FEB (a Força Expedicionária Brasileira), mas não lutou.

Conta a lenda familiar que um sujeito graduado, dentro do exército, o protegeu, impedindo-o que fosse ao front, pois seria amigo de meu avô, o seu pai, obviamente.

As famílias sempre são cheias de histórias sem sentido e de um bocado de invencionice

Do lado de minha mãe era certo que meu avô materno, ou seja, o pai dela, tivesse nascido na Itália. Conta-se, em família, que ele teria vindo para cá com dois anos e depois teria voltado, sem os pais e sem os irmãos, à Itália aos 18 anos.

Eles eram paupérrimos, gente tosca e de pouca instrução. Com que dinheiro ele, meu avô, iria voltar para Itália, para em seguida mudar de ideia e voltar ao Brasil aos 19 anos, como também se conta?

De meu pai, do tempo do exército, diz-se que ele “serviu” por longos cinco anos, exatamente por conta da guerra, mas que teria passado boa parte desse tempo preso, pois bebia um bocado.

A história das bebedeiras até faz sentido e não é de todo mentirosa, já que ele próprio reconhece que gostava da “marvada”. Já fazendo as contas da guerra, essa conta não fecha.

Meu pai nasceu em 1924 e alistou-se (sabe-se lá por que, já que ele era primogênito, e portanto não teria a obrigação de alistar-se) com 18 anos, o que quer dizer que chegamos ao ano de 1942.

Ora , a segunda guerra mundial começou de 1939 e estendeu-se até 1945. Então, por que cargas d’água meu pai ficaria até 1947 servindo a pátria amada, idolatrada, salve, salve?

História mal contada esta.

Há outro problema aí. Minha mãe e ele teriam namorado (segundo essas mesmas ilibadas fontes familiares) por 5 anos. Eles se casaram em 1948 e eu nasci em 1949 – acho que eles estavam com pressa.

Retrocedendo de 1948, eles teriam começado o namoro em 1943.

Essa versão sobre o tempo de namoro não veio no chip dos registros familiares.

Família é um troço difícil. Elas sempre têm um bocado de histórias para contar, histórias de difícil checagem.

Mas voltando à história de meu avô materno, aquele que teria nascido na Itália, a história absolutamente não faz sentido.

Ela nasceu num lugarejo chamado Ipanema, nas proximidades de Sorocaba, hoje município de Iperó.

Quem nasceu na Itália (segundo os registros), em Rimini, na região da Emília-Romanha, foi o seu pai, que se casou, pouco antes de vir para o Brasil, com uma também italiana.

Ipanema

Aproveitando o ensejo, falo abaixo da floresta nacional de Ipanema, citando de passagem o site da prefeitura de Iperó :

Floresta Nacional de Ipanema – berço da siderurgia americana

A Floresta Nacional de Ipanema, que ocupa uma área da antiga Fazenda Ipanema, em Iperó, foi criada em 20 de maio de 1992 e abriga os remanescentes da primeira siderúrgica americana. Jazidas de ferro foram encontradas no morro Araçoiaba há cerca de 428 anos. A Flona de Ipanema é um dos maiores ecossistemas de Mata Atlântica existentes hoje no Brasil. As atividades relacionadas ao ferro naquela região, desde o século XVI, contribuíram para a origem de várias cidades da região de Sorocaba e o desenvolvimento do Brasil.

O morro Araçoiaba

O morro Araçoiaba (Ybiraçoiaba na escrita primitiva) é comumente chamado “morro de Ipanema”, mesmo nome do rio cujas “águas ruins” eram utilizadas na indústria de ferro. Os indígenas e, posteriormente, os bandeirantes, notaram que o sol se punha atrás daquela cadeia de montanhas. É possível perceber isso, por exemplo, quando passamos pela estrada Iperó-Sorocaba num fim de tarde. Foi assim que adotaram o nome Araçoiaba, significando “coberta do dia”, “esconderijo do sol”. Alguns escritores também se referem ao conjunto de montanhas como sendo o “cerro Araçoiaba” ou, incorretamente, como “serra Araçoiaba”.

A Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema

Após tentativas fracassadas entre os séculos XVI e XVIII, o maior esforço a fim de se implantar definitivamente uma siderúrgica em Ipanema surgiu no início do século XIX, quando o ministro Conde de Linhares ordenou o reinício das explorações no morro Araçoiaba. Com a chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, Linhares autorizou a fundação de duas fábricas de ferro: uma em Minas Gerais e outra em Ipanema. O principal objetivo era libertar Portugal da dependência da indústria estrangeira.

Frederico Guilherme de Varnhagen (que servia o exército português) foi trazido da Europa e o conselheiro Martim Francisco ficou encarregado de demarcar a área para os trabalhos de mineração, além de fazer estudos relacionados à instalação e operação da fábrica de ferro. A fábrica de Ipanema foi reconstruída e em 4 de dezembro de 1810 nasceu a Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema, ratificando o pioneirismo da siderurgia no Brasil e na América Latina. Mas ao invés de Varnhagen, foi contratado o sueco Carl Gustav Hedberg para dirigir o empreendimento.

Uma época de esplendor era sonhada pelos idealizadores. Engano. A Suécia não enviou técnicos verdadeiros, mas sim pessoas que se envolveram em desvios de materiais, dinheiro e diversos escândalos. Hedberg trouxe uma colônia de operários e construiu as forjas suecas para o tratamento do ferro, mas era um sistema precário que só preparava o metal para a fabricação de pequenos instrumentos de lavoura. Esse sistema não funcionava para a fundição de peças que exigiam grande resistência.

Hedberg ocupou o cargo entre 1810 e 1814, gastou mais de 8 mil contos de réis e produziu apenas 14,7 toneladas de ferro, enquanto a fábrica havia sido projetada para produzir 588 toneladas. Ele foi o responsável pela construção da represa no rio Ipanema, primeiro rio brasileiro a ser represado. Mas foi demitido devido aos problemas em sua administração. Varnhagen substituiu Hedberg e construiu os altos-fornos através dos quais fundiu três cruzes em 1 de Novembro de 1818, comprovando o êxito da manipulação do ferro. Uma está na sede da Floresta Nacional de Ipanema, outra no morro Araçoiaba e a última no Zoológico Municipal Quinzinho de Barros em Sorocaba.

Para recompensar esses serviços, Dom João VI elevou Varnhagen ao posto de coronel. Em 1821, devido a desentendimentos de ordem ideológica, Varnhagen pediu demissão, utilizando-se do pretexto de ter a necessidade de voltar à Europa para educar o filho. O Conselho Administrativo pediu a Varnhagen que indicasse um oficial para substituí-lo. Dois nomes foram indicados, mas não aceitos pelo Conselho. Voltando para a Europa, Varnhagen levou o filho (futuro Visconde de Porto Seguro) em sua companhia. A fábrica iniciou um processo de decadência, até que em 1834 o brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, presidente da Província de São Paulo, nomeou o major João Blóem como diretor da fábrica.

Blóem trouxe da Europa uma colônia alemã que prestou serviços e deu grande impulso à fabricação de ferro em Ipanema. Mas em 1842, quando parecia começar uma nova era de prosperidade, uma crise política paralisou a fábrica mais uma vez. Com o início da Revolução Liberal de Sorocaba, em maio, Blóem apoiou os rebeldes chefiados pelo brigadeiro Tobias e não impediu a retirada de três canhões que haviam sido fundidos em Ipanema. Os canhões foram levados a Sorocaba pelos envolvidos na revolução e dois deles se encontram até hoje na praça Arthur Fajardo ou “Praça do Canhão”, local onde foram posicionados originalmente. Dessa forma, Blóem foi preso por ordem do Duque de Caxias e destituído do cargo de diretor. A fábrica caiu em abandono novamente.

O capitão Antonio Ribeiro de Escobar foi nomeado diretor interino. Em 2 de novembro de 1842 foi nomeado o tenente-coronel Antônio Manuel de Melo de forma efetiva, que não conseguiu impedir a decadência do local. Ficou durante três anos no cargo. Os 20 anos seguintes, entre 1845 e 1865, foram de declínio ainda maior. Cinco diretores passaram por Ipanema nesse período, sendo o Barão de Itapicuru, o major Joaquim José de Oliveira, o general Ricardo José Gomes Jardim, o major Francisco Antonio Raposo e o tenente Francisco Antonio Dias.

Para complicar a situação, em 1860 a fábrica foi dissolvida e o governo ordenou que se fundasse outra no Mato Grosso. Para lá foram enviados os técnicos, os oficiais e os escravos, ficando em Ipanema apenas alguns funcionários mais velhos. Não era conhecida a existência de minério de qualidade no Mato Grosso. Tanto que, após cinco anos de pesquisas sem sucesso, não houve descoberta e nem a fundação da outra fábrica. Parte dos equipamentos que seriam transportados de Ipanema ao Mato Grosso ficaram pelo caminho e, por fim, muitos se enferrujaram em Santos.

Veio a guerra do Paraguai em 1865 e o plano da mudança foi abandonado de vez. Havia a necessidade de se colocar o maquinário em funcionamento com urgência para produzir material bélico. Essa foi a época em que Ipanema mais produziu ferro. O capitão de engenheiros Joaquim de Sousa Mursa, posteriormente promovido a coronel, foi nomeado para o cargo de diretor em 6 de setembro de 1865. Aos poucos ele conseguiu recompor o estabelecimento, onde permaneceu até 1890. Para ilustrar o prestígio que a fábrica conseguiu durante a administração de Mursa, basta citar que a primeira locomotiva da Estrada de Ferro Sorocabana, quando inaugurada a 10 de julho de 1875, recebeu o nome de “Ipanema”.

Em 1895, já sob o governo republicano, as atividades siderúrgicas foram definitivamente encerradas. A fábrica foi fechada oficialmente pelo presidente Hermes da Fonseca, conforme o Decreto nº 9.757, de 12 de setembro de 1912.

Ipanema após o fim da Real Fábrica de Ferro

Em 1895 a propriedade foi transferida para o Ministério da Guerra e se transformou em quartel e depósito. A partir de 1926 foi iniciada a exploração de apatita no morro, perdurando até 1943. Na década de 1950 iniciou-se a exploração de calcário para produção de cimento, cujas atividades foram encerradas no fim da década de 1970.

Toda a área de Ipanema foi transferida para o Ministério da Agricultura em 1937 e o Centro de Ensaios e Treinamento de Ipanema (CETI/CENTRI) iniciou os estudos com sementes e máquinas agrícolas. O Centro Nacional de Engenharia Agrícola (CENEA) foi criado em 1975 e deu continuidade às atividades do CETI/CENTRI, sendo desativado no início da década de 1990 durante o governo Collor.

Em meados da década de 1980, mesmo sob protestos em toda a região, a Marinha do Brasil instalou um centro de pesquisas em parte das terras da “Fazenda Ipanema”, visando o desenvolvimento de reatores para o submarino nuclear. O CTMSP – ARAMAR foi inaugurado em 4 de abril de 1988 e continua desenvolvendo as atividades. Numa área ao lado de ARAMAR será construído o Reator Multripropósito Brasileiro (RMB), que é a mais importante iniciativa para a pesquisa nuclear no Brasil atualmente e permitirá o desenvolvimento de novos radiofármacos. Os investimentos brasileiros na área nuclear permitirão ainda que o RMB seja o núcleo de um novo grande centro de pesquisa e desenvolvimento.

Ainda em 1988 foi apresentada a proposta para se criar uma estação ecológica, por iniciativa do Ministério da Agricultura, numa área de 2.450 hectares ao longo do morro Araçoiaba. Quatro anos depois, em 16 de maio de 1992, parte da área foi ocupada pelo “Movimento dos sem terra”.

Visando a preservação de todo o complexo (fauna, flora e remanescentes históricos), a Floresta Nacional de Ipanema foi criada quatro dias depois da ocupação pelo MST, em 20 de maio de 1992, numa área delimitada em 5.069,73 hectares. A administração passou para o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA). A partir de 2007, com a criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Flona de Ipanema e todas as unidades de conservação federais passaram a ser administradas pelo órgão.

Da fase siderúrgica de Ipanema restam hoje alguns monumentos restaurados, como a Casa de Armas Brancas, o casarão da sede, a serraria, o portão homenageando a maioridade de Dom Pedro II, as primeiras cruzes fundidas em 1818, o monumento a Francisco Varnhagen e os fornos de Frederico Varnhagen e Joaquim Mursa. Em contrapartida, ainda há prédios que precisam de recuperação.

Para mais informações sobre a Flona de Ipanema acesse www.cidadedeipero.com.br/ipanema.html

Em tempo: meu avô ou meu bisavô paterno teria(m) trabalhado na siderúrgica, o que também é informação bastante duvidosa (que eu vou checar em outros tempos).

O jornalismo e as armadilhas das críticas gratuitas e de pouca profundidade

Desculpem-me falar na primeira pessoa mas logo aqui abaixo vocês vão saber por quê. Mas é justo que se peça, nesse caso, desculpas antecipadas.

Nunca fui o que se chama de jornalista generalista, daquele tipo que fala de tudo um pouco, sem me fixar ou me especializar numa ou em poucas editorias.

No meu caso preferi apenas (isso é algo generalista, é verdade) me fixar em direitos humanos e, também, em ciência  e tecnologia.

Passei , é verdade também, brevemente pela editoria de economia e como não poderia deixar de ser (até porque inescapável) pela política.

Como se vê economia e política, em meu caso, foram espécies de subtemas, ou se subárea de apoio, mas bastante importantes por serem, como se disse acima, inescapáveis.

Há quem já tenha dito, como boa dose de razão, que jornalista não é notícia, e eu levei essa história ao pé da letra.

Num mundo de egos inflados (egoico), como este em que vivemos, não é de se estranhar, no entanto, que jornalistas deixem o noticiário de lado para eles ou elas próprios/as se transformar em notícia.

Como já se disse (como se verá abaixo, em matéria do Diário do Centro do Mundo) esse tipo de profissional se transforma numa subcelebridade, da qual daqui a alguns anos – ou menos – ninguém irá mais se lembrar do que tenha feito de tão notável.

Grosso modo, a matéria do DCM está correta, embora o alerta (se é que se tratou de um alerta) seja inútil, posto que (se falando apenas de jornalismo e de jornalistas) está é uma história que irá se repetir a miúde daqui para frente.

O que me espanta, no entanto, é o caráter agressivo da matéria.  Não seria e não deveria ser para tanto. Pode-se até criticar o jornalista pela superexibição ao qual se submeteu, mas de uma maneira mais amena e educada, sem que se socorra de escorregões que beiram à grosseria.

De outro lado, também,  pode-se entender o texto do DCM como uma espécie de despeito, no vulgar, de dor-de-cotovelo: porque ele e não eu?

O campo da crítica, especialmente da crítica mais contundente, é um terreno perigoso, pantanoso, pedregoso que nos empurra (quase sempre) para que produzamos  textos rasos, de pouca profundidade; quando não, descontrolados e até mesmo provincianos, se é que se possa usar esta palavra por aqui.

Mas como o prometido acima (embora se mantenha a lincagem para a matéria também acima) reproduzo abaixo o texto do DCM na íntegra, como também o  uso da foto e da legenda tal qual usadas pelo DCM.

“O casamento de César Tralli e o narcisismo doentio que transforma jornalistas em subcelebridades. Por Kiko Nogueira”

Trali
César Tralli e Ticiane Pinheiro estão casados

[César Tralli é um resumo do que pode almejar um jornalista da Globo: virar mais uma subcelebridade doente.

Tralli casa com quem quiser, quando e como quiser, evidentemente.

Mas fica para os anais da psiquiatria, do narcisismo e da cretinice a necessidade de transformar o próprio casamento com uma moça chamada Ticiane Pinheiro em manchete.

Além da imprensa de fofocas falando de cada bocó presente, o casal colocou tudo em suas redes sociais. A festa aconteceu num hotel em Campos do Jordão para 250 convidados.

Rafaela, a filha de Ticiane com Roberto Justus, seu primeiro marido, foi dama de honra. Entre os “famosos” estavam Rodrigo Bocardi (?!?), Márcio Canutto, Gloria Vanique, Ana Hickmann, Otávio Mesquita, César Filho, Sabrina Sato.

A cobertura da imprensa foi ampla. O G1, da Globo, destacou — atenção — “o clima intimista da festa”. É inacreditável.

O apresentador do SPTV não perdeu tempo: no dia seguinte, já postou no Instagram um vídeo em que ele e a noiva recebem os anéis da menina Rafaela em frente ao padre e ele cai no choro.

“Aguenta coração. É muito amor por essa daminha. E pela mãe dela, agora minha esposa. Enfim, casados”, escreveu na legenda.

É obrigatório soar como um idiota? É para agradar a “audiência”?

Onde é que esse pessoal está com a cabeça? Em que momento passou a ser normal e desejável tornar público cada aspecto de sua vida?

Ele vai colocar fotos da noite de núpcias no Facebook? Teremos detalhes do acordo pré-nupcial? A separação vai ser televisionada?

Um mestre, falecido, gostava de repetir que “jornalista não é notícia”. César Tralli é a falência do jornalismo.

Seu público não será capaz de lembrar-se de uma única matéria relevante que ele tenha feito, um furo que tenha dado, uma análise interessante.

Mas ninguém vai esquecer do casamento de Tralli com uma moça chamada Ticiane, que ele fez questão de expor em redes sociais histericamente, como um subproduto de A Fazenda — e que durou menos de seis meses. ]