“O anarquismo é o caminho que a humanidade deve transitar para não se autodestruir”

[“Anarquista é, por definição, aquele que não quer estar oprimido e não quer ser opressor; aquele que quer o máximo bem estar, a máxima liberdade, o máximo desenvolvimento possível para todos os seres humanos”. Errico Malatesta

Anarco
Docente de sociologia da Universidade Nacional de Rosário, Carlos Solero

Os chamam utópicos, mas isso não representa freio algum para deixar de enriquecer o sonho de uma sociedade livre, sem autoridade, baseada na ajuda mútua e na cooperação voluntária.

O anarquismo argentino contou com grandes escritores, como José Ingenieros, Rodolfo González Pacheco, Teodoro Antilli, Emilio López Arango, com excelentes poetas, como Alberto Ghiraldo e Herminia Brumana. Todos eles não descansaram tratando de compartilhar a chave da consciência liberadora.

A Fora (Federação Obreira Regional Argentina) soube ter seu grande momento na organização sindical de nosso país. A mesma sofreu repressões sangrentas conhecidas como “La Semana e Patagonia Trágica”, dali emergiria a figura do “vindicador” Simón Radowitzky. Outra figura, mais controvertida e de ação direta, foi sem dúvida Severino Di Giovanni, alguém a que Osvaldo Bayer, outra grande referência, soube imortalizar em livros e na tevê.

Mas não vamos nos estender em demasia, já que o anarquismo é tão amplo que seria insultante tratar de colocá-lo em um só informe. Por isso mesmo “Conclusión” dialogou com o licenciado em ciências políticas e professor de sociologia Carlos Solero, alguém que abraça fortemente as ideias anarquistas.

“Em uma sociedade onde reina o egoísmo e a propriedade privada é considerada sacrossanta, falar de anarquismo tem uma base sólida em poder estabelecer acordos mútuos”, sustentou.

Pensar em uma sociedade onde os laços se estendam de maneira horizontal, nos mostraria um horizonte transformador. Mas, como levá-lo adiante ante a consolidação do Capital e do Estado que o protege?

“É sabido que não há muita permeabilidade na sociedade, pelo antes mencionado, devemos seguir através de todos os meios de divulgação elevando nossas ideias. As brechas sociais nos encontraram levando adiante nosso ideário, mais precisamente nas ruas, histórico refúgio de nossas lutas”, indicou Solero.

O sistema capitalista vive em um colapso quase permanente, sobre isto disse, “se bem não podemos ser otimistas, se o podemos ser em médio prazo, já que este sistema sempre vai se encarregar de mostrar-nos suas misérias. A nós cabe construir vínculos no cotidiano, sempre existirão revoltas onde possamos mover-nos com mais desenvoltura que em outros momentos”.

O parlamentarismo e essa velha discussão, “o parlamentarismo não modifica nem altera o sistema na propriedade, nem na autoridade. Ou seja, o mesmo te mantém na obediência e na submissão, o povo acredita que deve depositar sua vida naqueles que dizem ser “seus representantes”, quando na realidade não é assim. É uma maneira que busca ser cordial para poder legalizar a exploração”, enfatizou o professor universitário.

Capital e Estado, ambos se dão as mãos segundo o olhar de Carlos Solero, “um não existe sem o outro, o Capital necessita do Estado. Há um pensador contemporâneo que define o Estado como bárbaro, sustenta que se manifesta só de duas formas, como socialdemocrata e totalitário. Em essência são o mesmo, são duas formas de dominação, nós sabemos que sempre que haja criação de valor, vai existir exploração e dominação, por isso combatemos contra todos eles integralmente. Não se trata de um governo ou outro, é o Estado, primeiro como máquina de guerra em defesa do Capital, e segundo pela captação de subjetividade na hora de obter votantes”.

Para conseguir certo conforto, ou dar-se alguns gostinhos, o ser humano deve entregar longas jornadas de sua vida. Isto sem sombra de dúvidas o conduz infalivelmente a conviver com uma espinhosa contradição.

O rol da esquerda parlamentar

Solero nisto não faz rodeios e a define como a “esquerda do Capital”. Algo que gera debates virulentos com aqueles que consideram que através do parlamentarismo se pode transformar a realidade dos explorados.

“Com a esquerda no poder, em suma se poderia aspirar a uma socialdemocracia. Esta poderá ter muita força nas ruas, mas não passará nunca de ser uma minoria lúcida, já que passaria a fazer parte do sistema”, destacou.

O licenciado em ciências políticas insiste com a socialdemocracia, “o mais parecido a isto foi sem dúvida Lula da Silva no Brasil e a Frente Ampla do Uruguai, sem esquecer a anterior do Chile e o regime venezuelano”.

Quando se consulta por Chiapas no México, e o Curdistão como possíveis construções anarquistas aferradas ao separatismo, é categórico: “Não creio que o Curdistão tenha nada disso, é um tema mais complexo que se dá em uma zona do mundo muito particular. Com respeito ao do México, podem existir alguns municípios autônomos que poderiam ser de alguma referência, não assim o neozapatismo que optou pela via eleitoral. O anarquismo tem sua essência nas revoltas permanentes, é o caminho que a humanidade deve transitar para não se autodestruir”, concluiu.]

Por Alejandro Maidana

Fonte: http://www.conclusion.com.ar/info-general/el-anarquismo-é-el-caminho-que-la-humanidade-debe-transitar-para-não-autodestruirse/01/2018/

Tradução: Sol de Abril

In Agência de Noticias Anarquistas (ANA)

Conteúdo relacionado:

https://noticiasanarquistas.noblogs.org/post/2017/07/12/argentina-apresentacao-do-livro-escrito-y-reflexiones-contra-teclado-do-anarquista-carlos-solero/

É ingenuidade pensar que nesta semana tem outra coisa senão o julgamento do Lula

Lulalah
De esquerda? Quem? Eu?

Mas tenho algumas sugestões-alternativas. A morte da bezerra, por exemplo. Ou o flamejante início dos campeonatos estaduais em todo o Brasil – por que não? Ou, quem sabe, o sexo dos anjos ou a virgindade de Maria – não pode ser não?

Obviamente que ao contrário daquilo que dizem petistas e lulistas (existem diferenças entre eles sim) e simpáticos outros esquerdistas o mundo todo não está de olho no julgamento do dia 24, nem para cá virão miríades de chefes de estado, de sindicalistas importantes (sic) e de intelectuais e artistas badalados.

Isso tudo não passa de um enorme exagero, e como todo exagero há aí um bocado de alucinação.

Mas é correto dizer, porém, que para nós é o acontecimento mais importante das últimas décadas, se ombreando ao suicídio de Vargas e ao golpe militar de 1º de abril de 1964.

Estou exagerando?

Estou não!

Como costumo dizer por aqui e alhures, gostemos ou não de Lula e do PT ambos são as “coisas” mais importantes que aconteceram no país desde há muito e muito anos, quer dizer, há décadas.

É pouco provável que Lula seja o “maior estadista” que o Brasil já teve, ou que pelo menos Lula seja apenas um estadista, como defendem, irrefletidamente, lulistas e petistas.

Mas vá lá! Um exagerozinho aqui e acolá não fara mal a ninguém, até porque ninguém leva esse tipo de exagero a sério mesmo, nem os próprios exagerados.

Com o julgamento, em segunda instancia, lá em Porto Alegre (acho que POA é um bocado mais importante que o tribunal onde Lula será julgado, então a identificação fica com a capital gaúcha mesmo), mas voltando, com o julgamento de Lula lá em Porto Alegre estão em jogo varias coisas, algumas delas a morte precipitada de Lula e o fim do PT.

Nada disso vai acontecer: nem Lula vai morrer, ao contrário, vai permanecer na ativa, e nem o PT vai acabar.

Em tese Fernando Haddad, que coordenará a campanha de Lula à presidência, em 2018, tem um pouco de razão – apenas um pouco: as esquerdas deverão se repensar a partir de agora.

Na verdade já deveriam ter começado esse repensar há um bocado de tempo.

Estão demorando muito!

Outra coisa que se coloca a partir do julgamento é que sem Lula (trata-se de uma possibilidade, enfim) o PT perde força (o que é razoável pensar), abrindo espaço para uma eventual candidatura de direita (dita reacionária).

Não vai acontecer nada disso!

O máximo que pode ocorrer é um fortalecimento do tucanato, com (quem sabe, se sobreviver, o que não é muito provável) Geraldo Alckmin.

E para acabar, segundo ainda petistas e as esquerdas em geral, a justiça brasileira sairá arranhada do episódio.

Mais ou menos!

A justiça (com o inestimável apoio da Polícia Federal) realmente promoveu algumas conduções coercitivas desnecessárias, arbitrárias e espetaculosas, e, além disso, teve (a justiça, em primeira instância) reformadas várias de suas sentenças, e até alguma delas anuladas ou invertidas.

Mas falar que a justiça (eu detesto a justiça) brasileira terá uma espécie de crise de identidade após o julgamento do Lula é pura alucinação.

Enfim, como no caso do Lula e do PT, goste-se ou não do julgamento não se tem outra coisa para se discutir por aqui.

Então vá relaxando e se aquietando por aí que o mundo não terminará esta semana.

Leia também:

‘Com ou sem Lula, a esquerda terá de se repensar’, diz Haddad – O Estado de São Paulo

O plano do Agora para chegar ao poder: “Queremos influenciar os partidos, mas ficar livres” – El País

Como se perdeu a fórmula do starlite, material que supostamente resistiria até à bomba nuclear – BBC Brasil

Da Roma Antiga ao século 20, violência foi fator-chave para reduzir desigualdade, diz historiador –  BBC Brasil

Esquerda agoniza

“Todas as proclamações grandiloquentes dos líderes políticos e sindicais das esquerdas fracassaram. Aconteceu tudo o que se disse que não aconteceria. Não se viram trincheiras, nem exércitos e nem grandes paralisações, capazes de bloquear reformas nefastas. Parece ser necessário aterrissar e lidar com o senso de realidade. O ufanismo e o triunfalismo são os alimentos da indolência e da irresponsabilidade, coveiros das vitórias.”

Aldo Fornazieri, professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

“Esquerda e progresso são hoje coisas diferentes na América Latina”

GuiPartidos ligados à esquerda, na América Latina, inauguraram, de alguns anos a esta parte, uma espécie de nova “modalidade” de desenvolvimento que é antagônico ao progresso.

Eduardo Gudynas diz que há um conflito claro entre esquerdismo e progressismo, o que denota um caráter reacionário e arcaico da (suposta) esquerda.

[Nos últimos anos, a América Latina viu diversos de seus países serem governados por partidos progressistas e ligados à esquerda: o Partido dos Trabalhadores no Brasil, o kirchnerismo na Argentina, os bolivarianos na Bolívia, no Equador e na Venezuela, e a Frente Ampla, no Uruguai. Embora tenham suas raízes na esquerda, porém, esses governos “são um tipo de esquema político diferente da esquerda que lhes deu origem. Esquerda e progressismo são hoje, na América Latina, duas coisas diferentes”. Essa é a visão expressa pelo ambientalista e pesquisador uruguaio Eduardo Gudynas, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.

Gudynas, especialista em temas relacionados ao meio ambiente e desenvolvimento, afirma que os governos progressistas justificaram o processo de extração de recursos naturais na América Latina como “necessários para o progresso e para os planos de assistência social”, apesar de seus impactos ambientais. Segundo ele, “o progressismo está focado no crescimento econômico por meio de desenvolvimentos convencionais, tolera e encoraja empreendimentos de alto impacto como os extrativismos, e acredita que a pobreza se resolve pelo assistencialismo ou mais consumismo”.

Em sua avaliação, “a ideia do progressismo de se converter numa nova esquerda que fosse efetiva para proteger as classes populares e o meio ambiente não se concretizou”. Para ele, o Brasil, que “é o maior extrativista do continente”, está “muito atrasado” em comparação com os países vizinhos no debate sobre um modelo econômico alternativo.

Segundo ele, é preciso “uma autocrítica de vários dos meus amigos nas grandes ONGs que ficaram deslumbrados com o Brasil potência global e com as empresas campeãs nacionais. Estavam mais interessados em discutir questões sobre o papel do Brasil nos BRICS e eram mais frágeis na busca de alternativas à Vale e outras empresas mineradoras, ou para entender que a discussão sobre o pré-sal não era apenas sobre onde investir os royalties”.]

Leia a entrevista na integra com Eduardo Gudynas em IHU/Unisinos.

Leia também

Esquerda critica a Operação Lava Jato e instituições republicanas – só falta agora defender os bancos – Afalaire/IHU/Unisinos

O medo da terceirização é apenas medo de perda ou também é um bocado de desinformação? – Afalaire

Pobres estão mais conservadores e com mentalidade elitista, afirma Mano Brown IHU/Unisinos

Presença da indústria no PIB do Brasil regrediu ao estágio de 1910, diz ex-presidente do IPEA – Opera Mundi

Esquerda critica a Operação Lava Jato e instituições republicanas – só falta agora defender os bancos

GonlavesCritico da política primário-exportadora brasileira, que incentiva, através do desenvolvimento da pecuária e do agronegócio, os grandes gigantes econômicos, Reinaldo Gonçalves diz que “as operações Lava Jato e Carne Fraca, em sua ‘essência’, buscam atingir a ‘medula do sistema patrimonialista brasileiro’ e ‘combatem a mesma cadeia de corrupção que envolve agentes públicos (políticos, dirigentes e técnicos) e empresários (inclusive, os intermediários)”.

Gonçalves é formado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) e doutor em Letters and Social Sciences pela University of Reading, na Inglaterra.

Diante das crises econômica e política, avalia Gonçalves, o País e “as forças progressistas, em particular, pagam o preço de escolhas erradas, silêncios, covardias, ignorâncias, cumplicidades e corrupções”;

[Crítico da política primário-exportadora brasileira, que incentiva, através do desenvolvimento da pecuária e do agronegócio, os grandes gigantes econômicos, Gonçalves avalia que elas são a “expressão do fracasso do Brasil no século XXI” e frisa que, no país, “o tratamento preferencial para grandes grupos econômicos gera ineficiência sistêmica, corrupção e desigualdade de riqueza e renda”.

Diante das crises econômica e política, avalia, o país e “as forças progressistas, em particular, pagam o preço de escolhas erradas, silêncios, covardias, ignorâncias, cumplicidades e corrupções”, mas o “dado fático é que, no Brasil atualmente, a sociedade civil organizada é fraca, e não há partidos e dirigentes com um mínimo de legitimidade e capacidade para condução de um projeto alternativo”. a universidade, em contrapartida, critica, “está ocupada pela antirrepública”, e a “esquerda brasileira, dentro e fora das universidades, não tem mais propostas consistentes, está desorientada”. e alfineta: “parte da esquerda também foi contra o impedimento de Dilma, defende a Odebrecht, JBS etc. e critica a operação lava jato e as instituições republicanas. só falta defenderem os grandes bancos”.

O “foco da pouca potência das forças progressistas”, sugere, deveria ser o de “fortalecer as instituições republicanas, acabar com o foro privilegiado, promover reformas políticas que enfraqueçam as oligarquias partidárias, apoiar a legislação anticorrupção do MPF e defender as operações carne fraca, lava jato e outras do gênero. (…) precisamos da lava jato dos bancos, das empresas de telecomunicações, dos planos de saúde etc.”]

Leia a entrevista na íntegra em IHU/Unisinos.

Bobagem dizer que há desmonte da indústria nacional; o que há é muita corrupção

Carne Fraca
Site 237 / retirada do Facebook

Falando sozinha, a esquerda brasileira (sic) está (mais uma vez) se aproveitando (agora, mas há recorrências) da “carne fraca” para dizer que há uma tentativa de desmonte da indústria nacional em favorecimento da indústria norte-americana.

Engraçado que ninguém se lembra de falar em favorecimento(s) dos europeus, das asiáticas, dos mexicanos etc. e tal.

Trata-se, a rigor, de uma arrematada bobagem, esse perseguismo ou vitimismo (como queiram), que se repete ad nauseam: no petróleo, das empreiteiras, na indústria naval etc. e tal.

Tudo estaria liquidado para desespero dos brasileiros.

Obviamente que os malvados dos norte-americanos são os culpados de tudo isso.

Se alguém acredita num troço desses, acredita em qualquer coisa.

Há dois ou três anos – lembro – disse por aqui mesmo que a Lava Jato e as ações da Polícia Federal estavam apenas em seu inicio.

Disse que muita coisa viria pela frente e (particularmente) afirmei que estava pra mim claro que a onda havia nascido e se propagando (as chamadas holding) ainda nos anos 60, durante a ditadura militar, e que estavam a infestar as atividades produtivas brasileiras, à base da propinagem e da corrupção.

Lembrem-se que a Odebrecht – a mãe de todas as mães – expert em negócios de corrupção – tinha (e provavelmente ainda tenha) um departamento (uma diretoria) especializada em corrupção (exclusiva para o ilícito).

Confissão de culpa

O que essa gente que defende, sob a esfarrapada desculpa de enfrentar os “desmontes da indústria nacional“, é exatamente os corruptos, a corrupção e o ilícito.

Mas não seria, então, isso uma confissão de culpa?

Seria, não! É uma confissão de culpa. É um reconhecimento explicito do malfeito.

O que eles estão a fazer é afirmar com todas as letras e garranchos que há uma corrupção boa, a gerar emprego e renda para os trabalhadores e o empresariado, numa espécies de roda virtuosa.

A esquerda já foi melhor que isso, mais decente e menos cínica.

E.T. Um escândalo está abalando a Suécia neste momento, e também ligado à corrupçao.

Os valores são equivalente a 3,5 mil reais.

Dá pra comparar (embora seja corrupção também)?

Movimentos anticorrupção voltam às ruas e podem emplacar segundo impeachment

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O inconformismo está nas ruas; as esquerdas, nas janelas – apenas assistindo – foto Fenatracoop.

Os movimentos anticorrupção, que ocuparam as ruas e boa parte da mídia durante todo o ano passado e este, pelo menos até a queda de Dilma Rousseff, voltam à ativa hoje com as mesmas bandeiras, mas agora focados no congresso nacional.

Não se fala, pelo menos por enquanto, em impeachment do presidente Michel Temer, mas este deve ser um caminho natural a seguir-se ano que vem.

Não se sabe ainda se as concentrações de hoje serão enormes ou pelo menos grandes e significativas.

É provável que não, pois a jornada está só em seu começo e segue o mesmo script que levou à queda de Dilma Rousseff, dentro da lógica “devagar se vai ao longe, devagar eu chego lá” (Bicho do Mato / Jorge Ben Jor).

Parte do movimento chegou mesmo a flertar com a esquerda, convidando-a a participar das manifestações de hoje, o que causou um certo desconforto na outra face do movimento.

Alguns indivíduos, porém, que se entendem de esquerda, já disseram que vão sim participar do evento, como, por exemplo, o escritor Antônio Prata.

Os movimentos anticorrupção seguem a lógica do discurso moral e da arregimentação de pessoas (famílias inteiras) avessas a eventuais entreveros (violência) entre grupos sociais e com a polícia.

Tudo isso dá uma robustez ética e de segurança às pessoas.

As esquerdas ou aquelas pessoas e partidos que se entendem de esquerda não conseguiram entender até hoje que se trata de movimentos liberais (social e economicamente) que estão tão próximos dos radicalismos de direita (fascismo, nazismo, neonazismo) quanto a humanidade está de provar a existência ou não de Deus.

Ao não entender o que está acontecendo com a sociedade brasileira, as esquerdas deixaram livre o caminho para esses movimentos que se não são de direita ou neofascista (como prega a propaganda esquerdista) são adversários do petismo e dos discursos inclusivos de parte dos movimentos sociais, especialmente aqueles cooptados pelo Partido dos Trabalhadores, o PT.

Por enquanto, os liberais estão vencendo de goleada e já deixaram os 7 a 1 da Alemanha no chinelo.

A esquerda morreu então tratemos de enterrá-la

Crédito da foto: www.alunosonline.com.br
Crédito da foto: http://www.alunosonline.com.br

Ontem, ou no máximo anteontem, um desses sites internacionais de esquerda publicou um artigo com o título “a esquerda morreu! viva a esquerda”.

Trata-se da adaptação de uma velha saudação europeia ao novo rei que sucede ao morto ou ao deposto.

A saudação fazia sentido, já que havia um novo rei.

Para a esquerda não há alternativa. Ela morreu e está bem mortinha. Então tratemos de enterrá-la.

Partamos de princípios lógicos para entender isso.

Identificam-se como de esquerda:

– anarquistas;

– socialistas;

– comunistas.

Anarquistas nunca foram de esquerda – não defendem ideias igualitárias e nem se colocam na outra extremidade dos liberais. São comunitários e celulares, negam a lei, a ordem e o Estado burgueses, o que os coloca em choque com os comunistas.

Socialistas nunca foram de esquerda – aproximam-se dos liberais na defesa da propriedade e da empresa; e dos comunistas, na defesa do Estado como gestor da sociedade.

Comunistas, os de tradição marxista (parece que são os únicos que há), estes sim são de esquerda ao se colocarem no extremo oposto dos liberais no uso do Estado como fomentador de políticas públicas.

Se os socialistas agonizam há um século, perdidos entre se definir como de direita ou de esquerda, os comunistas/marxistas começaram a morrer com a violenta repressão imposta por Stalin, na União Soviética, o que levou ao surgimento do eurocomunismo revisionista e à sua derrocada final com a falência da utopia soviética.

Aos anarquistas resta-lhes o que sempre a sociedade lhes permitiu: lançar um olhar de desesperança a um mundo que não entendem e nem são por ele entendidos.

A tese

O historiador nipo-americano, Francis Fukuyama, estava correto (embora tenha renegado a ideia anos mais tarde) ao dizer que a história havia chegado ao fim, pois a luta de classes (tese de Marx) havia terminado.

De pronto, a tese de Fukuyama continha uma imprecisão e um exagero.

A história é o que construímos no nosso dia a dia, e não seria o fim do socialismo científico soviético, ou o fim da Idade Média, ou o fim do Império Romano ou das lutas tribais que colocaria ou colocará um fim no processo histórico.

A imprecisão está em não avaliar corretamente o fim da luta de classes, e não entender que é a partir de seu fim que a humanidade está construindo um novo ciclo histórico.

Conectando Belchior

O comunismo marxista não se deu conta (provavelmente por incapacidade de análise) da enorme ruptura na utopia igualitária provocada pela repressão stalinista; preferiu refutar e demonizar as teses de Fukuyama (sem lê-las, sem estudá-las e sem compreendê-las) e não conseguiu entender o que dizia o compositor e cantor brasileiro Belchior: “é você quem ama o passado e não vê que o novo sempre vem”.

A luta é outra

Desde meados do século 20, quando eclodiram as rebeliões juvenis, rebeliões que passaram para a história como movimento hippie e as revoltas de maio de 68 em Paris, e se disseminaram, em grandes escalas, as hoje conhecidas organizações sociais (OS) – ONG, Oscip, comunidades alternativas etc. –, que a luta de classes (tal qual entendeu Marx e tal qual entende a esquerda marxista) está superada.

A luta de classes, e aí Fukuyama tem carradas de razão, entre o pobre trabalhador despossuído e o empresário bem-sucedido, não apenas não mais existe como é absolutamente desnecessária.

A luta, desde há mais de 60, é pelo domínio do fazer por si, pelo domínio das coisas e pelo auto-reconhecimento e pela independência dos grupos sociais.

Ninguém mais se interessa por lutar por um empreguinho ou por um posto numa estrutura qualquer bancada pelo Estado (dentro ou na sua periferia).

A esquerda, hoje amorfa e sem ideias, não entendeu isso ainda, e teima em demonizar empresas e o capital, para, ato contínuo, aderir, se humilhar e sucumbir a eles, como se viu nesta Grande Terra de Tupã com o lulo-petismo.

Os comunistas não entenderam Fukuyama, não entenderam Belchior e não estão entendendo o que diz o papa Francisco, o Argentino.

A esquerda está atrapalhando; já morreu, então tratemos de enterrá-la.