As reações irracionais esperadas e costumeiras às falas de Fernando Haddad e Carmem Lúcia

Canibalismo
Democracia ou canibalismo (social) à brasileira? – ilustração: www2.uol.com.br

Tão logo escolhida para presidir o STF, a mineira Carmem Lúcia disse preferir ser chamada de presidentE, pois foi à escola e “gosta” da língua portuguesa. Pronto! Foi o que bastou para se desencadear uma série enorme de reações, como se a ministra não tivesse o direito de optar pela denominação, assim como Dilma Rousseff optou por ser chamada de presidentA.

Não custa lembrar que Dilma foi alvo de uma enxurrada de estupidez e de intolerâncias pelo fato de ter escolhido a forma feminina para identificar o seu “cargo”. Carmem Lúcia é vítima da mesma violência, só que agora com o sinal trocado.

Dos golpes

Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o prefeito petista da capital paulista, Fernando Haddad, questionou o uso da palavra “golpe” para identificar o processo de impeachment da presidente (petista) Dilma Rousseff – Golpe é uma palavra um pouco dura.

Já tem gente prometendo “rasgar o título de eleitor”, “desistir para sempre da política”, duvidando da veracidade da matéria do jornal paulista, que, aliás, além de publicar o texto, ainda disponibilizou o vídeo, na íntegra, da fala do prefeito paulistano, em sua homepage.

Das profundidades

Neste caso (como também no caso de Carmem Lúcia) creio que a maioria dos comentadores revoltados fez o que sempre costuma fazer: ouviu dizer ou viu (sic) apenas “o título” das matérias, sem se dar ao trabalho de ler os textos na íntegra, e, no caso de Haddad, sem assistir ao vídeo da entrevista disponibilizado pelo Estadão.

Mas nada disso impede que as pessoas externem “opiniões abalizadas” sobre cada um dos assuntos.

Isso é o que se costuma chamar por aqui de “profundidade de pires de xícara”.

Das democracias

O que se tem de concreto e de objetivo é que essa gente revoltada, além do precário conhecimento da língua, tem, igualmente, um desapreço profundo pela Democracia.

Democracia é um troço complicado de se respeitar e de se praticar, pois pressupõe não apenas uma obediência total ao pacto social, como, muito especialmente, um respeito radical aos modos ser e às escolhas de cada um dos cidadãos.

Mas preferimos outro caminho para sobreviver e defender nossas ideias: o canibalismo ou aquilo que se chama de canibalismo social.

Leia também

A grosseria gratuita de Carmen Lúcia. Por Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo).

DE NOVO! (Blog do Sírio).

Presidenta ou presidente (José Sarney, no site da Academia Brasileira de Letras).

Haddad: Golpe é uma palavra um pouco dura (Brasil 247).

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