“Mudanças na lógica da acumulação capitalista precisam de uma crítica a partir da periferia”

Miguez
Pablo Míguez – foto: Ricardo Machado – IHU

Destaque-se abaixo entrevista com Pablo Míguez [1] para a Revista IHU On-line, realizada por Vitor Necchi com tradução de Henrique Denis Lucas (“A apropriação privada do ‘general intelect’. As mudanças na lógica da acumulação capitalista precisam de uma crítica a partir da periferia. Entrevista especial com Pablo Míguez”).

[Ao destacar governos alinhados ao pensamento de esquerda na América Latina no século 20, o professor Pablo Míguez cita a Revolução Cubana, o governo de Allende e experiências mais localizadas, como a Revolução Sandinista, e avalia que as duas primeiras “conviveram com ditaduras militares no seu entorno e com o peso dos Estados Unidos apoiando-as politicamente”, enquanto as outras “perderam peso com a queda da União Soviética e a ascensão do neoliberalismo”. A partir dos anos 80, “com o conhecido retrocesso da ideologia esquerdista, após a queda do Muro de Berlim e o aparente sucesso do capitalismo como o único sistema econômico sustentável, a esquerda teve de esperar pela crise do neoliberalismo, no final dos anos 90, para ter opções reais de formar um governo novamente”.

No século 21, Míguez cita a chamada “nova esquerda latino-americana“: Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, e Kirchner, na Argentina, com “processos que se mantêm à esquerda do espectro ideológico, pela oposição às reformas neoliberais que os três países sofreram na década anterior”. Depois, em outro momento, Correa, no Equador, e Morales, na Bolívia. “Todas são experiências distintas, embora compartilhem de uma ideologia de redistribuição de renda e do reconhecimento de direitos a setores desfavorecidos, camponeses e indígenas”, observa. Aponta que esses governos tiveram, no início, grande apoio de movimentos sociais, mas, ao final do ciclo progressista, a adesão enfraqueceu devido aos próprios erros dos governos. “Depois de mais de uma década de governos progressistas, é inadmissível que o saldo seja um enfraquecimento do campo popular ao invés do seu fortalecimento”, destaca.

Após o fim do ciclo de governos progressistas, para Míguez, “há grande dificuldade em separar uma ideia de ‘esquerda’ dos processos estatais, corruptos e ineficientes, pensamentos que as direitas são responsáveis por difundir, baseadas em alguns fatos concretos, por mais que seja parte de um ataque ideológico por demais previsível”.

Mesmo com o enfraquecimento da esquerda, Míguez entende que ela “seguirá questionando as pessoas porque as desigualdades do capitalismo não param de crescer, e a crítica a partir da esquerda permite pelo menos compreender o sentido dos avanços dessas dinâmicas”. No contexto atual, entende que é uma oportunidade para o pensamento de esquerda “lançar novamente sua mensagem, não permanecendo imobilizado diante de um evidente avanço das novas direitas na América Latina”. No entanto, “será fundamental fazer uma autocrítica sobre os aspectos que foram funcionais para a reprodução da ordem e resistir às políticas mais agressivas contra o campo popular que surgiram no horizonte”.]

Veja a integra da entrevista em http://www.ihu.unisinos.br/579642-a-apropriacao-privada-do-general-intelect-as-mudancas-na-logica-da-acumulacao-capitalista-precisam-de-uma-critica-a-partir-da-periferia-entrevista-especial-com-pablo-miguez .

Nota

[1] Pablo Míguez é natural de Lanús, Província de Buenos Aires. Doutor em Ciências Sociais e licenciado em Economia e em Ciência Política pela Universidade de Buenos Aires (UBA). É pesquisador da Universidade Nacional de San Martín (UNSAM) e docente da Universidade Nacional de General Sarmiento (UNGS) e da Universidade de Buenos Aires (UBA).

‘Noam Chomsky: “As pessoas já não acreditam nos fatos”’

Noam
O Cafezinho

[Prestes a fazer 90 anos, acaba de abandonar o MIT. Ali revolucionou a linguística moderna e se transformou na consciência crítica dos EUA. Visitamos o grande intelectual em seu novo destino, no Arizona.

Noam Chomsky (Filadélfia, 1928) superou faz tempo as barreiras da vaidade. Não fala de sua vida privada, não usa celular e em um tempo onde abunda o líquido e até o gasoso, ele representa o sólido. Foi detido por opor-se à Guerra do Vietnã, figurou na lista negra de Richard Nixon, apoiou a publicação dos Papéis do Pentágono e denunciou a guerra suja de Ronald Reagan. Ao longo de 60 anos, não há luta que ele não tenha travado. Defende tanto a causa curda como o combate à mudança climática. Tanto aparece em uma manifestação do Occupy Movement como apoia os imigrantes sem documentos.

Mergulhado na agitação permanente, o jovem que nos anos cinquenta deslumbrou o mundo com a gramática gerativa e seus universais, longe de descansar sobre as glórias do filósofo, optou pelo movimento contínuo. Não se importou com que o acusassem de antiamericano ou extremista. Sempre seguiu em frente com valentia, enfrentando os demônios do capitalismo − sejam os grandes bancos, os conglomerados militares ou Donald Trump. À prova de fogo, sua última obra volta a confirmar sua tenacidade. Em Réquiem para o sonho americano (editora Bertrand Brasil), ele põe no papel as teses expostas no documentário homônimo e denuncia a obscena concentração de riqueza e poder que exibem as democracias ocidentais. O resultado são 192 páginas de Chomsky em estado puro. Vibrante e claro.

Preparado para o ataque.

— O senhor se considera um radical?

— Todos consideramos a nós mesmos moderados e razoáveis.

— Defina-se ideologicamente.

— Acredito que toda autoridade tem de se justificar. Que toda hierarquia é ilegítima enquanto não demonstrar o contrário. Às vezes pode se justificar, mas na maioria das vezes, não. E isso… isso é anarquismo.

Uma luz seca envolve Chomsky. Depois de 60 anos dando aulas no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), o professor veio viver nos confins do deserto de Sonora, no Arizona. Em Tucson, a mais de 4.200 quilômetros de Boston, ele se instalou e estreou um escritório no Departamento de Linguística da Universidade do Arizona. O centro é um dos poucos pontos verdes dessa cidade abrasadora. Freixos, salgueiros, palmeiras e nogueiras crescem em torno de um edifício de tijolos vermelhos de 1904 onde tudo fica pequeno, mas tudo é acolhedor. Pelas paredes há fotos de alunos sorridentes, mapas das populações indígenas, estudos de fonética, cartazes de atos culturais e, no fundo do corredor, à direita, o escritório do maior linguista vivo.

O lugar não tem nada a ver com o espaço inovador do Frank Gehry que o abrigava em Boston. Aqui, mal cabe uma mesa de trabalho e outra para sentar-se com dois ou três alunos. Recém-estreado, o escritório de um dos acadêmicos mais citados do século XX ainda não tem livros próprios, e seu principal ponto de atenção recai em duas janelas que inundam a sala de âmbar. Chomsky, de calças jeans e longos cabelos brancos, gosta dessa atmosfera calorosa. A luz do deserto foi um dos motivos que o levaram a se mudar para Tucson. “É seca e clara”, comenta. Sua voz é grave e ele deixa que se perca nos meandros de cada resposta. Gosta de falar longamente. Pressa não é com ele.

A entrevista é de Jan Martínez Ahrens, publicada por El País, 10-03-2018.

Eis a entrevista.

Vivemos uma época de desencanto?

Já faz 40 anos que o neoliberalismo, liderado por Ronald Reagan e Margaret Thatcher, assaltou o mundo. E isso teve um efeito. A concentração aguda de riqueza em mãos privadas veio acompanhada de uma perda do poder da população geral. As pessoas se sentem menos representadas e levam uma vida precária, com trabalhos cada vez piores. O resultado é uma mistura de aborrecimento, medo e escapismo. Já não se confia nem nos próprios fatos. Há quem chama isso de populismo, mas na verdade é descrédito das instituições.

E assim surgem as fake news (os boatos)?

A desilusão com as estruturas institucionais levou a um ponto em que as pessoas já não acreditam nos fatos. Se você não confia em ninguém, por que tem de confiar nos fatos? Se ninguém faz nada por mim, por que tenho de acreditar em alguém?

Nem mesmo nos veículos de comunicação?

A maioria está servindo aos interesses de Trump.

Mas há alguns muito críticos, como The New York Times, The Washington Post, CNN…

Olhe a televisão e as primeiras páginas dos jornais. Não há nada mais que Trump, Trump, Trump. A mídia caiu na estratégia traçada por Trump. Todo dia ele lhes dá um estímulo ou uma mentira para se manter sob os holofotes e ser o centro da atenção. Enquanto isso, o flanco selvagem dos republicanos vai desenvolvendo sua política de extrema direita, cortando direitos dos trabalhadores e abandonando a luta contra a mudança climática, que é precisamente aquilo que pode acabar com todos nós.

O senhor vê em Trump um risco para a democracia?

Representa um perigo grave. Liberou de forma consciente e deliberada ondas de racismo, xenofobia e sexismo que estavam latentes, mas que ninguém tinha legitimado.

Ele voltará a ganhar?

É possível, se conseguir retardar o efeito letal de suas políticas. É um demagogo e showman consumado que sabe como manter ativa sua base de adoradores. Também joga a seu favor o fato de que os democratas estão mergulhados na confusão e podem não ser capazes de apresentar um programa convincente.

Continua apoiando o senador democrata Bernie Sanders?

É um homem decente. Usa o termo socialista, mas nele significa mais um New Deal democrata. Suas propostas, de fato, não seriam estranhas a Eisenhower [presidente dos EUA pelo Partido Republicano de 1953 a 1961]. Seu sucesso, mais que o de Trump, foi a verdadeira surpresa das eleições de 2016. Pela primeira vez em um século houve alguém que esteve a ponto de ser candidato sem apoio das corporações nem dos veículos de comunicação, só com o apoio popular.

Houve um deslizamento para a direita do espectro político?

Na elite do espectro político sim, ocorreu esse deslizamento, mas não na população em geral. Desde os anos oitenta se vive uma ruptura entre o que as pessoas desejam e as políticas públicas. É fácil ver isso no caso dos impostos. As pesquisas mostram que a maioria quer impostos mais altos para os ricos. Mas isso nunca se leva a cabo. Frente a isso se promoveu a ideia de que reduzir impostos traz vantagens para todos e que o Estado é o inimigo. Mas quem se beneficia da reduzir [verbas para] estradas, hospitais, água limpa e ar respirável?

Então o neoliberalismo triunfou?

O neoliberalismo existe, mas só para os pobres. O mercado livre é para eles, não para nós. Essa é a história do capitalismo. As grandes corporações empreenderam a luta de classes, são autênticos marxistas, mas com os valores invertidos. Os princípios do livre mercado são ótimos para ser aplicados aos pobres, mas os muito ricos são protegidos. As grandes indústrias de energia recebem subvenções de centenas de milhões de dólares, a economia de alta tecnologia se beneficia das pesquisas públicas de décadas anteriores, as entidades financeiras obtêm ajuda maciça depois de afundar… Todas elas vivem com um seguro: são consideradas muito grandes para cair e são resgatadas se têm problemas. No fim das contas, os impostos servem para subvencionar essas entidades e com elas, os ricos e poderosos. Mas além disso se diz à população que o Estado é o problema e se reduz seu campo de ação. E o que ocorre? Seu espaço é ocupado pelo poder privado, e a tirania das grandes corporações fica cada vez maior.

O que o senhor descreve soa a Orwell.

Até Orwell estaria assombrado. Vivemos a ficção de que o mercado é maravilhoso porque nos dizem que está composto por consumidores informados que adotam decisões racionais. Mas basta ligar a televisão e ver os anúncios: procuram informar o consumidor para que tome decisões racionais? Ou procuram enganar? Pensemos, por exemplo, nos anúncios de carros. Oferecem dados sobre suas características? Apresentam informes realizados por entidades independentes? Porque isso sim que geraria consumidores informados capazes de tomar decisões racionais. Em vez disso, o que vemos é um carro voando, pilotado por um ator famoso. Tentam prejudicar o mercado. As empresas não querem mercados livres, querem mercados cativos. De outra forma, colapsariam.

Diante dessa situação, não é muito fraca a contestação social?

Há muitos movimentos populares muito ativos, mas não se presta atenção neles porque as elites não querem que se aceite o fato de que a democracia pode funcionar. Isso é perigoso para elas. Pode ameaçar seu poder. O melhor é impor uma visão que diz a você que o Estado é seu inimigo e que você tem de fazer o que puder sozinho.

Trump usa frequentemente o termo antiamericano. Como o senhor entende esse termo?

Os Estados Unidos são o único país onde, por criticar o Governo, te chamam de antiamericano. E isso representa um controle ideológico, acendendo fogueiras patrióticas por toda parte.

Em alguns lugares da Europa também ocorre isso.

Mas nada comparável ao que ocorre aqui, não há outro país onde se vejam tantas bandeiras.

O senhor teme o nacionalismo?

Depende. Se significa estar interessado em sua cultura local, é bom. Mas se for uma arma contra outros, sabemos aonde pode conduzir, já vimos e experimentamos isso.

Acha possível que se repita o que ocorreu nos anos trinta?

A situação se deteriorou. Depois da eleição de Barack Obama se desencadeou uma reação racista de enorme virulência, com campanhas que negavam sua cidadania e identificavam o presidente negro com o anticristo. Houve muitas manifestações de ódio. No entanto, os EUA não são a República de Weimar [democracia alemã anterior ao nazismo]. Precisamos estar preocupados, mas as probabilidades de que se repita algo assim não são altas.

Seu livro começa lembrando a Grande Depressão, uma época em que “tudo estava pior que agora, mas havia um sentimento de que tudo iria melhorar”.

Eu me lembro perfeitamente. Minha família era de classe trabalhadora, estava desempregada e não tinha educação. Objetivamente, era uma época muito pior que agora, mas havia um sentimento de que todos estávamos juntos naquilo. Havia um presidente compreensivo com o sofrimento, os sindicatos estavam organizados, havia movimentos populares… Tinha-se a ideia de que juntos podíamos vencer a crise. E isso se perdeu. Agora vivemos a sensação de que estamos sozinhos, de que não há nada a fazer, de que o Estado está contra nós…

Ainda tem esperanças?

Claro que há esperança. Ainda há movimentos populares, gente disposta a lutar… As oportunidades estão aí, a questão é se somos capazes de aproveitá-las.

Chomsky termina com um sorriso. Deixa vibrando no ar sua voz grave e se despede com extrema cortesia. Em seguida, sai do escritório e desce as escadas da faculdade. Fora, esperam-lhe Tucson e a luz seca do deserto de Sonora.]

Leia mais

“O neoliberalismo dos Estados Unidos sustenta que a liberdade aumenta cada vez mais, mas na prática aumenta a tirania”, afirma Noam Chomsky

“Os EUA são a origem do problema do tráfico de drogas”. Entrevista com Noam Chomsky

O estado de vigilância nos países livres. Artigo de Noam Chomsky

“O que está acontecendo no Brasil é um golpe branco”. Entrevista com Noam Chomsky

Com Trump, o mundo mais próximo da meia-noite nuclear

Notícias falsas (fake news) ‘viajam’ mais rápido do que histórias verdadeiras

“Combate às fake news”: ética ou espetáculo?

A democracia em xeque-mate frente às fake news. Entrevista especial com Fabrício Benevenuto

O neoliberalismo e sua falha fatal

“A alternativa ao neoliberalismo é… romper com o neoliberalismo!” Entrevista especial com Marcelo Carcanholo

Desafios frente ao neoliberalismo

In IHU/Adital.

A crise cresce no mundo todo e ninguém parece ter uma boa explicação para o evento

Davos
Só Deus nos salva de crise ou nem ele?

Estava eu ontem em uma cerimonia religiosa (católica) e foi sintomático ver que a maioria das pessoas (maioria mesmo) presentes, durante o ofertório, lembrava que vários de seus “entes queridos” – principalmente filhos e filhas – estavam desempregados – apenas uma delas lembrou-se de agradecer “a Deus”, pois recentemente um filho conseguiu, finalmente, voltar a empregar-se, após alguns anos.

Foi interessante também notar que a maioria absoluta dessa gente é o que a esquerda (aqui no Brasil) chama normalmente de “coxinha”, qual seja, conservadora e de direita.

Também se destaca por aqui que quem oficiava a cerimônia (um padre) sempre esteve mais ligado à Teologia da Libertação (dita de esquerda) e ao Concilio Vaticano Segundo, mas (o padre) buscou ser discreto, pois sempre foi amigo da maioria dos presentes.

O que não é necessariamente uma contradição – como algumas pessoas hão de pensar – posto que, como sacerdote, não lhe cabe fazer distinções, até porque a ação primária do catolicismo é a (indistinta) evangelização, mesmo no caso da Teologia da Libertação.

Não se pode dizer que aquelas pessoas passassem por “dificuldades financeiras”, muito pelo contrário, mas estavam e estão, sim, sentindo o baque de uma crise que se alonga por vários anos – problema que não apenas assola o país, mas todo restante do planeta.

E os reclamantes não estão sozinhos, ao contrário: o país fechou 20.832 vagas de trabalho formal em 2017, como aponta o Caged do Ministério do Trabalho.

Neste ponto chegamos a um consenso: a crise não é (apenas) brasileira, mas mundial; e ela não se iniciou no atual governo, mas sim durante os mandatos petistas – de Lula e de Dilma, que parecem (isso é uma ironia) ter se esquecido de que não se gasta mais do que se ganha.

Mas é certo, também e no entanto, dizer que o atual mandatário Temer (que, aliás, manda pouco) não está conseguindo debelar a crise herdada (por surrupio), até porque, como já se disse acima, trata-se de uma crise mundial.  Mas muito pelo contrário: Temer e sua equipe a está agudizando (isso ele consegue fazer com desenvoltura) e criando pânico entre a população por conta da supressão dos direitos trabalhistas e da seguridade pública.

Apesar disso, Temer está buscando vender, em Davos, na Suíça, um espécie de encantamento de serpente (como está tentando fazer o mesmo o atual presidente dos Estados Unidos), com a história da reforma da Previdência Social, o que é claramente um engodo.

O presidente norte-americano Trump fala de uma retomada da união e da importância da América Latina, no cenário internacional e principalmente americano, o que, obviamente, é outra balela imensa e absoluta.

Balela (e esta criminosa) é a própria reunião de Davos, que prega uma intensificação e um aprofundamento do neoliberalismo e ainda uma expansão da internacionalização da economia, o que é um troço obviamente estúpido e abjeto, pois o que isso quer dizer, na prática, é uma agudização da exploração maciça de pessoas e do meio ambiente.

Resta saber o que devem fazer as pessoas, o povo, a população, tanto aqui, como lá fora.

Pelo menos por enquanto, aparentemente, nada, pois estamos vivendo um momento de perplexidade e de medos.

Até quando isso vai durar não se sabe, mas desconfia-se que por algumas décadas.

Como acréscimo, diga-se que as pessoas (a maioria delas e principalmente a totalidade dos presentes na cerimônia religiosa) parecem não ter a mínima capacidade para fazer a conexão entre a enorme crise mundial (a que rapta os empregos dos ”entes queridos”) com aquilo que corre no Brasil neste momento.

Ou quem sabe não queiram fazer essa conexão, o que acaba resultando exatamente na mesma coisa.

Leia também

A ética de Arnaut e o espírito do capitalismo – Esquerda net

Obituário de Úrsula K. Le Guin, la creadora de Anarres, el planeta anarquista – Periódico Libertário

A construção do socialismo (1) – Passa Palavra

“Neoliberalismo, ordem contestada”

Revolta

[O termo “movimentos anti-sistêmicos” era comumente usado, há 25 anos, para caracterizar forças de esquerda, em revolta contra o capitalismo. Hoje, ele não perdeu relevância no Ocidente, mas seu sentido mudou. Os movimentos de revolta que se multiplicaram na última década não se rebelam mais contra o capitalismo, mas contra o neoliberalismo – os fluxos financeiros desregulados, os serviços privatizados e a desigualdade social crescente, uma variante específica do domínio do capital adotada na Europa e América desde aos anos 1980. A ordem econômica e política resultante foi aceita indistintamente por governos de centro-direita e centro-esquerda, de acordo com o princípio central do pensamento único e do dito de Margareth Thatcher, segundo o qual “não há alternativa”. Dois tipos de movimento agora se mobilizam contra este sistema; e a ordem estabelecida estigmatiza-os – sejam de direita ou de esquerda – como a “ameaça populista”.

Não por acaso, estes movimentos emergiram antes na Europa que nos Estados Unidos. Sessenta anos após o Tratado de Roma, a razão é clara. O mercado comum europeu de 1957, um desdobramento da comunidade de carvão e aço do Plano Schuman – concebido tanto para prevenir o retrocesso a um século de hostilidades franco-alemãs quanto para consolidar o crescimento econômico pós-guerra na Europa Ocidental – foi produto de um período de pleno emprego e aumento dos rendimentos populares, a consolidação da democracia representativa e dos sistemas de Bem-estar Social. Seus arranjos comerciais pesavam muito pouco na soberania dos Estados-Nações que o compunham – e à época, foram fortalecidos, não enfraquecidos. Os orçamentos e as taxas de câmbio eram determinadas internamente, por parlamentos que prestavam contas a seu eleitorado nacional, e nos quais políticas contrastantes eram debatidas com vigor. Tentativas da Comissão de Bruxelas para tornar-se mais poderosa foram notoriamente rechaçadas em Paris. Não apenas a França de Charles de Gaulle mas também a Alemanha Ocidental de Konrad Adenauer, ainda que de forma mais discreta, perseguia políticas externas independente dos Estados Unidos e capazes de desafiá-los.]

Leia a integra do texto de Perry Anderson no site Outras Palavras.

Por Perry Anderson, no Le Monde Diplomatique, tradução: Antonio Martins.

“Ni los liberales defienden la libertad, ni los “anarcocapitalistas” son anarquistas”

Reprodução
Reprodução

{[Nota de El Libertario: Hemos preparado este artículo en base a textos originalmente disponibles en la Anarcopedia http://www.spa.anarchopedia.org.]

Los “anarco”-capitalistas dicen ser anarquistas porque afirman oponerse al gobierno. No obstante, fallan al no apreciar que el anarquismo es una teoría política. Esto significa que son incapaces de reconocer que el anarquismo es algo más que simple oposición al gobierno, que también es una marcada oposición al capitalismo, a la explotación y a la propiedad privada. Por lo tanto, la oposición al gobierno es condición necesaria pero no suficiente para ser anarquista, es también necesario oponerse a la explotación y a la propiedad privada capitalista. Puesto que los “anarco”-capitalistas no consideran el interés, la renta y el lucro (es decir, el capitalismo) gérmenes de explotación, ni se oponen a los derechos capitalistas, no son anarquistas.

Parte del problema es que los marxistas, como muchos académicos, también tienden a afirmar que los anarquistas están simplemente contra el Estado. Es significativo que tanto marxistas como “anarco”-capitalistas propendan a definir el anarquismo como pura oposición al gobierno. No se trata de ninguna coincidencia, puesto que ambos persiguen excluir al anarquismo de su lugar en el más amplio movimiento socialista. Esto tiene perfecta lógica desde la perspectiva marxista, puesto que les permite presentar su ideología como la única opción anticapitalista seria.

No hace falta decir que esto constituye una malinterpretación obvia y seria de la posición anarquista, pues incluso un vistazo superficial sobre la teoría y la historia anarquista muestra que ningún anarquista limitó jamás su crítica social únicamente al Estado. De modo que mientras académicos y marxistas parecen estar al tanto de la oposición anarquista al Estado, generalmente no son capaces de comprender que la crítica anarquista se aplica sobre todas las demás instituciones sociales autoritarias. Puesto que la esencia del anarquismo es, después de todo, no la oposición teórica al Estado, sino la lucha práctica y teórica contra la dominación.

Como tal, sería justo afirmar que la mayoría de los “anarco”-capitalistas son capitalistas en primer y más importante lugar. Si algún aspecto del anarquismo no encaja con cierto elemento del capitalismo, rechazarán dicho aspecto del anarquismo antes que cuestionar al capitalismo. Esto implica que los “libertarianos” de derecha se adjudican el prefijo “anarco” para su ideología porque piensan que estar contra la intervención gubernamental equivale a ser anarquista. Que ignoren el grueso de la tradición anarquista debería probar que apenas hay nada anárquico en ellos. No están contra la autoridad, ni contra la jerarquía, ni contra el Estado, simplemente quieren privatizarlos.

Un grupo de anarquistas chinos señaló lo obvio en 1914. Puesto que el anarquismo “hace de la oposición a la autoridad su principio esencial”, los anarquistas tratan de “eliminar todos los sistemas perniciosos de la sociedad presente que tienen una naturaleza autoritaria”, de modo que “nuestra sociedad ideal” sería una “sin terratenientes, capitalistas, líderes, oficiales, representantes ni cabezas de familia.” Sólo esto, la eliminación de toda forma de jerarquía (política, económica y social) llevaría al verdadero anarquismo, a una sociedad sin opresión autoritaria (an-arquía).

En crudo contraste con los anarquistas, los “anarco”-capitalistas no tienen ningún problema con los terratenientes ni con el fascismo de fábrica (esto es, el trabajo asalariado), posición ésta que se antoja altamente ilógica para una teoría que se dice libertaria. Desde luego, el “anarco”-capitalista tiene otras maneras de evitar lo obvio, a saber, la afirmación de que el mercado limitará los abusos de los propietarios. “Si a los obreros no les gusta su jefe pueden buscarse otro”. Por lo tanto la jerarquía capitalista está bien en la medida en que los trabajadores y los inquilinos la consienten. Pero resulta dudoso que un “anarco”-capitalista apoyase al Estado sólo porque sus súbditos pudieran irse con otro. En consecuencia, esto no apunta a la cuestión central: la naturaleza autoritaria de la propiedad capitalista. Más aún, este razonamiento falla porque ignora las circunstancias sociales del capitalismo, que limitan la capacidad de elegir de la mayoría. Los obreros tienen poca elección que hacer a la hora de “consentir” la jerarquía capitalista. La alternativa es bien la pobreza directa, o bien la inanición. Con esto, los trabajadores desposeídos por las fuerzas del mercado se encuentran exactamente en la misma situación social y económica que los antiguos esclavos y siervos.

La propiedad, un Estado en si mismo

El anarquismo, como teoría política, nació cuando Proudhon escribió ¿Qué es la Propiedad?, específicamente, para refutar la noción de que los obreros son libres, cuando la propiedad capitalista los fuerza a buscar ser empleados por terratenientes y capitalistas. Él se dio buena cuenta de que en semejantes circunstancias, la propiedad “viola la igualdad mediante los derechos de exclusión y crecimiento, y la libertad a través del despotismo”. No sorprende que hable del “propietario”, a quien el obrero ha vendido y rendido su libertad. Para Proudhon la anarquía es “la ausencia de amos, de soberanos”, mientras que “propietario” es “sinónimo” de “soberano”, puesto que “impone su voluntad y su ley, y no sufre ni contravención ni control.” Esto significa que “la propiedad engendra el despotismo, pues cada propietario es amo soberano dentro del ámbito de su propiedad.”

Como Bob Black indicó, los libertarianos de derechas aducen que “al menos uno puede cambiar de trabajo”. Pero no puedes evitar tener un trabajo, de igual modo que bajo el estatismo puede uno al menos cambiar de nacionalidad, pero no puede evitarse el sometimiento a una nación-Estado u otra. Pero la libertad significa más que el derecho a cambiar de amo.” Las similitudes entre el capitalismo y el estatismo están claras. Rechazar la autoridad del Estado y abrazar la del propietario denota no sólo una situación ilógica sino también una contradicción con los principios básicos del anarquismo.

Por si esta contradicción no fuese suficiente, debemos señalar que semejantes desigualdades en poder y riqueza necesitarán “ser defendidas” de aquellos subyugados a ellas, tanto los “anarco”-capitalistas como los “liberales” reconocen la necesidad de policías y juzgados para defender la propiedad del robo – y, añaden los anarquistas, ¡para defender el robo y el despotismo consustanciales a la propiedad!. Debido a este apoyo a la propiedad privada (y por lo tanto a la autoridad), el “anarco”-capitalismo acaba por mantener un Estado en su “anarquía”: esto es, un Estado privado cuya existencia intentan negar quienes lo proponen simplemente negándose a llamarlo Estado, como un avestruz que esconde su cabeza bajo la tierra, simplemente sustituyen al Estado por empresas de seguridad privada.

Liberales y anarcocapitalistas son los que más necesitan al Estado

Tanto la filosofía del “anarcocapitalismo” como la de los “liberales” no tienen nada que ver con el Anarquismo ni menos con la defensa de la libertad. Ambas posturas, como defensores del capital, necesitan alguna fuerza a su disposición para mantener los privilegios de clase, bien del Estado mismo o de ejércitos privados. Lo que propugnan es de hecho un Estado limitado, esto es, uno en el que el Estado tenga una función: proteger a la clase dominante, no interfiera en la explotación, y salga tan barato como sea posible para dicha clase dominante. La idea también sirve a otro propósito: una justificación moral para conciencias burguesas que permita abolir los impuestos sin sentirse culpable.

Para los anarquistas, esta necesidad que tiene el capitalismo de alguna suerte de Estado no es sorprendente, los “anarco”-capitalistas y los “liberales” quieran deshacerse del Estado pero a la vez mantener el sistema que contribuyó a crear, y su función como defensor de la propiedad de la clase capitalista y sus derechos. En palabras simples, no quieren acabar con el Estado, sólo quieren dejarlo en su esencial función de gendarme de la clase capitalista.}

Publicado por periodicoellibertario en 5:30

= = = = =

“Marx, teórico do anarquismo” (Maximilien Rubel / outubro de 1983.)

(parte)

[Deformado por seus discípulos que não conseguiram nem fazer um balanço e demarcar os limites de sua teoria e nem definir as regras e o campo de sua aplicação, Marx acabou por adquirir o aspecto de um gigante mitológico, símbolo da onisciência e onipotência do homo faber, forjador do próprio destino.

A história da escola ainda está por ser escrita, mas pelo menos conhecemos sua gênesis: codificação de um pensamento mal conhecido e mal interpretado, o marxismo nasceu e se desenvolveu quando a obra de Marx ainda não estava accessível na sua integra e importantes escritos seus eram ainda inéditos. Assim, o triunfo do marxismo como doutrina de estado e ideologia de partido precedeu de algumas décadas a difusão dos escritos em que Marx expunha de modo mais claro e completo os fundamentos científicos e os objetivos éticos de sua teoria social. O fato de se terem produzido alterações profundas em nome de um pensamento cujos princípios cardeais ainda eram desconhecidos dos protagonistas do drama histórico já bastaria para demonstrar que o marxismo é o maior, senão o mais trágico, mal-entendido do século. Mas, também por isso mesmo, pode-se avaliar a contribuição da tese sustentada por Marx segundo a qual, o que provoca as mudanças na sociedade e as transformações sociais não são nem as ideias revolucionárias e nem os princípios morais, mas a força humana e material; ideia e ideologia servem sobretudo para mascarar os interesses da classe a favor da qual são realizadas as transformações. O marxismo político não pode reivindicar a ciência de Marx e, ao mesmo tempo, esquivar-se da análise crítica com a qual ele se armou para desmascarar a ideologia da força e da exploração.

Ideologia dominante de uma classe de patrões, o marxismo conseguiu esvaziar os conceitos de socialismo e comunismo, como estavam em Marx e em seus precursores, de seu conteúdo original, substituído pela imagem de uma realidade que era sua total negação. Se bem que estreitamente ligado aos outros dois, um terceiro conceito parece, entretanto, ter escapado a este destino: o anarquismo. Sabe-se que Marx teve pouca simpatia por certos anarquistas, mas geralmente ignora-se que compartilhou com eles seu ideal e seu objetivo: o desaparecimento do Estado. Convém, portanto, notar que, abraçando a causa da emancipação operária, Marx logo se situou na tradição do anarquismo mais do que na do socialismo ou do comunismo. Quando, finalmente, escolheu definir-se como comunista, esta qualificação não significava para ele uma das correntes do comunismo então existente, mas um movimento de pensamento e um modo de ação que acabava de fundar, reunindo todos os elementos revolucionários herdados da doutrina e das esperanças de luta do passado.]

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .