Tento vencer meus medos, mas não sei se dará tempo de vencê-los todos

Ressonancia
Foto: SalomãoZoppi Diagnósticos (obviamente não sou eu na foto, mas uma jovem mulher, mas vale a título de lustração)

Sou bastante lento e lerdo para vencer os meus medos e as minhas paranóias.

Já adulto e com filhas, me envergonhava por não conseguir colocar minha cabeça sob a água enquanto nadava (hidrofobia).

Isso me parecia patético e irreal, fantasioso, mas era isso mesmo que acontecia comigo.

E olha que morei em cidades praianas; também próximo a rios, e aprendi a nadar bastante cedo nas piscinas de Morro Grande, em Cotia, e num “tanque” razoavelmente grande que havia mais ou menos nas proximidades de casa.

Sempre me intrigou essa história de eu buscar avidamente, como uma quase ginástica, nunca submergir ou, pelo menos, colocar minha cabeça sob as águas.

Quando eu era ainda bem criança (provavelmente tinha 2 ou 3 anos) cai na banheira da casa de minha avó, que, àquela época, paupérrima, “fazia” roupas para filhos e netos de sacas de farinha de milho.

As sacas eram colocadas na banheira para “soltar” aquela farinha toda, antes da costura.

E foi aí que cai; submergi e fiquei apenas batendo minhas gorduchas perninhas, até que uma de minha prima viesse me socorrer.

Talvez ela estivesse com vontade de “ir ao banheiro”.

Creio que fui salvo por uma mijada – mais isso me marcou um bocado.

Identificado meu pavor por água, resolvi tomar coragem e, pelo menos, colocar minha cabeça em uma onda.

Pronto! Estava resolvida a questão!

O mais intrigante para mim, porém, era que em minha infância sonhava em ser marinheiro.

Não pensava muito no mar; preferia devanear pelos portos e pelas amantes.

Mas há uma outra passagem interessante.

Estávamos eu e um amigo, do qual não lembro sequer o nome, numa pequena balsa em um pequeno lago (aqueles formados pelas várzeas) quando lhe perguntei se sabia nadar.

Ele disse que não.

Chacoalhei a pequena balsa até ele cair na água, e fui “remando com as mãos” até a margem do lago, divertindo-me com seu desespero.

O amigo não morreu, mas me vi um psicopata.

Essa história ilustra outra.

Tenho um razoável medo de altura (acrofobia).

Certa vez tomei coragem e me equilibrei nos escombros de uma velha igreja até seu limite.

Fui, mas quem disse que conseguia voltar?

Pateticamente tive de retornar “de cavalinho” até um lugar seguro.

Ainda bem que ninguém estava presente para presenciar o meu pavor.

Mas nestes casos também depende da situação.

Quando posso me apoiar em alguma coisa o medo desaparece.

Já escalei íngremes encostas marinhas e já subi uma morraria bastante acentuada sem problema algum.

Desde que tenha onde me apoiar tudo vai bem.

Lugares fechados e de pouco espaço também me causam temores.

Várias vezes hesitei em tomar um avião.

Há algum tempo tive de fazer alguns testes por conta de uma falta de ar que supunha crônica.

Colocaram-me numa redoma de vidro bastante apertada.

Não consegui terminar o teste e pedi a sua interrupção.

Mas como nos dois casos anteriores tento evoluir e busco saídas para superar minha paúra.

Hoje fui ao Hospital do Coração, aqui em São Paulo, para uma ressonância magnética.

A coisa é mais ou menos assim: o colocam num tubo de espaço exíguo por 40 minutos, até que todo o exame termine.

Achei que deveria vencer mais este medo, mas fui logo avisando que sofro de claustrofobia.

Aconselharam-me a “entrar no tubo” de olhos fechados.

Até fiz isso, mas achei a alternativa (apesar de bem intencionada) um bocado ridícula, e acabei abrindo os olhos lá dentro, no interior do tubo.

Não aconteceu nada.

Creio que venci mais este medo, mas acho que eles poderiam colocar uma musiquinha para nos distrair.

Marcio Tadeu dos Santos

A greve dos caminhoneiros está acabando com o Brasil e vai acabar com o mundo

Fim
Ilustração: Jornal Ciência

Talvez seja mania de grandeza, mas temos mesmo essa predisposição para ampliar as coisas.

Certa vez fui à Campinas, com dois amigos, assistir a uma partida de futebol entre o SPFC e a Ponte Preta.

Ao retornarmos ligamos o rádio do carro e um locutor dizia que iríamos encontrar dificuldades para chegar a São Paulo (ainda não existia o Rodoanel) por conta de “um enorme congestionamento” na rodovia.

Não nos preocupamos muito, mas ficamos curiosos para ver a que altura iríamos encontrar o tal congestionamento.

Não havia congestionamento algum.

Pelo que se conta e pelo que somos obrigados a ouvir nesta sexta-feira (25 de maio de 2018), São Paulo está um caos, muito próximo a um colapso, com milhares de quilômetros de congestionamento, com ônibus circulando parcialmente e com uma ruma enorme de pessoas se apertando no metrô.

Quem está em São Paulo pode constatar que não há nem mais, nem menos desses infortúnios à vista.

A própria TV, por exemplo, que está alardeando esse desconforto descomunal (sic) mostra com suas imagens que o trânsito flui normalmente e até com bastante rapidez.

Gostaria, um dia, de descobrir de onde tiramos essa mania por superlativos; por fins de mundo; por catástrofes descomunais.

Sinceramente não sei como ainda estamos vivos.

Tudo isso me parece muito incrível. Quase um milagre. Se não, um milagre inteiro, desses que até Deus duvida.

Talvez eu tenha uma vaga ideia do por que isso ocorre: as pessoas ficam presas demais a seus próprios mundinhos, reféns de seus vícios, de seus pecados, de seus medos, receita perfeita para supervalorizar doenças incuráveis, perigos invencíveis, catástrofe insuperáveis, desgraças inenarráveis. (MTS)