“Errare humanum est”, mas manter o erro é burrice mesmo

Agfride 01
Advogado separatista ofende e agride senadora Vanessa Grazziottin em avião / Reprodução de imagem do celular da própria senadora.

É necessário este texto iniciar-se com um breve resumo. Por muitas décadas, provavelmente por alguns séculos, se disse que o Brasil era um país tranquilo, calmo e pacato, onde a população nacional e aquela que para aqui veio podia viver na paz e na tranquilidade. Era a pintura do próprio paraíso judaico-cristão.

A ideia de um país exuberante e tranquilo foi em parte retirada da própria natureza, mas, e, principalmente, pelo fato de que por aqui não havia a ocorrência de terremotos, furacões e de outros cataclismos mais agudos, e nem a presença de vulcões.

A ideia do paraíso na Terra foi adaptada à vida política nacional, muito especialmente pela ditadura militar que dizia não haver razão alguma para uma reação ao governo de exceção, e que essa reação, na verdade, era provocada por grupos que queriam implantar uma ditadura comunista e transformar o país em um inferno vermelho.

A escravidão longeva (quase quatro séculos), a matança de índios e a permanência da maioria dos brasileiros na miséria e vítimas da violência do Estado não avalizavam a tese. E a própria ditadura militar tratou de destruir, na prática, a mitologia paradisíaca, prendendo, torturando e matando pessoas.

Dos reparos

A locução latina que abre o título deste texto foi alterada com o tempo. A ideia primeiro aparece em  Cícero  [1] – “is Cuiusvis errare: insipientis nullius nisi, in errore perseverare”; depois em Sêneca [2] – “venia dignus error is humanus” -; três séculos mais tarde em Santo Agostinho [3] – “umanum fuit errare, diabolicum est per animositatem in errore manere”, e, posteriormente, alterada para  “errare humanum est, perseverare diabolicum” até chegarmos a “errare humanum est”.

Em bom português, “errar é humano”, à qual o humor popular acrescentou “permanecer no erro é burrice”.

Antes de prosseguir vale uma história pitoresca: uma repórter do jornal para o qual eu trabalha, em Manaus (anos 80), foi às ruas da cidade para fazer uma matéria sobre o emporcalhamento (sic) da capital amazonense pelos grafiteiros/pichadores.

Voltou indignada não apenas com o que viu, mas também porque em um prédio público do centro da cidade alguém havia escrito “Herrar é umano, permanecer no herro é burrice”.

Demorei mais de uma hora para convencê-la de que o grafiteiro não havia (h)errado ao escrever, mas quis apenas  realçar que o erro que se repete é inaceitável, ou seja, uma burrice.

Dos reconhecimentos

Mimos
Jovem festeja, nas redes sociais, ação da PM paulista que provocou a perda de visão de uma estudante / Reprodução do perfil em rede social da festeira, mensagem posteriormente apagada.

A abertura e o miolo do texto tendem a me levar necessariamente a reconhecer um erro cometido, várias vezes, por aqui e nas redes sociais: desde que se iniciaram os protestos em junho de 2013, sempre afirmei que a reação aos protestos era exagerada e que o temor pelo nascimento e crescimento de uma direita violenta era paranoia sem sentido.

O argumento se valia da própria história brasileira que mostra a brevidade e a desimportância de grupos radicais, tanto de direita, quanto de esquerda.

No entanto, a permanências das agressões e das ofensas, como se viu ainda esta semana contra a senadora amazonense Vanessa Grazziottin (PCdoB), mostra que eu estava errado (sem H) ou, no mínimo, bastante equivocado.

Não se sabe ainda se essa gente agressora e violenta já conseguiu montar grupos organizados para sair pelas ruas ofendendo e agredindo pessoas (até agora parecem ser ações ou de indivíduos ou de pequenos grupos informais), mas no ritmo em que as coisas andam não será surpresa alguma que muito em breve essa gente tenha estatuto, sede e até armas estocadas.

Nem a mudança de governo, através do impeachment esta semana, parece ter demovido essas pessoas de saírem agredindo adversários políticos (tratados como inimigos) por ruas, aviões, bares e restaurantes.

Se o mote dos protestos era a mudança do governo, por que então a permanência da violência após o impeachment?

Isso posto é inescapável lembrarmos de que foi assim, de maneira discreta, para depois crescer incontrolável, que se iniciou o nazismo alemão.

Notas

[1] Marco Túlio Cícero – orador, escritor e cônsul romano, nascido em 106 a.C, em Arpino (Itália) e morto em 43 a.C, em Fórnias (Itália).

[2] Lúcio Aneu Séneca ou Sêneca – advogado, escritor e intelectual romano, nascido em Córdova (Espanha), em 4 a.C., e morto em Roma (Itália), em 65 d.C.

[3] Agostinho de Hipona (Santo Agostinho) – teólogo e filósofo cristão, nascido em 13 de novembro de 354 d.C., em Tagaste (Numídia, no norte da África) e morto em 28 de agosto de 430 d.C., em  Hipona (Argélia).

 

 

Um comentário sobre ““Errare humanum est”, mas manter o erro é burrice mesmo

  1. O que acho um fator preocupante é que mesmo que não surjam grupos organizados o perigo da violência permanece. Como mostra o terrorismo islâmico e suas “franquias” como o Al Quaeda e Estado Islâmico. Não é preciso criar uma complexa estrutura logística para infiltrar agentes, para fazer atentados. Inspirar “violentos úteis” para fazer atos de terror tem se demonstrado eficiente na França e nos EUA.

    Um lobo solitário desse tipo é praticamente imprevisível e o custo para deter esse tipo de gente pode nos jogar numa situação que povo os sonhos molhados da NSA e outros aparatos de controle do estado, em qualquer país.

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