
A mistura de raças (índios + pretos + mais portugueses pobres e bandidos) nunca deu certo e, por isso mesmo, o Brasil não é e jamais será um país desenvolvido e civilizado.
Mantra [1] velho esse que deve ter nascido ainda no século 16 e que, portanto, revoga, por antecipação e permanência, a máxima de Euclides da Cunha [2], segundo a qual “o sertanejo é antes de tudo um forte” [3].
Qual o que, Euclides, perguntariam conservadores e reacionários, então me explica aí por que os pobres continuam pobres em uma terra tão fértil e generosa como esta?
A ideia da incapacidade da pobreza ao desenvolvimento e à civilização é adesiva e intransferível, como nota o compositor e cantor baiano João Gilberto: “Madame diz que a raça não melhora / Que a vida piora por causa do samba, / Madame diz o que samba tem pecado / Que o samba é coitado e devia acabar, / Madame diz que o samba tem cachaça, mistura de raça, mistura de cor,…” [4].
Das separações
A mancha da pobreza é indelével; seus crimes são mais brutais que os crimes alheios; sua tendência ao coletivo é coisa de gente primitiva, de cultura arcaica. A esse propósito, acabei de ler texto incentivando as pessoas a não compartilharem as coisas; se, no texto, se fala de compartilhamentos que possam vir a causar danos à saúde das pessoas, como toalhas e escovas de dente, por exemplo, podemos, claro, estender o conceito a outras práticas.
Então, desde já, e como a máxima de Euclides, ficam revogados, também, outros compartilhamentos, por que não, como o tererê indígena [5], o comer no mesmo prato, os mutirões, as excursões e vai por aí.
Então, mãos à obra civilizatória: vamos à caça, individualizada, é claro, aos “bichinhos” do pokémon go [6].
Das incapacidades
Pobre não serve para outras coisas, a não ser para trabalhar, e, eventualmente, para comer, beber e fazer sexo.
É certeza absoluta que a pobreza provoca impactos negativos até mesmo nos interesses do Estado.
Em países patrimonialistas como o nosso, a pobreza é errática, disponível às vontades e aos interesses dos líderes da civilização, porque ora é estúpida e ignorante, porque ora é ingrata e reacionária.
Mas, talvez fosse o caso de civilizá-la pela educação e pelos confortos do desenvolvimento. Mas cadê disposição e interesse para fazer isso?
Então, o mais sensato é deixar tudo como está. Pelo menos teremos, sempre teremos, um bode expiatório no qual despejar as nossas iras e frustrações civilizadas.
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Para entender o Golpe (Blog da Boimtempo)
Notas
[1] Mantra – fórmula mística e ritual em religiões como o hinduísmo e o budismo; o mantra pode ser recitado ou cantado como meio para se conseguir controlar a mente.
[2] Euclides Rodrigues da Cunha (1866 — 1909) escritor e jornalista brasileiro.
[3] In Os Sertões: campanha de Canudos (1902), de Euclides da Cunha.
[4] “Pra que discutir com madame” – https://www.letras.mus.br/joao-gilberto/920038/
[5] Tererê (também tereré) – bebida indígena (na América do Sul) feita com a infusão da erva-mate em água fria.
[6] Pokémon go – jogo eletrônico free-to-play de realidade aumentada voltado para smartphones. (Wikipédia)