
“Recebemos a cada hora 5 denúncias de violações de direitos humanos no Brasil.”
Quem garantiu isso foi dom Tomás Balduino(1) logo após entrevista que com ele fizemos para o documentário que comemorava os 25 anos do Instituto Brasil Central (Ibrace), de Goiânia, nos meados da década passada.
Dominicano, teólogo e bispo-emérito de Goiás, dom Tomás, falecido em 2014, foi expoente da Teologia da Libertação, fundador da CPT (Comissão Pastoral da Terra), do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) e defensor incansável dos direitos humanos.
Data venia, me vi no direito de retocar a afirmação do religioso:
“Desculpe, dom Tomas, mas é isso que chega aos ouvidos da igreja, mas o problema me parece ser bem maior que esses casos relatados.”
Humilde, ele tendeu a acatar minha colocação.
Dos ouvidos
As religiões judaicas (judaísmo, islamismo e cristianismo) criaram aquilo que até hoje é considerado o mais eficiente mecanismo de opressão da história da humanidade: o pecado.
Você peca por pensamentos, palavras e atos. Sobrou mais algum cantinho para que possamos fugir da ira e das punições divinas?
Com a confissão, o cristianismo sofisticou la bestia.
Se o pecado é o mais eficiente mecanismo de opressão humana, a confissão é uma extraordinária estrutura de escuta, que deixa a comer poeira CIA, KGB, MI etc. e tal.
Nada e ninguém chegou tão longe.
Se a confissão é inviolável, nada nos garante que dela a Igreja não tenha se valido ao longo de sua história para se expandir, antecipar tendências e revoltas, aliar-se e desaliar-se a/de grupos políticos, sociais, empresariais e tantos outros, ao sabor das circunstâncias, das ocasiões e dos interesses nem sempre pios.
Portanto, quando a Igreja Católica ou um de seus mais eminentes representantes fala é bom prestarmos atenção.
Das mulheres
A violência contra a mulher é um pecado monstruoso, uma nódoa na existência da sociedade, mas muito mais em nossa existência de homem, de macho, que aparentemente não damos conta (na verdade não queremos dar) da ignomínia.
Os atropelos e as violações dos direitos humanos são bem maiores do que o imaginado por dom Tomas.
A violência contra as mulheres (apesar de o Brasil, por exemplo, não ter boas e confiáveis estatísticas a respeito) é igualmente bem maior do que imaginamos e queremos aceitar que seja (veja referências abaixo).
(1)Um breve curriculum de dom Tomas Balduino pode ser encontrado na Wikipédia.
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