Das histórias inacreditáveis: os contêineres de Lula e a flecha do índio

Indianas
Crédito da foto: pib.socioambiental.org/Ricardo Stuckert/Divulgação

Há dois grupos de pessoas acreditando que a ação do juiz Moro, ao autorizar a coerção (força exercida pelo Estado para fazer valer o direito) de Lula para depor na Polícia Federal, na última sexta-feira, terá o efeito de ressuscitar o “menino pobre” que veio do interior pernambucano e fazê-lo renascer junto às massas, tal qual uma fênix ou d. Sebastião, que, aliás, continua morto, mortinho.

Redivivo Lula estaria pronto para insuflar as massas a seu favor e de seu partido.

Fênix é apenas uma figura mitológica e d. Sebastião continua desaparecido e pela antiguidade do fato não vai dar mais as caras por Portugal e nem restaurar o absolutismo carniceiro católico-cristão.

Um dos grupos, o maior (mas assim mesmo exíguo), é formado por esta gente fanatizada do PT, que fez de Luiz Inácio um ser mítico e do partido uma fábrica de manás capaz de corrigir todos os erros e defeitos do passado brasileiro.

O segundo é formado pelos anti (anti-Lula, anti-PT) que temem o ressuscitamento do “sapo barbudo”, da sua verve e de seu carisma, tudo isso juntado capaz de conduzi-lo, pela terceira vez, ao Palácio do Planalto (de tantas histórias e tradições mal alinhavadas).

Como assim?

Nem é mais necessário aqui se socorrer do já velho e desgastado folclore criado em torno de Garrincha: “já combinaram com os russos?”.

Não carece! Basta ver, ouvir e ler o que anda ocorrendo pelas ruas, pelos muros pichados, pelas batições de panelas, pelos aplausaços, pelos buzinaços.

Esperanças e medos se enterram por aí.

A ordem das coisas

O mal-estar criado em torno do Partido dos Trabalhadores e, muito especialmente, de Luiz Inácio obedece a duas ordens ou lógicas (como queiram):

– a Moral, aquela que separa as coisas humanas entre as corretas e as erradas;

– a Criminal, aquela que se explicita nas contravenções e no atropelo do que é legal.

A mistura (perigosa, diga-se) dessas duas ordens ou lógicas levaram o Brasil a uma hecatombe (política e econômica), pulverizaram o partido, empurraram Luiz Inácio para o seu fim, mas lhe deram chance para transformar o país numa imensa pantomima.

Pantomima (do latim pantomima: mulher que representa com gestos) é a “arte de exprimir os sentimentos, as paixões, as ideias, por meio de gestos e atitudes, sem recorrer à palavra”, e a “representação teatral em que os atores se exprimem unicamente por meio do gesto”, mas, no popular, “conto ou história para enganar” (ver, por exemplo, o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa http://www.priberam.pt/dlpo/pantomima).

Se você viu alguma similaridade entre a terceira definição de pantomima e o palavreado tosco de Lula (com direito até a um enfiar no cu) da última sexta-feira, em SP, isso só demonstra que você está atento.

Apropriações

Na contramão da verve lulista entre os seus, a História registra (cruelmente) histórias reais, palpáveis e conferíveis.

Orlando Villas Boas registra em um de seus livros o caso de um sujeito que acompanhava uma de suas expedições, que, encantado com o arco e as flechas de um curumim, quis comprá-los para presentear o seu filhote.

Orlando igualmente narra as dificuldades que teve para convencer o “comprador”, diante da recusa do pai do curumim, de que índio não vende coisas (para turistas); arcos e flechas são exclusivos de cada ser indígena e, no caso em questão, faziam parte da iniciação do curumim para futuras caçadas (ou defesa, também).

Esta história singular se liga a uma outra também singular, mas deveras inacreditável: o caso dos contêineres de Luiz Inácio, repletos de bens ganhos durante os oito anos de presidência, que, em parte, estão no sítio de Atibaia (que Luiz Inácio teima em dizer que não é seu), e, em parte, estão dormitando em depósitos (são vários) custeados pela OAS (enrolada no Petrolão), a mesma que custeou o transporte dessa traquinada toda.

À luz da lei (pelo menos da brasileira) não há óbices que um presidente se aproprie para usufruto de bens, presentes e mimos doados à presidência.

Portanto, crime não há, mas há sim um atropelo da Moral, uma das pernas citadas acima, e peça importante no caudal de insatisfações que envolvem o partido e o ex-presidente.

Outrossim, há uma clara tendência já demonstrada por Luiz Inácio de confundir (“sem querer, querendo”) o que é público, com aquilo que é privado.

Com a palavra a Justiça e as ruas.

E o que vem delas é de deixar muita gente insone, de cabelo em pé e rouca.

Leia também:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2016/03/1746868-lula-fortao-lula-fraquinho-e-a-crise.shtml

http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/03/oas-bancou-armazenagem-de-10-containers-para-lula.html

http://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/veja-as-imagens-dos-bens-de-lula-guardados-em-deposito-pela-oas/

Histórias do Xingu Orlando Villas Bôas e Cláudio Villas Bôashttp://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=13358

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