Estou insistentemente sendo chamado de velho.
Algumas pessoas são bastante jovens, outras, nem tanto.
À luz da ciência, estou ainda a três anos da velhice, que começa aos 70.
Mas já estou dentro do que se chama “terceira idade” que inicia-se, segundo sei lá quem, aos 60.
Já tenho direito, portanto, a furar filas em bancos e a ser atendido preferencialmente em hospitais e postos de saúde.
Não sei se isso é exatamente justo, pensando-se nas pessoas mais jovens que muitas vezes passam horas e mais horas em filas descomunais.
Não me vexa essa história de ser compreendido como “um velho”, pois entendo perfeitamente o que essa gente quer dizer: eles/elas ficam irritados/das quando, por exemplo, eu contesto alguns de seus posicionamentos.
Não entendo, porém, que eles/as queiram me colocar numa espécie de quarentena ou me dar um “passa menino” ou melhor, um “passa velhote”.
Creio que a coisa é de outra natureza.
É falta de argumento mesmo.
Uma espécie de reação à própria incompetência e ignorância; em não ter como contra argumentar quando contestados.
Nada disso, porém, é desculpável, mas é explicitamente compreensível.
Longe de mim não entender tamanha estupidez.
Há também outra questão a ser posta, mas necessariamente antes de postá-la devo lembrar como entendo diferente a Moral da Ética.
Esse é entendimento meu, com o qual boa parte dos filósofos não concorda.
Moral vem a ser aquilo que eu defino (numa atitude unilateral) como certo ou como errado.
Por exemplo: há alguns anos mulheres não “podiam” sair às ruas à noite por que “era feio”.
Ao contrário, nós, os homens, podíamos.
Alguém conseguiria explicar, que não pela ótica moral, a razão desse tipo de discriminação?
Já a Ética , entendo eu também, diz respeito a valores, quer sejam aqueles acordados em cartas, como por exemplo, em constituições, quer sejam aqueles ancorados nos uso e nos costumes de uma dada sociedade, mais propriamente, nos pactos sociais.
Portanto, o que permeia todo esse bangue-bangue que ora se vê pelo país não passa pela Ética, como querem fazer ver algumas pessoas, como, por exemplo, na caso do julgamento do HC de ontem do Lula, mas sim pelas questões morais: “Lula é ladrão” / “Lula é um santo, apenas comparável a Deus”.
Se disso irá resultar uma luta fratricida (entre o Bem e o Mal), como alguns estão a prever, é coisa para se ver, mas, creio, muito pouco provável.
O certo é que o mundo sempre se dividiu entre o novo (o jovem) e o antigo (o velho).
A questão é descobrir quem são os jovens e quem são os velhos dessa história milenar.
Fugindo do assunto, segue, em nota, o texto “Medo e hipocrisia minam combate às fake news”, discussão relevante – embora aqui no caso provincianos [1] – e um texto do jornal El País [2] .
Notas
[1] “Medo e hipocrisia minam combate às fake news”
[Não é mais novidade para ninguém que a guerra contra as notícias falsas se converteu na principal preocupação do meio jornalístico. Em todas as partes, surgem iniciativas para checagem de dados e para desmentir declarações e números falsos. Pela primeira vez em muito tempo, a discussão deixou de ser um novo modelo de negócio ou um revolucionário software, e os profissionais e as organizações passaram a debater rigor na apuração, verificação de versões e técnicas para qualificarem suas notícias. Por conta disso, cheguei a dizer que as fake news não eram uma notícia tão ruim para o jornalismo, pois nos obrigaram a pensar nossas próprias práticas. Mas passados poucos meses desse diagnóstico, vejo que o combate às notícias falsas corre riscos sérios e eles vêm justamente de quem menos se esperaria, aqueles que declararam guerra às fake news. Dois fatores primordiais contribuem para isso: alguma hesitação em enfrentar o problema e doses generosas de hipocrisia e marketing a envolver certas iniciativas.
Levantamento recente do Duke Reporter’s Lab mapeou 149 empreendimentos de checagem de dados no planeta. Mais de 70% deles estão na América do Norte e na Europa, e só os Estados Unidos contam com 47 projetos do tipo. O Brasil é o segundo país no mundo com mais checadores: 8 iniciativas entre as 15 detectadas na América do Sul. Essa posição privilegiada pode ser resultado de diversos fatores que vão do senso de oportunidade comercial de seus líderes à preocupação genuína sobre a crescente influência ilegítima de bots espalhadores de notícias falsas no debate público. No ano passado, uma pesquisa da GlobeScan já apontava o Brasil como o país mais preocupado com as fake news. O cenário se deteriorou ainda mais nos últimos meses, a ponto de a tradicional pesquisa da Edelman sobre confiança apontar que 75% dos brasileiros temem que as fake news sejam usadas como “armas”. Em um ano, a confiança na mídia local caiu 5 pontos, conforme o estudo, e quase metade dos ouvidos disse não saber em que empresas do setor confiar. Dos 28 países pesquisados, a mídia está em território de desconfiança em 22.
Receio e timidez
Reagir a uma paisagem hostil como esta é necessário e urgente. Iniciativas como Aos Fatos e Lupa têm se mostrado cada vez mais visíveis à medida que oferecem ao público os resultados de suas checagens. É um trabalho importante, útil e procurado, criando terreno fértil para iniciativas regionais, como a recente campanha de financiamento coletivo para a implantação do Filtro, no Rio Grande do Sul. A exemplo de outras tantas, é um projeto bem-intencionado, com profissionais comprometidos e com nítido interesse público – fazer verificações durante a campanha eleitoral – mas sem base financeira que venha a sustentá-la de forma perene. Essa vulnerabilidade atinge a medula do projeto, pois é determinante para sua criação. Se os recursos projetados não forem arrecadados, o Filtro pode simplesmente não funcionar.
No estado vizinho, outra boa iniciativa surgiu no grupo NSC, que assumiu as operações da RBS em Santa Catarina. O Prova Real se explica como “uma iniciativa de fact-checking e debunking”, o que significa que verifica fatos e faz desmentidos, adotando “metodologia certificada para comparar os ditos com os fatos e classificar quanto ao nível de veracidade”. Segundo a página especialmente criada para o projeto (bastante didática!), “o objetivo é promover a informação correta, e não criar rótulos ou manchar reputações. O Prova Real checa o grau de veracidade de declarações públicas e publicadas, notícias falsas e imagens. Também checa o cumprimento de leis e contratos”. A equipe de jornalistas responsável pelas verificações foi treinada pela Agência Lupa, conta com manual próprio e a iniciativa vai abastecer veículos impressos, online, de rádio e de TV do Grupo NSC, o que é bastante promissor.
Apesar desses esforços, dois detalhes fragilizam a iniciativa, a meu ver. Os conteúdos checados são classificados conforme quatro etiquetas: Exato, Não é Bem Assim, É Chute, Não Fecha. Perceba que o Prova Real não carimba que uma notícia é falsa ou mentirosa, por exemplo. Não se trata apenas de nomenclatura. Um projeto que assume a função de desmentir ou desmascarar dados ou declarações não pode medir palavras quando a informação não condiz com o que foi verificado. Afirmar que um conteúdo é falso é necessário para, diante do público, separar o joio do trigo, e o Prova Real não faz isso, impedido pelas próprias etiquetas que criou e segue.
O serviço de checagem do Washington Post tem uma escala de um a quatro pinóquios para classificar o grau de falsidade dos conteúdos!
Outro fator que reduz o ímpeto da iniciativa é que, ao final das checagens, o Prova Real reproduz o contraponto de quem foi checado. Assim, a última palavra não fica com a equipe checadora, mas com a fonte cuja declaração foi questionada. Foi assim quando o projeto foi apurar fala do governador Eduardo Pinho Moreira sobre número de tornozeleiras eletrônicas em Santa Catarina. Após verificar que a informação “não fechava” – era falsa, portanto! -, o Prova Real publicou no final da checagem “o que diz o governo do estado”. Resumo da ópera: mesmo tendo falado coisas distantes da verdade, o governador ficou com a palavra final. Isso se deu em outras tantas oportunidades, e os veículos da NSC simplesmente abriram mão de atuarem como agentes de certificação das informações corretas, respaldados por suas próprias equipes de checagem.
A meu ver, o Prova Real incorre em dois erros: não afirma com todas as letras que um conteúdo é falso e renuncia à condição de agente certificador da informação. Com isso, expõe desnecessariamente seus profissionais, e não necessariamente separa o que é real e o que não é…
Hesitações como essa reduzem o poder de fogo dos fact-checking. Mas não só.
Em 27 de março, o concorrente Notícias do Dia publicou o editorial “Informação confiável” em que reafirmava seu “pacto” com leitores e assinantes “como antídoto para a propagação das fake news”. Na mesma edição, passou a publicar uma série de três reportagens sobre motivação e prejuízos com as notícias falsas, sobre o papel dos usuários nas redes sociais, e com dicas de como identificar material impostor e como verificar sua autenticidade.
Mostrar como as engrenagens da desinformação funcionam é muito importante e esse gesto alimenta o que os especialistas chamam de media literacy, a educação para um consumo crítico da mídia. Mas, convenhamos, não basta produzir reportagens e escrever editoriais para reduzir as notícias falsas. Se os próprios veículos convencionais contribuem para espalhar mentiras – a exemplo da Folha de S.Paulo no caso Marielle Franco, criticado pela ombudsman do jornal), jornalistas e meios precisam fazer mais para combater as fake news. As redações têm as condições objetivas para evitar publicações falsas e para aprimorar a qualidade de suas notícias à medida que adotam procedimentos mais rigorosos e cuidadosos.
Só piora!
Se estamos mesmo em guerra contra as notícias falsas, hesitação, receio, medo ou bom-mocismo não vão nos ajudar a vencê-las. As dificuldades são muitas para quem quer soterrar informações errôneas e fazer prevalecer as que têm correspondência com fatos e dados.
Notem que a própria noção de fake news é complicada, e vem sendo revista por quem se dedica a pensar sobre o assunto. Claire Wardle, do First Draft, critica a expressão, dizendo que ela não dá conta da variedade e complexidade do fenômeno: não são apenas notícias falsas, há paródias e outras formas de manipulação. Por isso, ela aponta para o que chama de “ecossistema de desinformação”.
O jornalista britânico James Ball, autor de “Post-Truth: how bullshit conquered the world” (Pós-verdade: como a besteira conquistou o mundo), evita a expressão “fake news” e adota “bullshit”, que poderíamos traduzir como besteira, bobagem, e que sinaliza para algo além das mentiras e boatos. Segundo Ball, não são apenas os políticos a espalharem o lixo por aí. Velha mídia, nova mídia, empresas especializadas em produzir material enganoso, redes sociais, plataformas digitais, pessoas comuns, todos ajudam a borrar as fronteiras entre verdadeiro e falso. E serviços de checagem de dados, sozinhos, não solucionarão a questão.
Em regiões mais organizadas, normativas estão sendo pensadas. No início de março, a Comissão Europeia publicou um relatório que encomendou a especialistas para orientar seus países sobre o tema. Não se trata apenas de um diagnóstico do problema, mas também de princípios para ajudar os formuladores de políticas a propor leis e incentivar boas práticas.
Embora haja iniciativas que até automatizem as checagens, o cenário bem distópico. Em levantamento de Aos Fatos, leitores até desconfiam das notícias recebidas por WhatsApp, mas não verificam suas autenticidades, e as coisas só tendem a piorar, já que têm surgido técnicas muitíssimo sofisticadas para manipular áudios e vídeos. A situação é tão complicada que até mesmo o Tribunal Superior Eleitoral – preocupado com as fake news nas eleições deste ano – embarcou em notícia falsa para justificar que está preocupado em combater as tais notícias falsas, conforme conta o jornalista Leonardo Sakamoto.
1º de abril
No momento em que escrevo essas linhas, esbarro numa peça publicitária da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) que mais parece deboche. “Verdade seja dita: a mentira não merece nem mais um dia”, brada retumbante o anúncio que continua: “Nesses tempos de tantas notícias falsas com trânsito livre pela internet, mentira deixou de ser coisa de um dia e virou companheira de todas as horas. Mas, para azar dela, continuamos aqui. Dedicados, diariamente, a estragar essa festa”…
Por alguns segundos, a ANJ esquece que seus associados também estão na internet – nas versões online dos jornais impressos – e que eles também contribuem para um ambiente de confusão informativa. Basta acessar qualquer site jornalístico e ver que, no entorno das notícias, também figuram “links recomendados”, “links patrocinados” e anúncios que emulam a linguagem jornalística. Ora, esses conteúdos são publicidades (mal) disfarçadas, que vendem soluções mágicas para problemas de saúde, que apelam para os instintos mais básicos dos leitores e que só sobrevivem se fertilizarem um ambiente de conteúdos viralizantes. Para sintetizar: as notícias falsas e suas variantes de desinformação contaminaram tanto o ecossistema informativo que são estruturantes de seu modelo de negócio.
Neste sentido, eu vejo com muita desconfiança quando iniciativas de fact-checking ou de promoção de qualidade jornalística são patrocinadas por gigantes da tecnologia, como Facebook e Google. Faz parte do modelo de negócio dessas plataformas gerar, impulsionar e fazer circular os conteúdos com alto potencial viralizante, não importando se eles são verdadeiros, ambíguos ou falsos. Quantos mais cliques, melhor. Quanto mais reações e compartilhamentos, maior o alcance desses materiais, mais pessoas terão acessado seus conteúdos, e a grande roda estará girando, distribuindo centavos aqui e ali.
Veja o caso do projeto Credibilidade. Ele é uma coalizão de empresas jornalísticas para enfrentar o problema da queda de confiança na mídia de forma prática, fomentando discussões nas organizações e formulando práticas e ferramentas que possam ser usadas por seus membros. Capítulo brasileiro do projeto Trust, iniciado na Universidade de Santa Clara nos Estados Unidos, o Credibilidade tem entre seus parceiros nomes de peso como a Folha de S.Paulo e O Globo, e conta com patrocínio de ninguém menos que… Google! É muito importante que os veículos brasileiros estejam juntos e empenhados em aperfeiçoar suas práticas, produtos e serviços, mas por que tal iniciativa precisa ser dependente de recursos de uma corporação de tecnologia que vive à base do tráfego de dados? Por que jornais, revistas e demais meios não investem seu próprio capital para redesenhar seus procedimentos, já que os resultados de tais mudanças irão incidir diretamente em seus negócios? É como se uma rede de supermercados topasse financiar um plano de saúde para as vacas dos pecuaristas de uma região. Com a medida, o leite e o queijo ficariam melhores, mas os criadores conseguiriam vender seus produtos para outros supermercados além da rede patrocinadora?
Trust e seu capítulo brasileiro Credibilidade não são os únicos a padecerem desse mal. O Cross Check, iniciativa da First Draft, que fez um ótimo trabalho de checagem nas eleições francesas do ano passado, é patrocinado pelo Google News Lab! Aliás, o projeto está sendo gestado no Brasil, mas enfrenta dificuldades internas para se impor…
Mas é claro que, no livre mercado, Google pode investir seus milhões onde bem quiser e talvez haja até justificativas de sua responsabilidade pela sanidade do meio digital. Mas por que empresas de mídia não colocam suas fichas nesse jogo também? E mais grave: ao aceitarem uma ajudinha dessas empresas de tecnologia, não ficam dependentes de sua boa vontade de financiamento? Reféns do capital high-tech, conseguirão os veículos de mídia ter independência editorial para cobrir esse setor com rigor e compromisso? Por acaso, você já viu alguma checagem de dados desses veículos sobre Google ou Facebook?
Sejamos francos: plataformas como Facebook e Google não querem acabar com as fake news. Se quisessem, estimulariam conteúdos de qualidade em detrimento de falsidades, mas não fazem isso porque fake news e bizarrices são mais virais que matérias jornalísticas ou informativas. Se quisessem acabar com as fake news, as plataformas restringiriam a dispersão indiscriminada e mudariam seus próprios modelos de negócio, abrindo mão das vantagens financeiras vindas da publicidade mentirosa, da confusão, das manipulações e apelações. Em outras palavras: elas se beneficiam com as besteiras, com a desinformação.
A mesma hipocrisia que sustenta a campanha da ANJ embasa os movimentos das gigantes de tecnologia na cruzada contra as fake news. Não passa de discurso, de estratégia de marketing, de slogans e verbas dispendidas para serem apresentadas em seus balanços sociais. É investimento em imagem tão somente.
A declarada guerra contra as notícias falsas exige mais de profissionais e organizações jornalísticas. Se quiserem mesmo se contrapor ao ecossistema de desinformação, precisarão capacitar equipes, aprimorar procedimentos de apuração, contratar jornalistas especializados, e desenvolver ferramentas e sistemas próprios para desmentir e desmascarar falsidades. Precisarão assumir o protagonismo de certificação dos fatos, refinando seus critérios editoriais e investindo maciçamente em coberturas de qualidade. Não poderão terceirizar suas funções mais básicas de verificação e checagem. Terão que afastar o medo, o marketing e a hipocrisia, e eleger a coragem e o compromisso com o público para produzir jornalismo de qualidade nítida e cristalina. É só a credibilidade do sistema jornalístico que está em jogo. Só.
É preciso arregaçar as mangas e avançar para além do que já foi oferecido. Sim, ontem, foi o dia da mentira, e embora isso desagrade à ANJ, está longe de ser o último.]
Por Rogério Christofoletti em 05/04/2018 na edição 981 do Observatório da Imprensa, publicado originalmente pelo objETHOS.
Rogério Christofoletti é professor da UFSC e pesquisador do objETHOS.
[2] A arte de manipular multidões – Técnicas para mentir e controlar as opiniões se aperfeiçoaram na era da pós-verdade
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/opinion/1503395946_889112.html?id_externo_rsoc=FB_CC